Crítica: November Man: Um Espião Nunca Morre

novemberposterEm determinado momento de November Man: Um Espião Nunca Morre (pavoroso título em português que tenta referenciar a série 007), você vai se perguntar se Peter Devereaux, vivido por Pierce Brosnan, é mesmo o herói da história. E isso não ocorre por conta de um bem elaborado roteiro cuja intenção é mostrar que no mundo da espionagem nada é branco e preto, mas por um texto confuso, que não investe nas motivações de seu personagem principal, fazendo com que suas ações pareçam aleatórias e, no mínimo, incoerentes.

A trama começa com uma missão do agente Devereaux em que algo sai errado, levando a morte de um inocente. Cinco anos depois, aposentado e vivendo uma vida tranquila, recebe uma nova incumbência da CIA: acompanhar uma velha amiga (Mediha Musliovic) infiltrada no governo russo que quer desertar em troca de uma valiosa informação. É como Moscou Contra 007 se Bond não tivesse conseguido proteger Tatiana Romanova. Antes de fugir com a antiga parceira, outros agentes com a tarefa da acompanhá-la recebem a ordem para matá-la. Entre eles, está David Mason (Luke Bracey), treinado por Devereaux anos antes. Deste momento em diante, a trama segue por um outro viés, lotado de conspirações e caçadas humanas que envolvem um candidato a presidência na Rússia (Lazar Ristovski), uma funcionária da imigração (Olga Kurylenko) e a própria Agência de Inteligência americana.

Existem vários elementos que poderiam fazer de November Man um bom filme de espionagem, mas o roteiro de Michael Finch e Karl Gajdusek, baseado no livro There Are no Spies, de Bill Granger, prefere investir em clichês do gênero e a direção de Roger Donaldson é pouco inspirada quando parte para a ação, fazendo o longa soar um subproduto gerado a partir de uma união de Bond e Bourne. Muita correria e tiros, mas tudo de forma genérica, mesmo que, é preciso reconhecer, não deixam o filme soar cansativo. No entanto, todos os "plot twists" apresentados ao longo da trama são previsíveis ao máximo para qualquer espectador minimamente atento, fazendo que o peso dramático das revelações seja quase nulo. É de esperar certa previsibilidade em produções de gênero, mas quando presente em todos os pontos de virada, fica clara a existência de um problema narrativo.

O filme está lotado de subtramas, com personagens aparecendo e desaparecendo por pura conveniência do roteiro, como o jornalista vivido por Patrick Kennedy ou a vizinha do espião Mason, que depois de protagonizar a cena citada no início deste texto, é totalmente descartada . O background político, que deveria ser importante para a história, é tratado com pouco caso, fazendo o impacto das ações do vilão ter apenas o peso de suas palavras, já que o espectador nunca é apresentado de forma convincente ao cenário no qual o longa se situa. E, em um ato quase desesperado para gerar algum conflito no clímax, é dada uma motivação de última hora a Devereaux, como se proteger a testemunha-chave cujas informações podem mudar a relação da Rússia com o resto do mundo não fosse suficiente.

Ao menos Pierce Brosnan, que também produz o filme, não atua no modo automático. Não há o conforto de alguém que viveu James Bond tentando replicar o personagem e o ator cria um agente bem diferente que, apesar de não perder a elegância, é mais próximo do 007 bruto vivido por Daniel Craig nos exemplares mais recentes da franquia. Infelizmente, a falta de coerência em suas atitudes distancia o espectador. Logo depois de arriscar a vida para salvar uma mulher, coloca outra em risco desnecessário apenas para provar um argumento para seu ex-pupilo. Aliás, a personagem em questão parece inserida na trama apenas para protagonizar uma cena de sexo e servir de isca. Assim, o roteiro lida com suas coadjuvantes femininas de forma bem discutível, um misto de objetos sexuais e interpretações machistas. Uma vítima de constantes estupros não consegue se vingar por ter uma "paixão oculta" por seu captor, um diretor da CIA chama sua subordinada de "tits" e por aí vai.

Apesar de seus problemas, no entanto, November Man já tem continuação garantida, podendo se tornar uma nova franquia, já que o livro no qual se baseia é apenas um em meio a uma série. Brosnan pode ter encontrado um novo personagem para viver pelo próximos anos, um que sua idade não sirva de fator de impedimento. Só resta esperar que sua sequência siga por um caminho diferente, com menos clichês, e dê motivos reais para se destacar em meio a tantos longas do gênero.

Alexandre Luiz

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