Thankskilling, o Peru Assassino : Uma bobagem slasher sobre Ação de Graças

Thankskilling, o Peru Assassino : Uma bobagem slasher sobre Ação de GraçasThanksKilling: O Peru Assassino é uma comédia ácida, lançada em 2009 que utiliza dos clichês de filmes de horror e que se pauta na data festiva do feriado de Ação de Graças, além de carregar consigo um assassino estranho: um peru secular, que mata pessoas sempre na última quinta-feira de novembro, ou seja, na época feriado citado.

Esse é um filme de terror, mesmo que não cause susto ou medo, faz parte do que normalmente se chama de "terrir".

Produção independente, oriunda dos Estados Unidos, foi escrito e dirigido por Jordan Downey e escrito também com Kevin Stewart. A dupla também produz o longa.

A equipe de produção é curta e se destaca especialmente Troy Smith que fez os efeitos especiais, contando apenas algumas centenas de dólares, além de Brad Schulz, Anthony Wilson e Grant Yaffee que ajudaram a fazer os diálogos.

A sinopse oficial é bem peculiar: trata de um peru homicida, que fala, faz piadas e mata estudantes de um colégio, durante o feriado de Ação de Graças, desde o século XVII.

O filme obviamente recebeu reviews negativos da parte dos críticos e foi seguido por uma sequência de 2012 intitulada ThanksKilling 3, com orçamento arrecadado por meio de uma campanha no Kickstarter.

Esse primeiro capítulo da saga possui um curioso slogan: Gobble, gobble, motherf*cker! que seria traduzido como "Devore, devore, fdp!" e foi pensado antes até de existir um enredo para o filme. Possivelmente toda a história gira em torno desse lema.

Bastidores

Enquanto escreviam o roteiro, Stewart e Downey tentaram encontrar um nome para o peru assassino, mas não acharam um que funcionasse.

Em 2012, na época da sequência eles novamente tentaram encontrar um nome para o personagem, decidindo oficializar Turkie, que é uma das forma pelos quais o animal é chamado aqui.

Antes de decidir sobre ThanksKilling, os criadores lançaram outra ideia para um terror de férias ambientado em data festiva. Seria Eggstravakill e se passaria na páscoa.

A primeira exibição pública do longa foi no festival Merry Scary Winter Horrorland, como parte do Sacramento Horror Film Festival. Em 6 de dezembro de 2008. Passou também no The Achievement Hunter Theatre Mode recebendo um bom público desde seu lançamento em 2009.

Em novembro desse mesmo ano, recebeu uma premiere em DVD. Foi lançado também em fita cassete VHS.

Thankskilling, o Peru Assassino : Uma bobagem slasher sobre Ação de Graças

Embora seja comumente confundido, o tratamento adequado do título é ThanksKilling, com o "K" maiúsculo no meio do nome. Esse aliás é o título original, mas os produtores também registraram os direitos autorais do título Death Turkey como um nome potencial para um lançamento no exterior em países que não celebram o Dia de Ação de Graças.

A obra quase não possui variações de nome, na Rússia é День убиения, na Sérvia é Dan ubistva.

A obra foi filmada em 11 dias, rodada durante as férias de verão entre o primeiro e o último ano de faculdade de Kevin Stewart e Jordan Downey, na universidade Denison, em Granville, Ohio.

Também houveram gravações improvisada em New Haven, Nova Jersey, justamente nas cenas de acampamento, nos arredores de uma loja Wendy's abandonada.

A obra foi feita pela In Broad Daylight Films, com distribuição da Gravitas Ventures e da Warner Bros em VOD, no ano de 2009.

A princípio, ninguém queria distribuir o filme, então os próprios produtores venderam o DVD na Amazon, demorando um ano para vender 1.000 cópias.

Quem fez

Jordan Downey dirigiu os curtas Hackjob, Craw Lake e Criaturas: Caçador de Recompensas. Conduziu poucos longas, como Thankskilling 3, The Head Hunter e o segmento Stork no recente V/H/S/ Beyond.

Kevin Stewart escreveu boa parte dos filmes que o parceiro fez, sendo diretor de fotografia em boa parte deles, como nos filmes ThanksKilling, The Head Hunter e V/H/S/ Beyond. Também escreveu o roteiro e assinou a direção de fotografia em Amizade Desfeita 2: Dark Web.

Troy Smith é contumaz parceiro da dupla Stewart e Downing, fez os efeitos de monstros em Dead Woman's Hollow, Criaturas: Caçador de Recompensas, ThanksKilling 3, Darkness Waits, The Head Hunter.

Não houve cenas excluídas nessa obra, a única cena filmada que não acabou no filme final foi uma de flashback de sonho, que foi melhorada no set, momento onde um personagem corre por um milharal.

Thankskilling, o Peru Assassino : Uma bobagem slasher sobre Ação de Graças

A narrativa

A história inicia no passado, no longínquo ano de 1621, pouco antes da primeira Ação de Graças. Em primeiro plano aparece uma mulher, com rosto de peregrino, mas ela está vestida de uma maneira singular, já que está completamente vestida, exceto pelos seios, que estão à mostra.

Ela é interpretada por Wanda Lust, que aliás - SPOILER - é a única pessoa que aparece nua ou seminua nessa obra.

A cena de abertura foi originalmente planejada para ser mais extravagante, envolvendo uma cena de jantar que reunia nativos americanos e peregrinos, mas o tempo e o dinheiro acabaram e a cena nunca foi filmada tal qual estava no roteiro, por isso se optou somente pela exploração sexual gratuita.

O foco primário da câmera não é o rosto e sim os seios da moça. A sequência foi filmada sem autorização em um parque público. Lust era atriz de obras adultas, participou de obras como Bust a Nut 6, MILF Does a Brotha Good!, Mill Does a Body Good!2 etc.

Em entrevistas ela disse que se arrepende de ter participado desse, fez duras críticas à obra, afirmando que de todas as coisas em que apareceu no cinema, esta era a única se arrependia, o que claramente é uma besteira, já que ela fez um papel semelhante a esse, em ThanksKilling 3, sendo creditada como Naked Astronaut - aqui ela é chamada de Naked Pilgrim.

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A personagem corre exibindo a parte nua de seu colo e fora essa questão óbvia, ela está bem caracterizada, tal qual uma peregrina mesmo.

Como boa exploração assumidamente tosca do clichê, ela corre pela floresta até cair, quando aparece sem nenhuma cerimônia um boneco fajuto e articulado de peru, que assassina ela, ao mesmo tempo em que elogia os seus seios.

Depois dos créditos iniciais aparece uma escola, em fase de final de ano, curiosamente sem muitos alunos, afinal, figurantes são caros e essa é uma obra de orçamento ridiculamente baixo. Não há qualquer esforço para esconder isso, aliás, parte das piadas é justamente o valor paupérrimo arrecadado para a feitura do filme.

Após as aulas aparecem apenas dois "garotos", na verdade dois homens que aparentam ter 35 anos ou mais. Um deles é Billy, personagem do rotundo Aaron Carlson, que rasga sua camisa e mostra seus peitos, que são imediatamente elogiados por Johnny, Lance Predmore. Ou seja, se estabelece uma rima visual de mostrar peitos em tela, ambos os momentos mostrados em tom de piada.

É dado que os dois (e os outros atores também) fizeram audições na garagem do diretor Jordan Downey. Foram escolhidos depois de um processo sem muita concorrência, aparentemente.

Perto deles aparecem duas meninas, uma mais exibida, Ali (Natasha Cordova) e outra mais tímida, Kristen Roud (Linsey Anderson). Kristen repreende a chegada assim que ela levanta a blusa, afinal é thanksgiving e não teetsgiving.

Anderson foi escalada por indicação de outro ator, Ryan E. Francis, que levou ela até os produtores, em uma loja de donuts para discutir o filme poucos dias antes das filmagens.

O próximo personagem que aparece é um nerd, no caso, Darren, o sujeito justamente interpretado por Francis, que além de ator, é o baterista da banda Overated, uma das bandas que cedeu música para a trilha dessa obra, sendo tocada uma delas no rádio quando os personagens estão no jipe.

A interação deles se baseia basicamente no uso de piadas físicas ruins, muitos trocadilhos, conversas rasas sobre futebol escolar e a lamentação de Johnny por ter se machucado e perdido a vaga de quarterback no colégio, sendo impedido, portanto de concorrer a uma bolsa de estudos na faculdade, por ser atleta.

Os outros rapazes têm seus dramas, Billy declara de maneira gratuita que perdeu o pai no último ano, Darren ainda não perdeu a sua virgindade e Ali não consegue esconder o quanto é sexualmente ativa sempre que pode.

Todas essas questões são apresentadas de maneira igual, ou seja, todas são extremamente desimportantes, além de serem dadas diante de uma fogueira, tal qual ocorre nos clichês da saga Sexta-Feira 13 ou no clássico cult A Vingança de Cropsy.

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Logo é apresentado um outro personagem, um caipiria redneck cabeludo, chamado Oscar (General Bastard) que procura seu cachorro Flashy, no meio da mata.

Depois que o animal urina em um espaço, onde há um pequeno totem de madeira (objeto de cena esse que foi comprado no eBay) ocorre algo.

O objeto, aparentemente, é fruto de um ritual antigo e os dejetos do animal despertam o Peru malvado, que imediatamente acerta ele, não deixando claro se o pet morreu, embora provavelmente tenha perecido, já que ele não aparece mais.

O "personagem" do Peru Assassino

O boneco de Turkie foi projetado pelo diretor Jordan Downey, que também o dublou.

O cineasta esculpiu e construiu a maior parte do boneco no banheiro de seu apartamento, com sobras de materiais de efeitos especiais. O corpo era uma isca de espuma para caçar perus, aparato que naturalmente já imita a ave, portanto todo o resto foi acoplado a essa estrutura.

Vale lembrar que os pés e toda a metade inferior do peru nunca são vistos no filme, justamente por não terem sido construídos.

Um filme sobre problemas familiares

Outro personagem que aparece depois é o policial e xerife Roud, interpretado por Chuck Lamb. O sujeito é apresentado em casa, tentando tomar um café, junto a sua esposa, Sheryl (Pat Love). Quando ele toma um gole da bebida, reclama que está com gosto ruim, compara aquilo com "merda" e na cafeteira, há literalmente isso.

Sheryl deixou fezes ali, afinal, ela quer o divórcio. Dito assim essa introdução parece algo abrupto e é isso mesmo.

Eles são apresentados de uma maneira que não compreende uma mínima ambientação, os dois já aparecem em crise, a mulher verbaliza seus sentimentos de maneira expositiva e se nota que o policial é o pai da mocinha, Kristen.

A descrição dos personagens já deixa claro que o nível das atuações é péssimo, os diálogos são mal construídos e há muitas conveniências de texto.

As situações são pouco convincentes, esse é um filme assumidamente trash, mas há um esforço para estabelecer um pano de fundo, uma mitologia singular, mesmo que seja em tom de piada.

Mitologia

Em algum momento, Darren encontra uma placa no meio da floresta, enquanto os jovens vão acampar. Ele resolve então falar a respeito de Crawberg, um dos momentos mais notórios da história peregrina, na cidade de Crawl Berg, que anos depois, mudaria o nome para o que é atualmente (Crawberg) os acontecimentos datam do ano 1500, com nativo americano chamado Thundercloud (nuvem trovão em tradução livre) que foi desonrado por um peregrino, Chuck Langsten, que é um ancestral de Johnny.

Thundercloud era um necromante e jogou uma Maldição sobre um peru morto - Turkie - que volta a vida para matar pessoas.

O nerd diz que o mito é conhecido, que há toneladas de livros sobre e de fato a lenda é famosa, inclusive com estudiosos sobre o caso, chamados turquiologistas (das piadas e trocadilhos esse é dos mais infames, já que mira turkey o termo peru em inglês,) dizem que o processo desemboca no ThanksKilling.

Pela floresta, o Peru se movimenta, desdenha do cabeludo caipira. Sua personalidade lembra a de Freddy Krueger em A Hora do Pesadelo, tanto no sentido de ser verborrágico e piadista, quando em não ter receio em mostrar seu personagem principal.

O boneco é simples, os manipuladores fazem questão de mexer sua boca, tal qual um brinquedo bizarro, mas o Peru sofre seus perigos, especialmente na estrada.

Ele pede carona e é recebido por um homem que possivelmente é tarado, interpretado por Steve Steinmetz, que é um produtor e eletricista de filmes B, como Guaxinins Assassinos: Armados até os Dentes.

Aqui se nota que há até penas no boneco, também há a capacidade mágica de esconder objetos e de empunhar uma espingarda. Ele é cruel, manda o homem ligar para sua filha, para se despedir e atira em sua cabeça no meio da ligação, enquanto o pai promete a menina que em breve a encontrará.

Como o animal violento é o único personagem realmente aprofundado no filme, é natural torcer para ele matar essas pessoas, ainda mais se considerar que são todas fúteis, imbecis e canalhas, especialmente quando se enxerga as tentativas de tornar a trama em algo sério.

Há um momento extremamente constrangedor, onde Johnny lida com seu pai (Terry Reagan) que, ao receber seu filho, solta um peido gratuitamente. A flatulência não é coisa mais vergonhosa da cena.

O rapaz resolve mentir, para se aproximar de seu velho parente. Fala que vai jogar em um time professional. Assim que seu pai ouve isso, o elogia e diz ele é o melhor filho de todos, então aparece o Peru, diz que não haverá mais laços sentimentais e mata o idoso.

É muito cretino e a sequência avança dessa forma, fazendo troça com o sentimentalismo melodramático que normalmente se tenta aludir em filmes de terror recentes.

O vilão interrompe uma cena de sexo em que Ali está, mata Grant (interpretado pelo roteirista, Kevin Stewart) para transar com ela.

A cena já grita artificialidade pelo fato da menina - que se dizia super avançada sexualmente - estar completamente vestida e piora quando ela nota que está transando não com o produtor do filme (talvez estejam de fato quebrando a quarta parede, possivelmente há mais inteligência e ironia do que se pensa) e sim com o assassino animal.

Ainda termina com a moça sendo comparada com uma torta de abóbora rosa, uma comida típica da ceia de ação de graças. É tudo muitíssimo cretino.

Depois disso, Johnny vai até Kristen, que resolve levar o grupo de amigos ao seu pai, o xerife. A questão é que o Peru chegou antes e é ele quem atende a porta, vestido com o rosto de Houd, tal qual Leatherface em O Massacre da Serra Elétrica.

Thankskilling, o Peru Assassino : Uma bobagem slasher sobre Ação de Graças

A moça não nota a diferença, acha mesmo que aquele é o seu pai, ainda que haja uma bruta diferença de tamanho e de formato corporal.

Não fica claro se a ideia é mostrar todos os personagens sendo todos imbecis ou se é só apelar para o absurdo da situação, a essa altura, pouco importa.

A favor de Kristen há o fato de que o policial estava caracterizado como peru momentos antes de morrer, então ele pode ter dito a ela que estaria assim, ou comumente fazia isso nos novembros, mas na cabeça dela.

A desculpa que Kristen dá é que o pai cortou o cabelo.

Nesse mesmo cenário se descobre a fraqueza do vilão, através de um conveniente livro presente justamente na casa do xerife. Fica a pergunta se Turkie foi até lá justamente para destruir esse livro, mas acabou se perdendo, desperdiçando tempo, não resolvendo essa celeuma.

Billy descobre que o pai da mocinha está morto, vê o corpo dele no chão, com o rosto ferido, cujo efeito aliás é bom, mesmo sendo tão barato, já que a equipe de produção utilizou geléia de morango para simbolizar o rosto ferido dele.

Turkie faz um discurso inflamado, que culpa os meninos pelo que ocorreu, aparentemente ele tem um amargor pela família de Johhny. Eventualmente o grupo de personagens descobre a forma de matar o Peru, para além do talismã que ele supostamente esconde na plumagem, devem queimar ele, como fazem com bruxas e devem repetir uma oração em uníssono.

Chama atenção o apego aos clichês de slasher, com os adolescentes morrendo quando se separam.

As mortes são em sua maioria bem toscas, exceção a de Darren, que é atacado por um medidor de temperatura de peru, depois é bicado por ele, que está esverdeado depois da estranha oração e do tiro em sua cabeça. Nesse ataque, o Peru pula e puxa a língua do rapaz, que estica, fazendo assim uma cena de horror corporal bem pensada, acompanhada claro de muito gore.

O assassino usa seus últimos minutos de tela e de vida para aludir a elementos típicos da ceia de Ação de Graças, como facas elétricas, que servem para fatiar aves nobres.

Ele ainda é jogando em uma geladeira, tal qual ocorre com as sobras de jantas comemorativas do feriado citado e do natal e é ferido com fogo, assado em uma fogueira de vários galhos, diante dos olhos da única sobrevivente, que saboreia uma cozinha...

Ainda há uma cena de peru assado, se revoltando na ceia/almoço, dizendo que sente cheiro de sequência. Depois que o filme foi rodado apenas a cabeça original foi preservada, o corpo e foi destruído durante a produção do filme e o molde original também foi destruído.

O longa ainda tem momentos de musicais, que remete a um projeto multimídia, para o teatro, chamado ThanksKilling: The Musical.

Perto de acabar, aparece um cartão de título que diz: "Continua no espaço..." basicamente com uma piada , sem intenção de sequências. Provavelmente por isso que parte de ThanksKilling 3 se passar no espaço, a exemplo outras sagas de horror que foram para o espaço, como Jason X, Hellraiser 4: Herança Maldita e O Duende 4: No Espaço.

Thankskilling é ridículo e divertido. Uma bobagem exagerada, de premissa tola e execução pautada no humor. Ainda assim acerta mais do que erra, sendo palatável para um nicho de espectadores que cultua obras de baixo calão e orçamento reduzido. É uma comédia que sabe o que é, além de ter servido de plataforma para o trabalho de Stewart e Downey, que aos poucos, rompem a bolha do cinema de terror tradicional.

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