Confissões de um Necrófilo: Um filme perturbador, que remete a vida de Ed Gein

Confira análise e bastidores a respeito de Confissões de Um Necrófilo, uma das primeiras obras baseadas na história de Ed Gein

Confissões de um Necrófilo é um filme B de horror, que se baseia em fatos, ao menos, supostamente.

Coprodução entre Estados Unidos e Canadá, é mais uma obra baseada na história de Ed Gein, curiosamente lançada no mesmo 1974 em que O Massacre da Serra Elétrica também ganhou as salas de cinema.

Dirigido por Jeff Gillen e Alan Ormsby, o longa segue a história de um fazendeiro cuja vida desmorona, após ele se tornar um ladrão de túmulos. O texto original é de Orms, produzido por Tom Karr, com Bob Clark como produtor não creditado.

A história acompanha Ezra Cobb, um sujeito de meia idade, de mentalidade infantilizada, fato que já faz perguntar se ele tem alguma questão neurodivergente diferenciada.

A princípio, ele é um sujeito inofensivo, mas esse quadro muda, ao longa da história. Sua derrocada moral ocorre depois de uma perda familiar, que o faz sair do controle.

A partir desse ponto, ele começa a cometer crimes, se mantendo distante da civilização até certo, tanto fisicamente já que vive isolado em sua fazenda, mas também em sua mente, a medida que começa a frequentar lugares públicos, convivendo com mais gente fora os que habitualmente encontra.

A partir do ponto que ele sai de sua fazenda, começa uma série de momentos estranhos, pitorescos e até sádicos.

A base

Esse longa é inspirado nos crimes de Ed Gein, o sujeito que é a estrela da série Monster da Netflix e Ryan Murphy, que em sua terceira temporada, explora essa história.

Before Netflix's 'Monster,' Ed Gein's Crimes Were Exposed in This Forgotten  Horror Movie That Disappeared for 20 Years

Esses crimes e a figura de Gein também foram fonte de inspiração para os personagens de Norman Bates em Psicose, Leatherface, de O Massacre da Serra e Bufallo Bill de O Silêncio dos Inocentes.

Como dito, a historia de Ezra Cobb trata de um senhor de idade que em suma é um homem fraco, emasculado, que morava em uma fazenda com sua mãe.

Os dois se ajudavam mutuamente, dividiam tarefas no cuidado da fazenda onde moravam, faziam isso desde que o pai da família morreu, no entanto, sua mãe sofre uma parada cardíaca e perde os movimentos do corpo, fica confinada a uma cama sob os cuidados dele. 

O filme então toma a licença poética de entender que a figura dele como filho devoto e fiel era na verdade um disfarce, o chamado verniz social, que diversos assassinos, psicopatas e serial killers usam, para disfarçar seus atos maléficos.

Isso tudo ocorre em meio ao luto, fato que poderia acarretar em uma certa ambiguidade, visto que poderia ser a trama toda baseada em seus delírios. Como caráter da obra é um mero exploitation, essa possibilidade é praticamente descartada.

Os crimes de Gein

Apesar de ser dito como baseado na história real do ladrão de túmulos Ed Gein de Wisconsin, até onde se sabe, ele não é um assassino em série, já que há comprovado "apenas" duas vítimas de homicídio de sua parte, no caso, Mary Hogan e Bernice Worden .

Há a suspeita de que ele matou pessoas e canibalizou outras, mas nenhum dos cadáveres que roubou apareceu com sinais de digestão ou algo que o valha. Gein ainda negou ter praticado necrofilia.

Psycho: The Lost Tapes of Ed Gein: Documentary Series Trailer

Para efeitos jurídicos, não há muita prova sequer que ele matou pessoas. Essa é uma liberdade poética que a cultura pop tomou. Seus crimes foram tão desvirtuados da realidade que podem gerar até um artigo à parte.

Filme Perdido

O filme estava perdido, por uma boa parte do tempo, após seu lançamento.

Ele havia desaparecido desde o lançamento original em 74, só foi redescoberto na Flórida em meados da década de 1990 e lançado em home video pela Metro Goldwyn Mayer, empresa controladora dos espólios da distribuidora American International Pictures, que o lançou nos cinemas.

Estreia

Ele chegou aos Estados Unidos em fevereiro de 1974, em circuito reduzido. Em 6 de março de 1974, passou em cinemas de San Francisco, na Califórnia.

Em 15 de março de 1974, chegou a Toronto, no Canadá, já no México estreou em dezembro de 1976. Após o dito resgate, chegou a Europa, em premiere de TV na Alemanha, em setembro de 1993.

Nomenclatura

O título original é Deranged. Originalmente se chamaria Necromania, mas foi alterado na metade das filmagens.


Na Alemanha tem dois nomes, o "simples" Besessen e Deranged - Geständnisse eines Nekrophilen. Na Grécia é O hasapis tou Manhattan e Ο χασάπης του Μανχάταν. Na Itália é Deranged - Il folle.

Gravações e locações

As filmagens ocorreram entre fevereiro e março de 1973, ou seja, bem anterior ao filme O Massacre da Serra Elétrica de Tobe Hooper, ou seja, não há como encarar esse como uma imitação do clássico que estrela Leatherface e família.

O orçamento inicial era baixo, de US$ 200.000 e as gravações foram quase todas no Canadá.

A fazenda Kootz foi gravada na 3926 Concession Road 6, Clarington, em Ontário, A General Store foi em Enniskillen.

A fazenda dos Cobb foi em Elizabethville, já o o exterior da taverna Goldie's foi gravada na 800 Brock Street North, Whitby.  Al Fisher construiu o cenário interno da casa de Ezra.

Também se gravou em Courtice, em Genosha Hotel - Oshawa, no Slemon's Locker - 7851 Old Scugog Road, Enniskillen, que foi onde gravaram a Anderson's Hardware Store, lugar onde Sally trabalhava.

Cenas internas foram no Canukr Film Studios - 32 Prince Rupert Drive, em Clarington, Ontário.

Histórias sobre as locações

A equipe de filmagem encontrou uma fazenda abandonada na Floresta Ganaraska. Depois de encontrar essa, decidiram usá-la como a casa da fazenda Cobb.

10 Best hikes and trails in Ganaraska Forest | AllTrails
A floresta Ganaska

Os proprietários da época sequer sabiam que as filmagens haviam ocorrido ali.

A antiga casa da fazenda não existe mais, mas uma nova foi construída em seu lugar, de propriedade do filho do proprietário original do lote. O celeiro em que ocorre uma cena no final ainda está lá.

Já a casa que serviu de base para a residência dos Kootz tem uma história curiosa e de rejeição, já que os donos da residência expulsaram a equipe de filmagem depois que leram o roteiro.

A equipe teve que procurar um segundo lugar para as filmagens posteriores.

Outro palco

O produtor Tom Karr queria filmar na cidade natal de Ed Gein, em Plainfield, Wisconsin. Sua ideia era dar a sensação de que as desventuras ocorressem em lugar frio, com muita neve.

A prefeitura Plainfield disse a Karr que não permitiria, pois a cidade já havia adquirido notoriedade negativa  devido aos crimes que ali ocorreram.

Karr então tentou outras cidades em Wisconsin e todas as autoridades dessas disseram para ir embora e nunca mais voltar. Foi então que ele conversou com Bob Clark sobre filmar em Ontário, Canadá, pelos benefícios fiscais e pela semelhança com Wisconsin, devido à neve.

Fidelidade

Antes do lançamento de Ed Gein - O Serial Killer em 2000, este filme era o retrato mais fiel da história de Ed Gein.

Vale lembrar que também foram baseados na história dele o clássico Texas Chainsaw Massacre de Hooper e Three on a Meathook, de 1972, fora claro Psicose.

O sujeito aliás ainda estava vivo na época.

Outras obras "derivadas"

A comédia Ed e sua Mãe Morta com Steve Buscemi, de 1993, também se baseia nessa história, assim como elementos de Bufalo Bill, o matador de O Silêncio dos Inocentes.

Há elementos da história de Gein em Child of God, de James Franco, em A Casa dos Mil Corpos de Rob Zombie e até em Con-Air: Rota de Fuga, justo em um personagem de Buscemi.

Estúdios e "sequência"

A companhia que propiciou a feitoria do filme foi a Karr International Pictures. A distribuição ficou com a American International Pictures (AIP) nos cinemas dos EUA, e da Astral Films, no Canadá.

A Moore Video, empresa de home video que lançou o filme em VHS, planejou fazer uma sequência intitulada Deranged II em 1993, mas ela nunca foi feita.

Quem fez:

Jeff Gillen dirigiu apenas esse. Escreveu She-Man: A Story of Fixation.

Ele é ator, esteve em She-Man, A Morte Não Marca Hora, As Crianças não Devem Brincar com Coisas Mortas, Sonho de Morte, Ninguém é Perfeito, Ausência de Malícia e Loucademia de Polícia 5: Missão Miami Beach.

Ormsby tambémn era ator, mas teve mais créditos na direção que seu colega. Fez após esse Confissões de um Necrófilo, os longas The Great Masquerade e Popcorn: O Pesadelo Está de Volta.

Alan Ormsby - IMDb

Virou um roteirista de muitos créditos, como em Sonho de Morte, Os Pequenos Dragões, A Marca da Pantera, Porky's 2: O Dia Seguinte, também nos telefilmes Adorável Andróide, O Desaparecimento de Nora e Indecência, além do filme O Substituto, que virou uma franquia tetralógica.

Atuou também em As Crianças Não Devem Brinca com Coisas Mortas, onde também colaborou com o texto, além de Sonho de Morte, Lenny e a séria Caribe.

Clark dirigiu She-Man: A Story of Fixation, As Crianças Não Devem Brincar com Coisas Mortas, Sonho de Morte, Black Christmans: A Noite do Terror, Assassino por Decreto, Tributo, Porky's: A casa do Amor e do Riso, um episódio de Histórias Maravilhosas, Um Refém do Barulho, Bebês Geniais, Bebês Geniais 2: Super Bebês e o telefilme Karatê Dog: O Cão Marcial.

Bob Clark foi convidado para dirigir este, mas ele achou o roteiro muito perturbador para o seu gosto, então optou por coproduzi-lo, embora não tenha sido creditado.

Tom Karr tem poucos créditos no cinema, seu know-how é mais ligado a música. Foi produtor nesse, em Charlie Rich: The Silver Fox in Concert e produtor associado em Creep, onde também tem um breve papel

Karr e a música

Tom Karr era promotor de shows de grandes nomes do rock and roll dos anos 1970, incluindo Rod Stewart, Black Sabbath e Led Zeppelin.

Um dia, Karr disse aos membros do Led Zeppelin que queria deixar a indústria musical e fazer um filme. Ele então contou a eles sua ideia para o filme de terror Confissões de um Necrófilo antes mesmo de ele estar em produção.

O orçamento que ele levantou o orçamento veio justamente dos shows de bandas como Led Zeppelin, Three Dog Night, The Temptations e Rod Stewart.

Maquiagem dos mortos

O mestre dos efeitos práticos Tom Savini disse certa vez em uma entrevista que os cadáveres do filme foram feitos usando kits de modelos de crânios humanos de plástico, colados em corpos feitos de tela de arame e algodão pintado.

Os rostos dos cadáveres foram criados a partir de moldes de gesso de vários parentes dos membros da equipe, incluindo a esposa do produtor Tom Karr.

Savini trabalhou nos efeitos desse junto aAlan Ormsby e Jerome Bergson.

Especulações sobre Ezra

Harvey Keitel e Christopher Walken fizeram testes para o papel de Ezra Cobb em Nova York.

Tom Karr, no entanto, achou que eles eram jovens demais para o papel. Roberts Blossom foi o último a fazer o teste e assi que o viu, Karr sabia que tinha encontrado o homem certo.

Alguns anos depois ele viria a fazer um papel curioso e dúbio, em Esqueceram de Mim

Roberts Blossom, Quirky Character Actor, Dies at 87 - The New York Times

O sujeito é conhecido atualmente por ter participado de filmes com Contatos Imediatos de Terceiro Grau e Christine: o Carro Assasino, além de Rápida e Mortal, western comédia de Sam Raimi.

Classificação

Para que o filme obtivesse a classificação indicativa R da Motion Picture Association of America (MPAA), várias sequências foram truncadas ou cortadas completamente.

Entre essas, havia uma sequência estendida de assassinato e outra com uma dissecação prolongada, onde Ezra mutila um cadáver.

Proibição

O filme foi proibido em Boston devido à sua natureza abertamente violenta.

Música

A música tema do filme é uma versão instrumental de um antigo hino cristão intitulado "The Old Rugged Cross".

Alan Ormsby teve a ideia de usar antigos hinos cristãos na trilha sonora, e Tom Karr fez o tema. 

A música no geral, foi de Carl Zittrer:


Narrativa

O início mostra um letreiro, de que tudo o que ocorre nessa trama de fato ocorreu, mas o local e os nomes foram modificados para atrapalhar a identificação, embora seja muito fácil identificar de quem e onde se trata, até mesmo nessa época, que obviamente, era pré-internet.

As primeiras imagens mostram detalhes de uma fazenda, um cenário bucólico e comum, típico de qualquer país cuja paisagem inclua o interior.

Depois de passear por celeiros, cercas e por entradas de uma fazenda, a câmera foca em Tom Sims, personagem de Leslie Carson, um jornalista de rádio que cobriu a situação grotesca que será encenada ali.

Leslie Carson, como Tom Sims, o contador de histórias

Ele é um elemento claramente externo, funciona como uma quebra da quarta parede. Aparentemente, isso foi feito para quebrar um pouco a sensação de pavor que os fatos mostrados em tela pudessem causar.

A ideia de ter um narrador foi de Jeff Gillen.

Infame

A abordagem é de um sensacionalismo atroz, especialmente quando a fala do narrador assume que essa não é uma história para fracos.

Segundo seu discurso, Ezra Cobb é assassino, violador de sepulturas e possivelmente necrófilo, conhecido pela alcunha Açougueiro de Woodside.

Fala direta

O jornalista e narrador, ele dá detalhes da vida familiar, dos cuidados que ele tinha com sua figura materna, incluindo os doze anos em que esteve acamada.

O sujeito é vivido por Roberts Blossom, enquanto sua mãe é interpretada pela Cosette Lee, de Pela Primeira Vez...sem Pijamas e Minha Montanha Sagrada.

Vale ressaltar que Cosette Lee, que interpretou a mãe idosa de Blossom, era apenas 14 anos mais velha que o ator.

Dada essa informação, é mais do que dado também que Ezra já é idoso, visivelmente velho. Em uma primeira olhada, ele não parece ser um sujeito disfuncional, mas é bastante dependendo da mãe. 

Graças a isso, ele nega que ela esteja mal, quando ela afirma que não está sentindo nada, ele culpa o vento. Do nada ela começa um monólogo agressivo e estranho, achando que vai morrer.

Delirando, diz que se ela partir é para avisar apenas uma pessoa, a "gorda" Maureen Selby, todo o resto são pessoas ruins, degeneradas e desonestas. 

A parte do elogia a uma moça gorda, provavelmente é uma referência a Augusta Gein, a mãe de Ed.

Mãe protetora de uma sinceridade crua e cruel

Não há introdução de normalidade, o espectador é levado a acreditar que momentos como o dessa despedida são comuns.

Não há outros parentes, mesmo que a história de Ed Gein possua um pai agressivo, que era alcoólico e batia na família, e um irmão, que era brigado com a mãe. Coincidentemente, os três parentes morreram em um curto espaço de tempo.

Ezra tenta seguir normalmente, mas sua mãe é de uma sinceridade cristalina e cruel, assumindo que o protegeu demais. A mulher gasta seus últimos suspiros para alertar para ele não ser enganado por alguma "vagabunda usurpadora", mas fala de uma forma afirmativa.

Ela repete uma frase que Ezra até decorou:

O preço do pecado é a gonorreia, a sífilis e a morte.

Ou seja, ela faz uma corruptela em tom de acréscimo, da máxima bíblica de O Salário do Pecado é a morte, da carta bíblica Romanos 6:23.

A mãe diz para ele ficar distante das mulheres, de certa forma, repete a condição de matrona da personagem Margareth White em Carrie a Estranha, dois anos antes de Brian De Palma entregar sua versão do romance de Stephen King.

Negação 

Ainda assim, mesmo sabendo qe a mãe está mal, ele se nega a acreditar no que está ocorrendo, passa a tentar empurrar colheradas da sopa verde que fez, para ela.

Enquanto leva o talher a boca dela, percebe ela recusando o alimento, derramando a sopa e depois, sangue também. Ele chora, não aceita aquilo, logo depois aparece já no enterro.

A cena é boa, o cenário é todo preto, tem apenas velas, o caixão, flores, tão minimalista que parece até um devaneio.

Aparecem apenas duas pessoas ali, que são simpáticas e dizem que a senhora era uma pessoa correta e boa, que parecia estar apenas descansando.

Elas seriam importantes, um pouco mais à frente, na trama.

Formato documental

O jornalista retorna, para dar conta da rotina de Ez, diz que as pessoas o achavam bom apesar de suas excentricidades, que contratava serviços de pessoas para as coisas mais básicas e que também mantinha a casa como sua mãe gostava.

Cita Harlan Cootz, seu amigo e auxiliar, que é interpretado por Robert Warner.

Inspirações de personagens

Os personagens da família Kootz tem dois membros que são amálgamas, que reúne em si dois pares de personagens fundidos.

Harlan é baseado em uma combinação de Lester Hill e Elmo Ueeck, ambos amigos de Gein, já Brad Kootz, seu filho, foi baseado em uma combinação de Bob Hill, amigo de Geine Frank Worden, filho de Bernice Worden, uma das vítimas de Gein.

Perda importante

O sentimento da perda o abalou, deixou com que ele se sentisse sozinho. Nos momentos de intimidade, ele escrevia cartas para ela. 

No meio de um dia em que estava sozinho, a câmera passa pela casa, está tudo sujo, há muito lixo espalhado, então ele ouve a voz de sua mãe. Depois de um giro de 360 graus, é mostrado que a voz vêm, na verdade, dele mesmo.

Sem cerimônia 

Não se demora a mostrar Ezra no cemitério. Ele viola o túmulo, primeiro vê ela bem, como quando morreu, mesmo passado um ano inteiro.

Quando encosta na mão dela, percebe que aquilo era ilusão, já que há ali apenas ossos. Ela está putrefata, com a pele cinzenta. 

O filho leva a mãe consigo, no carro, canta sobre uma menina dos seus sonhos. No meio do caminho ele é parado pela polícia e quase se entrega, sem perceber que ele apenas estava acima da velocidade.

O policial deixa passar, achando que ele está bêbado, confundindo o cheio do cadáver com o de bebida.

Aspecto do corpo

Ezra leva a mãe para cima, a coloca na cama. Ela está cinza, apodrecendo em um aspecto que mesmo suavizado, ainda assusta, ainda mais se considerar que seu lançamento datava de 1974.

Sua condição sentimental não o deixa menos sensível e cuidadoso. É dito que ele estuda taxidermia e como embalsamar corpos, para manter a mãe o mais próximo do vivo possível.

Construção 

Com o tempo, em conversas com Harlan e sua família, descobre um conceito básico, que seria útil para si: a sessão de jornal com os obituários.

Ele não parecia ter pretensão de saber nada, por isso, não tinha hábitos de leitura, tampouco usava rádio - que devia ser o meio de comunicação mais frequente da época, uma vez que o ano não é tão precisamente entregue.

Sabendo onde as pessoas recém falecidas estão, ele visita os lugares, para angariar partes dos corpos. É sabido que a parte da leitura de obituários é baseado em um hábito real de Ed Gein.

Violação

Ezra arranca os olhos de uma morta, serra a cabeça, retira o cérebro e mostra algumas partes para o cadáver da mãe.

As visitas aos cemitérios se tornam frequentes e ele é chamado de necromaníaco.

Tentativa de normalidade

A esposa de Harlan, Jenny (Marcia Diamond) convence o marido a falar com Ezra, para ele sair, se encontrar com outras pessoas.

Para qualquer pessoa familiarizada com o tema de psicopatia, é comum que violadores de túmulos ou matadores tenham uma vida dupla, escondendo suas excentricidades com eventos e hábitos comuns.

Até então, Ezra não possui esforço nenhum nesse sentido e essa atitude de Jenny miraria justamente a construção disso, sendo de certa o estopim para a matança que ele começaria.

A reação de Ez é simpática, ao menos tenta ser assim, já que ele termina a sugestão rindo de maneira macabra.

Aproximação

Ele decide seguir a fala de sua mãe, então vai ter com Maureen, mulher essa interpretada por Marian Waldman.

Ela é uma pessoa simpática, mas é peculiar, não tão esquisita quanto o protagonista, mas ainda é bem estranha.

A moça não acha estranho que ele fale - e assuma que faça isso - com a sua mãe morta, como diz que conversa com Herbert, seu falecido marido.

Os dois marcam de fazer uma sessão espírita, para conversar com Herbert. Ezra se agrada dela, a acha bonita e opulenta. Não a acha boa da cabeça, mas gosta da gordura dela.

Vale lembrar que as vítimas de Gein eram corpulentas, tal qual Maureen. Teoricamente, ele mirava copiar o corpo de sua mãe, que também era uma mulher obesa, ao contrário da contraparte vivida aqui por Lee Scott.

Sensações de Ezra

Tímido, Ezra não fica totalmente à vontade, para assumir que rouba cadáveres. Mesmo sendo um alienado do contrato social, ele possui alguma noção do que seria estranho para outras pessoas, mas não olha para si mesmo como alguém esquisito e estranho também. 

Film Review: Deranged (1974) – This Is Horror

Sobre si há uma visão narcisista, de achar feio e ruim só o que há em terceiros, nunca com ele mesmo.

Sessão

Maureen chama Ez para a tal sessão espiritual, ela pede ao morto que a possua.

Os diálogos não são sutis, não demora para que a moça rotunda sugira que o morto faça perguntas de cunho intimo a ele.

Selby incorpora Herbert e pede para que Ezra faça amor com ela mesma. Fala com todas as letras: a faça mulher de novo... pratique amor do tipo físico, que ele não pode mais dar.

Não fica claro se ela faz isso propositalmente, se acredita mesmo nisso, se ela está carente e cria isso ou se de fato tem influência espiritual ali.

Para o roteiro, isso é totalmente irrelevante, acaba sendo apenas a justificativa para o ato que vem a seguir.

Toques

A coisa evolui para a carnalidade, com o homem apalpando os seios da senhora, enquanto Maureen ainda está em transe. Eles então vão ao quarto, para ter mais facilidade na intimidade.

Deranged

A sequência é bem nonsense, estranha e tosca, mas está longe de estar entre os momentos mais inesperados do filme. Mas Ezra é perturbado e antes de conseguir concluir o coito, ele vê sua mãe, chamando aquilo de imundice, repetindo a palavra morte.

Ele então saca uma arma, aponta para ela, mas só atira depois de colocar o rosto da moça contra um travesseiro.

Abafa assim o som dos disparos e espalha pouco o sangue que deveria escorrer do corpo morto.

Outras mulheres

Com o tempo, ele se sente insaciável, aparentemente, não necessariamente do ponto de vista sexual. A verdade é que ele parece castrado, mas ainda tendo tesão, ele tenta alcançar algum êxtase, de alguma forma

Ele então encontra outras moças, na Taberna Goldie's, vê Mary Ransom, uma moça de 34 anos, interpretada por Micki Moore. Ela é dita como acabada pelo narrador, mas na verdade, é bastante bonita.

O cenário da Goldie's Tavern era um lounge da taverna no térreo do hotel Oshawa, onde o elenco e a equipe do filme se hospedaram durante as filmagens. Eles simplesmente desciam e gravavam esses momentos.

A mentalidade de Ezra

Ez não sente culpa, remorso ou algo que o valha, segue normalmente. 

No bar, rola uma conversa, na verdade um sujeito começa um monólogo, dizendo que queria transar com Mary, que já viu um sem número de corpos de mulheres, mas que não pode fazer nada, afinal é velho e impotente.

Ele até tenta se aproximar da garçonete, mas ela o xinga e o despreza.

Ardil e trilha sonora

Ezra sai do bar como um ébrio. Precisa ser carregado. Aos poucos ele se tornar um perseguidor, até chegar ao dia em que oferece carona para ela, uma vez que o carro da garçonete, estava com pneus furados.

O filme quase não possui música, dessa forma, toda a estranha obsessão e observação de Ez fica ainda mais grafada e assustadora, visto que não há uma bússola sonora, para determinar o que ela sente.

Os atos ruins que comete, como quando corta os pneus e finge que nada fez, são dados em silêncio. Isso ajuda a causar estranheza e a demarcar que aquilo tudo é esquisito.

Ele leva a moça para sua casa, ao invés de levar Mary direto para cidade, decide ir rumo ao seu esconderijo e covil, com a desculpa de que vai entregar a ela um estepe.

A vontade de ser o que não é...e de se exibir

O silêncio é interrompido quando Mary entra na casa e toma ciência dos segredos de Ez. Ele simplesmente larga ela no carro, entra e fica lá, por vários instantes.

Parecer ter o desejo incubado de ser visto usando vestes dos mortos.

Ela entra na residência basicamente por que se cansou. Vasculha os cômodos, atrás do sujeito, até encontrar o quarto da mãe, onde são guardados os cadáveres. 

Aí entra a música grave, de Carl Zittrer, que torna o momento em algo emocionante e de repente, no meio dos cadáveres, se levanta alguém vivo, coberto de carne morta.

Ezra é reconhecido apenas por seus belos e doces olhos azuis, escondidos pela pele putrefata e a perseguição termina com tela preta.

Exposição e a janta

Mary desperta, só de roupa íntima, amarrada em um cômodo. Miki Moore assinou um contrato que previa uma cena de nudez no filme.

No entanto, quando chegou a hora de fazer as cenas macabras com Ezra, ela se recusou a se despir, portanto, ficou de calcinha e sutiã.

O anfitrião é educado, diz que não ira machucá-la, até pede desculpas por sua falta de roupas, uma vez que ela antes o ameaçou, se passasse a mão boba nela.

Aliás, é dado que ele de fato não a tocou de maneira lasciva, embora sua postura não seja minimamente correta. Ele pode não ter se aproveitado dela tocando-a, mas o que faz é claramente um abuso.

Além disso, não há motivo plausível para ele tirar a roupa. Nenhuma das pessoas presentes no jantar está sem roupa, são todos cadáveres vestidos, até por conta de encarecer bastante a produção se esses estivessem nus. Precisaria de mais do que o dobro de maquiagem.

A impressão que fica é que essa é uma tentativa de tomada de poder, uma forma de mostrar que é ele quem está no comando, mesmo que ele não tenha qualquer agência ali.

Esse trecho remete claro ao clássico O Massacre da Serra Elétrica, mas a configuração pode ter inspirado Feliz Aniversário Pra Mim, em uma cena específica do slasher oitentista.

Quando ela pede para ser desamarrada para comer, é enfim tocada por ele, mas não de maneira maldosa, embora ele ensaie isso.

Ele insiste que ele a libere e o sujeito é tão ingênuo e estúpido que não nota que ela está tentando pegar uma garrafa de vidro, para acertá-lo.

A sequência é bizarra, ele se aproxima lentamente, sangra pela cabeça, a garçonete empurra os corpos dos mortos para cima dele, mas não consegue muito mais que apenas atrasar o sujeito.

Outro momento

Harlan e Ezra conversam, em outro ponto da trama, o necrófilo limpa um rifle de alta precisão. 

Esse momento poderia ser estranho, mas a temporada de caça se aproxima, acaba se interessando por Sally Mae (Pat Orr) uma menina que trabalha em um armazém e que é próxima dos familiares de Harlan. 

No momento em que ela reencontra Ezra, Sally está lendo um livro de título sugestivo: The Death Penalty, ou A Pena de Morte em português.

Um sujeito digno de pena

Ezra não consegue se comunicar. Ele fala através de balbúcios, espera a saída de outros homens, para estar sozinho com as mulheres. Nem assim consegue falar, faz então uma ação bruta e agressiva, apontando uma arma para a menina.

É na verdade um adulto infantilizado e obsessivo, que faz de suas armas a extensão de seu membro sexual, mesmo que claramente ele não utilize seu falo. Talvez a arma seja na verdade um substituto, não a extensão.

Depois de sair da loja, ele ainda caça a garota, na neve. Essa cena foi originalmente escrita para ser ele caçando um veado, mas as restrições de tempo e dinheiro impediram isso.

Por isso também atalharam o momento, deixando ela cair em uma armadilha de urso, que facilitou Ezra a pegar ela, já que a moça, mesmo baleada, era mais nova e mais atlética que ele.

A cena seguinte, no celeiro era, de fato, de Orr, essa sim completamente nua. Para manter a moça aquecida, havia um fogão instalado dentro do celeiro e ela era enrolada em um cobertor entre as tomadas.

Pat Orr comprou o roteiro original do filme de Alan Ormsby quando ele resolveu vendê-lo online.

Rastro

Brad, que antes foi introduzido como próximo de Sally Mae, acha o rastro de Ezra, na loja onde Shally trabalhava. Decide então ir até a casa dos Cobb, para enfim descobrir a malignidade estabelecida ali. 

Ela aparece nua, de cabeça para baixo, enquanto o homem está na mesa da cozinha, com cabelo desgrenhado, todo ensanguentado...

A cena é pesada, mostra um sujeito já sem amarras, sabendo que foi pego, patético, ao lado dos mortos que cultivou, dos cadáveres que violou e dos corpos que produziu.

Depois desse ponto, acontece um mini epílogo, que anuncia através da narração, que populares queimaram a casa e toda a propriedade. 

Diferenças cabais para Ed Gein

A questão de Ed Gein se vestir de mulher é pouco aludida aqui.

O máximo que se faz é a cena de choque dele com cabelos longos, usando a pele dos corpos em cima de si. Teoricamente, a mãe de Ed queria uma menina e projetava isso no rapaz/homem, fato que de certa forma, justificaria a obsessão dele por trocar o seu sexo masculino pela da mulher. 

Aqui isso não é exatamente aludido. Vale dizer que discussões a respeito de transexualidade não era como hoje. O entendimento do roteiro foi o de mostrar um tarado impotente, emasculado pela geração anterior.

Esse é um dos filmes mais exitosos em representar um homem sem capacidades de tensão sexual ou pujança viril.

É possível também que a escolha tenha sido assim para evitar censuras, já que a parte do homem se vestindo de mulher provavelmente seria menos chocante que um homem cometendo feminicídio.

Confissões se um Necrófilo é ao mesmo tempo sensacionalista, cru e sádico, é um episódio desolador do cinema de terror dos anos 1970.

TRAILER

4 comments

  1. Alfredo Hudson 21 outubro, 2025 at 00:32 Responder

    Thanks I have just been looking for information about this subject for a long time and yours is the best Ive discovered till now However what in regards to the bottom line Are you certain in regards to the supply

Deixe uma resposta