Review: American Horror Story: Freak Show S04E05 – Pink Cupcakes

Futuro de sangue. Não há nada mais assustador do que se odiar por estar carregando as marcas da auto piedade, sob a forma de uma máscara de mentiras imposta pela mesma sociedade que aplaude o bizarro e a aberração, por se sentirem confortáveis o suficiente na sua ideia de mundo perfeito. Freak Show vem conduzindo semana após semana um conto sobre essas imperfeições da alma e sobre quão comum a externalização violenta delas, pode vir a se tornar. Não é a toa que durante boa parte das cenas do excelente Pink Cupcakes, o filme Psicopata Americano tenha vindo uma ou duas vezes na minha mente.

No filme de 2000, o jovem Patrick Bateman vivido por Christian Bale utilizava a boa aparência que se espera de um lobo de Wall Street, para assassinar seus desafetos, ou mesmo garotas de programa, livre de qualquer remorso e suspeita. Aqui, os delírios assassinos de Stanley e claro, o discurso verborrágico de Dandy antes de partir para sua primeira caçada, são as principais referências ao longa de Mary Harron. Mas é a forte crítica social do roteiro de Jessica Sharzer que torna o episódio ainda mais ácido e tematicamente próximo do filme. Comprovando mais uma vez que a experiência de assistir American Horror Story só se torna completa, ao pescarmos essas referências à cultura pop e as produções do gênero no quais a série se inspira.

Por exemplo, é de arrepiar a metalinguagem utilizada para conduzir a relação entre Stanley e Elsa. A discussão cinema vs. TV na tenda da fraülein, figura fácil como o meu diálogo favorito da temporada e a decadência de Elsa sendo novamente explicitada na forma do seu maior medo é de uma convergência quase poética. Quando Fame de David Bowie começa a tocar no momento em que a dona do circo se prepara para um retorno triunfal, não tem como negar a riqueza de detalhes e o cuidado da temporada com a trama que quer contar.

É tanto que ao revelar o passado de Desiree e aproximá-la de Ethel, o roteiro do episódio consegue não só humanizar uma personagem que até então havia soado deslocada, como também insere um drama forte o suficiente para comover tanto quanto as outras histórias que vimos até aqui (por mais bizarro e levemente cômico que seja a origem do aparente hermafroditismo). No quadro de bizarrices vale comentar também, que os já referenciados planos de Stanley para dar cabo dos freaks foram chocantes mesmo tendo ficado só na imaginação. A sequência em que Dot se desespera ao perceber que Bette está morta é de dar arrepios.

AHSFreak Show 4.2

Pink Cupcakes ainda reserva um desenvolvimento assustador para o novo Dandy. O sombrio tom de deboche presente na razão dada por Gloria para psicopatia do filho é tão escrachado quanto à crítica aos yuppies, feita em Psicopata Americano. Aqui, os elogios para o trabalho do ator Finn Wittrock tem de ser feitos novamente, pois não é sempre que a personificação de crueldade e loucura consegue ser tão hipnótica. American Horror Story já conseguiu criar os melhores monstros da TV e Dandy já se encontra no hall ocupado por Tate Langdon de Murder House e pelo Dr. Oliver Thredson de Asylum.

O que fecha a narrativa central do episódio é a comprovação da sexualidade de Dell. Ryan Murphy disse em entrevistas que o diálogo entre o homem forte e Andy (Matt Bomer) era uma pérola de horror contemporâneo e definição melhor não existe para cena. Toda a dor que Dell sente ao negar seu verdadeiro eu para o mundo ainda é comum nos dias de hoje e ver que o roteiro não se envergonha ao colocar isto como pontapé para a explosão de violência na sala do médico de Desiree, é impressionantemente agridoce. No entanto, é o desconcertante encontro de Dandy com Andy que alavanca o nível de horror – já deveras incômodo – ao perturbador. A sequência no trailer do finado palhaço Twisty é mais violenta do que qualquer outra até aqui e o “pequeno” fato de que Andy ainda estava vivo enquanto era esquartejado dá um nervoso assombroso.

Deixando cliffhangers que mais uma vez colocam os Mott como catalisadores do monstruoso futuro de Freak Show, somos apresentados a filha de Dora (Gabourey Sidibe, num retorno que já promete) e a última cartada de Elsa para tirar as gêmeas do seu caminho. Dandy tem um novo brinquedo e a gente tem mais uma semana de pesadelos pela frente. É American Horror Story voltando definitivamente aos eixos.

P.S.1: Jimmy e Esmeralda protagonizando um romance platônico que funciona mais do que todas as baboseiras do triângulo amoroso de Coven.

P.S.2: Violenta a investida do menino lagosta em Desiree, não?

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