Crítica: Crash Test Aglaé

Crash Test Aglaé (direção de Eric Gravel) é uma experiência fílmico-sensorial que aguça e envolve intensamente os diferentes sentidos e sensações de seus expectadores: do visual ao auditivo, do racional ao emocional, do riso a seriedade, do certo ao incerto.

A narrativa conta a história de Aglaé (India Hair), uma jovem que trabalha com testes de colisão em uma fábrica que mudará sua sede para a Índia. Por acreditar ser a única função capaz de exercer e por estar totalmente impregnada pela rotina que vivencia com afinco, Aglaé decide se mudar junto com a fábrica para o novo e desconhecido país, apesar das péssimas condições contratuais que são oferecidas, além das tentativas da própria empresa em sabotar a ida de qualquer funcionário para a nova sede. Junto a ela, duas colegas de trabalho decidem embarcar nesse novo horizonte: Marcelle (Yolande Moreau), uma senhora com mania de limpeza que espera ansiosamente pela aposentadoria, e Liette (Julie Depardieu), uma mulher cujo maior sonho é ter um filho e que descobre ser traída pelo companheiro em pleno local de trabalho.Cada qual com suas motivações e sem poderem contar com qualquer ajuda da empresa para a mudança, as três amigas resolvem partir em uma viagem de carro que reserva as mais variadas surpresas no trajeto e que mudará totalmente os planos e os rumos até então pensados.

É nesse momento que se inicia o processo de autoconhecimento e transformação da protagonista: com uma personalidade cautelosa, linear e sem grandes transgressões, Aglaé, que inicialmente se traveste predominantemente pela cor amarela, está constantemente sob o estado de “atenção” com relação às “rotas” seguidas em sua vida, tendo sempre o cuidado de dela não desviar-se. No entanto, em meio ao percurso pelo qual se vê obrigada a seguir, a personagem descobre que os imprevistos e os desvios são inerentes às aventuras do viver e que tais imprevistos podem trazer gratas mudanças de perspectivas e paradigmas.

Em determinado momento de sua viagem, após deixar muita coisa para trás, Aglaé descobre em si algo que até então lhe era desconhecido: um espírito determinado e aventureiro que é capaz de mover-se nas mais diferentes rotas e trajetos.  A partir de então, ao ser tomada por emoções certeiras e visivelmente sinalizadas pela cor vermelha que passa a compor o visual da personagem, a protagonista se permite “avançar o sinal”, descobrindo em si uma força que viria a mudar os rumos até então por ela seguidos.

Ao passar por diferentes lugares, Aglaé consegue enfim chegar à Índia e lá ter um de seus mais fabulosos encontros: aproximar-se de uma transexual indiana que, ao permitir-se ser quem realmente é em sua essência, propicia a protagonista um reconhecimento e identificação determinantes à trama. Após todos os encontros e desencontros, além das rotas alternativas e desconhecidas que se vê obrigada a seguir, é que Aglaése depara com seu próprio eu e assim decide assumir-se em sua total natureza, desprendendo-se dos velhos laços e amarras que estagnavam sua vida, fato que é representado brilhantemente na cena final do filme.

Com uma combinação de cores que saltam aos olhos ao longo de toda a obra, algumas cenas se destacam pelo incrível jogo de cores milimetricamente pensado ao se utilizarem das cores opostas do círculo cromático com maestria, o que confere ao espectador um total envolvimento com cada emoção representada ao longo da película. Além do mais, vale destacar a maravilha que é a trilha sonora, que de forma tímida e comovente promove uma experiência fílmica ainda mais profunda e emotiva.

Por fim, Crash Test Aglaé é um road movie sobre amadurecimento, encontros, mudanças, reconhecimento, transformações e, principalmente, é uma obra que faz refletir acerca das belezas do que não se pode prever nessa fabulosa experiência que é a arte da vida.

Ana Patrícia Freires Caetano

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