The Flash pode ter estrutura similar a Arrow em sua narrativa, e o episódio dessa semana mostra isso colocando flashbacks ao longo da trama (que, se seguirem o exemplo futuramente, devem variar o ponto de vista, ao invés de sempre focados no personagem central), mas a série do velocista escarlate da DC, com certeza, não é Arrow. E isso é não é uma crítica negativa. Sai o tom soturno, entra uma atmosfera mais leve, para cima. É uma autêntica história de herói em treinamento. Barry Allen está em uma jornada da qual, mesmo sendo o homem mais rápido vivo, terá de prosseguir aos poucos.
Como o seriado ainda está em sua fase inicial, ou seja, quando os roteiros preferem não se comprometer demais com uma história contínua, The Flash, em sua segunda aventura, mostra o potencial que tem para trazer semanalmente boas doses de ação, romance, drama e humor. Este Fastest Man Alive traz a manjada estrutura de “vilão da semana”, mas com um roteiro bem amarrado, que lida com temas pertinentes para o desenvolvimento de Barry como personagem. Mesmo com alguns clichês, como o batido conflito da figura paterna adotiva, a coisa toda funciona. E vale ressaltar que os roteiristas já se adiantaram em resolver o atrito entre o protagonista e Joe West, como se essa subtrama fosse tão inevitável que o melhor é usar no começo da série mesmo, para que, mais à frente, possam trabalhar outros dilemas e confrontos. Apesar de lidar com o esperado, o programa tira vantagem da atuação de seu elenco e as cenas entre Grant Gustin e Jesse L. Martin são ótimas pelo tom pessoal contido, especialmente a última, que fecha o episódio.
Aliás, sem querer desmerecer a adaptação do Arqueiro Verde, The Flash tem um casting superior. É fácil constatar isso quando Tom Cavanagh e (novamente) Martin contracenam, ou quando o intérprete do Dr. Wells está com seus dois jovens ajudantes, ou Gustin tenta explicar seu comportamento errático desde o retorno do coma para Candice Patton, Iris, agora finalmente empenhada em se tornar jornalista, como sua contraparte dos quadrinhos. Outro destaque desta semana, inclusive, é justamente um momento entre os dois em que o espectador é confrontado com a quantidade de sentimentos e assuntos não resolvidos que Barry precisa manter para si. Colocar o protagonista dizendo tudo que quer em alta velocidade foi um toque bem humano para a história. O que pode incomodar é ter esses talentos todos em tela dizendo frases meio bobas e tendo diálogos expositivos demais (em determinado momento, Caitlin descreve para Cisco quem é o Barry).
Em uma série de ação, não é comum destacar duas boas cenas dramáticas em apenas um episódio e nem por isso faltam motivos para os fãs vibrarem com as sequências mais agitadas. Pela segunda semana consecutiva, The Flash prova que os efeitos visuais não serão um problema e conseguem convencer nas várias chances que o herói tem de exibir seus poderes. Talvez o bullet time possa parecer um pouco previsível, mas por outro lado, comprova que Matrix permanece relevante 15 anos depois. Também funciona bem o efeito de replicar o personagem de Michael Christopher Smith, o vilão Multiplex, principalmente no ápice do confronto. E as motivações do antagonista são tipicamente de histórias em quadrinhos, envolvendo uma perda pessoal e a traição de um mega-empresário, Simon Stagg (William Sadler). Outra coisa que agrada é o design de produção. A delegacia de Central City é uma ode ao visual dos quadrinhos da DC Comics, sempre buscando inspirações art deco na arquitetura de suas construções.
O roteiro lida também com outra subtrama esperada, envolvendo os efeitos dos poderes de supervelocidade no corpo de Barry. Há uma sequência bem divertida com os cientistas do STAR Labs tentando desvendar a causa da súbita fraqueza que o protagonista sente toda vez que força o uso de suas habilidades. Além de ser tirada diretamente das HQs, mais precisamente do primeiro arco do herói em seu título pós-reboot da DC, é uma forma de incluir uma explicação “científica” para tentar dar ao universo do seriado certas regras a serem seguidas, conforme a trama avança. Estabelecer isso é importante para, sempre que possível, explorar os limites do herói (aliás, um dos temas de Fastest Man Alive). Quando se tem um personagem com um poder tão forte, costuma-se levantar a questão do que seria um verdadeiro desafio. Com fraquezas e limitações impostos, os roteiristas acabam ganhando uma carta na manga para ser utilizada quando necessário.
Ainda que no início, há uma boa história sendo contada em The Flash. Uma que faz o espectador acompanhar o episódio com um sorriso no rosto, mas que também surpreende com o gancho deixado para o futuro. E, principalmente, investida na evolução de seus personagens. É uma jornada longa, essa do herói. Tomara que a recompensa valha a pena.
Alexandre oq vc acha de ter dois Flash daqui uns anos quando estrear o do cinema, nao seria mais esperto a DC usar o mesmo universo? Ou é melhor deixar separado mesmo tv do cinema? Obvio que nao vai acontecer, mas eu queria ver eles desenvolvendo Flash e Arrow na tv e depois juntava com a Liga no cinema.
Eu adoraria ver o universo da TV sendo usado no cinema, mas realmente não vai acontecer. E acho que a DC/Warner seria esperta se o filme do Flash fosse com o Wally West e não com o Barry, assim um não anularia o outro.