Atenção: com spoilers do episódio
Depois do ótimo final de temporada, era óbvio que a expectativa para os novos episódios de Arrow fosse grande. Por sorte, City of Heroes não só atinge como até mesmo supera a ansiedade dos fãs. Com um quê de recomeço, a série retorna com o mesmo fôlego de seus melhores momentos no último ano, fazendo referências aos acontecimentos dramáticos que encerraram o primeiro arco de histórias e prometendo novidades, reviravoltas e até mesmo uma reformulação na dinâmica dos personagens.
Meses após a demolição parcial dos Glades, Starling City está à beira de um colapso. Com a população desesperada por ajuda, políticos oportunistas, jovens promotores e empresários gananciosos parecem disputar o controle da cidade. Enquanto isso, o “Capuz” desaparece sem deixar vestígios, abrindo espaço para uma gangue agir em seu nome, atacando as pessoas que, na visão do grupo de imitadores, “falharam com a cidade”. Este é o cenário caótico que precisa de esperança, de um herói. O problema é que Oliver Queen, carregado de culpa pela perda de seu melhor amigo, Tommy Merlyn, se isola na mesma ilha onde passou 5 anos à deriva. É neste ponto que o episódio se inicia, fazendo uma rima visual com as primeiras imagens do piloto, exibido há um ano. Diggle e Felicity chegam à ilha para convencer Oliver a voltar, até porque não é apenas a cidade que precisa de ajuda: a Consolidações Queen está prestes a ser comprada por outra empresa, liderada por Isabel Rochev (Summer Glau), uma vez que as ações se desvalorizaram após a prisão de Moira, que havia confessado sua cumplicidade com Malcolm Merlyn no final da última temporada.
Oliver retorna para encontrar sua boate sob os cuidados da irmã, Thea, e aí que o episódio traz novidades que vão além do cenário quase pós-apocalíptico que deve perdurar por algum tempo. A caçula da família demonstra um amadurecimento muito grande em relação a adolescente irritante da primeira temporada. Talvez por ter assumido alguma responsabilidade ou pelo trauma de saber que sua mãe é, em parte, responsável pela morte de centenas de pessoas, a personagem tem agora uma excelente chance de crescer na história de forma relevante, principalmente para ajudar seu namorado Roy Harper a encontrar um sentido na vida. O rapaz tem se arriscado, noite após noite, tentando preencher o vazio deixado pelo Vigilante, ajudando pessoas, enfrentando bandidos e voltando para casa cheio de hematomas e ferimentos, a contragosto de Thea.
Quem também sofre uma mudança brusca de comportamento, e que deve refletir ainda mais nas próximas semanas, é Laurel, agora assistente do promotor público, assumindo uma postura totalmente contra as ações do Capuz e determinada a fazer justiça. Seu posicionamento é nitidamente inspirado pela Rachel Dawes de Batman – O Cavaleiro das Trevas, em contraponto à primeira temporada, em que guardava mais semelhanças com a mesma personagem, mas a mostrada em Batman Begins. Se soa um tanto forçado que a moça tenha decidido que seu antigo salvador é na verdade um criminoso, a inversão de papéis com seu pai, Quentin, já é um tanto interessante. Desde o começo, esperava-se que o policial se relacionasse com o Arqueiro da mesma forma que o Comissário Gordon apóia o Batman. Só agora, rebaixado a policial de rua, o patriarca Lance está mais confortável com as ações do vigilante, até por conta dos eventos que levaram à batalha pelos Glades.
São tantas mudanças no status quo do seriado que qualquer roteirista menos experiente cometeria o pecado de deixar o texto apressado, atropelando o desenvolvimento dos personagens em detrimento da ação. Mas isso não acontece em City of Heroes. Há um constante senso de urgência, o espectador percebe que algo precisa ser feito e que Starling está prestes a “explodir”. Mas tudo tem seu tempo e neste primeiro momento, é hora de Oliver Queen decidir se retornará a usar seu arco e flecha. Quando sua irmã é seqüestrada, no entanto, ele não vê alternativa e precisa novamente desempenhar seu papel de vigilante. E aí, Arrow nos presenteia com outra evolução. Ser chamado de “assassino” por Tommy mexeu com sua consciência e todas aquelas mortes de seu primeiro ano de aventuras (tão criticadas pelos textos dessa seção) finalmente começam a pesar. Assim, seu retorno é impulsionado pela decisão de não mais ser visto como um mero vingador. Para honrar a morte de seu amigo, Oliver finalmente abraça o caminho para se tornar um herói.
Mas não é apenas o presente que está lotado de ameaças. Nos flashbacks, o trio formado pelo jovem náufrago, Slade e Shado (que está em um relacionamento com o primeiro) começa a enfrentar uma nova ameaça quando mercenários surgem na ilha. É uma das raras ocasiões em que o passado se mostra relevante para compreender o que está acontecendo na atualidade, já que ambas as linhas temporais mostram Oliver lidando com um seqüestro, cada uma com um desfecho diferente, focando no quanto o protagonista evoluiu.
City of Heroes também deve agradar aos fãs de quadrinhos por fazer inúmeras referências a personagens e situações das histórias de papel. E, em relação à “concorrente” Agents of SHIELD, Arrow tem a vantagem de que tudo falado ali será abordado ainda nessa temporada, com destaque para a menção aos Laboratórios S.T.A.R. e um certo acelerador de partículas, que provavelmente terão relação com a origem do Flash, que será mostrada nos últimos episódios da “Season 2”, e para uma aparição rápida de uma certa heroína. Enquanto isso, a série da Marvel adora citar personagens que dificilmente aparecerão na TV, pois já estão estabelecidos no cinema. Funciona como fanservice e só. Pelo menos, por enquanto, a DC leva vantagem, já que agrada aos fãs e favorece a trama ao mesmo tempo.
Como nem tudo são flores, afinal é um seriado de TV aberta e ele não escapa dos problemas recorrentes deste tipo de programa, ainda é incômodo ter os personagens dizendo frase expositivas ao extremo, já que produtores e roteiristas têm em mente agradar o espectador que acabou de chegar e não viu os 23 episódios anteriores. Por mais que esse problema esteja presente em 99% dos seriados do CW, é impossível realmente se acostumar com isso. Sempre soará forçado e artificial.
De toda forma, Arrow volta de forma muito satisfatória, mostrando um caminho novo para a história, uma abordagem ainda mais urbana e espaço para evoluir personagens que até então desempenhavam pouca função na trama. Mostrando que está afiada com os quadrinhos atuais do personagem (o elogiado primeiro arco escrito por Jeff Lemire parece ter total influência na subplot envolvendo os negócios da família Queen), a série não desaponta nem os fãs de longa data, nem aqueles que conheceram o Arqueiro apenas por conta de sua adaptação televisiva.
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