Crítica: Mama

cartaz-mama“Seguindo os moldes do terror espanhol, filme cumpre bem seu papel de assustar.”

Em 2008, o afamado cineasta Guillermo del Toro assistiu ao curta-metragem Mama e simplesmente adorou e se encantou pela sombria atmosfera ali exposta. Exatamente por parecer muito com seu próprio estilo, em títulos como A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno. Tecendo, assim, rasgados e sinceros elogios, fez o pequeno trabalho de Andrés Muschietti, tornar-se conhecido dentre os fãs do gênero e abrir os olhos das produtoras para o potencial do projeto.

Não deu outra e é lançado agora em 2013 - novamente com a ajuda de del Toro, dessa vez como produtor executivo -, o primeiro longa-metragem de Muschietti, que, além de ser baseado no curta original, leva também o nome de Mama. Contando, em seu cast, com a atriz mais badalada de Hollywood nos últimos anos, a maravilhosa, e recente ganhadora do Globo de Ouro por A Hora Mais Escura, Jessica Chastain, que divide o protagonismo com o ator Nikolaj Coster-Waldau, o Jaime Lannister da série Game of Thrones.

Na história, Coster-Waldau vive os gêmeos Lucas e Jeffrey, esse último é pai de duas garotinhas, e, por um fator desconhecido, mata sua esposa, sequestra suas duas filhas e foge desesperadamente. Na escapada, o carro do homem derrapa num barranco e a família vai parar numa floresta. Lá eles encontram uma cabana e se refugiam. Após cinco anos de incessantes buscas, o tio Lucas encontra as meninas, sozinhas nesse casebre, em um estado primal. Completamente desumanizadas, com atos semelhantes à de um animal assustado.

Lucas mora com a bela roqueira Annabel, aqui interpretada por Chastain. Logo, os dois acabam se deparando com a realidade de terem que criar as duas garotinhas, Lilly (Isabelle Nélisse) e Victoria (Megan Charpentier), e tentar trazê-las de volta ao convívio social. Esse pode ser um problema, devido às condições financeiras do casal, mas, com o passar do tempo, eles percebem que é o menor deles. Casos bizarros começam a acontecer e uma obscura criatura aparece para atormentar as suas vidas.

Seguindo os moldes do cinema de terror espanhol, em títulos como O Orfanato e Os Outros, o diretor engendra uma narrativa bastante soturna e elegante. E, apesar de abusar dos clichês, Muschietti consegue criar um clima de suspense em quase todas as cenas, justamente por saber utilizar bem trucagens cinematográficas minimalistas, vistas em vários contos de terror e que são fundamentais para aguçar a atenção do espectador e prendê-lo totalmente na poltrona. Pequenos detalhes no canto da tela ou reflexos em objetos funcionam perfeitamente. Ele ganha mais um ponto positivo por não utilizar o velho truque do impacto sonoro, para forçar o susto na plateia.

O bom roteiro da fita é assinado, obviamente, pelo cineasta e sua irmã Barbara Muschietti, que também é produtora do projeto. Mesmo não conferindo grandes diálogos e sendo detentor de algumas muletas e buracos de texto, de um modo geral, o conto apresenta e aprofunda bem todos os seus personagens. E utilizando alguns flashbacks e sonhos, bastante eficazes e orgânicos, traz a origem dos casos apresentados. Sendo auxiliado pela competente montagem de Michele Conroy que, de maneira muito dinâmica, estabelece uma estrutura sólida dentro da narrativa.

Demos graças também ao bom elenco, que torna os personagens ainda mais interessantes. Tanto por Jessica Chastain que domina completamente em tela, ou pela presença de Nikolaj Coster-Waldau, que empresta sua elegância ao desenhista Lucas. Ambas as meninas, Isabelle Nélisse e Megan Charpentier, estão ótimas e ostentam performances impressionantes, tendo papéis importantíssimos para que a trama funcione.

Um dos maiores fatores que tornam Mama um filme hermético é sua estética extremamente gélida e fenecida. Através de lentes escuras, em quase todo tempo de exibição, a fotografia de Antonio Riestra é fundamental para a película. Dando um ar sombrio e ainda ajudando a esconder os problemas de efeitos especiais que tornam, na maioria das vezes, a criatura menos crível do que já deveria ser. A trilha sonora de Fernando Velázquez impetra êxito e, se por um lado soa discretamente com sua música incidental, de outro, no que se refere aos os sons diegéticos, aqueles que se escutam dentro de campo, tem papel fundamental no suspense. Barulhos distorcidos e peculiares causam realmente temor.

Por fim, é bom ter filmes como esses ainda hoje, que consigam cumprir decentemente o seu papel, sem precisar utilizar maniqueísmo barato, visto em outras produções do mesmo gênero, como os genéricos como Terror na Antártida e As Ruínas. É uma obra honesta e que em nenhum momento tem receio de utilizar os mesmos artifícios já vistos anteriormente em títulos aqui citados. Então, se você gosta de um bom suspense fantasmagórico e por que não dizer macabro, eis em Mama uma excelente pedida.

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