Um Vampiro no Brooklyn é parte do esforço de Wes Craven em fazer um filme que flerta com o horror, embora não esteja dentro dessa classificação. A trama toma os signos do mito do Conde Drácula do livro de Bram Stoker, pervertendo o simbolismo para um elenco de atores pretos, utilizando Eddie Murphy com a fama em ascensão para fazer o imortal Maximilian, que chega a América de navio, tal qual o Nosferatu de F.W. Murnau.
O filme foi lançado em 1995, alguns anos depois de Drácula de Bram Stoker, de Francis Ford Coppolla, e Max tem poderes de metamorfose bem potentes, tal qual o personagem que Gary Oldman.
Aqui, Murphy vira um lobo já no início da trama, com uma transformação bem-feita, com efeitos especiais de Gary D. Bierend, que demonstram que esse orçamento não era tão pequeno em comparação com a filmografia comum de Craven como diretor.
O visual do personagem é peculiar. Max tem cabelos compridos, estilo permanente, estava claramente fora da moda e essa peculiaridade era proposital, mirava tornar ele visualmente diferente dos demais.
Isso põe o sujeito em contraponto ao personagem de William Marshall em Blácula: O Vampiro Negro, que era bastante parecido com outras pessoas do movimento black power dos anos 70.
De resto, o personagem segue reunindo referencias bem óbvias a clássicos das histórias de sugadores de sangue, seja com o nome do personagem copiando o primeiro nome de Max Schreck, interprete de Orlock em Nosferatu, ou a chegada tal qual ele e Drácula no livro de Stoker.
Além disso, ele parece conjurar criaturas menos evoluídas, tornando-as até em monstros visualmente chamativos. O diferencial dele é na predileção aos seus irmãos de cor, intenção essa bastante explícita no roteiro de Charlie Murphy (que também fez o argumento com Eddie Murphy e Vernon Lynch), Michael Lucker e Chris Parker. Ele faz questão de salvar um rapaz de índole marginal, que morreria nas mãos de mafiosos italiano-americanos.
A ideia é reafirmar a condição de pessoas pretas no topo da cadeia alimentar, ao menos nesse universo particular, os imortais seriam os descendentes do continente africano.
Como parte do esforço de Craven em dar bons papéis para atores negros, compõe o núcleo de protagonista a bela detetive Rita, executada por Angela Bassett no auge da beleza, uma moça obstinada, que investiga os estranhos desaparecimentos causados por Maximillian, e acaba se tornando o alvo amoroso do mesmo.
Seu personagem é bastante rico dentro de sua simplicidade. Ela emula o arquétipo típico de Pam Grier nos blaxploitations, sendo uma pessoa intrépida, dona de si, capaz de se defender e mover a história.
Craven claramente mirava homenagear os filmes de aventura dos anos 70, tal qual Foxy Brown, a cinessérie Shaft, o já citado Blacula e outros produtos semelhantes. Até a trilha sonora é repleta de músicas Disco, e o modo com a história se desenrola, inclusive com bom humor, afasta essa obra do comum a filmes de terror com vampiros.
O filme visualmente é impecável, a direção de arte assinada por Cynthia Charette e Gary Diamond faz lembrar os clássicos da Universal e da Hammer , temperado com elementos diferentes, já que conversa bem com obras de assustadoras mais segmentadas como O Mistério de Candyman, no sentido de construir uma atmosfera intimamente ligada a origem racial dos personagens, remetendo quase a uma vingança contra os séculos de escravidão e aos anos posteriores de racismo imperando.
O filme foi mal recebido pela crítica, em especial pelas bizarrices que, se não são tão escrachadas quanto foi com A Maldição de Samantha ou Shocker: 1000 Volts de Terror, ainda assim chamam a atenção, por seu caráter completamente insano em alguns plots.
O maior exemplo disso é a gradual transformação de Julius, personagem de Kadeem Hardison, em um zumbi. Sua decomposição é tão rápida que faz seus membros caírem, fazendo-o se assemelhar a um estereótipo exagerado de um leproso.
Outra "complicação" é que esse é um dos filmes em que Murphy faz múltiplos papéis, e nenhum deles é realmente engraçado, e a mera tentativa de soar engraçado faz destoar do tom sério que o filme tenta propagar.
Mesmo que esse não seja um filme de terror, há uma apelação para a zona de conforto do cineasta, com cenas de sonhos fantasmagóricos, participações de antigos parceiros seus no elenco, como Mitch Pileggi, Joanna Cassidy e Zakes Mokae, além disso, o grau de violência é consideravelmente alto, embora não haja tantas dilacerações, não se economiza em matéria de sangue, e isso em um filme de vampiro é fundamental.
A impressão final ao assistir Um Vampiro no Brooklyn é de que é um filme que atira para vários alvos, mas não encontra sua identidade. Mesmo tentando soar adulto ele carece de uma afiação maior no humor e não funciona tão bem dentro da ideia de sátira de filmes de vampiro. Ao menos é visualmente bem inventivo, e portanto, bastante subestimado.
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