Neste ponto da temporada o espectador já conhece o grande segredo do Dr. Wells, sua real identidade e boa parte de suas principais motivações. Então, por que, a essa altura, um episódio focado inteiramente no Time Flash descobrindo coisas que o público já sabe poderia ser minimamente interessante? A resposta vem na forma de um roteiro mais preocupado com os personagens e seus arcos pessoais do que com revelações. E, em boa parte do tempo, o texto acerta.
A trama da semana divide o grupo de protagonistas, literalmente e figurativamente. Enquanto Barry, Caitlin e Eddie ficam em Central City, Cisco e Joe vão para Starling investigar o acidente que tirou a vida da esposa de Wells. Ao mesmo tempo, a Dra. Snow reluta em acreditar que seu mentor pode ser uma grande mente criminosa, alienando-se do restante da equipe. Com esse foco em conflitos pessoais, o episódio aproveita até para jogar alguma luz na subtrama do Capitão Lance, que pertence a Arrow, mas recebe algumas dicas de seu colega policial sobre como lidar com os problemas de confiança que tem com sua filha Laurel (algo que terá relevância caso a série do Arqueiro mostre o impacto dos bons diálogos entre Quentin e West).
Em Central City um novo meta-humano, o vilão metamorfo dos quadrinhos Homem Comum (aqui sofrendo uma releitura que abranda a forma como ativa seus poderes), realiza diversos roubos usando a identidade de pessoas inocentes, levando várias a prisão, uma vez que a polícia não está preparada para aceitar explicações que envolvam o "impossível", preferindo acreditar somente nos que câmeras de segurança registram. O bandido, em uma de suas aparições, acaba implicando Eddie em um tiroteio contra policiais, fazendo com que o Flash tenha um motivo a mais para agir. A subtrama parece boba, mas preenche bem o tempo do episódio enquanto acontecem as descobertas sobre o Dr. Wells, além de avançar a situação do aborrecido romance do jovem detetive com Iris, que aqui soa um pouco mais aceitável, já que a série faz questão de trabalhar Thawne como uma pessoa íntegra e sincera. É totalmente compreensível seu conflito quanto a continuar mentindo para a namorada. Seu melhor momento, no entanto, está na cena em que divide com Barry, quando o protagonista parecia disposto a livrar o amigo da prisão a qualquer custo.
O antagonista, embora tenha uma habilidade clichê, traz alguns momentos de humor para contrabalancear o cenário de desconfiança que passou a figurar em The Flash. E, mesmo com a motivação-padrão de quase todo criminoso da série (a ganância), o roteiro se beneficia do poder para criar uma sequência até tocante no final (embora tivesse sido mais interessante que tal característica aparecesse antes, gerando empatia do público com o antagonista desde o início). Mas, se há algo em que direção e texto não conseguem se sair bem é com o confronto do velocista. Parece que a série não sabe direito lidar com a supervelocidade do Flash ou com a amplitude de possibilidades que o poder oferece ao combatente do crime. Há uma falta de timing incômoda gerada pela inaptidão dos realizadores em criar uma ameaça palpável ao herói. É muito difícil acreditar que alguém que consegue impedir um tsunami pode "suar" para capturar um bandido sem nada a oferecer como desafio físico.
Enquanto procura pistas em Starling, Cisco arranja um tempo para um favor bem especial que certamente traz um sorriso no rosto dos fãs das HQs. Graças a inventividade do personagem, a Canário Negro finalmente terá uma de suas marcas registradas adaptadas para o universo mais "realista" de Arrow, algo que, tomara, dê as caras logo no seriado-irmão. É um belo easter-egg e que novamente justifica o pequeno crossover com coadjuvantes do Arqueiro, além de trazer uma Laurel mais simpática em contra-partida aos momentos dramáticos e sombrios que normalmente a assombram.
Mantendo-se direcionado no impacto causado pela possibilidade de Wells ser o vilão para o grupo, formado por personagens que colocaram inúmeras vezes suas vidas nas mãos do cientista, este décimo-nono episódio da primeira temporada acaba surgindo interessante, mesmo sem adicionar grandes momentos, servindo como ponte para os momentos decisivos da série. O Flash-Reverso é uma ameaça crescente e que convence por sua sociopatia. Se neste ponto isso tudo já não é novidade para o espectador, talvez a saída seja fazer alguns personagens perceberem isso da pior forma possível. Se a maioria das revelações já não tem mais peso dramático, a solução é deixar as ações do personagem ditarem as transformações pelas quais o programa passará nas próximas semanas.
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P.S.: há uma ótima aparição de uma das mais importante cidades do universo DC. Será que na segunda temporada teremos surpresas de luz verde?
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Que bom que o momento "Bárbara Gordon" da Íris não durou muito. Mas que merda de parceita ela seria se insistisse que o relacionamento dela com um detetive só se sustenta se ele compartilhar informações específicas do trabalho dele com ela.