O texto abaixo contém spoilers de Flash.
A série do Flash é um caso complicado de se avaliar. O personagem tem histórias incríveis nos quadrinhos, especialmente nos anos 90 e 2000, quando foi escrito por Mark Waid e Geoff Johns, que poderiam servir de inspiração para, no mínimo, 5 temporadas de aventuras super-heroicas de altíssimo nível. No entanto, mesmo oferecendo uma primeira temporada muito boa e uma segunda que, se inferior, ao menos trouxe momentos interessantes, este terceiro ano do programa vinha, por todo seu início, se mostrando não irregular, mas ruim mesmo. Subtramas forçadas, um vilão nada carismático e uma ameaça de última hora que soa reciclada dos dois velocistas já enfrentados pelo protagonista são apenas algumas das características que denotam um esgotamento quase total por parte dos roteiristas em entregar ao espectador algo novo. Este episódio pré-hiato de final de ano, pelo menos, consegue contornar alguns dos problemas citados, embora crie outros.
A primeira metade de The Present é muito boa. Há um senso de urgência em adquirir mais informações sobre o recém-descoberto Savitar e suas ligações com o Dr. Alquimia. Para isso, Barry viaja até a Terra-3 em busca do auxílio de Jay Garrick. Além do episódio trazer uma dose cavalar de fanservice, com o velocista veterano enfrentando o Trapaceiro de Mark Hamill (trazendo a reunião entre herói e vilão do seriado dos anos 90, além da oportunidade para Hamill finalmente trazer para o live action o mais próximo do Coringa que dubla há 25 anos), surge a chance do espectador conferir uma dupla de Flashes em um confronto contra os principais antagonistas da temporada. A recompensa, neste sentido, é gratificante. John Wesley Shipp interpreta Garrick com a mesma energia que entregava em seu Barry no seriado já clássico e, mesmo que o uniforme pareça um pouco fora de medida, o ator consegue contornar o fato com seu carisma e desprendimento. A interação mestre-aprendiz, que havia sido prometida na segunda temporada, mas jamais fora realmente entregue graças ao embuste gerado pela real identidade de Zoom, é finalmente mostrada.
Outra boa ideia do episódio é não construir toda sua trama (bem como toda a trama do restante da temporada) em torno da identidade de Alquimia, já entregando para o Time Flash toda a verdade a respeito do vilão e sua ligação com Julian. É ótimo ver que, finalmente, alguma coisa avança e The Present traz isso muito enraizado em suas motivações. É chegado o momento de mover para frente as plots apresentadas em 8 semanas do terceiro ano.
No entanto, as coisas ficam um pouco fora de tom a partir da segunda metade. Barry revelando sua identidade a Julian é um momento de pouco impacto, uma vez que a série já estabeleceu que o protagonista não tem muito cuidado com sua vida civil. Os confrontos com Savitar reforçam o maior problema do vilão: a falta de criatividade dos realizadores. O design ruim, somado ao que parece ser a única forma de luta que o personagem conhece (pega o herói pelo pescoço, corre com ele pela cidade...), criam momentos frustrantes pois, ao espectador, jamais é apresentada uma batalha digna ou impactante.
Mas, o grande problema do desfecho em The Present reside na visão que Barry tem do futuro. Aqui, The Flash cria uma situação irritantemente semelhante ao principal conflito da temporada anterior de Arrow. Agora, o herói, e o espectador, sabem que alguém vai morrer em alguns meses. Assim, os roteiristas entraram em uma situação que dificilmente trará uma resolução satisfatória. Se Iris realmente morrer, todos os diálogos ao longo dessa primeira parte da temporada foram extremamente exagerados na criação dessa situação. Se ela não morrer, será um clichê enorme que outra pessoa acabe tomando seu lugar e encontrando seu destino final. O episódio lida com isso em determinado ponto em que Savitar "profetiza" uma morte e uma traição. Quanto a este último recurso, cabe a pergunta sobre quem irá virar a casaca no Time Flash. E aqui os roteiros estão sendo produzidos para fazer o público desconfiar de Cisco e Wally. O primeiro, como este episódio deixa claro, está psicologicamente frágil pela morte do irmão. O segundo, como o episódio também deixa claro, está se tornando mais rápido que Barry. Ambas, situações já bastante manjadas ao se estabelecer a origem de algum vilão futuro.
A verdade é que The Flash está muito aquém do que se esperava da série. Mas, graças a alguns acertos neste mid-season finale, fica a sensação de que haverá uma volta por cima e, mesmo com todos os problemas, os conflitos futuros podem se tornar menos artificiais, embora ainda exibam sinais de cansaço e pouca imaginação. Há tanto que o programa poderia fazer para criar mais empatia com o público. Trabalhar melhor seus vilões, fazendo-os mais do que mero desafio, ao dar a eles motivações convincentes é um dos passos que, infelizmente, não parece estar nos planejamentos dos realizadores. O foco no relacionamento entre Barry e Iris atinge um ponto interessante aqui, com direito a uma cena brega, mas até bonita, envolvendo o "presente" do título. Caberá aos roteiros próximos desenvolverem melhor essa dinâmica e fugir ao máximo da pieguice que pode vir com a situação preconizada pelo protagonista. É o ponto mais frágil nesta temporada e o fato de estar tão em evidência neste episódio não deixa boas expectativas para este desfecho.
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