Crítica: Cinquenta Tons de Cinza

cinquenta tons de cinza“Se as referências no livro já não são das melhores, o filme segura a onda, mas não escapa de cair no buraco do óbvio – cinematograficamente falando.”

Hoje sai nos cinemas, antes mesmo do que na terra do Tio Sam, um dos lançamentos mais esperados pelo grande público, Cinquenta Tons de Cinza, adaptação cinematográfica do livro de mesmo nome que vendeu bem mais de 100 milhões de cópias em todo o mundo, ou seja, um verdadeiro sonho literário e principalmente cinematográfico, já que a indústria órfã de sucessos arrebatadores e suas sequências, anseia por esse tipo de coisa, e muitas foram as produtoras que procuraram a senhora E.L James com cheques gordos, mas, no controle da situação, cada uma de suas opções foi avaliada e chega ao público um material muito bem vendido, com uma estratégia de marketing eficaz e que desperta terrivelmente a curiosidade – até deste que vos escreve – ou seja, garantia de executivos ricos e continuações recheadas. Por outro lado, a fita em si não é toda essa avalanche. Se as referências no livro já não são das melhores, o filme segura a onda, mas não escapa de cair no buraco do óbvio – cinematograficamente falando.

Tudo no filme é uma construção para o sucesso: da fotografia ao roteiro, da direção a escolha dos atores. O filme beira o barranco do ridículo, mas se salva várias vezes, só sendo um produto de nenhum valor artístico, mas que cumpre bem seu papel de entretenimento.

As vezes se arrasta um pouco, as vezes soa engraçado, a trama se escorre como no livro, mas na maioria das vezes até se parece melhor. A fotografia, especialmente, e a direção, como dito acima, são medianas, salvo alguns planos, como um próximo ao final, onde um enquadramento ajuda a contar a história visualmente: vemos atrás de uma grade adornada, Gray (Jamie Dornan), como que preso em uma bolha, isolado e sozinho em seu quarto de brincadeiras. Só isso, e mais nada.

As atuações se arrastam, mas se mostram eficazes para o que se propõem, só irritando com pequenos gestos, que se colocados de forma natural, não incomodariam, mas por serem empurrados a todo o momento, mostram uma perda de mão – por parte da direção - e incomodam - como a constante mordiscada de lábios de Anastasia (Dakota Johnson), que inclusive faz jus a sua referência, se parecendo muito com a Bella de Crepúsculo antes de cada um dos beijos que recebe ao longo do filme – reparem no olhar das duas.

Positivamente analisando a obra, o filme representa um importante passo, por ser um grande filme hollywoodiano que fala do sexo e toda a sua intensidade, focado na perspectiva feminina, e não masculina como em “9½ Semanas de Amor”, de 1986, filme do qual a diretora Sam Taylor bebe muito. A liberdade como se conta e como se toca no assunto do sexo é muito interessante, pondo luz sobre um tabu ainda não quebrado, fazendo com que o público feminino faça uma descoberta que é de seu direito, mas que até hoje algo negado, que é experimentar e testar os prazeres que o sexo e suas virtudes trazem consigo.

O filme não é nem de longe uma apologia à violência sexual ou à submissão da mulher, uma vez que Anastasia é quem de fato controla o jogo, decidindo brincar por sua conta e risco, e por também se satisfazer nesse jogo do qual todos brincamos chamado sexo, que só funciona junto, com o parceiro, com a parceira. Pontos importantes como esse são levantados o tempo todo pela trama, que mesmo inconscientemente, desenvolve esse papel.

Aos que esperam as cenas de sexo, podem comemorar – são extremamente sexy – mas não são altamente quentes ou vulgares, muito menos fortes graficamente, onde fica clara a mão feminina na direção, que é um toque importante, apesar de discreto.

Um filme que deve ser visto e que tem sua importância e que independente de eu ter gostado ou não, vai render milhões para a indústria de artigos e cosméticos eróticos e vai despertar o casamento de muitas pessoas.

 

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4 comments

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    Aline 11 fevereiro, 2015 at 15:23 Responder

    Li incontáveis críticas dizendo que as atuações e o roteiro são fraquíssimos (o que não me surpreende, uma vez que o livro é horrendo), achei que esta critica focou bastante nos aspectos visuais do filme, me faltou um aprofundamento sobre os personagens, sobre o roteiro, a história em si.
    Agora, um ponto que me incomodou (e vem incomodando em outras criticas também) é a tal "visão feminina" do sexo, que foi citada no texto. Como se filmes (esplendidos, por sinal) como 9 1/2 semanas de amor, um dos melhores e com atuações maravilhosas do cinema, fossem algo que não agrade a mulheres. Tem que ver isso aí gente.
    No mais, nada chama minha atenção neste filme, me parece ser bem sem graça e romantiquinho.

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    Sophia Ikon 14 dezembro, 2015 at 18:32 Responder

    Enquanto o filme 50 Shades of Grey tem despertado grandes sentimentos entre sociedade (tanto positivos quanto negativos), é claro que, no final, as pessoas são livres para decidir como ajudar os outros, não há nenhuma relação, enquanto as mulheres não deixei maltratando depois de ler ou assistir o filme, mas o problema existe não devemos jogar a culpa literatura, nesse caso, podemos citar o grande autor Marquês de Sade da literatura masoquista que iria parar em nada. De fato pouco atrás eu vi na HBO (http://www.hbomax.tv/programacion.aspx)y quadro realmente faltando alguma coisa no livro se for expresso.

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