Cemitério Maldito : Uma adaptação confusa e divertida da obra de Stephen King

Cemitério Maldito : Clássico de zumbi e uma adaptação confusa/divertida de Stephen KingCemitério Maldito é um filme de horror dos anos oitenta que se tornou um pequeno clássico graças a suas virtudes e também os defeitos. Adaptação de um dos sucessos de Stephen King, é conhecido também por sua narrativa que mistura clichês a respeito de intervenções espirituais, zumbis e claro, é lembrado por ser uma tremenda fita trash.

Lançado em 1989, é dirigido pela cineasta Mary Lambert, protagonizado pela estrela da TV Denise Crosby e roteirizado pelo próprio King, sendo o primeiro dos filmes baseados em livros do autor que foi adaptado pelo próprio.

Produzido por Richard P. Rubinstein, tem produção executiva de Tim Zinnemann e foi rodado pelos estúdios Paramount Pictures, que também distribuíram o longa-metragem nos cinemas. A Laurel Productions também produziu, embora não seja creditada como tal.

Os estúdios deram uma liberdade considerável a Lambert. Suas interferências foram poucas, como pedidos para que polissem mais o filme, a fim de ter uma duração em torno dos 100 minutos, além do pedido para que o final fosse foi refeito, a fim de ser mais gráfico.

O longa possui algumas histórias de bastidores bastante curiosas, especialmente no que tange o roteiro escrito por King.

Possivelmente graças a participação do escritor há algumas referências a outras obras suas, como um cartaz de campanha de saúde com uma foto de Cujo, que pode ser visto no quadro de avisos perto da escada de um dos cenários. Haviam outras referências no livro, como uma placa indicando Salem's Lot, em uma das viagens pelas estradas, mas essa foi suprimida.

Com o script já pronto o projeto, foi engavetado depois que o estúdio não conseguiu trazer George A. Romero para direção. Ele já havia feito Creepshow: Arrepio do Medo e Metade Negra junto ao autor, mas ele não aceitou o pedido dos estúdios, tanto que seguiu em seu projeto Instinto Fatal, de 1988.

Na época havia a sensação e crença de que obras baseadas nos livros de King estavam em baixa. Tom Savini também foi cogitado, mas recusou a chance de dirigir, acabou fazendo A Noite dos Mortos-Vivos de 1990.

Esse foi o segundo longa-metragem da diretora. Lambert era mais conhecida por seu trabalho na direção de videoclipes, especialmente em Madonna: Material Girl de 1985 e Madonna: Like a Prayer de 1989.

Aparentemente, foi graças a ela e a sua experiência na indústria musical, que a banda Ramones foi convencida a compor e gravar a música tema do filme, que aliás, se tornou um dos grandes clássicos do conjunto.

Os Ramones eram uma das bandas favoritas de Stephen King, tanto que era largamente citada no livro. A música tema foi tocada nos créditos finais e a banda faria Poison Heart para Cemitério Maldito 2.

Uma das coisas que atrai Lambert ao gênero do terror é a chance criar regras bem especificas de funcionamento de mundo e universo. Ela diz gostar pela facilidade em criar o seu próprio conjunto de normas, podendo ignorar questões da física, podendo quebrar qualquer coisa dada como comum, desde que não saia da regra máxima auto imposta, desde que não perverta a sua própria regra comum.

Sua visão a respeito do que foi feito nesse Cemitério Maldito foi um acerto, pois dentro das suas limitações e regras internas, tudo fez sentido.

O nome original do filme é Pet Sematary, com grafia errada mesmo, graças a um fato da narrativa. Em espanhol é conhecido como Cementerio de Animales, já em francês é Cimetière vivant e em italiano é Cimitero vivente.

Stephen King exigiu que a obra fosse filmada no Maine e que seu roteiro fosse seguido rigorosamente. Ele esteve presente durante a maior parte das filmagens, que tiveram locações em Hancock, Bangor, Acadia National Park, Bucksport, Ellsworth, Sedgwick e 303 Point Road. As filmagens foram feitas em lugar que ficava a apenas vinte minutos da casa de King em Bangor.

O cemitério Micmac é feito em uma pedreira de granito abandonada em Mount Desert Island, no Parque Nacional de Acadia, perto de Ellsworth. Já o cemitério de animais foi filmado no cemitério Mount Hope em Bangor.

A ideia original para o livro surgiu quando Smuckey, o gato da filha do escritor foi morto na estrada perto de sua casa em Orington, Maine. O nome do animal aparece nas lápides do cemitério de animais de estimação, tanto no filme quanto no romance.

Grande parte da explosão emocional de Ellie Creed foi inspirada na reação da filha do escritor. King também conta que uma vez, seu filho mais novo quase caiu na estrada enquanto um caminhão passava em alta velocidade. Quando ele terminou o manuscrito de Pet Sematary, o arquivou, por achar que a história não era boa o suficiente para ser editada e lançada.

Foi só quando sua esposa Tabitha lhe disse para publicá-lo que ele decidiu enviar ao seu editor.

O produtor Rubinstein tinha experiência em filmes com Romero, trabalhou em Martin, Despertar dos Mortos, Cavaleiros de Aço e Dia dos Mortos. Ele acabou se especializando em adaptações de King, como a minissérie A Dança da Morte, os filmes A Maldição e Vôo Noturno, além de The Stand, que adapta novamente A Dança da Morte.

Também trabalhou em Madrugada dos Mortos de Zack Snyder e é lembrado por ser produtor executivo nas minisséries Duna, Filhos de Duna do canal Syfy e nos recentes Duna e Duna: Parte 2 de Denis Villeneuve.

Para diminuir a classificação indicativa, Lambert teve de podar algumas cenas de gore e violência explícita, incluindo uma cena de mordida de Gage, perto do final. No entanto, ela jamais reclamou que o corte final não faz jus ao que ela concebeu como ideal para o filme.

A narrativa começa brincando com os momentos mais fantasiosos da história, já que a câmera passeia pelo cemitério de animais, com nada além da música de Elliot Goldenthal e alguns poucos animais silvestres, que andam pela mata. Uma dessas vozes pertence a Jonathan Brandis, que estrelou como o jovem Bill Denbrough em It – Uma Obra Prima do Medo, de 1990.

A medida que aparecem as cruzes dos bichinhos mortos, são ouvidas vozes do passado, palavras que ecoam, falas sobre os animaizinhos que foram tão amados.

Antes de mostrar a família Creed, a câmera de Lambert passa pela famosa placa, onde se lê o nome Pet Sematary, feito assim por conta de ter sido escrito por uma criança, que deveria estar em fase de alfabetização ainda.

Cemitério Maldito : Uma adaptação confusa e divertida da obra de Stephen King

Os protagonistas dessa história são na verdade um grupo de pessoas, uma família formada por quatro integrantes, a mãe Rachel (Crosby), os pequenos Ellie (Beau Berdhal e Blaze Berdahl), o bebê Gage (Miko Hughes), além do pai, que é o motivo da mudança, o médico universitário Louis Creed, interpretado pelo ator Dale Midkiff.

Antes até de apresentar o cotidiano dos personagens, se nota também o perigo da estrada em frente a casa nova.

Carros atravessam o asfalto de maneira desenfreada, fato que torna o lugar perigoso. A pergunta que fica é: sendo Louis tão importante para a comunidade do Maine, não poderiam arrumar um lugar mais tranquilo para ele habitar?

A casa usada pelos Creeds é uma residência privada perto de Hancock. A parte interna foi criada em estúdio, já que os quartos dentro das antigas casas de New England são pequenos demais para serem filmados de modo confortável.

O destino quis que ele ficasse ali e o filme não se preocupa muito em explicar os motivos para isso. O livro é consideravelmente grande, mas tal qual ocorreu com Christine: O Carro Assassino de John Carpenter, que é outra adaptação de King esse resume bem o material original.

O texto toma cuidado para mostrar as singularidades da família, como a verborragia de Ellie, além da enorme curiosidade do pequeno Gage. Sobre os dois se destacam dois fatores, a absoluta fofura que era Hughes nessa época – e isso é bem evidente e se tornaria um problema mais tarde, especialmente no final – e a sensibilidade de Ellie, que consegue prever acontecimentos, especialmente os ruins.

O que não fica muito claro nessa versão é que a menininha tem capacidades para além do natural. Há quem defenda que ela é uma médium, uma iluminada/shinning. No romance isso é mais desenvolvido, aqui há breves pinceladas, que podem ser encaradas tanto como paranoia infantil como acesso a um sexto sentido.

O personagem melhor traduzido do filme é apresentado também no início, que é Jud Crandall, um senhor idoso, vizinho da frente do médico e que tem sua origem na inspiração de um também vizinho idoso que morava do outro lado da rua de King.

Ele é um homem solícito, um simpático local que se mostra bastante preocupado com os detalhes da estadia dos Creed por ali. Além de tentar fazer a política da boa vizinhança, acaba também sendo a interferência maior possível da trama, ao menos no que toca os personagens vivos.

Seu modo de agir é repleto de bondade, mas também leva em si uma certa carga de inconveniência. De certa forma, é quem move a história, interfere tanto que eventualmente parece que até trabalha para o lado malvado da mitologia espiritual que se estabelece aqui.

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Ele é interpretado por Fred Gwynne, ator veteranos, conhecido principalmente por seu papel de Charlie Munster no seriado cômico Os Monstros, além de ter trabalhado em Atração Fatal e no telefilme Trama Fatal.

É Jud quem segura o pequeno Gage antes que ele adentre a estrada por onde carros passam, deixando claro para a família a dificuldade que é morar naquela localidade, além de exemplificar com ações o quanto ele é um sujeito preocupado com todos.

Ganha a confiança da família, especialmente do pai, que passa a se aconselhar com ele em vários momentos.

O senhor leva os membros da família para ver o lugar de descanso dos bichinhos que morreram atravessando a estrada. É nesse trecho que Rachel manifesta incômodo ao falar sobre o tema da morte, tanto que fica ofendidíssima quando o vizinho fala sobre possíveis aprendizados sobre o luto.

No final da viagem, a esposa perguntou a onde dava o caminho que se sinalizava, mas Jud deu de ombros, só falando sobre isso quando estava sozinho com o chefe da família.

Um dos elementos mais difíceis para a equipe de design de produção foi o caminho para o cemitério, descrito no roteiro de forma prosaica, como “brilhando ao luar”. Para isso, decidiram inserir uma luz estranha, que varia de cor, chamando a atenção quando está azul.

A fim de ajudar a estabelecer a atmosfera de estranheza, incluíram os temas musicais compostos por Goldenthal, que aliás, são bastante inspirados, praticamente subutilizados aqui. A trilha sozinha já é ótima, mas por algum motivo, ela é pouco acionada no filme.

A diretora disse que Fred Gwynne foi sua primeira e única escolha para o papel de Jud Crandall e dada a complexidade que ele emprega aqui, faz sentido a escolha.

Já Louis é feito por um ator muito ruim. Em algum ponto, se cogitou Bruce Campbell para o papel, fato que certamente acrescentaria muito ao filme, ainda mais se ele se assumisse como uma mistura de horror e humor.

Dale Midkiff é fraco até para demonstrar um susto com o gato da família, Winston Churchill, ou Church como sua filhinha chama. O ator não teve muitos trabalhos reconhecidos, além de peças trash, como O Corvo III: A Salvação e O Vôo da Morte. Também fez participação no elogiado seriado Dexter.

Um ator de destaque no elenco é Miko Hughes, que além de fazer Gage aqui, trabalharia em outra franquia clássica de terror, interpretando Dylan em O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger,

Ele também fez um papel na comédia Um Tira do Jardim de Infância e no seriado Três é Demais, programa da onde saiu o famoso meme com uma careta que ele fez.

Cemitério Maldito : Clássico de zumbi e uma adaptação confusa/divertida de Stephen King

Mais velho, fez Spawn: O Soldado do Inferno, Trovão Tropical e Devorados Vivos. Se tornou figurinha carimbada em festivais de cinema como a Horror Expo.

Inicialmente, os executivos da Paramount queriam um par de gêmeos para fazer o papel de Gage, mas Lambert ficou muito impressionada com Hughes, que na época, tinha três anos, que ela considerava um talento natural. Pressionou o estúdio para aceitar sua escolha, fazendo assim a estreia do ator no cinema.

Ao longo dos anos, os críticos frequentemente expressaram preocupação com o filme ter deixado o jovem Miko Hughes impressionado, no entanto, foram tomados cuidados para que as sequências de assustadoras fossem filmadas de maneira separadas, a fim de descaracterizar ao menos para a criança os elementos com ação violenta.

A edição de Daniel P. Hanley e Mike Hill acertou nesses pontos, mas não foi tão exitosa ao variar entre as cenas da criança e outras com bonecos de marionete, que eram os responsáveis por fazer os momentos mais violentos de Gage no final.

Depois dessa introdução o script trata de acelerar os fatos, abrindo mão dos circunlóquios. Em seu trabalho no hospital Louis recebe um rapaz acidentado Victor Pascow, interpretado por Brad Greenquist de Comando Para o Inferno.

O rapaz já entra em cena quase morrendo, tem o papel dramático de assustar o doutor, ao menos em um primeiro momento, já que ele sabe o nome do médico.

A motivação do personagem já é confusa, piorando a situação pelo fato de Louis ter um péssimo ator, já que ele se desespera terrivelmente quando descobre que o rapaz sabe quem ele é, já que citou o seu nome.

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Greenquist disse em uma entrevista que enquanto estava maquiado ninguém se sentava perto dele, nem mesmo nos momentos de desconcentração, entre refeições de elenco e equipe.

Apesar da aparência grotesca do personagem, a ideia é inverter a ideia de bondade e maldade através da imagem. Para Lambert, as aparições espirituais de Pascow representariam um anjo bom, que aconselha a família a não ceder a tentação.

Já o velho e simpático Jud seria uma espécie de anjo mau, que até era munido de boas intenções, mas que deveria ser ignorado. Essa ideia de escuridão é reforçada pelo vestuário do ancião, que ao abordar a ideia de usar o cemitério, mais à frente, está usando uma grande jaqueta preta, com capuz, semelhante em descrição as vestimentas de Mr. Mayhem, que é uma das manifestações populares da morte.

A cena em que Pascow visita Louis pela primeira vez à noite foi originalmente filmada com Dale Midkiff vestido apenas com shorts curtos, tal qual é descrito no romance, no entanto, a cena foi posteriormente refeita com o ator vestindo pijama completo, já que a equipe de filmagem achava que a aparência física atraente do ator diminuiria o caráter misterioso da cena.

Pascow usa uma forma espectral que imita o estágio em decomposição do seu corpo recém morto. Tem a pele acinzentada, com algumas vísceras para fora. É como se ele tivesse uma missão, da qual só seria liberado depois. Ainda assim fica confusa a sua motivação.

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Fato é que ele não assombra Louis, não o culpa por sua morte, só avisa que ele não deve ir até o "lugar onde os mortos caminham", em uma parte do cemitério, que o médico não saberia da existência caso o fantasma não falasse.

Esse trecho é parte da velha problemática (e clichê) de questões pontuais que só existem por conta de alguém delas terem sido mencionado por alguém.

O pai de família acorda achando que foi um sonho, mas ao levantar o lençol percebe que os seus pés estão sujos de terra, deixando claro que ou ele é sonâmbulo ou de fato ele foi até o cemitério micmac.

Jud encontra o gato da menina morto, justamente no momento em que o resto da família viajou para o feriado de Ação de Graças. O motivo de Louis ter ficado para trás não fica claro, parece ter a ver com o fato dele e do sogro não se darem bem.

O modo de vestir de Gwynne é estranho, parece sombrio. Sua atitude combina com as vestes, já que depois de ligar para Creed ele o leva na direção de uma estranha passagem, atrás do "Pet Sematary", justamente pelo caminho que Pascow indicou para ele não ir na visão anterior.

Eles chegam em um cenário pitoresco, um terreno só de terra, com algumas pedras e conchas no chão. Segundo o velho aquele é o lugar de enterro, de índios Micmac.

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Esse termo se refere aos índios Micmac ou mi'kmag, um grupo étnico indígena originário do que hoje é considerado o leste do Canadá. Esse foi um dos primeiros povos a habitarem a região Atlântica do país, são falantes do grupo Wabanaki da família linguística algonquiana, e falam a língua Mi'kmag como dialeto próprio.

Esse lugar supostamente teria propriedades mágicas, sendo capaz de reviver o que está morto. Jud sugere que o protagonista enterre o gato da família, mas faz isso sem explicar nada, só avisa depois, em uma explicação estranhíssima, pedindo de maneira solene e soturna que o vizinho mantenha segredo.

A equipe de filmagem acabou utilizando nove gatos, dada a dificuldade de adestrar felinos. Havia um saltador, um rosnador e um carinhoso. Para fazer o bicho morto na beira da rodovia, foi usado um gato falso.

Quando o gato aparece ensanguentado, foi feita uma maquiagem especial, que se assemelhava a sangue. O mesmo foi feito com um cão, que aparece depois. Nenhum deles foi ferido durante as filmagens.

A equipe de filmagem colocou uma luz diretamente acima da lente da câmera, a fim de propiciar as cenas com olhos brilhantes. A posição da luz fazia refletir na câmera, fazendo assim um efeito que dava medo.

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Mesmo que a ideia seja a de retratar Gwynne como um anunciador do mal, é notável que ele sente pesar, carregando consigo uma carga de culpa bastante pesada. O mesmo não se pode dizer de Midkiff. A diferença de postura e o nível de expressão sentimental entre eles é larga como um abismo.

Ao menos ele manda bem em cenas de susto, é estabanado, parece ter caído de verdade quando viu Church retornar. Até fica feliz quando percebe que ele está vivo, mesmo que esteja fedendo, mesmo que ele arranhe seu rosto.

O médico está em negação, quer se convencer que enterrou ele vivo, mas Jud diz que não, relembrando o óbvio, afirmando de maneira poética que o pescoço do bicho era leve, lembrando que a cabeça fazia um barulho como se estivesse com bolas de gude dentro dela.

A forma como ele descreve o animal é prosaica, diz que ele desgrudou do chão gelado como um pedaço de fita crepe desgrudando de um embrulho. A dublagem brasileira reitera bem o caráter pesado da fala de Crandall. O dublador dele foi Leonardo José, falecido ator que fez a voz de Thanos nos filmes do Universo Compartilhado Marvel.

Jud diz que quando Spot, seu cachorro morreu, ele levou para lá depois que um zelador Micmac indicou o lugar. Curiosamente não sonegou a informação de que o cachorro voltou mal, agressivo e violento, mas achou sábio ressuscitar o gato da pequena Ellie.

Da forma como isso se apresenta, é meio esperado que haja uma maldição sobre a cabeça de Crandall, por isso ele poderia ter passado essa condição a família Creed, mas não. Ele tinha boas intenções, só foi estúpido e imprudente.

Louis pergunta se já ressuscitaram pessoas ali, mas Crandall fica em silêncio. Enquanto isso, o protagonista tenta relaxar, mas toma um susto quando está em uma banheira, vendo um rato cair na água. O animal é obviamente falso, mas para o filme é um animal de verdade.

Tanto o bicho quanto a reação primam por um caráter trash, mas Creed não se livra do gatinho, até deixa a filha brincar com ele, mesmo sabendo de tudo, mesmo depois do susto. É o pai do ano.

Em algum ponto da trama, uma amiga de Rachel se suicida. Essa é Missy, interpretada por Susan Blommaert. Ela é na verdade a amalgama de dois personagens do livro, da própria Missy, que não comete suicídio no romance e de Norma Crandall, esposa de Jud, que faleceu durante a história. A mescla funciona, até por deixar o vizinho solitário, fato que aumenta sua condição de delirante isolado.

Até se faz acreditar que ela vai ser levada para o cemitério ressuscitador, graças a montagem de Hill e Hanley, mas isso é apenas uma piada, um rápido aceno especulativo. Logo aparece King como ministro do enterro.

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O funeral acaba sendo um momento de exposição de algumas verdades, sendo a mais brandas dela o fato de que o gato agora é de Louis, não da menina, ao menos segundo Jud.

A segunda é sobre o passado de Rachel. É dado que ela tem um grande problema no passado, um trauma que adquiriu ao ter que cuidar de sua irmã, Zelda, que morreu na adolescência, depois de sofrer bastante de meningite espinhal / degeneração espino cerebral.

Ela só resolve conversar sobre os tempos em que cuidou de Zelda depois que ouviu a conversa de Ellie com o pai. Ao falar sobre ela, descreve como um fato escondido, como um segredo obsceno

O papel de Zelda foi interpretado por um homem. A diretora Mary Lambert queria que as cenas com a irmã de Rachel assustassem o público, mas não acreditava que uma garota de 13 anos conseguiria isso. Foram testadas várias meninas, mas todas pareciam adoráveis, segundo Lambert.

A cineata finalmente pensou em escalar um rapaz, e escolheu Andrew Hubatsek, para o papel, até aceitou as sugestões dele, de ser mais agressivo, tossindo, cuspindo e vomitando durante a sequência em que estava enquadrado.

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Essa foi estreia de Hubatsek no cinema, depois fez o policial Jogo Perverso em 1990 e o filme de terror Human Resources só em 2014.

Rachel abre mão da figura de perfeição que ostentava até então, para assumir que chegou a desejar que sua irmã morresse, já que ela sentia dor, urrava, gemia e fazia todos sofrerem juntos. As contorções dela faziam a menina achar que ela estava se transformando em um monstro e a parente acabou morrendo quando estavam somente as irmãs em casa.

Esse trecho é filmado de maneira assustadora, com os cenários da casa dos pais sempre escuros, onde se percebe uma arquitetura peculiar, semelhante a de uma fita de horror antiga, repleta de quadros estranhos.

Quando ela saiu gritando que Zelda estava morta, os vizinhos entraram na casa, para acudir ela. Entre olhares de julgamento - que não ficam claro se eram reais ou se era a impressão culpada dela - ela assume que sorriu ao anunciar a morte de Zelda, ao invés de chorar.

Depois de narrar sua tragédia, aparentemente houve um chamado para outra.

A tal cena polêmica, do atropelamento que causaria tristeza entre os Creed inicia divertida, com o caminhoneiro, que vinha da International Paper Factory em Bucksport-Maine, ouvindo Sheena is a Punk Rocker, do Ramones, a bordo de seu carro Peterbilt 378.

Essa é uma baita composição, mostrando uma pipa no céu, que Gage e Louis empinavam, saindo em uma trajetória aérea e errática, ainda termina mostrando o sapatinho sangrando e a carreta virada.

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O trecho fica feio por conta da reação do intérprete do protagonista, que grita para o alto, enquanto aparece a cena em slow motion. É piegas até para a época, imagine hoje em dia.

O próprio King sofreria um acidente semelhante, anos depois em 1999, quando foi atropelado por uma minivan enquanto caminhava no acostamento da Rota 5, em Lovell, Maine.

Se o leitor for mais crente e crédulo em forças sobrenaturais, certamente acreditará que o autor foi quem chamou esse incidente para si, especialmente se considerar que ele mesmo dirigiu um filme de terror com caminhões em 1986, o famoso Comboio do Terror ou Maximum Overdrive no original.

O filme toma uma velocidade acelerada depois dessa grave perda. No velório ocorre uma confusão, que termina em uma agressão do sogro a Louis, que faz o pequeno caixão cair. Ellie aparece vestida como a sua tia Zelda, fazendo assim convergir histórias agressivas distintas.

Foi nesse momento de desespero que Louis provavelmente teve a ideia de fazer o filho retornar, também graças as falas de Ellie, que pergunta se o irmão voltará.

O velho reaparece para demover o homem de tomar uma decisão ruim, até conta a história de um rapaz que foi veterano de guerra, morto quando voltava para casa e que foi levado até lá. O rapaz era Timmy Baterman e seu pai não digeriu bem receber só uma medalha no lugar do filho.

Essas sequências são expositivas demais e o personagem de Peter Stader são bem-feitas, mas tiram um pouco do impacto da surpresa final. Parece estar lá só para Lambert fazer referências a Frankenstein e sua continuação, A Noiva de Frankenstein, inclusive na paráfrase "amor morto, ódio vivo".

Jud considera que o lugar atraiu o garoto para a morte, graças ao fato dele ter apresentado a Louis o cemitério. É uma insanidade só, mas que é de certa forma acompanhada pelos atos ligados ao sobrenatural.

Como Church só trata mal em tela o senhor e Creed, fica a impressão de que os revividos tratam mal os que tem ciência do retorno dos mortos ao mundo dos vivos.

No entanto pai da família está tão desnorteado que engole o próprio orgulho, diz querer se consertar, fala que vai fazer as pazes com o sogro, basicamente para esconder o rumo errático que tomará, a violação de túmulo e tentativa de fazer o filho retornar.

Pascow entra em contato com a menina Ellie – artifício que reforça seu caráter de “iluminada” - depois com sua mãe. Nesse ponto, os quadros da casa ganham destaque, mostrados de maneira torta, denunciando que algo terrível ocorrerá. Os quadros têm referencias ao gato morto e até a roupa com cartola e gravata, que Gage usaria no final.

Essas pinturas foram uma escolha pessoal da diretora, que afirmou que essa era uma tradição dos primeiros retratos de famílias nos Estados Unidos. A mortalidade infantil era muito alta no passado, muitas pessoas pintaram retratos de seus filhos depois eles morreram para que fossem lembrados, já que muitos faleceram antes dos 2 ou 3 anos de idade.

Rachel sonha com a residência e imagina sua irmã falando consigo é assustador, mas o momento é imediatamente quebrado pela cena no avião, que soa engraçada, já que tem interferência do fantasma de Pascow. O fantasma ainda aparece a bordo, sentado, como se participasse de uma sitcom.

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Afinal, qual é a motivação dele? Levar a mãe da família Creed para morte, para se vingar do médico que não conseguiu salvá-lo? Claramente não é a sua intenção, mas dados os fatos, parece isso.

A sequência até a tentativa de ressurreição é esquisita, inclusive com um efeito bizarro, onde o rosto de Jud aparece entalhado em uma pedra perto do cemitério.

A meia hora final é bem estranha, com direito a esposa pegando carona com caminhoneiro desconhecido, invasão de uma criança maléfica que pega o bisturi do pai (que obviamente não era um bisturi real, tampouco era afiado) além de uma cena onde o personagem idoso cai na besteira de subir para o segundo andar de sua casa atrás do vilão, se permitindo cair em um dos clichês do gênero do horror mais ridiculamente toscos.

Gage ataca dando risadas de criança, em conluio com o gatinho diabólico. Os efeitos com a "mãozinha de plástico" são bons demais, no sentido da valorização do trash claro. Também é muito estranho ver uma criança fofa tentando assustar, retalhando o simpático idoso, tentando parecer assustador só porque está usando maquiagem cinza.

A medida que avança, Rachel vê Zelda, é torturada pela lembrança da finada irmã. Não fica claro se a parente morta em sua infância tem de fato alguma ligação com o retorno de Gage como morto-vivo ou não, mas essa obsessão serve ao menos para distrair e inebriar ela, quando vê o bebê revivido.

O menino zumbi é tão esperto que consegue ligar para o pai, o assusta depois que ele acorda e percebe toda a bagunça da casa.

A cena da segunda morte de Church é forte. Lambert confidenciou que uma das coisas mais difíceis foi fazer o gato comer a costeleta de porco que estava batizada com calmante. Já a seringa manipulada para parecer que está com agulha obviamente não está. O gato foi sedado por um veterinário. Um representante da American Humane esteve presente e o animal se recuperou totalmente.

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Gage é um grande assassino, aprendeu bem com Jason e Michael Myers a espalhar os corpos pela casa. É muito difícil de crer que ele conseguiria fazer isso, ainda mais tendo menos de um metro de altura.

Houve uma grande discussão sobre como apresentar Gage revivido em tela, se pensou em utilizar uma pessoa com nanismo. Em vez disso, escolheram uma combinação de momentos entre ator e uma marionete, com figurino pintado especialmente pela figurinista Marlene Stewart, que também imita o figurino de Zelda, que foi plantada antes.

Ao levar a injeção, o garoto chora como um recém-nascido, dizendo que aquilo não é justo. É pitoresco demais, bem diferente do texto original, em que parece que ele estava voltando a razão.

Em algum ponto da construção do roteiro, se pensou em apresentar a figura lendária do wendigo, um demônio nativo americano, que é mencionado no romance, mas acabou sendo cortado do filme.

Sua presença está implícita na cena em que Louis está andando pela floresta à noite e ouve algo grande derrubar uma árvore e quando Jud leva Louis pela primeira vez até o cemitério indígena, onde se ouve um estrondo alto nas profundezas da floresta seguido por um uivo longo, que parece feminino.

O final original era mais triste e silencioso, mas as primeiras exibições os convenceram de que o filme precisava de um mais contundente, por isso se optou pelo beijo da morte.

Os efeitos de David Anderson são de um trabalho hercúleo e sensacional, especialmente a maquiagem de Rachel na cena do beijo, com uma fratura exposta, que faz esguichar sangue. O desfecho é impactante e estranho em essência.

Cemitério Maldito é sensacional, uma boa intersecção entre o filme de horror perturbador e a trasheira bizarra. É dos mais divertidos longas baseados na obra de King, sendo também uma boa tradução de livro para o cinema, além de conter em si um trabalho com trilha sensacional, repleta de sucessos e uma boa construção em alguns personagens. Mesmo os seus defeitos - todos inegáveis - acabam parecendo charmosos, já que cristalizam o filme como uma dedica e mambembe obra de horror.

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