Review | The Walking Dead The Ones Who Lives: Years

Review | The Walking Dead The Ones Who Lives: YearsThe Walking Dead: The Ones Who Lives é mais um spin off da série de zumbis The Walking Dead, que por sua vez, adaptou os quadrinhos criados por Robert Kirkman para a televisão os gibis que saíram pela Image Comics. Lançado nesse mês de março de 2024, a produção vem a ser a substituta dos filmes que trariam o arco final do antigo protagonista, Rick Grimes, interpretado por Andrew Lincoln.

Essa será uma série com seis episódios, semelhante ao que ocorreu (e ocorre) em outros derivados de TWD, como o recente The Walking Dead: Daryl Dixon e The Walking Dead: Dead City.

A direção ficou a cargo da dupla Bert e Bertie Ellwood, que assinam juntas como Bert & Bertie. Esse é um programa do canal AMC, com divulgação também no streaming próprio, ao menos lá na gringa. Aqui no Brasil ainda está sem previsão de estreia.

Essa série foi criado por Scott M. Gimple, o antigo showrunner de TWD, que também faz a função nesse novo seriado. Ele também é o roteirista desse episódio. Também assinam como criadores do programa Danai Gurira e Lincoln, atores que fazem os personagens Michonne Hawthorne e Rick Grimes respectivamente.

Como dito antes, a ideia original era que essa sequência direta fosse um filme para a televisão, um original da AMC. Em algum ponto da pré-produção o projeto aumentou de tamanho, sendo pensado para ser uma trilogia de filmes, com amplo lançamento nos cinemas pela Universal Pictures, mas a pandemia de Covid 19 acabou sepultando essa ideia, sendo portanto traduzida para uma minissérie de televisão.

O piloto foi filmado em Nova Jersey, com cenas em Alpine, Rigwood State Park, Bayonne, Holmdel, Wayne e East Rutherford.

Para quem não lembra, The Walking Dead foi uma série para TV que adaptava os quadrinhos homônimos de Kirkam, Charlie Adlard e Tony Moore. Haviam diferenças grandiosas entre as versões, fato que não tornava nenhuma dessas "encarnações" uma obra ruim, tanto que algumas adaptações foram muito elogiadas por parte de Kirkman e de outras pessoas que produziam as HQs.

A grande questão é que o ator e principal estrela Andrew Lincoln anunciou que sairia do programa antes dele ter um fim programado. Depois de fazer 120 aparições ele simplesmente saiu e foi dado um remendo para sua participação, já que haviam personagens próximos dele que seguiriam na trama.

Sinceramente nem vale muito a pena falar o que ocorreu em The Walking Dead original, ao menos não nesse artigo, mas ainda assim é dado nesse primeiro capítulo, chamado Years, uma certa ambientação ao espectador, uma explicação mínima, que recorda quem assistiu a tal cena da ponte explodindo, assim como deixa um certo panorama para quem chega nesse ponto da trama.

Para quem não assistiu, talvez não fique exatamente claro qual é o papel dele e a importância do personagem e como essa é uma sequência direta de eventos de uma outra série, é natural que o público alvo seja quem já viu, mas não se abre mão nem do espectador "virgem" nem do que abandonou a série antiga.

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Lincoln se retirou no começo da nona temporada, em 2018. Fez uma participação em Reast in Peace, que foi o serie finale, mas estava aguardando esse projeto.

Ele escolheu descansar a própria imagem após o seriado, esteve em Um Milagre Inesperado, no telefilme Old Vic: In Camera- A Christmas Carol e na série O Gabinete de Curiosidade de Guillermo Del Toro.

As diretoras têm experiência em seriados populares, alguns com orçamento considerável e com elencos de cinema. Tem no currículo episódio de The Great, Gavião Arqueiro, Nossa Bandeira É a Morte e Silo.

O produtor é Christie Colliopoulos, de Panic e da versão live action de Cowboy Bebop. Os produtores executivos são Gimple, Gurira, Lincoln, Brian Bockrath e Greg Nicotero.

Gimple tem experiência larga com a franquia, especialmente por ser produtor executivo das várias encarnações aqui, tanto em Fear the Walking Dead quanto em The Walking Dead: Origins, The Walking Dead: Um Novo Universo, Tales of the Walking Dead, e as já citadas The Walking Dead: Dead City e The Walking Dead: Daryl Dixon. Antes de adentrar esse universo, trabalhou na produção de Fillmore!, Chase: A Perseguição e Frango Robô.

Sua origem é escrevendo texto para seriados animados como Timão & Pumba, Ace Ventura, Ana Pimentinha. Seu trabalho mais famoso como roteirista (fora os já citados) é em Motoqueiro Fantasma: Espírito da Vingança.

Caso o leitor não queira saber dos desdobramentos, sugerimos retornar ao texto depois de ver o piloto. Falaremos com spoilers a partir daqui.

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O grande problema de TWD: Daryl Dixon é que parecia uma versão meio genérica da exploração das adaptações dos quadrinhos de Kirkman e que tentava em vão parecer super diferente, localizando o drama em um outro cenário, na Europa.

Essa nova série pode ser chamada de tudo, menos de tediosa. A condução das Berties é soberba. Há muitas boas cenas, especialmente de ação. Até o CGI funciona e as atuações também estão boas.

Danai Gurira apareça pouco, basicamente em devaneios do seu antigo amante e marido, mas quando está presente, chama muito a atenção. Sua participação será maior nos próximos capítulos.

É notável que os anos passaram e cobraram um alto preço para Rick. Ele envelheceu claramente, demonstra que está cansado, tentando se adaptar a uma nova função e a um novo cenário.

Há um grande monologo, justificado aqui por uma carta que Rick redige para Michonne. Embora ele não tenha muita esperança de que ela conseguirá ler, o sujeito se dá ao trabalho de detalhar sua rotina, de falar do lugar onde está, uma cidade murada, que tem uma forma de relacionar forças militares e civis de maneira bem fluída.

A trama se localiza cinco anos depois da "cena da ponte" e o lugar é onde Rick se encontra é uma cidade que foi rebatizada, conhecida agora como República Cívica.

Essa versão de sociedade tem forças paramilitares fortemente armadas, até com helicópteros, que aparecem desde os primeiros momentos desse episódio, quase como em uma premonição para o principal ponto de ação do capítulo.

O pontapé inicial é a partir da procura de Michonne e Judith, a segunda filha de Rick. Elas acreditam que o homem está vivo, embora não tenham nenhum indício de que ele sobreviveu após o último contato entre eles.

Rick aparece de uniforme, como se fosse um funcionário de uma empresa específica. Esses momentos se confundem com as fantasias dele, que eventualmente se imagina em um mundo pré-Apocalipse, com sua amada Michonne ao lado, conversando com ela como se fosse uma desconhecida em fase de flerte, típica de quem está apaixonado e imagina uma versão diferente para o amor que viveu e que busca.

Essa idealização possivelmente é a chave da problemática de autoflagelo que ele comete. Sozinho, ele pega lâminas e se corta. É perturbado por sonhos do passado, tanto que ataca alguns zumbis chamuscados, depois trava diante de alguns deles. É resgatado depois de tomar choque de um taiser.

Logo é dado que ele é parte de um grupo de sobrevivência, é chamado como consignatário Grimes.

Desde que ele acordou em um hospital militar - parece ter no destino esse tipo de introdução, visto que é assim que ele aparece no primeiro capítulo da série original - um exército o encontrou e levou para cidade escondida, a tal República Cívica, que é um lugar funcional de centenas de milhares de habitantes que preza por segurança e sigilo, segundo o código desse exército.

Segundo a carta dele, ninguém pode sair de lá. A cidade se autogere, de maneira separada dos militares e os consignatários são os trabalhadores que ficam na periferia da parte murada. Eles são obrigados a trabalhar limpando a sujeira em volta do conjunto de habitações e entram na cidade após 6 anos de trabalhos.

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Os sonhos com Michonne vão engrossando, se tornando mais frequentes. Parecem desejos reprimidos, uma ânsia por descanso, o desejo de viver apenas a normalidade. Talvez ele sinta isso por perceber que essa estrutura é tão segura que lembram os momentos de tranquilidade prévios a hecatombe e a tragédia global que transformou o mundo no lar dos mortos.

No entanto ele tenta sempre fugir, tanto que o fez mais de uma vez. Por conta desse ímpeto, ele é recrutado por um batedor, chamado Okafor (Craig Tate). Ele tenta organizar um grupo especial, de elite, cuja missão não fica exatamente clara qual é e possivelmente, jamais ficará, ainda mais se considerar o destino do personagem no final do capítulo.

Okafor parece ser um personagem rico, um sujeito esperto, inteligente, com um código de honra robusto, que entende a forma dos militares de categorizar as pessoas. Segundo seu discurso, há pessoas A e B. As da categoria B são obedientes, entram na cidade, mas A são rebeldes, portanto, são expulsos. Okafor recruta Rick e sua nova amiga, Thorne, personagem de Lesley Ann-Brandt.

Além da República Cívica, há duas cidades que formam uma cúpula de governo: Portland e Omaha. Ao longo do episódio é mostrada que uma delas cai, gerando assim parte do conflito que encaminha o desfecho.

De importante também há o pacato Esteban Garcia, um ex-consignatário, que consegue entrar. Ele é interpretado por Frankie Quinones, que depois, se torna um agente importante de saneamento.

Dito dessa forma o roteiro parece apressado, mas a realidade é que ele é compactado de uma forma que faz sentido e que demanda urgência da parte que liga os personagens, valorizando Rick, obviamente, mas dando espaço também para os novos.

Falta um pouco de tato para lidar com temas espinhosos, como tramas de suicídio. Grimes sempre foi tratado como um herói clássico, mas seu comportamento é quase kamikaze. Não se reflete muito sobre isso, até se dá a noção de que ele de fato deseja morrer.

Years é movimentado pela aceitação de Rick ao chamado para a aventura e é fechado com uma sequência soberba, que envolve um ataque de helicóptero. O que impressiona é que a perspectiva é toda interna, de dentro da cabine do piloto.

A sequência é sangrenta, bizarra, taticamente impecável, tecnicamente sensacional. Ainda termina com um reencontro graças ao acaso, que é pontuado pelas cenas dos próximos capítulos mostram que Michonne com um grupo tático que claramente inspirou seu visual na franquia Mad Max.

The Walking Dead: The Ones Who Lives começa melhor que os seus pares, parece de fato ser uma obra preocupada em trazer uma história coesa, interessante e visualmente diferenciada. Pode ser que essa qualidade se restrinja somente ao piloto - o que seria uma pena - mas a realidade é que surpreende positivamente demais.

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