O Mestre dos Espelhos é um dos vilões mais conhecidos da galeria de inimigos do Flash, e a série de TV, entrando em sua terceira temporada, tenta corrigir a injustiça de não tê-lo apresentado em uma versão live action em seus dois primeiros anos. No entanto, o episódio não se esforça para usar, de forma criativa, as habilidades do antagonista. Mesmo que continue centrada nas tramas pessoais do herói-título, e use algumas ideias para apresentar um episódio leve e divertido, falta o que sobrou na última semana. É um grande vilão dos quadrinhos tratado como um corriqueiro "meta-humano da vez".
Se com Magenta, The Flash fez questão de dar profundidade à nemesis semanal, The New Rogues, título que deixa clara a intenção de trazer o Mestre dos Espelhos de volta, não introduz o personagem de forma convincente. É apenas mais um afetado pelo acelerador de partículas com motivações unidimensionais. É a vilania pura, sem espaço para nuances, que, embora mostrada de forma competente pelo ator Grey Damon, não acrescenta muito à ideia de que bons heróis precisam de bons vilões.
Grant Morrison, em sua passagem pela HQ do Homem-Animal, utiliza uma das versões do Mestre dos Espelhos de forma extremamente criativa e torna um personagem de conceito absurdo em um antagonista perigoso e imprevisível. Obviamente, o seriado não deveria copiar Morrison, mas ao menos compreender que em todo personagem, por mais bobo que possa parecer, existe o potencial para boas histórias. O quadrinista inglês poderia servir de lição e, se a série queria fazer uma citação a Twin Peaks, poderia ter feito em uma situação mais emblemática, em um confronto entre herói e antagonista. No entanto, prefere usar os poderes do Mestre da forma mais clichê: para prender o Flash em um espelho, situação que serve apenas para desenvolver as habilidades de Caitlin, ainda que a futura Nevasca faça tudo escondida.
O que incomoda no episódio é o roteiro de Benjamin Raab (cuja carreira como autor de quadrinhos é até interessante) e Deric A. Hughes investir pouco no material que tem em mãos: há um vilão que usa espelhos para se locomover, em parceria com uma personagem cujas habilidades mexem com vertigem e desequilíbrio (Ashley Rickards). Ainda assim, o texto cria poucas situações em que ambos oferecem algo mais do que a ameaça padrão de praticamente todo meta-humano da série. Falta um senso de perigo, que aqui é substituído por um tom leve e bem-humorado. Aliás, o tom seria um ponto alto se conseguisse se conectar melhor com a trama, mas soa forçado, ainda que possa retirar alguns sorrisos do espectador.
É, pelo menos, engraçada toda a situação envolvendo Barry, Iris e Joe. Até que enfim alguém percebeu que o envolvimento do casal é estranho, levando em conta que foram criados quase como irmãos. Também é ótimo que o roteiro opte por esse momento de autoconsciência através do humor. Só é desconexo com a tarefa do episódio: apresentar um vilão icônico das HQs para o público da TV. E também tira o tempo que poderia ser usado para desenvolver melhor o treinamento de Jesse Quick. Violet Beane está ótima como a heroína, mas as lições de Barry para que a moça se torna uma heroína na Terra-2 só levaram uma semana? É uma pena a série não investir mais na parceria entre os velocistas, pois quando investe as sequências são boas.
Outra situação que abraça a comédia para se desenrolar é a ideia de Wells. Parece estranho que alguém sempre avesso a alterar linhas temporais ou interferir em universos paralelos sugira ao Time Flash buscar um novo Harrison Wells. Enquanto Tom Cavanagh se diverte vivendo versões diferentes de seu personagem, a decisão faz pouco, ou nenhum sentido dentro da lógica da série.
Ainda que force a barra em determinados pontos e surja pouco inspirado em outros, The New Rogues consegue empolgar. O primeiro confronto entre o Flash e o Mestre dos Espelhos traz um excelente trabalho por parte da equipe de efeitos visuais, em uma sequência que envolve uma grande noção espacial em sua condução e que em momento algum deixa o espectador confuso.
A atmosfera descompromissada chega a lembrar um pouco o clima da série dos anos 90. Uma referência provavelmente intencional, levando em conta algumas decisões da direção de arte (um cenário, em particular, parece ter saído diretamente do seriado antigo, com direito até a decoração feita com neon). E essa proximidade com o absurdo e, porque não, com a ingenuidade das HQs da Era de Prata, traz um ritmo dinâmico ao episódio, tornando-o, pelo menos, uma diversão escapista, como o programa já se mostrou capaz de fazer tantas outras vezes. Mas, isso também corrobora com a falta de ambição. The New Rogues deixa de investir na novidade, entregando apenas algo dentro de certa zona de conforto.