Crítica: Cowboys & Aliens

 

Iniciando a projeção com um cenário típico de faroeste – com montanhas e paisagens áridas –, tudo parecia ter sido tirado diretamente de um filme de John Ford, não fosse um estranho dispositivo alienígena acoplado ao braço do protagonista. Instaura-se aí uma estranha mistura de gêneros cinematográficos (western e ficção científica), que até hoje não havia entregado muitos resultados positivos – vide os fracos Padre e As Loucas Aventuras de James West. Ainda que o padrão não se estabelecesse muito alto, 'Cowboys & Aliens' é muito melhor do que os exemplos citados anteriormente, mas perde feio se comparado ao terceiro capítulo da saga De Volta Para o Futuro.

Na trama, o desmemoriado Jake Lonergan (Daniel Craig) acorda no meio do deserto com um estranho bracelete preso ao seu pulso. Quando chega à cidade mais próxima, é reconhecido como sendo um fugitivo perigoso e levado para a delegacia. Sabendo da prisão de Lonergan, o Coronel Dolarhyde (Harrison Ford) resolve tirar satisfações com o prisioneiro a respeito de uma quantia de ouro que este o havia roubado uns tempos atrás. É então que, quando várias espaçonaves invadem a pequena cidade destruindo todas as casas e abduzindo a maioria de seus moradores, o bracelete de Jake revela-se uma poderosa arma, a única capaz de destruir as forças alienígenas. Formando uma pequena milícia, os cidadãos precisam colocar de lado as suas diferenças para tentar resgatar seus entes queridos dos perigosos aliens.

Roteirizado pelo quinteto Mark Fergus, Hawk Ostby, Roberto Orci, Alex Kurtzman e Damon Lindelof – os dois primeiros, parceiros habituais do diretor, enquanto os dois outros são colaboradores de J.J. Abrams, criador de Lost, juntamente com Lindelof –, é visível que a maior influencia do time de escritores foi mesmo o seriado estrelado por Jack, Kate e Sawyer. Sendo assim, é natural que o filme seja perfeito no quesito “criar suspense”, tornando-se corriqueiras as situações em que as pessoas nunca perguntam exatamente o que querem saber, e que as respostas sempre venham em forma de enigmas. Além disso, outras referencias à série são vistas durante toda a projeção, seja no vulto do monstro; no barco no meio do deserto; no simpático cachorro; e na misteriosa mulher (Olivia Wilde), igualmente durona e teimosa.

Pegando carona também nos defeitos da série, é possível que muitas pessoas (não me incluo nessa lista) fiquem decepcionadas com as resoluções dadas e por alguns fatos simplesmente não sejam explicados. Porém, a grande decepção mesmo está no (inexplicável) fato do roteiro insistir em criar situações dramáticas e apresentar as subtramas através de péssimos diálogos – o que soa falso e forçado.

Fazendo o que pode com um roteiro fraco, o diretor Jon Favreau (Homem de Ferro) capricha nas sequências de ação, criando cenas que remetem diretamente ao faroeste – cowboys e índios lutando em montados em seus cavalos – e outras totalmente sci-fi – com o herói e a mocinha agarrados nas asas de uma espaçonave. Não aliviando, inclusive, no uso da violência, o cineasta não chega a criar nenhum banho de sangue (visto que precisa cuidar da censura), mas garante a crueza da situação, ao fazer o público sentir a força com que os socos são deferidos e ossos são quebrados – graças ao ótimo design de som, feito por David Farmer do horroroso A Garota da Capa Vermelha.

E ninguém melhor para quebrar ossos do que Daniel Craig. Encarando o seu Jake Lonergan como um brutamontes mal encarado que insiste em dizer que não quer confusão, enquanto bate em todo mundo que se aproxima dele – seja com ladrões, policiais ou aliens. Ao seu lado, o igualmente mal encarado Harrison Ford é uma agradável surpresa, já que o ator parece finalmente ter consciência da idade que tem, interpretando um velho carrancudo e reclamão. Sabendo da imponência do eterno Indiana Jones, Favreau acerta ao apresentá-lo de costas, deixando que o público imediatamente reconheça sua voz rouca. E se essa escolha narrativa é bem sucedida, mostrar Craig tomando banho sem camisa soa desnecessário – pelo menos para parte do público. Ainda se mostrasse a beldade Olivia Wilde na mesma situação, eu não reclamaria.

Mesmo com todos os seus defeitos, o longa funciona muito bem como distração escapista. É entretenimento de primeira, leve, divertido e esquecível. Mas também, o que você esperava de um filme que se chama 'Cowboys & Aliens?'

Redação

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