Crítica: Além da Escuridão – Star Trek

Mesmo sendo fascinado pelo gênero scifi, nunca fui fã de Star Trek. Via ocasionalmente uma reprise ou outra da série clássica ou de seus filmes derivados, contudo jamais cheguei a me encantar efetivamente por aquele universo e seus personagens. Isso até 2009 quando surgiu Star Trek e me descobri, pela primeira vez, genuinamente encantado pela criação de Gene Roddenberry iniciada em 1967 e reintroduzida quatro anos atrás para velhas e novas platéias num reboot inteligente que conseguiu agradar tanto fãs veteranos quanto recém-convertidos como eu. Sendo assim, era alta a expectativa que criei em torno desse Além da Escuridão – Star Trek, sequência daquele filme com J.J. Abrams (e seus flares, claro) mais uma vez assumindo o posto de diretor a partir de um roteiro assinado por Roberto Orci, Alex Kurtzman e Damon Lindelof, mesmo trio do primeiro filme que retorna ao lado do compositor (e mago diria eu) Michael Giacchino.

Tão grandioso e empolgante quanto seu antecessor, Além da Escuridão equilibra-se entre fazer todo tipo de referência (e reverência) a elementos já consagrados daquele universo e em subverter (graças à nova timeline introduzida no filme de 2009) algumas das relações entre os personagens principais de maneira bem curiosa. Nesse contexto, é interessante ver como o roteiro brinca ao fazer eco a eventos de Star Trek – A Ira de Khan (filme de 1982), por exemplo, ao mesmo tempo em que cria uma dinâmica bem mais instigante entre Kirk e Spock. É essa dinâmica, aliás, que surge como uma das duas grandes forças do filme, visto que ao colocar os dois personagens em conflito (entre si num primeiro momento e depois com a moral e comportamentos de cada um que aludem à tal escuridão do título) o filme fomenta o desenvolvimento dos dois dentro da narrativa ao mesmo tempo em que revela-os bem mais amadurecidos e principalmente mais interessantes ao final da história.

E se o primeiro grande acerto do filme concentra-se em seus protagonistas, o segundo reside no personagem do excelente Benedict Cumberbatch (da série Sherlock), que constrói um vilão tão ameaçador quando o Nero do primeiro filme, mas muito mais tridimensional e inteligente, considerando que suas ações surgem sempre pautadas por uma motivação ideológica até certo ponto compreensível e que acaba moldando as próprias escolhas que Kirk e Spock fazem à medida em que a trama evolui. Aliás, é curioso notar como o filme traça - por coincidência ou não, um paralelo contemporâneo entre a história do vilão de Cumberbatch e a do terrorista Osama Bin Laden, já que seu personagem surge, à primeira vista, justamente como um aliado de uma potência militar contra outra, mas que eventualmente acaba abraçando sua real agenda e mudando radicalmente de posição até voltar-se contra aqueles que o apoiaram/criaram.

Contudo, se por um lado há muita coisa que mereça ser festejada nesse Além da Escuridão (como o escopo dos efeitos visuais, por exemplo, que conferem uma dimensão épica a momentos-chave da trama como aquele que já mostrava, num dos trailers, a queda de uma nave na Terra) por outro há certos elementos que diminuem, ainda que não de forma definitiva, o impacto do resultado final da produção. Sob essa perspectiva, ao investir num caráter episódico em boa parte da narrativa com pequenos ganchos, o roteiro cria, por vezes, a sensação de que não estamos vendo um filme, mas sim um grande game onde os personagens encaram pequenos desafios a cada 10 ou 15 minutos antes de atingir o próximo nível.

Além disso, vale citar também que por ser convertido, o 3D nada faz em prol da trama já que sem ter sido pensado como ferramenta para um fim na concepção do roteiro, sua utilização acaba funcionando apenas como distração e desculpa para ingressos mais caros. Outro ponto passível de crítica está na visível dificuldade que J.J. Abrams tem para dirigir sequências de ação mais elaboradas, já que em algumas delas o desafio de tentar entender o que está acontecendo na cena é grande, dada a quantidade de cortes rápidos e de movimentos bruscos da câmera que salta de um eixo a outro sem muita organização espacial.

A sorte do J.J., do filme (e nossa, por tabela, claro), é que se ele falha por um lado aqui e ali, por outro compensa tudo ao desenvolver muito bem o aspecto emocional de cada um de seus personagens e a maneira como agem e reagem frente cada conflito, o que não só faz com que nos importemos verdadeiramente com seus destinos e escolhas, mas que também torçamos, desde já, para que a próxima aventura da Enterprise não demore muito a surgir nas telonas levando-nos, como diz o capitão Kirk, audaciosamente onde nenhum homem jamais esteve.

Além da Escuridão – Star Trek estreia oficialmente no Brasil no dia 14 de junho.

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6 comments

  1. Avatar
    Gerson Avillez 19 maio, 2013 at 22:38 Responder

    Não achei nada acima da média o primeiro dessa nova leva, sendo apenas regular e mero espetaculo de efeitos especiais. mil vezes os "antigos" da nova geração como Generations e Primeiro contato.

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