Dominados Pelo Ódio : Um remake sombrio confuso, sobre Dia das Mães Macabro

Dominados Pelo Ódio é um filme de horror lançado em 2010, dirigido por Darren Lynn Bousman que mostra a história de duas famílias em conflito.

Essa é uma produção estadunidense que adapta a história do filme Dia das Mães Macabro de Charles Kaufman e nessa versão, uma família violenta e de hábitos estranhos tortura e sequestra um grupo de amigos, da nova família que mora na antiga casa do primeiro grupo de pessoas.

A figura mais famosa na produção certamente é Bousman. Ele é lembrado por ser o diretor de Jogos Mortais 2. A produção também é celebre graças ao seu elenco, cheio de nomes conhecidos, como Rebecca De Mornay, Jaime King, Deborah Ann Woll e Frank Grillo.

O roteiro foi escrito por Scott Milam, produzido por Brett Ratner, Richard Saperstein, Jay Stern e Brian Witten. Teve como produtores executivos Charles Kaufman, Andrew Golov, Kyle Bornais, Lloyd Kaufman, Stephen Kessler, Curtis Leopardo, Jessie Rusu e Jonathan Zucker.

A trama apresenta a família Koffin, grupo de parentes desajustados, que iniciam a trama roubando um banco de maneira atrapalhada, tanto que um dos membros foi alvejado.

Supostamente tranquilos, em casa, está o casal Sohapi, em uma crise conjugal que não é dita em um primeiro momento, mas que se mostra presente desde sempre. Eles estão em uma casa antiga, recém-comprada por eles, fazendo uma festa de inauguração com amigos e cônjuges.

Em determinado ponto começa então um conflito entre os grupos familiares, junto claro aos conhecidos do segundo agrupamento.

Embora seja um remake do filme de mesmo nome de 1980, foi inspirado no que é conhecido como O Massacre de Wichita, uma série de roubos e assassinatos que ocorreram em dezembro de 2000.

Lynn Bousman e Milam pretendiam fazer um filme baseado no caso, com o sugestivo título Wichita. Eles rascunharam um roteiro, mas não conseguiram encontrar nenhum estúdio disposto a assumir o projeto.

Paralelamente a isso, Bousman havia sido convidado para dirigir o remake do filme de 1980, mas havia recusado, justamente por ser fã do filme original. Ele não sabia qual saída para refazer uma história que, na opifnião dele, já havia acertado tanto.

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Quando os produtores insistiram para que ele fizesse a refilmagem, decidiu reformular Wichita, acrescentando elementos de Mother's Day. Há até uma referência leve no filme, um adesivo grudado em um caixa eletrônico, com o nome Wichita Bank ficando visível em um dos momentos mais tensos do filme, mas as referências diretas param aí.

Entre o crime real e esse quase tudo foi mudado, inclusive a cor dos sequestradores. No crime real, ocorrido no Kansas, dois irmãos invadiram uma casa e foram surpreendidos pelo proprietário, sua namorada e seus amigos. Os irmãos roubaram, estupraram e torturaram as vítimas antes de assassinar quase todas, sobrevivendo apenas uma.

O filme foi rodado todo em Winnipeg, Manitoba no Canadá, entre setembro e outubro de 2009.

Os estúdios por trás do filme foram a The Genre Co., Rat Entertainment, LightTower Entertainment, distribuído pela Anchor Bay Films na América do Norte e pela Sierra/Affinity no mercado internacional.

Seu título original era Mother's Day, tal qual ocorreu com o longa de Kaufman em 1980. No Brasil é possível achar ele pelos nomes Dia das Mães - especialmente em streamings especializados em filmes de terror - ou Dia das Mães Macabro, tal qual é o primeiro filme da franquia.

Em países de língua espanhola, como Argentina e México é Sangriento día de las madres. Na Bósnia e Herzegovina e Croácia é chamado de Materice. Na parte francesa do Canada é Fête des Mères Sanglante e em Portugal é Dia da Mãe.

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Em 2010 Bousman já havia se retirado da franquia SAW - mas retornaria anos depois. Ele vinha da opera rock Repo! A Ópera Genética, musical esse que ele fez após Jogos Mortais III e Jogos Mortais IV. Depois desse faria 11-11-11, o também musical O Carnaval do Diabo e O Diabo de Jersey.

Milam escreveu poucas obras, fez Submersos em 2016 e é mais lembrado por ter dirigido e produzido Big City Dick: Richard Peterson's First Movie e o reboot Massacre no Texas, de 2013, como co-produtor.

Brett Ratner é obviamente mais lembrado como diretor de A Hora do Rush, Dragão Vermelho, X-Men: O Confronto Final e o Hércules com The Rock. Foi produtor de Uma Noite de Fúria, No Rastro da Bala. Também foi produtor executivo em O Regresso de Alejandro González Iñárritu.

Saperstein produziu Alta Frequência, O Nevoeiro e Celular. Stern trabalhou em Tudo Por Dinheiro e A Hora do Rush 3 e Quando te Conheci. Witten produziu Mortal Kombat: A Aniquilação, Cidade das Sombras e G.I. Joe: A Origem de Cobra.

A narrativa começa em um hospital, acompanhando os passos de uma enfermeira, ao menos supostamente. A mulher que caminha tem pressa, claramente está usando um disfarce, se vale de uma peruca que mal disfarça ser falsa.

A câmera parte de uma perspectiva que é quase do ponto de vista em primeira pessoa, usando o olhar de alguém que está colado nos passos dessa personagem. Essa mulher sai da área de maternidade, com uma criança no colo, enquanto um homem armado tenta impedi-la de sair, mas é imediatamente atacado com uma lâmina, por um sujeito com uniforme de segurança.

Apesar de haver derramamento de sangue, o golpe em sim não aparece nada realmente, sendo assim não há nada verdadeiramente assustador ou violento.

Logo é apresentada a personagem protagonista, interpretada por Jaime King, a mesma que esteve em outros dois remakes sombrios, no famigerado Dia dos Namorados Macabro 3D em 2009, depois em Natal Sangrento de 2012.

Aqui ela faz Beth Sohapi, uma moça bela e discreta, que parece estar sempre cabisbaixa, escondendo sentimento de tristeza, antes mesmo da tragédia acometer o seu lar.

King ainda teve momentos conturbados nos bastidores, quase tão dramáticos quanto os episódios de sua personagem. Ela fraturou o cóccix no terceiro dia de gravação, teve que ser hospitalizada, voltando alguns dias depois para gravar suas cenas.

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Outra questão curiosa aconteceu em um dos bastidores, no trânsito entre filmagens de cenas que envolvia armas. Os atores foram parados e mantidos sob vigilância de um policial, que os confundiu com um bando de bandidos que haviam assaltado um banco perto da onde estavam filmando.

Depois de perceber que se tratava de um grande mal-entendido, liberaram a equipe, com polícia e a produção do filme rindo da situação pitoresca e absurda. Ao menos é o que se contou à época.

Além da personagem central, também é apresentado o casal Gina (Kandyse McClure) e Treshawn 'Trey' Jackson (Lyriq Bent). Frank Grillo também aparece, fazendo Daniel, o marido de Beth.

Logo depois são mostrados mais três personagens, os irmãos Koffin, Izaak "Ike" (Patrick Flueger), Addley (Warren Kole) e Johnny (Matt O'Leary). Eles dirigem após um fracassado assalto a um banco, um deles, Johnny, está ferido mortalmente, passam pela estrada enquanto a mesma é policiada, já que estão evacuando a cidade graças a um tornado que se aproxima.

Desde o início fica claro que os bandidos são estúpidos e isso cobraria um preço alto depois, quando o quadro se agravaria.

Bousman coloca esses dois núcleos em paralelo, mostra a viagem e a festa da inauguração da nova casa dos Sohapi e não é à toa, já que a família Koffin morou ali meses antes do presente desse filme.

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Antes mesmo de mostrar a casa sendo invadida por bandidos, a atmosfera do lugar parece esperar algo ruim. Curiosamente isso não se reflete no visual.

A versão de 1980 era mais despojada, com uma fotografia "limpa", que em sua forma de contar história, valorizava a sujeira presente nos cenários e nas partes internas da casa onde a maioria da história se passa.

Aqui é tudo soturno, a fotografia de Joseph White valoriza demais as sombras, seguindo o mesmo espírito típico dos filmes de terror mais populares da década de 2000. Ao menos há um cuidado para não usar tantos filtros quanto na saga de John Kramer.

A parte da estética copiada dos filmes da época emula também o estado depressivo e melancólico que permeava as obras da época. Isso não seria um problema, necessariamente, exceto pelo fato de que a violência nesse tipo de filme é normalmente muito estilizada, especialmente para mostrar gore.

A opção normalmente é a de esconder ferimentos, exagerando ao mostrar sangue falso, como se isso substituísse a violência explícita. A opção de Bousman é justamente essa, sendo assim uma versão menos inspirada e que copia os piores momentos do polêmico O Massacre da Serra Elétrica de Marcus Nispel.

Outro atalho que o filme utiliza é justamente Jaime King. A interprete da protagonista vinha dos filmes de quadrinhos Sin City: A Cidade do Pecado e Spirit, além da comédia As Branquelas. Toda a ligação emocional para o espectador mira sua personagem, eventualmente tendo o contraponto de Trey e Gina, que são um pouco melhor caracterizados que seus genéricos amigos.

Já os três irmãos são mais "diferenciados", com caracterizações dadas por pequenos traços de personalidade. Ike é o líder, mais calmo, frio e calculista, já Addley é nervoso e estourado, impulsivo, quer matar todos e vazar da casa ao perceber que há uma festa com os donos e mais seis pessoas. Johnny quase não fala nada de início, afinal, está baleado, à beira da morte.

O quadro evolui rapidamente para uma situação com reféns, já que Beth decide descer até onde estão os convidados, para incluir o amigo George, que é médico, para tratar o caçula baleado.

Também há elementos óbvios do subgênero de horror conhecido como home invasion, embora essa questão tenha ocorrido de maneira acidental.

Pelo telefone, Izaak, o filho que era (supostamente) o mais calmo, fala com sua irmã, Lydia (Ann Woll), avisa para monitorar a mãe, enquanto a mesma está perto de ambulâncias.

A estratégia dessa filmagem é deixar dúbia a questão da mãe. Lydia parece estar perto de um hospital, mas só há carros médicos graças ao tornado que se aproxima.

Ike pede educada, mas seriamente que ela traga a mãe para casa, avisando que eles tomaram de volta o lugar e antes de completar 20 minutos de tela, a mãe dos Koffin enfim aparece.

Ela é linda, está de pé, bastante saudável, uma verdadeira matrona, ao contrário do que aparentava. Ela não é frágil, ao contrário, é autoritária e bonita, parece ter uma autoridade incomum sobre seus filhos, tanto que todos são adultos, mas não tem coragem de olhar em seus olhos direito.

Ela é Rebecca De Mornay, a mesma que fez Expresso Para o Inferno, Negócio Arriscado, Os Três Mosqueteiros e a minissérie que adaptou O Iluminado em 1997, no entanto é mais lembrada obviamente pelo horror materno A Mão Que Balança o Berço, obra essa que conversa perfeitamente com essa.

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A personagem quase nunca é chamada por seu nome Natalie. Sua alcunha predominante é Mãe.

Assim que chega a sua antiga casa se apresenta aos reféns, aparentemente para causar respeito e uma falsa sensação de tranquilidade e controle neles.

Ela distribui broncas nos filhos, especialmente a Isaak, por não ter usado o telefone de emergência. Depois é revelado que ela tinha que ir na casa de qualquer forma, para pegar um dinheiro que teria sido enviado para ela, mas o paradeiro do mesmo não se sabe.

Aos poucos se desenrolam pequenos números de tortura, que aumentam de grau com o tempo. Tentam isso com Daniel, mas não descobrem nada. Tudo parece um pretexto para os vilões praticarem maldades com os cativos.

Enquanto recolhem os bens dos convidados, como anéis e celulares, tentam impingir medo em todos, para que alguém ceda. Não fica claro se eles desejam só desesperar e estressar os presentes ou se realmente querem reunir condições para fugir, já que o dinheiro que procuram não era uma quantia exorbitante. Financiaria fuga, não seria o suficiente para lidar com encargos jurídicos ou algo que o valha.

É tudo muito mal planejado, claramente toda a família apresentada é insana incapaz de resolver suas questões de forma calma e ordeira.

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A primeira morte ocorre por falta de controle dos Koffin, uma das moças cai por tentar fugir. Eles não têm a obediência dos prisioneiros, assustam eles, demonstram fraquezas e fragilidades que pessoas com reféns não deveriam ter.

Outra mostra disso é quando colocam Beth para ir na rua com Ike. Em sua garagem ela é permitida a verificar todas as possibilidades de perigo, inclusive foca em um rifle enorme, exposto para qualquer um ver, mas Ike nem percebe. Uma pessoa familiarizada com o local facilmente verificaria isso, mas ele está nervoso e desatento.

Bousman mostra que não saiu da estética de Saw, já que quase todas as ações da família psicopata envolvem torturas.

Na rua, Izaak coloca duas "novas reféns" para se matar com uma faca, dando a elas a chance de escolher quem viveria e quem morreria, para depois perverter as próprias regras. A mãe também deixa as vítimas escolherem quem sofrerá, bota dois homens para lutar, quem perder terá a esposa estuprada por Johnny, afinal, seu filho pode acabar morrendo virgem.

Há um certo sadismo nessa cena, já que ela ocorre ao som de uma música country alegre, com Natalie e Addley dançando juntos. No entanto o filme é covarde, não cumpre sequer as promessas que faz.

Não só de obediência cega são formados os Koffin. Lydia contesta sua mãe por entregar Annette ao irmão dela, diz que ela aprendeu que o sexo deve ser uma escolha da mulher, como a própria mãe ensinou a ela (provavelmente fez isso para preveni-la de ser estuprada por um dos irmãos insanos) Natalie responde que foi uma escolha de mulher, dela própria.

Toda a argumentação mira apenas a vaidade da matrona, que é mostrada possivelmente como a mais insana do grupo. Já Lydia parece querer sair daquela situação, mas não reúne forças para tal feito.

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Bousman faz uma cena grotesca, de sexo assistido, como nos tempos medievais, com a família toda vendo, além de fazer referências óbvias a rape and revenge.

O aspecto que mais irrita no filme não são os paralelos com estilos de terror distintos ou com ideais machistas, afinal, o filme é fruto do seu tempo, o que irrita mesmo a covardia em mostrar as mortes. A câmera sempre foge da possibilidade de mostrar agressividade, violência ou gore. O diretor nasceu no torture porn e é covarde aqui. A ausência de exposição a violência iguala esse a telefilmes juvenis dos que passavam nos canais a cabo dos EUA.

O que mais aproxima de uma violência bem demonstrada é quando Natalie descobre o segredo trágico do casal residente, usando isso para ferir Daniel com as lembranças do filho que morreu, depois machucando ele com água quente de café Trey, além do fato de que coloca fogo no cabelo da amante do sujeito - sim, eles apelaram para um argumento moralista que não parecia ter sido pensado antes.

Os cativos são quase tão burros quanto os vilões, são incompetentes e o filme se leva muito a sério, ainda é longo, tem quase duas horas de duração.

Entre as personagens, salva-se Gina, de Kandyse McClure, que é inclusive subaproveitada, é a mais sagaz de todas as pessoas. Ela quase consegue fugir algumas vezes, ela tem ação, tem pró-atividade, mas é acertada de maneira estúpida e mortal.

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Próximo do final o roteiro lembra de George, personagem de Shawn Ashmore que é médico e socorre John. Simplesmente permite que ele tenha poderes de onisciência e clarividência, fazendo com que ele fique muito esperto próximo do final.

É ele que descobre que Natalie não é mãe de nenhum deles, afirma que ela é infértil e que nenhum se parece com ela, mesmo que Ann Woll e De Mornay sejam muito parecidas.

As tentativas de estabelecer mistérios e reviravoltas são tolos, inclusive nas revelação final de que Beth está grávida. É tudo muito piegas, muito brega, uma luta entre duas mães, no tal dia que cabe a essa parente...

Ao menos a morte de Ike é cruel, com pregos atirados em seu rosto e uma televisão jogada na cabeça dele. Se mistura Pinhead, de Hellraiser: Renascido do Inferno com Stu em Pânico. Vale lembrar que o personagem morre de forma parecida no filme original.

No final eles magicamente lembram que tem vizinhos, o que é bizarro, pois ocorrem tiros e gritaria pela casa inteira, fora até do porão da casa, por toda uma noite inclusive. Mesmo com a evacuação graças ao tornado - que eventualmente, é até esquecida - é mostrado que boa parte das pessoas ainda estavam na cidade.

Dia das Mães Macabro ao menos teve a dignidade de posicionar sua história no interior, aqui não, é no meio da cidade.

O final ainda guarda algumas cenas expositivas e ridículas no final, envolvendo os Koffin e mais um rapto, que se conectam com a cena inicial. A exposição é tola e muito desnecessária.

Dominados Pelo Ódio parte de uma boa premissa, tem boas ideias e um grande esforço por reimaginar o clássico underground, mas peca por ser demasiadamente sério e por ter uma edição porca, que não sabe a hora de cortar. Falta gore, identidade e exposição de violência, sobra muita conversa óbvia e explicações que não fazem sentido para uma obra que tem texto tão simples.

 

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