Freddy x Jason - O divertido confronto entre os ícones do terror

Freddy x Jason - O divertido confronto entre os ícones do terror Freddy x Jason é uma promessa de acontecimento cinematográfico desde que as franquias respectivas começaram a fazer sucesso. O crossover foi um verdadeiro fetiche por anos, seja entre fãs de filmes de horror, aficionados do cinema B e até entre os fanáticos por filmes pipoca. O projeto finalmente ganhou as telas do cinema há vinte anos, em 2003, e contém uma história simples, mas elaborada em premissa.

Basicamente Freddy Krueger tem o receio de ser esquecido pelas crianças da Rua Elm e arredores, e se vê em vias de sumir. Para não perder acesso ao mundo real ele decide manipular Jason Vorhess, para que ele mate jovens que gostam de beber, transar e se entorpecer, para assim voltar a ser temido em sua cidade natal, Springwood através do medo em outra figura assassina. Obviamente que isso dá errado e o assassino espiritual entra em confronto com o matador zumbi.

Para esse evento da sétima arte foram convidados a participar Robert Englund, interprete do personagem em outros sete filmes, além do dublê Ken Kirzinger, estreante na franquia, uma figura imponente e agressiva.

Depois de Sexta-Feira 13 - Parte 8: Jason Ataca em Nova York, os direitos da franquia deixaram a Paramount e voltaram a Sean S. Cunningham, e ele foi trabalhar com a New Line.

Apesar de ser um desejo antigo, o longa passou a ser de fato pensado e pré-produzido pela década de 1990, sempre sendo adiado, entre outras coisas, graças ao retorno de Wes Craven em O Novo Pesadelo - O Retorno de Freddy Krueger, fato que aliás é bem irônico, já que Craven e Cunningham produziram filmes juntos (inclusive Aniversário Macabro), além do fato que Craven aconselhou bastante seu amigo a dar mais dinamismo ao primeiro Sexta-Feira 13. É no mínimo curioso que o retorno dele a sua criação mais famosa fosse um impeditivo temporário.

Após Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira (o nono filme da franquia) o embate quase saiu, mas devido à demora, Cunningham forçou a barra para lançar já pela New Line o cômico e parodial Jason X.

Em algum ponto, o desejo dos estúdios é que o longa fosse dirigido por Peter Jackson, que optou por adaptar a trilogia O Senhor dos Anéis. Outro cineasta cogitado foi Rob Zombie, mas a condução acabou nas mãos de Ronny Yu, cineasta nascido em Hong Kong, que havia feito A Noiva de Chucky cinco anos antes.

Yu ficou famoso por conseguir trazer horror e humor de maneira pop em seus longas, com um estilo semelhante rápido, estilo o que era visto em videoclipes famosos, agradando assim a geração de fãs de terror que amava a programação da MTV.

O texto conterá spoilers a partir da imagem a seguir.

Freddy x Jason - O divertido confronto entre os ícones do terror

A narrativa tem início com Englund afiando as garras, sem a maquiagem característica de uma vítima de queimadura, ou seja, de cara limpa. Ele encurrala uma criança perto da fornalha que serviria de seu túmulo em Springwood.

Essa introdução além de apelar a um certo ineditismo (já que Freddy ainda é humano e vivo) é também uma boa saída para explicar ao público quem ele é e o que ele faz e sem delongas.

Foi Englund o fator que mais pesou para a mudança de interprete de Jason, uma vez que Kirzinger é mais alto que Kane Hodder, que vinha fazendo o papel desde 1988 em Sexta-Feira 13 Parte 7: A Matança Continua.

O novo Jason tem 1,96 de altura, e desse modo, é bem mais alto que Englund, 1.78). Hodder não era baixo, tinha em torno de 1,85m, mas a escolha foi por deixar Jason bem maior que seu rival, colocando frente a frente uma máquina de matar musculosa e gigante e outra mais cerebral e esperta.

Kirzinger não era inexperiente no ramo do terror, mas sua carreira era mais ligada a um cinema fora do gênero. Havia feito um sem números de acrobacias e dublês em filmes como Romeu + Julieta, Lua Negra e Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D.. Além disso, teve papéis importantes como monstros em fitas de terror, tais quais 13 Fantasmas (2001) e Pânico na Floresta 2 (2007).

Freddy x Jason - O divertido confronto entre os ícones do terror

O roteiro de Damian Shannon e Mark Swift é bem esperto em estabelecer a mitologia do personagem, exibindo um compilado de seus atos homicidas junto, para mostrar a ferocidade e sua identidade.

A dupla de escritores voltaria a atuar juntos no remake-reboot Sexta Feira 13 de 2009 e na adaptação de outro ícone do passado, no caso, o filme Baywatch: SOS Malibu, dirigido por Seth Gordon e estrelado por Zac Effron e The Rock.

Krueger é o narrador e capitulador da desventura. Ele traz o carniceiro de Crystal Lake de volta a vida e o enfia em um cenário diferente, um ambiente de névoa, tal qual era comum ao visto em A Hora do Pesadelo clássico, mas ainda com millenials fogosos.

Essa mistura de elementos, entre o subúrbio de Springwood com o o pântano cheio de lodo onde Vorhess atacava é possivelmente o ponto onde mais se condensa de ambas as franquias em todo o filme, uma vez que a maior parte do roteiro, lembra mais um filme de Freddy do que de Jason.

Na primeira parte do filme, Jason parece mais fraco, lembra mais a versão magra dele em Sexta Feira 13: Parte 2. Mesmo sutilmente, Yu determina que o assassino evolui aos poucos depois que retorna dos mortos, tanto que a lembrança de sua mãe, Pamela, ainda o afeta.

Freddy o manipula utilizando a figura dela, interpretada aqui por Paula Shaw, atriz veterana em seriados como M.A.N.T.I.S., Arquivo X, The Outer Limits e A Nova Família Addams. Shaw é substancialmente diferente de Betsy Palmer, mas faz bem seu papel, por mais exagerado e histriônico que seja.

Freddy tem receio de ser esquecido, e não é à toa, afinal, ele não era mais tão falado. Pegando carona em um conceito que Neil Gaiman utiliza em seu livro Deuses Americanos, uma entidade quando deixa de ser mencionada ou fica carente de crentes, desaparece.

Para não ser esquecido, Freddy usa toda sorte de artifício e disfarce, sendo a mais marcante uma cena dele todo vermelho, meio demoníaco. Essa diferença se percebe não só em sua pele, mas também no ambiente em volta, já que quando ele ataca e é o centro das atenções, a cor que predomina é o vermelho.

O Embate do Século: Freddy encontra Jason nos cinemas!

Vale destacar a trilha sonora, cheia de músicas de sucesso, em versões alternativas e músicas que variam entre o Nu Metal e Metal-Core principalmente, a exemplo de Beginning of the End do Spineshank, When Darkness Falls de Killswitch Engage, Army of Me de Chimaira, além de coisas mais pop como First Time e Clap Your Hands Pt.1 ambas tocadas pela boy band imX.

Um diferencial dessa para outras sequências de filmes de matança é o elenco de jovens. Normalmente esses grupos são formados por desconhecidos, que podem ou não ficar famosos depois.

Aqui não há ninguém escandalosamente grande, mas há algumas caras conhecidas, como Katharine Isabelle de Possuída/Ginger Snaps que faz Gibb feita por, a Destiny Child Kelly Rowland, e a final girl não convencional feita por Mônica Keena de séries como Undeclared de Judd Apatow, Dawson's Creek e da comédia O Homem da Casa.

Keena faz Lori, uma menina obstinada, de moral boa, organizada e correta, sendo o cúmulo do clichê da heroína em filme de assassino.

Ela é jovem, bonita, gosta de festejar, e acaba junto as outras amigas marcando de se encontrar com uns meninos, onde eventualmente elas podem ou não ceder aos gracejos sexuais dos rapazes.

Há um cuidado visual legal, primeiro com as mortes, cheias de grafismo e violência que evitam interferências digitais, especialmente no começo. Segundo, nos ambientes seguros, há o predomínio da cor azul, que representa a segurança dos humanos comuns, como em se tratando de um filme sobre chacina de jovens, é obviamente frágil.

O Embate do Século: Freddy encontra Jason nos cinemas!

Com o tempo, os jovens - com Lori entre eles - passam a ter sonhos assustadores, graças as ações de Freddy. Esses momentos assustam, são legais, utilizam de um CGI que não é exatamente ruim, mas soa datado. 2003 essa tecnologia não estava no auge, evidentemente.

No entanto Jason está afiado (com o perdão do trocadilho), e enquanto alguns jovens estão dormindo são cortados por ele, que como Freddy, faz piadas, ainda que as suas sejam físicas e não verbais.

Ele prepara armadilhas com um corpo decapitado do lado do personagem insone, para que ele esbarre no pai e caia sobre ele a cabeça. Quando Jason é o perigo maior, as luzes dos locais ficam verdes, sendo essa sua cor predominante.

Freddy x Jason - O divertido confronto entre os ícones do terror

O texto acerta ao dar importância e vulto ao comportamento de dois personagens: Vorhess e de Krueger.

Desse modo, os dramas terrivelmente chatos dos garotos até são abordados, mas parecem filler, um mero preenchimento para o algo maior, que é a luta entre as partes que nomeiam o filme.

O draminha juvenil vale a pena em alguns pontos, especialmente quando são assessórios a ação de Freddy e Jason, como nos momentos de devaneios de Gibb (Isabelle), vendo ex-namorado como uma aparição pós-morte.

Se não é assustador ao menos é bem filmado, engraçado, e com tons em um vermelho aterrorizante, com cores infernais que mostram o possível futuro dela e de todas as vítimas.

O filme ainda pune personagens assediadores, elevando a questão do moralismo para alguém além de punir quem transa, sendo ainda mais cruel com quem é um predador sexual, como na cena em que Gibb simplesmente morre sem dor, enquanto o rapaz que tenta se aproveitar dela é massacrado, falecendo lentamente e com muita dor.

Fora isso, a participação de Will (Jason Ritter) é terrível. Ele acaba repetindo o mesmo drama de Jesse e Jade em A Noiva De Chucky, mostrando um casal (dele com Lori) tentando se emancipar da família tóxica da moça.

Já a morte de Mark (Brendan Fletcher) é uma sequência repleta de sustos. Mostra uma banheira repleta de sangue, apela para ofidiofobia, queimaduras, golpes de lâmina no rosto. Freddy não está só cruel, mas também criativo, e rivaliza bem com Jason nesse quesito.

Tem outros pontos legais, como quando Freddy vira uma lagarta maconheira, e ilude um personagem que lembra uma versão genérica de Jay e Silent Bob.

Freddy x Jason - O divertido confronto entre os ícones do terror

Freddy inclusive toma o corpo de um personagem, como se fosse um possuído, tal qual ocorreu com Jesse em A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy, filme geralmente ignorado pelos fãs, uma vez que Freddy age de maneira diferente.

O artifício além de justificar o filme ignorado, ainda permite que Jason durma, uma vez que o rapaz dá a ele drogas soníferas, e enfim os vilões brigam. A luta é cheia de quedas, dilacerações, golpes mortais que quase não causam dano, e vários quedas ricocheteadas.

É um confronto no estilo os desenhos surtados do Pica Pau, Tom e Jerry ou Looney Tunes, só que mais violento ainda, como em Comichão e Coçadinha.

Yu ousa, mostrando Jason regredindo a forma de criança, vulnerável sentimental e fisicamente, ainda chega ao cúmulo de refazer a cena de afogamento de Jason, algo não antes visto, de maneira profana, com Freddy fazendo as vezes de monitor que transa enquanto o rapaz se afoga.

Freddy x Jason - O divertido confronto entre os ícones do terror

Essa sequencia ainda termina com o assassino despertando depois do afogamento, onde uma das personagens femininas quase decide ceder aos pedidos dos rapazes para fazer respiração boca a boca nele. Não há qualquer sentido nem nesse possível gesto e nem em confiar que Jason estaria do lado deles.

Já na batalha final, no mundo real, dá para notar que a caracterização de Vorhess é de uma pele putrefata e azulada. Seu corpo mudou ao longo do filme, aspecto semelhante ao que ocorreu com o Gigante Esmeralda no Hulk de Ang Lee também de 2003, mas aqui ainda faz sentido, pelas passagens de tempo, e pelo fato de que ele pode estar recuperando as forças com o tempo e enquanto mata os outros.

O trabalho de maquiagem do finado Bill Terezakis é ótimo, seus moldes de rosto e variações dos monstros enriquecem a apreciação e o visual do filme.

Os efeitos práticos são ótimos, pudera, vem do profissional que esteve em centenas de filmes e séries, incluindo a trilogia recente Planeta dos Macacos, O Homem do Castelo Alto, além de produções antigas pitorescas, como Geração X, Romeu Tem Que Morrer, Bones: Anjos das Trevas e até Jason Ataca Nova York.

Jason e Freddy mudam de lado, cada hora um é o ser que possivelmente está do lado dos humanos. Isso é ótimo, pois valoriza a importância de ambas sagas de horror, e mostra que no fim, eles trabalham apenas para saciar a própria ânsia por sangue.

No final há referências a falas clássicas, inversões de papéis entre Jason e Freddy no uso de suas armas e clichês. De fato o que se vê é um confronto muito bom, diferente de Alien vs Predador de Paul W.S. Anderson, onde quem vê o filme até o filme sai perdendo, ou Batman vs Superman que traiu todas as expectativas dos fãs de quadrinhos.

O que se percebe aqui é algo profano, descompromissado com grandes discursos e um louvor aos personagens de Craven, Cunningham e Victor Miller, claro, motivado pelo lucro.

Yu brinca demais com os ângulos, usa muito slow motion, e enquadramentos típicos do cinema de de Hong-Kong, pega formas de registro típicos de filmes de ação e usa para registrar o sangue a violência extrema. Isso dá personalidade ao filme, e ajuda a mostrar que não há escapatória para os personagens.

Freddy x Jason faz jus aos melhores momentos de horror de ambas histórias clássicas, e é sábio em optar por algo mais despojado e engraçado. Yu acerta demais em não levar a sério o embate e o faz de maneira respeitosa aos dois ícones, dando momentos de brilho a ambos, trazendo uma narrativa divertida e sangrenta, que tem um bom gancho para sequências que - graças a Deus - jamais vieram.

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