Em determinado ponto de Os Vingadores, Steve Rogers (Chris Evans) questiona se seu uniforme colorido não é muito antiquado e é surpreendido pela resposta de que talvez o mundo esteja precisando exatamente disso. A ideia é a evolução do conceito de heroísmo belamente desenvolvido em Capitão América - O Primeiro Vingador e permeia toda a projeção do mais recente produto da Marvel Studios. É o mesmo Rogers que num diálogo com Tony Stark (Robert Downey Jr.) confronta o bilionário egocêntrico sobre as razões de fazer o que faz. "Você não está preparado para se sacrificar. Você não é um herói", discute o inconformado Capitão, que depois de perder 70 anos do tempo, acorda num mundo que precisa desesperadamente de um símbolo, não por conta de alguma guerra, o motivo de sua criação nos anos 40, mas graças a um cinismo exagerado que assola a geração atual. Ao mesmo tempo que dialoga com o espectador a respeito desses dilemas, Os Vingadores também encontra espaço para se posicionar entre os melhores filmes de super-herói desde Superman, de 1978. Claro, se sai tão bem, justamente por desenvolver este tema, fortalecendo a mensagem de que símbolos de esperança sempre são bem-vindos.
Fazer um bom filme desse gênero não é uma tarefa fácil. Anos de tentativas e erros estão aí pra provar isso. Fazer um bom filme desse gênero unindo vários super-heróis, então, é uma tarefa hercúlea. Juntar personalidades distintas e, ao mesmo tempo, conseguir que cada uma delas exerça sua função na trama é algo que pouquíssimas vezes deu certo (e isso não apenas em filmes sobre marmanjos superpoderosos de colant), mas, em Os Vingadores, o diretor Joss Whedon é muito bem sucedido nesse objetivo e vai além, já que consegue ainda dividir o tempo de tela de todos, para que ninguém fique ofuscado ou, pior, chame demais a atenção para si.
A Marvel se encarregou de apresentar a maioria dos personagens de Os Vingadores ao longo de 4 anos de filmes. Assim, quando estão reunidos em sua nova produção, não perde tempo com longas explicações ou diálogos expositivos para definir cada um. Mas isso não significa que o filme tenha um roteiro raso (embora a premissa seja bem simples, baseando-se na velha fórmula de "grande ameaça que apenas uma pessoa não poderia derrotar"), já que todos ali exibem novos dilemas, específicos para a trama. Após o já citado confronto verbal, será que o arrogante Tony Stark consegue provar ser um herói? Ou que o deslocado Steve Rogers pode encontrar novamente sua relevância no mundo? Ou ainda, que o contido Dr. Bruce Banner (Mark Ruffalo) tire algo positivo de seu monstruoso alter-ego? Sim, o filme consegue tratar dessas perguntas, e de várias outras, que justificam a motivação destes indivíduos, na mesma proporção que estabelece a força que os move como grupo (e contar mais sobre esse último detalhe seria estragar um excelente momento envolvendo um personagem que se tornou muito querido dos fãs). Mesmo Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e a Viúva Negra (Scarlett Johansson) encontram sua função e são mostrados como personagens muito mais complexos e habilidosos do que se poderia esperar. Apenas Thor (Chris Hemsworth) sofre um pouco com uma explicação apressada de como conseguiu voltar à Terra.
Essa característica do roteiro, escrito por Whedon e Zak Penn, não se limita apenas aos heróis, mas também ao vilão da trama. Não é que Tom Hiddleston está mais a vontade no papel. Loki que não precisa de apresentações e pode ser simplesmente o arauto da destruição que a história pede. O filme-solo de Thor precisava do meio-irmão do Deus do Trovão pra servir de contraponto ao herói e, a seu antagonismo, foi dada uma motivação familiar que Hiddleston soube perfeitamente representar em suas discussões com Odin (Anthony Hopkins). Agora, o público já conhece sua história, o que deixa espaço pra o ator explorar todo o potencial do personagem.
Como adaptação de uma das mais tradicionais equipes da Marvel nas HQs, Os Vingadores se sai de forma mais que satisfatória, mesmo não seguindo à risca a aventura original que os fizeram se unir. Porém, o importante é que todo o espírito dela está presente no filme. Afinal, a função aqui é adaptá-la para uma outra mídia e ainda se manter coerente com 5 longas-metragens que serviram de base para a criação de um vasto universo cinematográfico. Dito isso, é importante ressaltar que raramente um filme baseado em quadrinhos de super-heróis consegue se assemelhar tanto à estrutura de sua versão de papel. Isso deve agradar não só ao fã que cresceu lendo as histórias dos Heróis Mais Poderosos da Terra, mas também ao público que está ali apenas para se divertir com uma boa aventura no cinema, já que seu ritmo tem grande apelo popular. Não é frenético a ponto de atropelar os momentos que não envolvem pancadaria, mas também não é arrastado, impedindo a audiência de se cansar, por mais que o grande atrativo sejam as sequências de ação, quando o filme exige mais diálogos.
Claro que, quando as melhores falas saem da boca de atores como Samuel L. Jackson (no papel do diretor da S.H.I.E.L.D., Nick Fury) e Robert Downey Jr., fica muito mais difícil sentir qualquer cansaço, mesmo com as 2 horas e 20 de projeção. Isso graças ao bem-vindo humor presente no texto. Nunca exaustivo, é inteligente e sempre utilizado no momento certo, prova que os roteiristas entendem perfeitamente o conceito de alívio cômico.
E, claro, as cenas de ação também não deixam o ritmo diminuir. E são várias. Seja quando os heróis lutam entre si no momento de seus primeiros encontros ou quando finalmente se unem para impedir o plano de Loki, a direção de Joss Whedon se mantém segura e, principalmente, criativa. O diretor pode não ter epifanias visuais ou uma grande competência estética, mas é bem inventivo em determinados momentos. Um deles é uma simulação de plano-sequência, com a câmera percorrendo cada um dos Vingadores em batalha. Notem que o termo "simulação" não é usado de forma pejorativa, mas apenas para apontar que a cena é na verdade uma trucagem técnica e não um plano contínuo real. Em uma outra situação, Whedon é ainda mais feliz ao fazer a câmera girar 180° deixando os personagens de ponta-cabeça, indicando o controle de Loki, que passa a interferir nas emoções de cada um.
Contando com uma boa trilha sonora de Alan Silvestri, num trabalho que, mesmo inferior ao que havia construído em Capitão América - O Primeiro Vingador, consegue empolgar suficientemente nos momentos mais heróicos ou tensos do longa, Os Vingadores é fruto de uma união tão complexa quanto a de um grupo de heróis. A de diversos profissionais dispostos a criar uma adaptação de quadrinhos memorável e que não funciona apenas como tal. É um blockbuster autêntico, com todos os elementos que o público espera e adora conferir numa tela grande. E ainda, num epílogo que evoca os fantasmas do 11 de setembro, justifica de maneira exemplar o tema que inicia este texto, provando que a presença de "campeões da justiça", mesmo que imaginários para o espectador, nunca é "antiquada", desde que situada no contexto certo.
P.S.: Como de hábito nos filmes da Marvel há uma cena extra logo após a animação dos títulos finais. Fique um pouco mais no cinema para conferir 😉
O filme é fantástico. Soube combinar todos os personagens de uma forma perfeita. Com certeza o melhor filme de heróis que eu já vi. Mark Ruffalo surpreendeu muito. A unica parte que me senti cansado do filme durou menos de 30 segundos, e nem lembro direito qual era hahaha.
Alias você ressaltou bem, as cenas cômicas (que não são poucas), não são nem forçadas, e são absolutamente sensacionais. Isso pra mim tornou 'Os Vingadores' o melhor filme de Super-heróis. Saber a dose de cada característica de cada personagem e de cada momento, com perfeição.
Valeu pelo comentário Diego! Os Vingadores é um filme que realmente dá gosto de ver e eleva o padrão do gênero de heróis. Resta a Marvel manter o nível agora.
Marvel please, continua esse trabalho amazing que voce tem fazendo.! Vingadores ta ae pra provar que da pra fazer algo bom pra TODO MUNDO, se agredir a inteligencia de ninguem. Avante Vingadores !! E o vovo Alexandre sempre mandando bem nas criticas!
[…] ALEXANDRE LUIZ – Cinealerta […]
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