Oferenda ao Demônio é o novo filme de terror do diretor britânico Oliver Park. Sua trama brinca com mitos antigos, com um conjunto de crenças ligadas ao judaísmo e com uma maldição de origem supostamente espiritual, que brinca com expectativas familiares e com o receio típico de um pai que vê sua família crescer.
A história gira em torno de um casal, Arthur (Nick Blood), um vendedor de imóveis que está passando dificuldades financeiras, e Claire (Emily Wiseman), uma mulher que já está grávida de sua primeira filha.
A família do esposo tem origem judaica, e são praticantes de todos os ritos semitas possíveis, são praticantes da religião, ao contrário de Art, que não parece tão ligado as questões de crença como a geração anterior.
Arthur é filho de Saul (Allan Corduner), que por sua vez é proprietário de agência funerária. Ao voltar para a sua terra, o herdeiro tem um desejo de em vender o negócio.
Uma vez que ele não tem qualquer intimidade com o serviço de cuidar dos mortos, seu desejo é o de encerrar as atividades, desejando então usar o dinheiro dessa venda investir em algo mais rentável.
Como é de se esperar, ele sofre resistências, ganhando a rejeição quase automática de Heimish (Paul Kaye), o auxiliar de seu pai, que obviamente quer seguir no ofício.
Como esse é um filme recente, haverá spoilers. Estejam avisados.
Na pfrimeira cena, um idoso da comunidade chamado Yosille (Anton Trendafilov), faz uma fogueira dentro de casa, em um cenário curto, que parece o de uma biblioteca.
Já se nota um clichê horroroso utilizado aqui: um espírito saindo como vapor preto da boca.
Outro chavão presente no início, é o suicídio utilizado para conter o diabo. Aos poucos, é desenrolado que a criatura, seja ela qual for, é uma entidade tomadora de crianças, oriunda de uma crença antiga, louvada pelos mitos do Leste Europeu.
A morte de Yosille gera uma comoção na comunidade local, especialmente graças ao boato de que após a morte de sua esposa, ele se entregou a práticas esotéricas.
Como o cenário é de praticantes tradicionais do judaísmo há obviamente um conjunto de julgamentos taxativos em relação a religiões ou crenças diferentes, fazendo desse personagem morto, persona non grata, já que é visto como alguém herege.
O sujeito então é levado para a preparação dos procedimentos funerários e em seu corpo, há um estranho cristal azul. Entre os momentos mais memoráveis dele, há uma série de sustos baratos, com seus olhos abrindo do nada, em uma manifestação comum de rigor mortis que serve obviamente de jumpscare.
Essa é uma questão pontual, Park apela demais para barulhos altos e ensurdecedores. A edição de som é sensacionalista ao extremo, sobretudo nas cenas em que os personagens estão sozinhos.
É curioso, uma vez que o diretor foi bastante elogiado em suas aventuras em curta-metragem, sobretudo em Vicious (2015), que foi largamente elogiado no site de curiosidades Buzzfeed. Esse aliás é seu primeiro filme longo solo, já que em 2019, fez A Night of Horror: Nightmare Radio com outros dois cineastas.
De positivo, há alguns momentos com Emily Wiseman em tela.
A moça atua bem nas cenas de susto e ajuda a transportar o espectador para o receio dela e para a condição de mãe preocupada com eventuais influências a sua gravidez.
O problema ocorre na verdade em outras cenas, em que ela tem que demonstrar perplexidade, desconfiança e preocupação, onde ela está sozinha, sem o auxílio do som estourado e que de objetos.
Curiosamente as partes mais emocionais ocorrem com um silêncio absoluto. Claramente Park imita James Wan e seus subprodutos, emula sem qualquer pudor o estilo e métrica do cineasta malaio, especialmente nos encontros entre homens e aparições.
Outro aspecto legal é a boa exploração espiritual como fonte do horror, tanto com a entidade que vitima Saul que parece um bode, quanto na criança vestida de azul e pele pálida que aparece para a grávida, especialmente depois da morte do sogro da mesma.
A presença fantasmagórica conversa diretamente com o receio da maternidade, já que a menina pede socorro, implora ajuda, simbolizando possivelmente a criança gestada no ventre de Claire.
Mas a maioria dos medos e receios se baseiam em clichês, como na gravação de relatos em uma mídia morta, uma fita cassete, com um gravador na casa de Yosille. Na gravação, Sarah, a tal criança interpretada por Sofia Wolden, aparece flutuando sobre um símbolo talhado no chão - que é o mesmo que Art sonâmbulo, fabrica - e morre, depois de cair bruscamente.
A cena é boa, só que por estar em fita cassete, tem um aspecto envelhecido e pouco nítido.
Fora isso, o sacrifício da pequena parece um aspecto narrativo jogado, sem grandes importâncias, entre outros fatores graças a presença de outros tropos de sustos, como uma idosa macabra e um mal que é praticamente impossível de deter, mesmo que as partes rivais se unam para tentar vencê-lo.
Se não como derrotar o ser maléfico, a luta é em vão, e não tem como se importar, e essa questão é telegrafada ao espectador ainda no início. A produção poderia ser fora da curva, poderia valorizando os movimentos sagrados judaicos, mas faz pouco deles, não diferindo quase nada do exploitation comum de filmes de possessão pós O Exorcisno de Emily Rose.
Oferenda ao Demônio é derivativo, uma produção que pouco inova e valoriza demais soluções comuns a cena de filmes de horror pipoca, e quando vai mostrar seu final, e quase cai na alternativa tosca de afirmar que "foi tudo um pesadelo", fugindo dessa situação nos últimos instantes. Pelo menos foge do lugar comum hiper feliz, deixando os personagens desprotegidos, esperando as desgraças que virão.
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