Aviso: Contém alguns pequenos spoilers.
Quando séries de TV estréiam, por melhores que sejam os pilotos, a dúvida sempre paira: será que o nível de qualidade continuará nas próximas semanas? Bom, este segundo episódio de Marvel's Agents of SHIELD, com certeza, não é ruim e até melhora alguns aspectos vistos em seu debute. Porém, alguns problemas pontuais atrapalham um pouco o desenrolar dos 40 minutos de aventura propostos pela trama.
O episódio já começa com uma situação de perigo em pleno ar, com um aparente ataque ao avião usado pela equipe do Agente Coulson como base de operações. O espectador é, então, transportado para 16 horas antes, quando o time se prepara para uma viagem ao Peru, onde um misterioso artefato fora encontrado em ruínas indígenas. Enquanto a história apresenta os fatos do momento, uma subtrama começa a se formar com Ward mostrando desconfiança a respeito da novata Skye (ponto positivo para o figurino da garota no início, o mesmo usado ao final do piloto, indicando que os eventos se passam imediatamente após sua entrada no grupo) e até mesmo quanto à participação dos dois jovens cientistas em missões que podem arriscar suas vidas, uma vez que não estão preparados para situações de combate. Esse assunto continua até o último ato, tornando este, o episódio em que a equipe precisa acertar e aceitar as diferenças de cada membro, se quiserem funcionar juntos. É um tema clichê, mas que eventualmente seria abordado. Talvez o melhor seja mesmo lidar com isso no começo, quando a maioria das séries ainda está encontrando o tom (e Agents não foge a regra), para que lá na frente, com este tom devidamente encontrado, não perca tempo com conceitos assim e possa avançar a trama contínua da mitologia da série que, por enquanto, parece mesmo envolver a organização Rising Tide, da qual Skye fazia (ou ainda faz?) parte.
Há vários pontos positivos a serem ressaltados em 0-8-4 e praticamente todos envolvem justamente a equipe começando a se descobrir como tal, com seus membros aprendendo a agir em cumplicidade. Mais calmo que o anterior, o episódio dá mais tempo aos seus coadjuvantes para interagirem. Assim, começa a se formar uma tensão sexual entre Ward e Skye, um sentimento de veneração entre os mais jovens e a veterana Melinda May, e de autoridade entre Coulson e seus "subordinados". Aliás, Clark Gregg mais uma vez prova porque seu personagem começou pequeno em Homem de Ferro e se tornou tão importante para o Universo Cinematográfico Marvel. Além de suas habituais piadas, o ator ainda ressalta o status de "bad ass" do agente, tanto em ação, quanto na escolha de suas parceiras no passado. O espectador tem a chance de conhecer um pouco de um outro lado de Coulson, quando no Peru, se encontra com uma antiga aliada, vivida por Leonor Varela. Ainda sobre o protagonista, é bom prestar atenção em alguns aspectos quanto ao seu misterioso retorno do mundo dos mortos. É a segunda vez que ele se refere ao Taiti como um "lugar mágico". Todo mundo especula se na verdade não se trata de um androide, mas com essa constante informação, a pergunta se amplia: será que sua "ressurreição" tem algo a ver com Asgard? Ou indo mais fundo na mitologia mística da Marvel, seria a Feiticeira Escarlate a responsável por trazê-lo de volta a vida, algo que a personagem, confirmada para o segundo longa dos Vingadores, já fez nos quadrinhos?
Mas, como ressaltado no primeiro parágrafo, nem tudo são flores. Se há acertos no desenvolvimento da dinâmica entre os personagens, existem problemas na trama principal, um tanto desinteressante, mesmo com boas referências ao longa do Capitão América, à Hydra e ao poder do Tesseract. Por mais que a situação com os soldados peruanos resultem em duas boas cenas de ação, o caso começa pequeno demais, fazendo pensar se ter dois agentes especializados em ação não seria um tanto forçado para uma equipe relegada a pequenas missões para recuperar objetos desconhecidos. Claro que a presença de Ward e Melinda é justificada pelo ataque que o grupo sofre, mas tudo parece conveniente demais e qualquer time da SHIELD seria capaz de desempenhar a mesma função. Não que a série tenha de fazê-los enfrentar supervilões como Loki, por exemplo, mas também não é uma boa ideia torná-los banalizados em situações mais "corriqueiras".
Outro problema do segundo episódio reside nas coreografias das lutas. Enquanto no ano passado, o CW surpreendeu o público com as incríveis cenas de combate corpo-a-corpo de Arrow, Agents of SHIELD parece um pouco ultrapassada, com lutas nada inspiradas e algumas falhas de direção. Em vários momentos, entre um corte e outro, os personagens mudam de posição, seja na hora de desferir um golpe ou na forma como imobilizam o oponente, causando um estranhamento nada agradável em relação à continuidade. Por outro lado, há de se elogiar tecnicamente os efeitos especiais que criam o avião da SHIELD, bem convincentes, além da decisão de incluir um plano-sequência dos personagens interagindo logo nos minutos iniciais.
Arrumando tempo para incluir até outro comentário social (o piloto também fez isso), 0-8-4 ainda mostra que a série tem muito para melhorar. Ao mesmo tempo que o time de heróis precisa aprender a sua função, Agents também precisa se encontrar e se definir melhor, algo que, espera-se, consiga com mais dois ou três episódios (geralmente o tempo que uma boa série leva). Se demorar mais que isso, corre o risco de afastar seu público, algo que, pelos números de audiência da estreia, parece improvável agora, mas pode se tornar uma enorme dor de cabeça no futuro e cuja participação de personagens importantes do cinema talvez não resolva. Até porque, não é sempre que Samuel L. Jackson está disponível para uma ponta.
Review maduro e coerente. O seriado não se constrói da noite para o dia, os relacionamentos deverão ser desenvolvidos aos poucos, opiniões bem estruturadas, diferente do que tenho lido por ai.
As pessoas estão desistindo muito rápido e pior, achando que este seria um seriado com participação direta dos super heróis do filme Vingadores, quando na verdade foi divulgado que não. Ou seja, preguiça em buscar informações antes de julgar o todo.
Parabéns, espero os próximos reviews!