Jogos Mortais 5 é um filme de horror que discorre sobre o legado do assassino serial conhecido como Jigsaw. Lançado em 2008, tem direção de David Hackl, e é o primeiro filme da franquia pós saída de Darren Lynn Bousman, que conduziu os últimos três capítulos da franquia.
A obra segue a narrativa de Mark Hoffman, detetive feito por Costas Mandylor, que até esse ponto, variava entre a condição de vilão e anti-herói, mas também dá destaque ao agente do FBI Peter Sthram, de Scott Peterson.
Hackl foi alçado ao posto de diretor depois de ter sido o design de produção desde Jogos Mortais, seguindo na função em todos os filmes até aqui. Trabalhou também em Skinwalkers: Amaldiçoados, Outlander: Guerreiro vs predador, além de acompanhar Lynn em Repo! A Ópera Genética e em O Diabo de Jersey.
Após esse Jogos Mortais 5, ele seguiu dirigindo filmes, mas fora da saga Saw. Conduziu A Vida por Um Fio (2015), Caçada Selvagem (19) e Instinto Assassino em 2021. Nesse capítulo da saga ele seguiu com boa parte da equipe dos outros, garantindo assim o mesmo visual.
O longa foi montado pelo mesmo montador Kevin Greutert, tem música de Charlie Clouser, fotografia de David Armstrong, produção do trio Gregg Hoffman, Mark Burg e Oren Koules.
Foi produzido pelo estúdio Twisted Pictures, distribuído pela Lions Gate e rodado em Ontário Canadá e segue tendo como produtores executivos Peter Block, Jason Constantine, Daniel J. Heffner, Stacey Testro, James Wan e Leigh Whannell.
Esse filme segue os fatos pós-morte de John Kramer, sem cair na esparrela de apelar para algo sobrenatural ou para uma simples ressurreição do mesmo.
Jigsaw morreu, isso é um fato consumado e a palavra final, mas ele deixou alguém para seguir os seus ensinamentos.
Não há muito esforço para disfarçar que de fato haja um pupilo do psicopata, a dúvida (escondida de maneira porca) é quem seria esse, variando entre Hoffman e o agente Sthram.
Ambos passaram por armadilhas mortais e saíram vivos, embora em condições diferentes, já que Mark saiu sem grandes problemas enquanto o outro teve que se cortar, com uma traqueostomia para respirar.
Essa descrição dos fatos já deixa claro que Hoffman é muito mais suspeito, mas o roteiro de Marcus Dunstan e Patrick Melton insiste em explorar uma ambiguidade forçada. A realidade é que não há dicotomia alguma, é preciso muita suspensão de descrença para não associar Hoffman a Kramer ou para achar que é Sthram quem colaborava com o assassino em série falecido.
Esse capítulo possui outra armadilha conjunta, que reúne cinco pessoas em um ambiente, tendo que cooperar juntos, sendo obviamente ignorado pelos participantes. A ideia não é tão original, a dinâmica lembra um bocado o visto em Jogos Mortais 2, mas em um ambiente diferente.
As filmagens foram feitas em ordem sequencial, para obviamente fugir de problemas de continuísmo. A produção procurou alguns interpretes que trabalharam anteriormente, para fazer aparições em flashbacks. Um dos principais seria Danny Glover, que havia feito o policial David Tapp, mas ele recusou o convite por conflito de agenda, já que filmava Ensaio Sobre a Cegueira de Fernando Meirelles.
A trama começa novamente com uma armadilha mortal, envolvendo algum personagem que terá ligação com algum personagem. Esse é Seth (Joris Jarsky), um sujeito preconceituoso, supremacista branco que é preso a uma armadilha tipo O Poço e o Pêndulo, em uma referência a Edgar Allan Poe.
Conhecida como The Pendulum Trap foi orquestrada como um mecanismo funcional. Obviamente substituíram a lâmina de metal por uma de espuma, enquanto Jarsky estava embaixo dela.
As partes da máquina onde o personagem coloca as mãos também tinha espuma entre eles, que protegiam os membros de serem esmagadas quando o dispositivo foi ativado.
A cena é ótima, bastante gráfica, com o sujeito moendo as próprias mãos. Mesmo topando o desafio, ele não escapa. Essa armadilha lembra os métodos da Amanda Young de Shawnee Smith, especialmente por não parecer haver escapatória daquilo, embora não fique claro. O que não escapa a percepção geral é que não foi Kramer que projetou aquilo.
Peter Sthram aparece enfim, no mesmo ponto em que John Kramer morreu, o mesmo que foi cenário do final do terceiro capítulo da saga. Ele é capturado por alguém com fantasia de porco e é posto em uma armadilha de aquário, que deveria fazer ele morrer.
O trecho é tenso e acaba positivamente para o personagem, como dito antes, mas dá para perceber um empenho da parte de Patterson, ele desempenha bem o papel de alguém desesperado, em vias de morrer.
Sua solução é inteligente, mostra que ele é um sobrevivente nato, um bom rival para Hoffman, que também é assim, desde antes de se encontrar com John.
Já o detetive é tratado como herói, salva a filha da doutora Lynn e de Jeff. Logo após a ovação do mesmo, é mostrado ele em contato com Jill, a viúva de Jigsaw, interpretada mais uma vez pela pouco dramática Betsy Russell.
O protagonismo é meio dividido entre ele e Jill Tuck, especialmente depois que o advogado do assassino em série entrega a ela um envelope, com uma fita testamento. A questão que complica isso é que Mandylor é um ator que apela para canastrice, mas ainda é bom ator, já Russell não convence em nada.
O roteiro não é um primor. Se aproveita ainda de vários elementos ditados por Leigh Whannell, mas estica demais a corda, força a barra mostrando Jigsaw como alguém onisciente, como se fosse um enxadrista quase perfeito, capaz até de prever o futuro. Ele prepara provas para Sthram, para Hoffman, para sua ex-mulher.
Algumas armadilhas podem ter sido pensadas por seus assistentes, mas não fica claro quem sabe o que. O sujeito é tão genial que alastrou sua influência e conhecimento mesmo depois de morto.
Esse longa marca o declínio visual da franquia. As transições escuras já eram um indício de que a saga estava se tornando cada vez mais parecida com um seriado televisivo, só que veiculado no cinema. Os aspectos visuais reforçam isso, tudo parece acinzentado, sem cor e sem vida.
Hoffman é promovido, a polícia declara Kramer morto, comemoram a morte de Jigsaw, mas ainda assim há a tal armadilha grande, ou seja, a comemoração da polícia foi à toa, uma vez que os jogos violentos seguem sendo feitos.
Sthram permanece como um detetive sortudo, que recebe pistas de maneira conveniente, quase mágica. Ele descobre que Hoffman matou Dexter e tentou fingir que foi Jigsaw - erra ao fazer a ferida de quebra cabeça com uma faca, não com um bisturi.
Ao público é dada a informação que Dexter matou a irmã dele, fato que mostra Mark como um sujeito com motivo, capaz de assassinar pessoas de maneira passional e vingativa, com grandes semelhanças com John.
Depois que o agente do FBI enxerga a participação do tenente em vários crimes, vem um flashback, que finalmente coloca Tobin Bell em cena, se encontrando com Mandylor.
Nesse trecho fica claro que a armadilha do pêndulo foi no passado, e que John pegou Hoffman por conta dela. A cronologia vai se esgarçando cada vez mais, no entanto, até aqui, não fica confusa, não tão confusa, na verdade.
Hoffman imitou o serial killer, que retribuiu a imitação capturando ele, mas não sem se revelar. Deu a ele o privilégio de estar cara a cara com o arquiteto de armadilhas, é evidente que ele está recrutando gente, como fez com Amanda Young.
O retorno a momentos clássicos da saga poderia ser bem utilizados caso a distância entre filmes fosse grande. Não é o caso, o quinto filme é de 2008, desde 2004 sai um por ano, é difícil ser saudosista, é quase impossível ser traído pela memória também, fato que torna esses flashbacks em eventos desnecessários.
O que vale a pena na exploração dramática é a demonstração dos detalhes dos jogos e também a intimidade exposta de Mark Hoffman, que colaborava há muito tempo com John, tendo autoridade e autonomia tão grande que rivalizava nesse quesito com Amanda Young.
Hoffman achava que Jigsaw deixava o trabalho frouxo, que dava muitas chances ao acaso, mas Kramer não concordava com ele, dizia deixar brechas para colocar em cheque a inteligência e o instinto de sobrevivência das pessoas, dando assim chance delas se consertarem.
Retcons à parte, há algumas boas armadilhas temperando o filme, destaque para o choque em Luba (Meagan Good), sequência essa bem macabra, que é violenta mesmo sem ter muita exposição de sangue ou gore. Os jogos são elaborados para causar incômodo em quem vê e nisso, acerta.
Esse é dos scripts o mais piegas escritos para a franquia, não só por pautar o drama em uma armadilha que necessitava da cooperação de todos, que mirava a mensagem de união forçada, mas também pela lição de moral empregada a Peter Sthram, quando chega o momento derradeiro dele escolher se sacrificar ou não.
Jigsaw fica mais moralista e mais afeito a pegadinhas ao longo dos filmes, além de ser tão inteligente que pensou em não uma, mas duas armadilhas mortais para Sthram, que aliás, ele sequer conhecia.
Patterson achou estranho ver os modelos dos próprios braços circulando no set. Só ficou sabendo do destino do seu personagem ao se deparar com isso. Com essa armadilha, ele riu, mas ficou desesperado ao saber que sua cabeça seria posta em uma caixa lacrada que se encheria de água, no início do filme. No final ele aceitou fazer a sequência, inclusive sem dublê. Várias tomadas foram necessárias, no entanto, para capturar a cena, pois ele se sentiu desconfortável em vários pontos durante a filmagem da cena.
Jogos Mortais 5 é o retrato de uma clara queda na saga. Não possui nenhum grande destaque em atuação, Mandylor, Patterson e Bell parecem estar cansados, não à toa. O texto não coopera, assim como a direção, que consegue ter ainda menos personalidade que da tetralogia anterior, ainda é fechado valorizando o acaso, o aspecto tão louvado por John.
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