A busca de Constantine, a série, por uma identidade própria continua neste quarto episódio. O resultado é o melhor exemplar do seriado até agora, com um roteiro maduro que explora todo o potencial e a complexidade de Jonh Constantine, o personagem. Se a aventura da semana passada era o indicador do quanto o programa está disposto a evoluir, a dessa é resultado direto do que parece ser um crescimento constante de qualidade. E isso é muito significativo para uma primeira temporada.
A trama de A Feast of Friends adapta as duas primeiras edições de Hellblazer, tomando as devidas liberdades para adequar o conto ao universo da série, mas mantendo-se muito fiel ao espírito da original. Quando um antigo amigo de Constantine, Gary Lester (Jonjo O’Neill), chega nos EUA, traz consigo uma maldição, o demônio Mnemoth, que começa a fazer várias vítimas, obrigando o protagonista a resolver a situação. Enquanto o episódio passado exibia características da fase dos quadrinhos escrita por Garth Ennis, desta vez é o estilo de Jamie Delano que predomina.
Escrito por Cameron Welsh, o roteiro consegue ser bem enxuto, principalmente por focar na busca de John por uma resolução do problema. Ao colocar Zed para servir de “babá” de Lester, o texto consegue dar uma boa desculpa para manter a mesma estrutura da história original, em que o protagonista não tem uma parceira fixa, apenas consegue alguma ajuda pelo caminho, mostrando Constantine como o personagem solitário que é, e com motivos. A sua “maldição” de ferir aqueles que o acompanham é bem explorada, e inclui mais referências ao incidente de Newcastle, embora neste quesito o episódio acabe soando um pouco repetitivo por não adicionar muita novidade ao que já fora mencionado no piloto. Exibindo maturidade, a trama não tenta minimizar o problema de Lester com drogas e, ao mesmo tempo, sugere várias vezes que Constantine já foi usuário de diversos tipos de narcóticos, gerando uma boa sequência de alucinações quando o mago precisa usar uma planta psicodélica para saber mais sobre o demônio que está caçando.
Como já mencionado no texto sobre o primeiro episódio, as melhores histórias de John Constantine são sobre ele mesmo e exploram sua personalidade complexa, repleta de dualidades. Uma das grandes características do personagem é que suas ações jamais são unidimensionais, ou seja, nunca é motivado por altruísmo ou um desejo de simplesmente fazer o bem, como a maioria dos heróis. John é um anti-herói e faz o que faz por motivos que vão do “porque é preciso” até o “só pra saber no que vai dar”, tornando-o, assim, um protagonista mutável, imprevisível e cujo caráter é, muitas vezes, colocado em cheque. Por isso, este A Feast of Friends é muito feliz ao manter o desfecho da história original, adicionando um forte componente emocional que faz o espectador variar seus sentimentos por John entre raiva e compaixão em questão de minutos. Matt Ryan novamente justifica sua contratação para viver o mago.
Se o episódio enfrenta problemas, contudo, é na execução das cenas com as vítimas de Mnemoth. Talvez a fidelidade na forma como é mostrada a possessão deste demônio não tenha sido uma boa idéia. Nem tudo que funciona bem nos quadrinhos, funciona em carne e osso, e as sequências soam muito caricatas, principalmente quando a série resolve reencenar uma famosa imagem de O Exorcista. Por outro lado, a direção de John F. Showalter é certeira na criação das visões de Zed, que mostram Gary usando heroína, e na, já mencionada, sequência de alucinações de John, sem medo de um pouco de gore, afinal é uma série de terror.
Quanto a conexão da aventura com a trama central do seriado, não fica muito claro se a tal “Rising Darkness” tem a ver com a força de Mnemoth. Aliás, a série ainda precisa definir melhor o que é essa ascensão das trevas. Está na hora de um episódio focado nisso, para que a ameaça não seja apenas aquilo que os personagens dizem, mas sim algo que o espectador se importe. Os futuros roteiros também devem se preocupar mais em estabelecer uma ligação desta plot com a menção ao Primeiro dos Caídos feita na semana passada e com a trama paralela de Newcastle, já anunciada como parte fundamental desta primeira temporada.
Com uma sólida jornada rumo a se tornar uma boa série, Constantine agora precisa cuidar de sua audiência. O programa está apático e a NBC não costuma ter muita paciência com números inexpressivos, a não ser que o acordo com a DC/Warner garanta pelo menos uma temporada completa, daí toda a aposta do estúdio em seus novos seriados de 2014. Seria uma pena, agora que está mostrando potencial, um cancelamento prematuro.
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