O contexto histórico:
Do final dos anos 60 até 1977, o cinema norte-americano produziu, em massa, filmes policiais, filmes catástrofe e filmes pós-apocalípticos. Os policiais eram extremamente violentos e mostravam a América suja e decadente que há muito não se via na tela grande. O sentimento de revolta pela Guerra do Vietnã era exposto em Hollywood. Somente com a estréia de Star Wars, filme com o clima otimista de uma fábula, o cinema deixou um pouco de lado a visão pessimista que imprimia da sociedade americana.
O filme:
Desta safra surgiram filmes como Operação França e Bullitt. Este último estrelado pelo consagrado ator e piloto Steve McQueen. A película mostra o Tenete Bullitt, policial durão, mas com boa convivência com a mídia na cidade de San Francisco, escalado para proteger uma importante testemunha da máfia durante um final de semana. O problema é que depois de um atentado, a tal testemunha morre e para a culpa não cair sobre si, Bullitt resolve investigar para saber o que realmente aconteceu. Em meio a isso tudo, um promotor público que pretende seguir carreira política e dependia do depoimento do mafioso para ascender. Com esse jogo de interesses, Bullitt precisa passar por cima de autoridades para seguir sua investigação.
São vários os motivos que fazem de Bullitt um filme memorável. Entre eles, a ambientação realista da produção. McQueen treinou durante semanas com a polícia de San Francisco para fazer de sua atuação, a mais fiel possível. O filme foi todo rodado em locações reais. Não há cenários construídos. Além disso, McQueen, como bom piloto que era, fez toda a cena de perseguição do filme, considerada a melhor da história do cinema (falo mais dela jajá). A edição do filme também não faz feio. Não por acaso, foi agraciada com um Oscar. A direção de Peter Yates é estilosa. A seqüência de abertura do filme é um misto de excelente edição com direção competente. E, há também, o jazz de Lalo Schifrin como trilha incidental. A música ajuda em muito o filme com seu ritmo hora suave, hora frenético.
A perseguição:
Porém a grande atração de Bullitt é, sem dúvida, a cena da perseguição protagonizada por um Mustang GT (dirigido por McQueen) e um Dodge Charger (o carro de dois pistoleiros). Por pelo menos dois fatores, essa cena é considerada a melhor da história. O primeiro fator está, novamente, na edição. Não há música, e toda a emoção é depositada no barulho dos motores. O outro fator... o filme se passa em San Francisco e os carros estão a velocidades de 100 a 150km/h. Aí, você que está lendo essa resenha dá risada e pensa: “a essa velocidade eu também já andei”. Bem, se você pensa assim é porquê nunca viu San Francisco. A configuração das ruas nessa cidade é um desafio a qualquer motorista. Tente imaginar um prédio de vários andares. Agora imagine as escadas que ligam os andares. Pois é, assim são as ruas de San Francisco. Viu a gravidade da situação? Dois carros em alta velocidade “descendo escadas”. Desviando de outros carros e de pedestres. Não dá pra ser mais impressionante que isso. Sério, é de dar pena do coitado que mora nessa cidade e tem que fazer exame prático pra tirar a habilitação.
Steve McQueen além de passar credibilidade ao personagem, ainda prova ser um excelente piloto, e também alguém com parafuso solto ou que dá pouco valor à vida. Duvido que essa cena fosse feita, da forma que foi rodada, num filme atual. Primeiro que empresa de seguro nenhuma iria assumir a responsabilidade pelos estragos. E depois que nenhum ator de hoje é louco a ponto de se arriscar tanto. Nem Jackie Chan e suas cenas sem dublê.
Isso torna Bullitt um clássico. O compromisso de McQueen com o realismo. Gerou até um documentário, extra no DVD que comprova tudo que foi escrito aqui e mostra como um filme, com mais de 30 anos, pode sobreviver ao tempo, sem parecer ultrapassado e ainda deixar muita gente impressionada.
Comente pelo Facebook
Comentários
Comente pelo Facebook
Comentários