Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstrosGodzilla é uma obra clássica do cinema japonês, que mistura elementos de drama, de horror atômico e com o medo geral da população após os ataques oriundos que os EUA impingiu sobre a nação japonesa durante a segunda guerra mundial.

Lançado em 1954, capitaneado pelo diretor Ishirô Honda, o filme acabou sendo a pedra fundamental não só da exploração dos kaijus no audiovisual, como também dos tokusatsus no geral, além de ser a ponta de lança de uma franquia que tem dezenas de filmes, séries, revistas em quadrinhos, vídeo games e diversas versões estrangeiras, especialmente no ocidente.

A história parte de uma premissa simples, mostrando o país japonês dez anos após a guerra, tendo que lidar com uma catástrofe supostamente natural, que é um animal de tamanho gigantesco, que surge do mar e assola as cidades em volta.

A questão óbvia é que tal criatura, chamada por crédulos de uma pequena ilha de Gojira, não deveria estar ativa. Sua origem não é exatamente conhecida, cogita-se que ele pode ser um monstro ancestral há muito adormecido ou um animal modificado graças a ação da radiação oriundas das bombas jogadas em Hiroshima e Nagasaki.

Esses preceitos fazem desse o filme mais assustador da franquia, sendo facilmente colocado como um filme de terror e horror literal, já que a criatura é destruidora e sem origem conhecida, ele causa receio na população, explorando a história de uma maneira que coloca o monstro em um pedestal de temor e receio.

A ideia inicial do longa partiu do produtor Tomoyuki Tanaka. Ao olhar para a água em uma viagem onde voltava da Indonésia ele começou a imaginar o que havia abaixo da superfície, elucubrando que poderia haver ali um monstro.

A ideia de Kaiju ou kaijū casa bem com essa premissa. A palavra é traduzida como besta estranha ou monstro estranho. Normalmente essas criaturas estrelam filmes de horror ou ficção cientifica, podem ser seres benevolentes, malvados ou figura neutras, que só querem viver suas vidas.

Normalmente são temidas unicamente pelo fato da humanidade não entender quem elas são. O fato de não compreender como e por que elas vivem faz com que elas sejam malquistas.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Na tradição folclórica do Japão não há figuras semelhantes a kaijū, nem mesmo entre os yōkai - os demônios asiáticos, que não tem qualquer ligação com demônios da tradição crista. Ainda assim há como encontrar exemplos de megafauna na mitologia japonesa, como os dragões lendários.

Depois que o Japão foi aberto às relações exteriores, após o período de país fechado (conhecido como Sakoku) em meados do século XIX, o termo kaijū passou a ser usado para expressar conceitos da paleontologia e criaturas lendárias de todo o mundo, a exemplo do extinto criptídeo semelhante ao Ceratosaurus apresentado no conto The Monster of Partridge Creek, do escritor francês Georges Dupuy publicado em 1908.

As obras de Júlio Verne foram apresentadas ao público japonês, alcançando grande sucesso por volta de 1890 também graças aos monstros gigantes, que popularizando mais ainda o conceito.

Gojira/Godzilla não foi o primeiro Kaiju do cinema, por assim dizer. Tanto em 1925 no filme Mundo Perdido quanto em King Kong de 1933 já havia o conceito estabelecido.

Teoricamente, essa obra de Honda é a primeira feita no Japão. A ideia de Gojira também foi tem origem na frustração do produtor Tomoyuki Tanaka, que após cancelar uma coprodução nipo-indonésia chamada Eiko kage-ni resolveu usar alguns dos conceitos dessa obra inacabada.

Dali saiu a ideia de explorar um acidente em que um barco de pesca japonês chamado Lucky Dragon No. 5 se aventurou muito perto do teste da bomba de hidrogênio estadunidense Castle Bravo, no Atol de Bikini uma das Ilhas Marshall no Pacífico Sul em 1º de março de 1954.

O incidente real da bomba seria o ponto de partida para a exploração desse novo horror, substituindo a contaminação da tripulação por uma criatura gigante e poderosa, capaz de destruir tudo.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Embora esse incidente seja sempre citado como inspiração, não foi nominalmente reproduzido no filme, a única referência velada é uma breve menção a Nagasaki.

Iwao Mori foi o produtor executivo do longa-metragem. Já o roteiro ficou a cargo de Takeo Murata e Honda.

Há um livro comumente associado como material original, mas que na verdade não é. O escrito é de autoria de Shigeru Kayama se baseou em um drama de rádio da Nippon Broadcasting System, cujo roteiro dramático foi escrito por Shiro Horie e Sango Nagase. O programa é uma variação de um dos rascunhos do roteiro de Murata. O programa foi ao ar de 17 de julho a 25 de setembro de 1954.

Já o filme estreou em 27 de outubro, em Nagoya, no Japão, em uma premiere. No resto do país, saiu em novembro.

Um diretor cogitado para o filme seria Senkichi Taniguchi, o cineasta que fez Mar Inquieto e Entretanto, Eu Te Matarei, que era amigo de Ishirô Honda e Akira Kurosawa.

Em uma entrevista de 1992, Ishirô Honda falou que a intenção primária em contar essa história era refletir o que aconteceria se algo como Godzilla realmente aparecesse na Terra.

Ele planejou escrever um pouco mais sobre a ação do governo, premissa essa que foi pauta de Shin Godzilla de Hideaki Anno. No entanto, o mais importante é que o filme era sobre terror e choque, mostrando até os cientistas desesperados, por não conseguir lidar com uma situação limita tão calamitosa.

O terror mora nessa constatação e é por isso que a filmagem parece muito documental e pouco fantástica, por isso não há tanto espaço para cenas dramáticas, sem muitos cenários disponíveis (por motivos orçamentários, claro) por isso se focou mais na desolação sentimental e medo do futuro.

Um mito comum sobre a origem do filme afirma que Honda atravessou as ruínas de Hiroshima ao retornar do serviço militar, maravilhado com a morte e a destruição causadas por uma força invisível. Isso teria inspirado ele, mas foi desmentido pelos estudiosos Ed Godziszewski e Steve Ryfle em uma biografia sobre o cineasta, publicada em 2017.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Honda não andou em Hiroshima, ele apenas andou de trem que parou brevemente perto da cidade; e ele realmente não viu os edifícios destruídos, pois a cidade estava cercada por um muro.

O título original do longa é Gojira, obviamente. O termo rivaliza com Godzilla pelo chamamento mais popular no mundo. Um dos títulos alternativos é Godzilla, King of the Monsters! em atenção a estranha versão estadunidense do longa, que chegou aos cinemas ocidentais em 1956.

Se chama Japón bajo el terror del monstruo na Espanha, na Tchecoslováquia era conhecido por Probuzená zkáza, na antiga Iugoslávia era Godzila, morsko čudovište, na Bulgária é Годзила, Dinamarca é Godzilla, uhyrernes konge, no Egito é Judazila, na Suécia Godzilla - monstret från havet, enquanto no Uruguai é Godzilla, rey de los monstruos.

Na Alemanha Ocidental era chamado de Godzilla - Der sensationellste Film der Gegenwart, enquanto em Portugal é O Monstro do Oceano Pacífico.

O filme foi filmado no Japão em Toba-Mie, em Tóquio, nas dependências da Toho Studios, que também fica no centro do Japão.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

As cenas da violência foram filmadas em um cenário elevado para que a câmera pudesse ser colocada em um ângulo mais baixo.

A equipe projetou o piso em madeira e gesso. Parte da ideia era a de colocar Godzilla afundando seus pesados pés no concreto, criando pegadas, mas isso se tornou um problema, já que os atores em traje de monstro tropeçavam e caíam nas miniaturas, dada as dificuldades em relação a mobilidade. A ideia foi abandonada pelo trabalho de reconstruir ou reparar as miniaturas de cenário.

Toho Film (Eiga) Co. Ltd. foi a companhia que fez o filme. Recentemente o filme foi abraçado pela Shout! Factory, em uma distribuição digital pelos Estados Unidos e pelo mundo. A distribuição foi da Toho no Japão. Na Itália, foi pela Paramount Italiana, já nos Estados Unidos, foi lançado pela Vestron Video, com a versão integral sendo lançada em VHS, no ano 1983. Essa versão só saiu nos cinemas em 2004, pela Rialto Pictures.

Embora alguns filmes japoneses anteriores tenham chegado a alguns mercados estrangeiros, como foi com Rashomon, de Kurosawa, Godzilla foi na verdade o primeiro filme japonês e a primeira exportação da cultura pop japonesa a receber notoriedade generalizada em praticamente todo o mundo.  Ganhou um enorme status cultural pop e abriu as portas para que os produtos da mídia japonesa posteriores se espalhassem por todo o globo.

Parte desse êxito pode ser atribuído também à versão norte-americana do filme, chamada no Brasil de Godzilla, o Monstro do Mar ou Godzilla King of Monster, lançado em 1956, que foi sua versão mais distribuída na época. Esse corte mistura elementos de Godzilla e sua sequência Godzilla Contra-Ataca, de 1955, além de haver cenas feitas por um elenco estadunidense.

Gojira foi um dos primeiros filmes japoneses a ser lançado na Coreia do Sul depois que a antiga rivalidade entre os dois países vizinhos diminuiu.

Um mito frequentemente repetido é que as produções deste filme e de Os Sete Samurais, de 1954, quase levaram a Toho à falência. Essa máxima, normalmente, deixa de mencionar um terceiro filme feito naquele ano, O Samurai Dominante 1: Musashi Miyamoto.

Os três foram os filmes japoneses mais caros feitos até então, trazendo assim grandes riscos financeiros para a companhia, mas ainda assim há poucas evidências que sugiram que a empresa esteve em risco de falência. A Toho lançou um total de 68 longas-metragens naquele ano, sendo os de maior sucesso essa trinca.

Vale lembrar que o termo Tokusatsu, popularizado após Godzilla, significa "filme de efeitos especiais", ou seja, é um termo específico, em japonês, que classifica filmes ou séries live-action, com atores reais, que fazem um uso forte de efeitos especiais.

Para conseguir pessoal qualificado suficiente para fazer este filme, a Toho pegou emprestado gente de outros estúdios. Um dos mais importantes foi o designer/desenhista Yasuyuki Inoue, que foi emprestado pela Shintoho.

Inoue permaneceu na Toho pelo resto de sua carreira, é considerado o braço direito do especialista em efeitos especiais e Eiji Tsuburaya e se tornou o chefe do Departamento de Arte da Unidade de Técnicas Especiais, que era o departamento de efeitos especiais.

A filmagem do filme consistiu em três equipes de filmagem. A primeira foi liderada por Honda que cuidou do drama de ação ao vivo, Tsuburaya liderou a Equipe B e foi responsável pelas cenas de monstros e efeitos especiais.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

A terceira equipe ou Equipe C, liderada por Hiroshi Mukoyama, foi encarregada de criar as tomadas compostas de ação ao vivo e cenas de efeitos especiais.

Outro profissional de importância foi o diretor de fotografia Masao Tamai, com considerável influência no visual do filme. Ele era um dos principais cinematógrafos do estúdio, conhecido na época por seu trabalho com o cineasta Mikio Naruse.

Tamai só aceitou o trabalho com a condição de que o resto da equipe de Naruse fosse contratado junto com ele e ele recebesse autoridade sobre o visual final do filme.

Isso se percebe em uma das cenas de introdução, que caíram. A primeira aparição de Godzilla deveria ser com uma vaca ensanguentada em sua boca. Tamai achou que que a sequência era gráfica demais e pediu ao diretor que cortasse a cena. Eiji Tsuburaya concordou, também sentiu que a cena não parecia boa.

Devido à complexidade de sua produção, todo o filme foi contado em storyboards. Acredita-se que esta seja a primeira vez que isso foi feito para um filme japonês. Na fase de storyboards, não se tinha decidida ainda a aparência de Godzilla.

Essa aparência variou ao longo dos planejamentos, dependendo de quem fez o esboço individual, já que vários desenhistas foram chamados para esse trabalho.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Na época, se falou pouco sobre as finanças do filme, inclusive atualmente, ao menos da parte dos executivos do estúdio Toho. Ele teria custado cerca de US$ 900.000 para ser produzido em 1954. No dinheiro de hoje, isso seria cerca de US$ 9.000.000.

Especialistas da indústria de licenciamento estimam o valor total da franquia entre US$ 4,5 bilhões e US$ 5 bilhões, com base na bilheteria combinada dos filmes dos estúdios norte-americanos e japoneses, além de mais de US$ 2 bilhões em vendas de brinquedos e material de merchandising.

Se o valor for real, isso torna ela "mais valiosa" do que Caça-Fantasmas, Ursinhos Carinhosos, Planeta dos Macacos, Friends, Exterminador do Futuro, Indiana Jones, GI Joe e Minecraft”, ao menos segundo Jeff Gomez, da Starlight Runner Entertainment, fã de longa data de Gojira, que trabalhou com franquias semelhantes.

Este filme gerou 37 sequências desde o lançamento e contando. Até agora detém o recorde de série contínua de filmes de monstros de maior duração feita por um estúdio e estrelada por um monstro no mundo.

Honda fez o curta A Story of a Co-op de 49, também Saraba Rabauru. Depois fez a versão francesa do longa analisado, chamada assim também, Godzilla lançada três anos depois. É dele a condução de outros filmes de monstros, como Rodan!...O Monstro do Espaço, Tokyo 1960, O Monstro da Bomba H, Varan: O Monstro do Oriente e Mothra: A Deusa Selvagem.

Tomoyuki Tanaka escreveu Mar Inquieto, O Conto do Samurai, Yojimbo: O Guarda Costas, Sanjuro e Samurai Assassino.

Já Takeo Murata participou de Hatoba Yakuza e Daichi ni inoru. Depois fez o roteiro de Rodan!...O Monstro do Espaço.

Eiji Tsuburaya trabalhou em A Senhora Musasshino. Fez Os Sete Samurais, mas não foi creditado como funcionário de efeitos. Também trabalhou em obras como O Samurai Pirata, Ghidrah, o Monstro Tricéfalo, Onibaba - A Mulher Demônio e Dogora, O Invasor Espacial. Trabalhou também nos seriados Urutora Q e Ultraman. Seu nome estampa a produtora que faz as séries Ultra, a Tsubaraya Productions.

Akira Ikufube, autor da música icônica do filme também compôs Duelo Silencioso, Filhos de Hiroshima, Yorokobu, Hiroshima.

O filme recebeu indicação de Melhor Filme de associações cinematográficas japonesas, mas perdeu para Os Sete Samurais. Eiji Tsuburaya ganharia seu primeiro prêmio técnico por esse trabalho

O lançamento do filme foi um sucesso tão grande que estima-se que 11% da população japonesa foi vê-lo durante sua primeira exibição. Até hoje, continua sendo o 22º filme mais assistido na história das bilheterias japonesas. Ele estabeleceu um novo recorde de estreia para um filme da Toho. Os cinemas tinham filas, especialmente no Teatro Nichigeki, onde se dava três voltas.

A recepção da crítica foi mista. As críticas negativas reclamaram do tom sombrio do filme, em alguns reviews, também se falou mal dos comentários sociais. As críticas positivas, normalmente, elogiavam a mensagem e tom antinuclear.

Ishirô Honda lembrou que muita gente achou o filme “estranho” e a primeira sequência, Godzilla Contra-Ataca, recebeu críticas melhores do que esse. Com os anos, a obra acabou sendo louvada, a classificação da revista de cinema Kinema Junpo registrou ele como o 27º melhor filme japonês já feito, em uma pesquisa com 370 críticos de cinema japoneses.

A versão "americana" Godzilla, o Monstro do Mar foi citada como inspiração por Steven Spielberg no livro The Making of Jurassic Park de Don Shay. O diretor descreveu Godzilla como o mais magistral de todos os filmes de dinossauros porque fez o público acreditar que estava realmente acontecendo. O diretor também levantou a lebre de que este filme popularizou a ideia de usar um monstro como metáfora temática.

John Carpenter também é fã de Godzilla graças a versão de 1956. Ele disse que viu criança, com oito anos, disse que ficou apavorado, não no monstro destruindo Tóquio, mas no tom de tristeza.

Martin Scorsese também é fã de Godzilla e expressou admiração por outros filmes de ficção científica e monstros gigantes da Toho dirigidos por Ishirô Honda. Ele conheceu o japonês enquanto trabalhava nas filmagens do filme Sonhos. Mais tarde, ele contribuiria para a biografia de Honda escrevendo o prefácio, descrevendo os filmes de Honda como "...imagens que assombravam a imaginação de jovens espectadores como eu..."

Esse filme e a versão de King Kong vs. Godzilla (1962) são, até agora, os únicos filmes dos clássicos filmes Godzilla da era Showa que receberam restaurações cinematográficas adequadas. Quando a Criterion lançou seu conjunto Blu-ray dos filmes dessa época eles já haviam recebido uma versão restaurada, mas não puderam restaurar e corrigir as cores adequadamente no restante dos filmes da série porque a Toho forneceu versões desatualizadas e transferências HiVision inferiores.

A própria Toho fez uma restauração em 4K de King Kong vs. Godzilla, mas não forneceu isso à Criterion.

Esse foi o primeiro papel principal de Akira Takarada. Ele seria originalmente escalado como Serizawa e Akihiko Hirata como Ogata. Ishirô Honda foi quem sentiu (supostamente) que ele era mais adequado para o herói trágico mais sombrio de Serizawa, portanto, Honda fez com que os dois atores trocassem de papéis.

Yoshio Tsuchiya frequentemente saía do set de Os Sete Samurais para observar a realização deste filme. Ele queria trabalhar no filme, mas não pôde devido ao seu compromisso com o diretor Akira Kurosawa. Mais tarde, ele pediu para ser escalado para a primeira sequência, Godzilla Contra-Ataca.

Os créditos iniciais são bastante longos, depois deles a câmera vai até o mar, mostra marinheiros por ali, vendo o resultado de uma possível catástrofe natural, que vitimou um navio.

Aqui se percebe um baita trabalho com maquetes. As miniaturas desse e dos filmes subsequentes foram feitas em madeira, gesso de cimento e vidro. O cineasta pediu para as plantas de vários edifícios, mas não entregaram, por terem perdido os papéis originais. A equipe teve que fazer engenharia reversa em seus próprios projetos, para improvisar um informe visual dos edifícios, que eram mais de 500, que recriaram com precisão Tóquio na escala 1/25.

Os edifícios que deveriam ser destruídos foram estrategicamente enfraquecidos até desabar, todos os veículos em miniatura foram construídos em ferro fundido e manipulados com cordas de piano para fazê-los se mover. Os cenários elevados para que as câmeras pudessem ser colocadas em ângulos mais baixos. Quando chegava a hora de filmar, a equipe muitas vezes passava o dia todo preparando os cenários em miniatura, apenas para acabar com alguns segundos de filmagem utilizável.

O diretor George Lucas, criador da saga Star Wars cita as miniaturas deste filme como inspiração para seus efeitos especiais na série de filmes que começou em Guerra nas Estrelas de 1977.

Ao trabalhar entre as miniaturas, o ator Haruo Nakajima - que vestiu o traje de Gojira - se sentia ansioso de andar ali, já que uma única miniatura valia mais do que todo o salário disponível a ele.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Na história, Ogata, personagem de Akira Takarada, atende uma ligação da guarda costeira pede socorro e ele até se desculpa com a jovem e bela Emiko (Momoko Kōchi) desmarca o encontro que teriam à noite.

A equipe tenta entender o que houve com o navio Eiku Maru, eles comparam com o vulcão Myojin quando entrou em erupção. A tripulação acredita que morrerá, que estão fadados à condenação.

As cenas do filme de Godzilla debaixo d'água foram filmadas em regime Dry For Wet, ou seja, à seco, com um aquário a frente, colocado entre a câmera e a roupa do ator Nakajima. Combinaram com imagens subaquáticas reais de mergulhadores com cenas adicionais de Ogata e Serizawa.

Ishirô Honda tinha experiência em filmagens subaquáticas. A estreia dele em longas-metragens foi em Aoi shinju, um filme sobre a vida dos mergulhadores de pérolas Ama, que também foi o primeiro filme japonês a utilizar técnicas de filmagem subaquática.

As cenas de destruição e pânico imitam as cenas de cinejornais sobre devastação durante a guerra, em um estilo de filmagem que trazia lembranças dolorosas e familiares para o público, já que remetiam a época da segunda guerra. A ideia de Honda em fazer um estilo documental no longa incluiu até os soldados.

As tropas que iam para a costa para enfrentar Godzilla eram verdadeiras, com gente da Força de Autodefesa Japonesa. Eles estavam em manobras quando o diretor as filmou.

A qualidade da imagem diminui ao mostrar uma ou mais embarcações, mas a trama segue, mostrando algumas vítimas sendo levadas para a ilha Odo, onde se percebe inclusive mulheres de topless. Elas eram mergulhadoras de pérolas, que tradicionalmente trabalham assim.

Em pouco tempo um barco pesqueiro é destruído, dessa vez off câmera. Com isso, o impacto é diminuído. Se estabelece assim uma ideia de repetição, de padrão e quase normalidade.

O impacto emocionante de fato é quando encontram outro sobrevivente, no caso, Masaji, de Ren Yamamoto, que esteve também em Mothra, King Kong x Godzilla e Urutoraman Tarô.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Ele é a primeira a dizer que há um monstro na região. Pescadores citam uma criatura antiga comedora de gente, o tal Gojira. Nesse ponto que isso não passa de uma lenda. Pelo que se fala a respeito do mito, a criatura milenar pode ser algo semelhante ao lagarto gigante e desajeitado que seria "O" Godzilla, mas há também a chance de ser uma forma generalista de falar de forças naturais devastadoras.

Quanto ao nome, Gojira é uma combinação das palavras japonesas para gorila - gorira- e baleia - kujira. Um equívoco comum é que o nome Godzilla foi criado por seus distribuidores nos Estados Unidos.

Essa nomenclatura foi ideia da Toho e de sua divisão de vendas internacionais, que decidiu traduzir assim, pela semelhança fonética.

O estúdio usou o título Godzilla em seu catálogo de vendas em inglês no ano um ano inteiro antes de encontrar um distribuidor nos EUA e quando foi exibido brevemente em cinemas nipo-americanos em Los Angeles, Califórnia e Nova York, Nova York, o produtor Joseph E. Levine resolveu comprar os direitos, criando assim a Transworld para distribuí-lo e lançá-lo em seu país.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Na trama, o governo envia investigadores, que vão até a praia ouvir testemunhas. Enquanto esperam eles assistem exibição de uma peça de teatro típica, depois ouvem pescadores crédulos de que aquela é uma criatura espiritual, possivelmente um eco dos conflitos pelos quais o país passou.

Ja em terra, em uma vila, onde mora Shinkichi, interpretado por Toyoaki Suzuki (de Chuva Repentina) ocorre mais um ataque, novamente de origem misteriosa. Em audiência pública, autoridades e cientistas buscam entender o que foi.

A maioria nega a possibilidade de a destruição ter ocorrido graças um furacão, alguns dizem que foi um animal não há um entendimento único sobre. Em determinado ponto, quando fazem uma coletiva de imprensa, os cientistas usam o exemplo do Yeti do Himalaia (ou o Abominável Homem das Neves) como um precedente para a existência de monstros gigantes.

Curiosamente o próximo filme kaiju de Ishirô Honda para Toho foi Yeti - Jû jin yuki otoko de 1955, que mais tarde foi lançado nos EUA em uma versão fortemente reeditada intitulada Half Human em 1958.

Kyōhei Yamane, um doutor paleontólogo, é chamado. Ele é interpretado por Takashi Shimura, ator parceiro de Kurosawa, em Rashomon, Viver e Os Sete Samurais. Ele fala em tom de mistério sobre a criatura, não tem muitas respostas.

Em um dos primeiros rascunhos do roteiro, Yamane era descrito como um personagem sombrio e sinistro. Uma das ideias seria colocar ele para entrar furtivamente na sala de controle das torres elétricas, afim de sabotar a tentativa de matar Godzilla eletrocutando-o.

Na cena de introdução dele, o doutor fica encabulado ao perceber que sua gravata está frouxa e a enfia de volta no paletó. Este foi um dos únicos momentos de comédia do filme, se tornou uma referência da cultura pop para os fãs de Godzilla no Japão. Em Godzilla 2000 há uma homenagem a essa situação, quando o personagem Shiro Miyasaka (Shirô Sano) ajeita a gravata frouxa para dentro da jaqueta em uma reunião militar.

Nas investigações, os especialistas escolhidos pela coroa cortam o acesso da população a água do poço, atrapalhando o funcionamento da aldeia. Essa é possivelmente uma referência as consequências de uma chuva contaminada por um teste nuclear soviético, que ocorreu em setembro de 54, no norte do Japão.

A criatura com aparência de dinossauro aparece perto do monte Hachiman, em detalhes, com a cabeça por cima do cume do monte. Logo depois disso, especialistas se reúnem para discutir o que é e como funciona o monstro.

Na sala de conferência há uma arte, feita por Rudolph Zallinger onde aparece um tiranossauro e um brontossauro, em e uma cena de apresentação de slides no filme. As duas fotos mostradas foram tiradas de um mural chamado A Era dos Répteis que está no Museu da Universidade de Yale.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Sobre o tamanho do monstro, não há uma informação exata. Ela muda não só entre filmes, mas também de acordo com as cenas.

Os cenários e figurinos em miniatura eram normalmente construídos em escala 1/25-1/50 e filmados a 240 quadros por segundo para criar a ilusão em relação ao tamanho. No filme de 1954, Godzilla foi dimensionado para ter 50 metros de altura, a fim de que pudesse ver de cima os maiores edifícios de Tóquio na época.

Já na versão estadunidense dizia-se que ele tinha 122 metros (400 pés) de altura, porque Joseph Levine achou que 50 metros não pareciam poderosos o suficiente. À medida que a série avançava, Toho redimensionaria o personagem, eventualmente fazendo Godzilla com 100 metros ou 328 pés de altura. Isso também foi feito por conta dos edifícios de Tóquio estarem maiores com o tempo, como o Edifício do Governo Metropolitano de Tóquio, de 243 metros de altura.

Informações suplementares, como perfis de personagens, também retratariam Godzilla pesando entre 20.000 e 60.000 toneladas métricas, 22.000 e 66.000 toneladas.

O breve vislumbre do personagem é assustador, descontado o aspecto de fantasia utilizada. Há de se lembrar o óbvio: faz mais de 70 anos que foi confeccionada - é de impressionar algo tão grande aparecer assim, na costa, na segunda metade do século XX.

O traje usado no filme era tão quente por dentro que Nakajima desmaiava com frequência. De acordo com ele as temperaturas chegavam a 60 graus Celsius (ou 140 graus Fahrenheit) devido às luzes quentes do estúdio e não era incomum que uma xícara do suor de Nakajima fosse drenada do traje.

A parte interna da roupa era muito escura, seria normal a pessoa que veste o traje ficar nervosa e ansioso. Nakajima filmou debaixo d'água, foi enterrado no subsolo, resistiu a explosões pirotécnicas, em diversos filmes de Godzilla.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

A Toho nunca havia tentado fazer um traje como esse. Grande parte da atenção na primeira versão estava no design, com a equipe negligenciando a as necessidades do artista que a usaria.

A única maneira de um ator entrar no traje era através de uma abertura nas costas que ficava escondida pelas nadadeiras dorsais e presa por argolas em ganchos. O forro interno arranhava a pele de quem a usava, Haruo mal conseguia andar com o traje primário, que pesava mais de 104 quilos. O segundo traje construído era relativamente mais leve, pesando pouco mais de 91 quilos.

O traje original era composto de concreto pré-misturado devido ao fornecimento limitado de material de látex no Japão do pós-guerra. O segundo era feito com um polímero plástico líquido e foi usado para filmar a maioria das cenas. Depois, cortaram o primeiro ao meio, para que suas pernas pudessem ser usadas em cenas mais detalhadas.

Cada traje de Gojira recebeu um apelido dos fãs japoneses, que foi posteriormente adotado pelos fãs do mundo inteiro. O desse filme é ShodaiGoji, uma combinação de Gojira e shodai, a palavra japonesa para primeira geração.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Eram usados três cabos saindo da parte de trás do traje do monstro, dois eram para a operação dos olhos e uma era para a boca. Kaimai Eizo era o responsável pelo movimento dos olhos e da boca.

Quando Nakajima aceitou o papel de ele presumiu que o traje seria de natureza semelhante à armadura de samurai usada nos filmes da época da Toho.

Um dos designs originais de Godzilla tinha uma cabeça em forma de nuvem, tal qual um cogumelo de radiação. Foi parcialmente baseado no trabalho do pintor tcheco Zdenek Burian, especificamente em sua desatualizada reconstrução do dinossauro Iguanodon do início do século 20.

A postura de Godzilla, a maneira como ele segura as mãos e a textura de sua pele foram tiradas diretamente da arte de Burian.

Até as dobras na pele fazem com que Godzilla pareça a arte do artista tcheco.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Uma das características incomuns de Godzilla são suas orelhas de mamífero. Embora o roteiro original do filme nunca tenha descrito a aparência do monstro em detalhes, ele incluía uma cena em que Godzilla ouve o sino de uma torre do relógio com suas orelhas grandes e a destrói.

As orelhas seriam retiradas nos filmes a partir de 1962, a fim de torná-lo mais reptiliano, embora reaparecessem em outros filmes começando em 1984 e continuando pela franquia.

Alguns dos designs propostos tinham pele verrucosa, enquanto a de outro era mais parecida com a de um crocodilo. O design final sugeria que as explosões da bomba nuclear que o acordaram também o queimaram. Também se usou características do Tiranossauro, no geral, Iguanodon nos braços e postura, além do Estegossauro, nas placas dorsais. A equipe da Toho usou fotos antigas desses três dinossauros em revistas como referência.

O departamento de som tentou utilizar vários rugidos de animais, mas achou que eram inadequados para um animal de tamanho tão imenso. O diretor musical do filme Akira Ifukube criou o urro esfregando uma luva de couro revestida de resina grossa para cima e para baixo nas cordas de um contrabaixo e reverberando o som gravado. Os passos de Godzilla foram feitos batendo um tambor com uma corda com nós.

Nakajima visitava o zoológico para estudar os movimentos de animais de grande porte e melhorar sua atuação. Ele também assistiu King Kong para se inspirar.

Se pensou em usar animação stop-motion, mas ela foi rejeitada para devido ao tempo que levaria. Tsuburaya, queria usar esse método, mas enfrentou não havia pessoas suficientes no Japão com experiência suficiente nesta técnica e a Toho não dispunha do tempo necessário para fazer de uma forma que ficasse bom, já que os cronogramas de produção eram apertados, mas ainda assim, se usa um pouco da técnica, em breves cenas em que um veículo bate e a cauda de Godzilla se contorce.

Katsumi Tezuka também usou o traje. Segundo Nakajima, Tezuka não conseguiu aguentar os rigores do processo, por isso a maioria das cenas do filme são dele. Nakajima caracterizou Tezuka como seu assistente e várias fotos dos bastidores de filmes posteriores ajudam a reforçar essa tese, mas Tezuka nunca responderia a essas alegações, pois desapareceu após a década de 1960.

Eiji Tsuburaya, também pensou em fazer de Godzilla um polvo gigante. Anos mais tarde, ele realizaria seu desejo de ter um monstro assim, no caso, no longa crossover, King Kong vs. Godzilla de 1962, também em Frankenstein Contra o Mundo de 1965 e em A Invasão dos Gargântuas de 1966.

O animador Ray Harryhausen tinha um ressentimento por boa parte de sua vida, por conta de não terem reconhecido O Monstro do Mar, que ele animou, como influência. No entanto os produtores da Toho sempre reconheceram suas influências em Godzilla.

Yamane usa o exemplo dos dinossauros e o período geológico seguinte ao período jurássico, para fazer entender como essa criatura surgiu. Por mais que ele tenta explicar quem ela é e de onde veio, o cientista também está cheio de dúvidas.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Diz-se que é um ser intermediário entre as espécies de répteis aquáticos e animais terrestres, cuja evolução resultou, de alguma forma misteriosa - até então não se fala abertamente sobre as consequências das bombas radioativas jogadas no Japão - que fizeram desenvolver a tal monstruosidade.

O paleontólogo usa o termo da ilha Odo, Gojira e estima que ele tenha 50 metros de altura, embora não pareça crer ter uma exata noção

Sobre a Ilha Odo, deveriam haver mais cenas ali, uma inclusive com o Dr. Yamane, Emiko e Ogata visitando os túmulos dos que morreram durante o "desembarque" de Godzilla. Esta cena ajudaria a estabelecer o relacionamento anterior entre as famílias Yamane e Shinkichi. Outra cena deveria ser na praia, com Emiko e Ogata ficam assustadas ao verem Godzilla pela primeira vez ao verem seu rabo espirrando na água.

Gojira carrega trilobitas, uma criatura que viveu dois de milhões antes, que lembra um crustáceo ou inseto, extinto há muito tempo. Elas estavam espalhados na praia, provavelmente ele só pisou nelas. É através delas e da contagem geiger que se teoriza que Godzilla ingeriu força atômica de alguma forma.

Nas conversas internas de discute ferozmente se o público deve saber ou não do que houve.

O contra-ataque envolve o cientista caolho, o dr. Daizuke Serizawa, interpretado pelo Akihiro Hirata, de Sanjuro, Mothra e A Fúria dos Monstros.

Godzilla : A estreia do ícone do cinema de monstros

Ele é o criador de uma possível "bomba" que derrotaria o monstro. É acompanhado da bela Emiko, de Momoko Kôchi que esteve em Os Bárbaros Invadem.

As cenas de Gojira pegando os objetos humanos, carros, veículos, cimento etc, perdem um pouco da força ao mostrar a face do animal, mas as cenas onde aparecem só os pés, destruindo as estruturas ferroviárias e os portos, impressiona bastante. Durante o pisoteamento, um dos edifícios que ele destrói é o antigo Teatro Nichigeki depois que sua cauda bate nele.

Uma das lendas mais famosas a respeito do filme é de que Honda e Tsuburaya estavam no mirante de um dos prédios de Tóquio, planejando o caminho de destruição de Godzilla quando visitantes do local ouviram a conversa e ficaram preocupados. A dupla foi parada pelas autoridades e interrogada, segundo esse mito urbano.

A maioria das torres do filme eram feitas de aço, mas as que foram derretidas pelo bafo atômico eram de cera. A equipe de efeitos especiais os derreteu soprando ar quente sobre eles, bem como iluminando-os com luzes quentes do estúdio para obter o efeito branco quente.

Já a destruição do Diet Building teve que ser feita várias vezes, com as miniaturas sendo reconstruídas. Demorou 30 dias para gravar. O prédio cuja torre do relógio Godzilla destrói no filme é a loja de departamentos Wako. Foi concluído em 1932 no distrito de Ginza e ainda está de pé, com a torre do relógio intacta.

Honda faz uma senhora sequência de ângulos, que valoriza o trabalho hercúleo de efeitos de Eiji Tsubaraya.

Depois do acréscimo da música tema no início, a música icônica de Akira Ifukube só volta a tocar aos cinquenta minutos, quase completado dois terços de filme.

A cena do ataque de Gojira a armadilha é sensacional, já que tem obstáculos das torres de rede elétrica, os tiros dados - que parecem não causar dano no bicho. A ação irritada dele, que se ilumina e solta algo da boca é sensacional, especialmente pelo fato de que aquilo é algo que parece inflamar os arredores.

Seja qual for o real poder desses ataques, o que ele quer destruir ele destrói, simplesmente.

Casas pegam fogo, espaços amplos explodem, carros batem, estruturas cedem e torres derretem.

Gojira é a encarnação da destruição da civilização ocidental, já que nasceu (possivelmente) dos ataques americanos, cresceu assim, destruindo o Japão. Em determinado ponto, suas costas brilham, enquanto ele ataca, gerando assim mais uma forma de destruição.

Quase que magicamente, Serizawa avança em sua pesquisa, matando os peixes que estavam no tanque onde a bomba de oxigênio dele estava sendo testada. Sua arma é tão perigosa, com potencial de destruição de átomos maior que as jogadas pelos EUA no Japão, que quando ele descobre sua fórmula, fica desolado mental e moralmente.

O mecanismo de lançamento do destruidor de oxigênio no filme tem uma semelhança com o funcionamento interno do projeto de implosão das bombas atômicas que foram lançadas sobre o Japão em 1945.

Normalmente se espera que no cinema a máxima de "mostre não fale" seja empregada, mas em um filme com orçamento pequeno, é natural que se drible isso, por isso, Godzilla não destrói Toquio em tela, mas se repercute a sua ação devastadora. Há uma boa reflexão sobre isso, ao mostrar as vítimas que sobreviveram ao seu ataque.

Ao saber pelo rádio, Serizawa sente a dor do seu povo e dessa forma convida o público a sentir o mesmo que ele, justificando assim o uso de sua bomba. Antes de aceitar ele queima seus papéis, para evitar replicarem tal artefato. Nesse ponto fica evidente aqui que ele dará fim a própria vida, para evitar que ele caia em tentação ou que o torturem, para recriar a mesma.

Serizawa e Godzilla abraçam o mesmo destino, de forma calma e silenciosa. Honda filma esse final de maneira poética e tranquila, exceção claro aos gritos de lamento de Okada.

O cientista sabe o que era preciso, sabia que só assim encerraria a existência do monstro que atormentou Odo e a nação como um todo.

Gojira se despede fraco, acertado pela única arma possível, pela bomba humana que o reduziu a ossos. Ele cresceu graças a força da radiação e pereceu pelo ar que os homens respiram.

Há um discurso piegas, sobre radiação, mas é preciso, obviamente, não dá para ignorar os causos da época.

Houve outro final considerado para o filme: uma cena em que Emiko e Ogata, depois de se casarem, sobrevoavam a Baía de Tóquio em um helicóptero e jogando uma guirlanda de flores na água abaixo em memória de Serizawa, mas o desfecho teria sido descartado porque Ishirô Honda sentiu que já haviam prestado homenagem ao doutor depois que ele se sacrificou para destruir a ameaça que dá nome ao filme.

Godzilla é um clássico do gênero drama e terror, além de ser um bom pontapé em toda a cultura dos tokusatsus. É o filme de kaiju definitivo e a pedra fundamental dos filmes japoneses de efeitos especiais, além disso, acaba sendo uma boa reflexão sobre as consequências da guerra e do avanço das armas nucleares pelo mundo.

Avatar

Comente pelo Facebook

Comentários

Comente pelo Facebook

Comentários

Deixe uma resposta