Não é segredo para os espectadores que as séries de super-herói, principalmente as da DC, negligenciam seus vilões em favor das subtramas envolvendo seus personagens principais ou o antagonista central de cada temporada. Com Flash nunca foi diferente, embora a série tenha exibido algumas exceções. A prática do "meta da semana" é algo oriundo, principalmente, de Arquivo X, mas esses programas parecem não ter aprendido com a série de Mulder e Scully, em que cada episódio era, sim, focado nas motivações de cada "monstro" semanal. Por isso, é gratificante quando o seriado resolve investir no background do vilão, neste caso, vilã, introduzida em sua mitologia.
A terceira temporada de Flash está apresentando novos meta-humanos. Saem aqueles gerados pelo acelerador de partículas, entram os criados por Alquimia, um dos principais antagonistas deste ano, que tem tentado trazer de volta a linha de tempo "Flashpoint" restaurando poderes em pessoas que não apresentam habilidades na atual. Os motivos que levam o novo vilão a isso são ainda um mistério, mas, particularmente neste terceiro episódio, Magenta, eles não importam, pois a única motivação que conta é a da personagem-título, vivida por Joey King.
O roteiro de Judalina Neira e David Kob apresenta um ponto de vista bem diferente daquele a que a maioria das séries baseadas em quadrinhos está acostumada. Magenta sai do estereótipo comum de "meta da semana" e vai além, vinda de uma origem trágica não para ser confrontada na pancadaria contra o Flash, mas graças a uma habilidade digna de Barry Allen: sua humanidade. Com um background calcado no abuso que sofria constantemente de seu pai adotivo e uma caso complicado de dissociação de personalidade, a garota é tratada como deve. É uma vítima, não uma criminosa. Com isso a série levanta as questões certas, enquanto lida com os heróis e suas relações com seus pais.
Barry Allen é o que mais se identifica com Magenta. Ele também vem de um lar adotivo, mas teve a sorte de ser criado por Joe West, uma figura que transborda integridade. E é especialmente tocante quando o policial, preocupado com Wally adquirir poderes no futuro, diz que não quer ter dois de seus filhos na vida de combate ao crime. Esse sentimento de paternidade é também essencial para que o espectador comece a acompanhar o novo arco dramático envolvendo Harrison Wells e sua filha Jesse, que, ao contrário de Wally, conseguiu poderes de velocista e está empenhada em usá-los para o bem.
O retorno de Tom Cavanagh é mais do que bem-vindo e o ator trouxe uma nova roupagem para o Dr. Wells. Mais enérgico do que antes e inclinado ao sarcasmo para disfarçar a preocupação com a filha, o personagem retorna em um ponto interessante da trama, pois também não entende muito bem as alterações na linha do tempo, aproveitando para dar algumas broncas e conselhos para o protagonista. Já Jesse traz a simpatia de sempre, agora com o entusiasmo de alguém que quer usar seus poderes para combater o crime. Já dando dicas de uma parceria com o Flash, o seriado finalmente traz uma velocista que não quer destruí-lo (essa temporada também promete participações pontuais de Jay Garrick como um mentor eventual do herói). E a possibilidade de Barry ter uma ajudante pode trazer uma química interessante nas cenas de ação em que compartilharem.
Há algumas distrações no episódio, como a subtrama envolvendo o casal protagonista. O espectador já viu isso antes e usar a desculpa da alteração da linha do tempo para repetir toda a situação "encontro interrompido pela vida de herói" é um tanto forçada. Com a resolução no ato final, no entanto, é de se esperar que isso não se repita e os realizadores deem novos conflitos, mais interessantes para Iris e Barry.
A participação de Tom Felton essa semana reforça o quão irritante é seu personagem, mas essa é a função de Julian na trama. Há muito a se dizer de seu caráter com toda a sequência em que "desmascara" a jovem Magenta, julgando a moça pela sua condição de meta-humana, sem ao menos se preocupar com os motivos que a levaram àquela situação com o pai adotivo. É a velha história de culpar a vítima, que aqui é usada como um conto de precaução pelo texto.
Mesmo envolvendo bons efeitos no clímax (porque afinal de contas essa é uma série de super-heróis), o episódio fecha o confronto da maneira mais humana. Primeiro porque seria bizarro se o Flash resolvesse a situação com uma luta quando a pessoa que está enfrentando é uma adolescente. Depois, porque com tudo que o fã conhece do protagonista, o seriado já pode se dar ao luxo de focar uma resolução baseada na conversa. Barry assume a postura de um negociador. Ou pelo menos de alguém disposto a ouvir os problemas de Magenta, provavelmente o primeiro em muito tempo na vida da garota. Assim como Wells entende que tudo que a filha precisa é de apoio, não de repreensão.
Tematicamente interessante e relevante, este Magenta dá um novo fôlego para a temporada, que nos dois primeiros episódios havia se introduzido um tanto morna, embora o destaque para os dramas dos personagens principais seja a maior força até aqui. Os novos conflitos apresentados, somados ao intrigante novo antagonista, podem mesmo trazer a terceira temporada a glória da primeira. Este episódio, em particular, trouxe muito do senso de descoberta do ano um do seriado, assim como outra caraterística daquela época: a sinceridade na forma como lida com o heroísmo como algo a ser despertado. Assim, Flash volta a ser aquele brilho de esperança no Universo DC da TV, que motiva outras pessoas a fazer o bem e se torna um ponto de transformação na vida daquelas que, por um ou outro motivo, poderiam desviar o caminho em direção ao mal.
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