Fotos Proibidas é um filme de horror bastante polêmico. Parte do gênero de histórias de assassino conhecido como Giallo, é um filme italo-espanhol lançado em 1970, capitaneado por Luciano Ercoli. A trama é cheia de reviravoltas e lida com uma questão que até hoje assola a sociedade ocidental e oriental uma vez que lida com vazamento de intimidade.
A história gira em torno de um casal que vivencia um estranho triângulo emotivo e amoroso, que acaba levando os dois a uma trama repleta de sexo, sentimentos e assassinatos.
O protagonismo é de uma mulher, de Minou, a bela personagem de Dagmar Lassander que recém-casou com Peter, de Pier Paolo Capponi, um homem cheio de dívidas, que tenta arrumar um jeito de conseguir dinheiro rápido. Os dois são próximos de Dominique, personagem da bela Nieves Navarro, amiga que apresentou o casal, mas que parece ter um passado amoroso com um deles, teoricamente, já que pode ser até com ambos
A narrativa segue mostrando Minou morrendo de ciúmes, depois se envolvendo com um perseguidor chantagista, que ameaça vazar fotos dela, caso a mesma não ceda aos seus pedidos e caprichos.
Por conta do nome nacional é fácil confundir esse com Fotos Proibidas (Dirty Pictures) telefilme de 2000 estrelando James Woods e Craig T. Nelson, assim como o filme português Imagens Proibidas de Hugo Diogo. Esse é mais antigo e tem poucas semelhanças com os filmes citados.
O roteiro e argumento são dos experientes Ernesto Gastaldi e Mahnahén Velasco e os estúdios por trás foram a Mediterranee, Trebol Film com distribuição da Atlántida Films. Os produtores foram Ercoli, Alberto Pugliese e José Frade, que fez a função na distribuição internacional, embora não tenha sido creditado como tal.
O nome original do longa é Le foto proibite di una signora per bene. Em países de língua inglesa é conhecido como Forbidden Photos of a Lady Above Suspicion. Nos Estados Unidos também foi chamado Days of Anguish, na França é conhecido por Photo Interdite d'une Bourgeoise.
Em espanhol é chamado de Fotos Prohibidas de Una Dama já na Noruega é Forbudte Fotos na Noruega, na Grécia tem dois nomes Apo Pagida se Pagida e I Enohi Nyhta Ton Ekviaston e em Portugal é As Fotos Proibidas duma Senhora Bem.
O filme foi rodado em Barcelona, na Catalunha. A trilha sonora original é composta por Ennio Morricone, conduzida pelo igualmente talentoso Bruno Nicolai.
Luciano Ercoli acabou dirigindo poucas obras. Ele é mais conhecido por sua função de produtor, mesmo que conduzisse bem. Esse é o primeiro longa-metragem que ele dirigiria, depois fez A Morte Caminha de Salto Alto e A Morte Caminha de Salto Alto, que eram produzidos também por Pugliesi. Junto ao parceiro também trabalhou em Fantômas, O.S.S 117 e Agente OSS 117. Já José Frade trabalhou em S.077- Espionagem em Tanger, foi coprodutor não creditado em Uma Lagartixa num Corpo de Mulher.
A narrativa já inicia mostrando a personagem principal interpretada pela tcheca Dagmar Lassander. Minou está belíssima, sai da banheira, se veste e conversa sozinha.
Afirma que deveria se vestir de maneira menos recatada, como aconselhou sua melhor amiga.
Não há muita introdução, os fatos simplesmente ocorrem, as relações são dadas através de diálogos bastante expositivos e a ação é direta. Minou decide ir até as docas, teoricamente para encontrar o seu marido, mas lá se depara com outro sujeito, um homem cujo nome jamais é citado, que é creditado como "chantagista.
Ele é interpretado por Simon Andreu, espanhol que fez A Morte Anda de Salto Alto, contumaz parceiro de Luciano Ercoli. O sujeito surge no escuro perto dos barcos, parece estar ligeiramente alterado, perturbado tal qual alguém que bebe ou se droga.
Ele segura uma espécie de bengala, uma arma branca escondida, um objeto com cabo de madeira e lâmina. Depois de derrubar a personagem central ele sobre em cima dela, recorta as partes amarradas do decote do seu vestido, quase revelando o colo da moça.
O sujeito vai se aproximando do corpo de sua vítima de uma maneira lasciva e violenta sexualmente, faz tudo isso enquanto a ameaça. Nesse ponto ele não faz nenhuma exigência, mas a relação deles evolui para algo agressivo e violento bem rápido.
O sujeito não tem seu nome exposto, nem nesse trecho e nem no final. Quando começa a conversar com Minou ela imagina que ele pode ter informações sobre as indiscrições de Peter.
No entanto, ele não diz que o marido a trai, mas sim que ele é um assassino. A ideia dele é fazer ela abandonar o sujeito, para não correr risco de morrer, até verbaliza isso, mas como ele ameaça ela com a lâmina afiada perto do pescoço, o efeito não é o esperado.
Minou se assusta mais com o anunciador do que com o caráter homicida do seu marido, afinal, não havia qualquer garantia de que aquilo era real.
Lassander tinha experiência com filmes italianos de terror. Era conhecida especialmente por ter feito Alerta Vermelho da Loucura de Mario Bava e Tubarão Vermelho de Lamberto Bava. Ela estava no auge da beleza nesse, tanto que se exibe, aparece nua, mesmo se dizendo uma pessoa tímida.
Ao menos em sua intimidade permitia ser um pouco exibicionista, tal qual havia aconselhado sua amiga antes. Quem também aparece como veio ao mundo é a própria Dominique, que protagoniza fotos reveladoras, gravuras onde aparece em diversas poses, algumas de cunho sensual outra pornográficas mesmo.
Em uma dessas, entre as mais leves, ela está com Peter, em uma disposição em que parecem um casal.
Nieves Navarro é uma atriz de Almería na Espanha e na época assinava com um nome americanizado de Susan Scott. Ela fez essa personagem e musas em outros filmes de Ercoli, também esteve no clássico western spaghetti O Dia da Desforra.
Já Capponi era um ator romano, natural de Lazio, acostumado a trabalhar em seriados e filmes de mistério. Entre suas obras mais famosas, estão A Monja de Monza, A Vontade de Um General e Os Executores.
Minou aumenta ainda mais a sensação de desconfiança em relação ao marido, mas se preocupa mais nas possíveis indiscrições conjugais e menos na possibilidade de ele ser um assassino, afinal, quem o acusou foi uma pessoa desconhecida e completamente suspeita.
O cinema de Ercoli é conhecido por ter representações femininas no mínimo complicadas. Esse roteiro avança um bocado nessa classificação, já que tem um conteúdo bastante misógino também por tratar da personagem como uma tola que se preocupa exclusivamente com os próprios sentimentos.
Ao tentar pintar Minou como uma pessoa egoísta, o roteiro não se reflete minimamente sobre a condição da personagem, quase julgando que é desprezível se sentir mal com uma possível traição. Essa não é uma condição que preocupa apenas mulheres, ao contrário, há inúmeras obras literárias e de cinema que versam sobre adultério.
Minou conversa com o chantagista, até o reencontra pessoalmente. O sujeito é agressivo, puxa os seus cabelos, parece ter algum poder de convencimento com ela, a domina.
A problemática que faz esse filme parecer misógino é que ele retrata a personagem como uma mulher descontrolada, domada sempre por homens, um objeto que se movimenta ao bel prazer das pessoas, seja sexualmente ou por mera conveniência, incapaz de pensar por si ou de nutrir qualquer sentimento que mire a si mesma.
O tal egoísmo que ela pratica sempre mira terceiros, reside em ciúmes do marido, em sentimentos nos outros. Já os homens colocam em posições degradantes, de submissão. O marido a despreza, o "amante" a manda ajoelhar, obriga a ficar no chão, como se fosse um cão.
Os dois se deitam, de uma maneira tão horrenda que ela tem lembranças traumáticas do momento.
A partir daqui falaremos sobre segredos das tramas. Haverá spoilers. O aviso está dado.
As suspeitas de Minou estavam corretas, afinal, seu marido se relacionou sim com Dominique. O que não fica claro é que se isso ocorreu apenas no passado ou se eles têm um caso no presente.
Tudo que gira em torno da personagem de Scott/Navarro é curioso. Ela é o fator mais inspirado do filme, sempre anda elegante, com vestidos caros e reveladores, consegue capturar a atenção de todos os personagens e do espectador.
Ela é exibicionista, não faz concessão nem mesmo no momento em que ouve o desabafo de Minou, especialmente quando fala a respeito do receio dela de perder Peter. Ercoli parece apaixonado pela performance dela e de Andreau, já que as melhores falas e os maiores enfoques emotivos são nos personagens dos dois interpretes.
O chantagista é peculiar e charmoso, parece um sujeito obsessivo não só quando se fala nas pessoas que persegue, mas também nos objetos que carrega. É até natural que ele seja flagrado abraçando a bengala com faca retrátil.
O carinho que ele dispõe aos objetos não acompanha o modo dele tratar as pessoas, especialmente quando é mostrado lidando com mulheres - leia-se: Minou.
Ele é agressivo, violento e parece enxergar o belo sexo como uma posse e esse sentimento claramente aumenta com o passar do tempo.
Quando conversa com sua vítima, ele tenta inverter a lógica do encontro, afirmando que gostou tanto do momento de intimidade deles que voltou. Claramente ela só retornou por receio de ser vazada ou exposta.
A moça oferece 20 mil dólares para o bandido, pede os negativos das fotos, mas o homem não aceita, chama essa tentativa de comprar as fotos de chantagem, termina afirmando que não venderá a liberdade da moça, segue insinuando que deu a ela mais prazer do que ela jamais teve.
O visual e os cenários são deslumbrantes. A casa do perseguidor por exemplo é repleta de cores. Os personagens parecem habitar um universo tão exibicionista que qualquer lugar fechado lembra uma passarela.
A fotografia de Alejandro Ulloa (Expresso do Horror) favorece esses aspectos, destaca bem as cores, que se misturam e causam aflição em quem assiste. É como se a disposição e mistura desses elementos incomodasse simplesmente por existir, deixando as pessoas mal, tanto em tela quanto a quem assiste o drama.
Os fatos seguem e Minou quer se convencer que não será mais perseguida. Ao conversar com seu marido ou com o comissário Frank (Osvaldo Genazzani) ela não consegue provar que o chantagista existe.
O tempo inteiro seu discurso é colocado em cheque. Andreu aparece na casa do par, surge no meio do quintal, perto de uma parede de vidro. Minou acredita que ele está fazendo um esforço para desestabilizar ela mentalmente e a edição colabora para aumentar a sensação de que aquilo tudo é um devaneio, afinal, há uma grande chuva na parte externa, se um homem estivesse por ali, não apareceria só para assustar, sem fazer nenhum tipo de agressão física, a não ser que houvesse ali uma ideia de descredibilizar alguém,
A construção do ideal da mulher paranoica é claramente um plano de vilão, fato esse que colabora para fazer achar que o roteiro condena o preconceito relacionado a mulher, afinal, a personagem que tem a razão do seu lado aparece no final suplantada apenas por pílulas, que toma de maneira compulsiva a fim de aplacar a sensação de perseguição
Ercoli estabelece bem a ideia de duplicidade na trama, apelando para gaslighting, para a demonstração de que a mulher é uma pessoa tão emotiva e incapaz de enxergar a realidade que não por um prisma de extrema emoção.
Próximo do desfecho, no escuro, ela vê estátuas segurando a singular arma de seu perseguidor, uma mão com luvas segura o seu calcanhar, embaixo de uma mesa, mas ela escapa. Depois vê sapatos sociais embaixo de uma cortina, em uma armadilha bastante óbvia. A dúvida que fica é se somente ela vê aquilo.
O final possui algumas explicações, uma quantidade considerável de reviravoltas, com mortes, inserções da polícia e planos se desenrolando em cima de outros planos. Aparentemente havia uma grande necessidade de que que Minou fosse descreditada, tratada como louca.
Inconscientemente, acabou se tornando uma obra que louva a figura feminina, mesmo depois de uma jornada de degradação da imagem da mulher.
Não fosse pela larga explicação no final, Fotos Proibidas poderia soar mais impressionante do que é. Ainda assim é sucinto, misterioso, sexy e repleto de reviravoltas e suspense, além de ter um subtexto lésbico considerável, já que sua ideia central é claramente a de mostrar as personagens com um forte ódio aos homens e uma tensão sexual entre as duas personagens sobreviventes.