Especial Marvel no Cinema: Capitão América

O impacto de um super-herói no mundo real é um dos temas daquela que é considerada a maior obra dos quadrinhos, Watchmen. A visão de Alan Moore, porém, trouxe um grande problema: o cinismo de personagens como o Comediante e o Doutor Manhattan, uma analogia ao Superman. O ser supoderpoderoso daquele universo era analítico e se pudesse ser considerado herói, não era por um enorme desejo de fazer o bem como o citado Homem-de-Aço, ou o Capitão América. Manhattan encerrou a Guerra do Vietnã com alguns dias de combate, já o Capitão, mesmo tendo agilidade e força super-humanas, nunca substituiu os soldados na Segunda Guerra. Ele apenas fazia a sua parte, como tantos outros combatentes que muitas vezes não sabiam o que a batalha em países desconhecidos realmente significava. Essa é a força do personagem e um dos maiores trunfos de Capitão América - O Primeiro Vingador, filme que estreia no Brasil neste final de semana.

Quando o longa, dirigido por Joe Johnston, começa, a ação acontece nos tempos atuais. Em algum lugar no ártico, um grupo de soldados descobre uma grande aeronave perdida. Lá dentro, tomam uma enorme surpresa ao encontrarem o escudo do herói da Última Grande Guerra. Imediatamente, o filme volta no tempo, para apresentar o vilão, Johann Schmidt (Hugo Weaving) e sua caça ao Cubo Cósmico, artefato que pode dar àquele que o possuir, o poder de Odin. Com essa informação, o espectador liga os pontos entre este filme e Thor, destaque dos cinemas há alguns meses. Novamente, a Marvel lembra seus fãs de que este é mais um produto cujo objetivo é estabelecer seu universo cinematográfico.

Finalmente a trama segue para Nova York, onde o franzino Steve Rogers (Chris Evans) tenta pela quinta vez ser aceito no exército para lutar na Guerra. Devido a sua inaptidão física, ele é constantemente rejeitado. Até visitar a Feira Mundial com seu amigo Bucky Barnes (Sebastian Stan), onde Howard Stark (pai do Tony, interpretado por Dominic Cooper) apresenta suas novas invenções. Universo Marvel, lembra? É aqui que o jovem Steve é recrutado pelo Dr. Abraham Erskine (Stanley Tucci).

Num dos momentos do filme em que o roteiro dá uma pausa para mostrar a boa índole do protagonista, Erskine pergunta a Rogers se ele quer matar nazistas, e vem a resposta: "Não quero matar ninguém. Só não gosto de abusos, não importa de onde eles vem". Claro que pra um público mais acostumado a anti-heróis e personagens que fazem o bem depois de aprenderem a duras penas a responsabilidade do poder, ideais assim podem parecer piegas, mas é nesta cena que o texto acerta ao mostrar Steve Rogers como um personagem naturalmente bom. E, mais importante, é onde a interpretação de Chris Evans mostra seu intuito. Quando o ator foi anunciado para o filme, a primeira reação foi de estranheza. O Tocha Humana engraçadinho dos filmes do Quarteto Fantástico? Será que ele dá conta de fazer um personagem que deve inspirar os outros ao heroísmo? Se você era uma das pessoas que tinha essas dúvidas, fique tranquilo. Evans mostra um lado que ainda não havia colocado na tela. Próxima ao Superman de Christopher Reeve, das atuações de Christian Bale como Batman e Robert Downey Jr. como Homem de Ferro, a escolha do ator para entrar no uniforme do Capitão América está entre as mais acertadas das adaptações de HQs para o cinema.

Quando Rogers vai para seu treinamento, encontra Peggy Carter (Haley Atwell) por quem, é claro, acaba desenvolvendo uma atração. Não é como em Thor, com a personagem de Natalie Portman. O relacionamento aqui está mais pra tensão sexual do que pra paixão instantânea e funciona muito bem dessa forma. Neste cenário, surge também o General Chester Philips (Tommy Lee Jones), que une discursos rabugentos com ótimas tiradas, que servem como alívio cômico na dose certa.

Chega então o momento de transformar o magro protagonista no herói do título. Isso acontece mais ou menos com 40 minutos de filme e o desenvolvimento dos personagens até aqui é impecável. O diretor Joe Johnston não se apressa e deixa a trama fluir pra chegar ao que todos esperam: a criação do Capitão América.

Após o experimento bem sucedido, o Capitão se torna instrumento de propaganda para compra de bônus de guerra. O governo não quis simplesmente mandar seu único super-soldado pra batalha e arriscar perder todo o investimento feito. A ideia inicial era a criação de um exército mas graças a alguns problemas de percurso, Rogers acaba por se tornar único e de valor inestimável para elevar a moral das famílias americanas que tiveram seus filhos convocados para lutar na Europa. Essa é basicamente a primeira metade do longa e onde ele se sai melhor. Jonhston conseguiu, aliado ao roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely, criar personagens com profundidade, fazendo com que o espectador realmente se importe com eles. Evans mostra toda sua frustração em, mesmo agora, com toda sua força, continuar sem poder lutar ao lado dos soldados que tanto admira. Mas a hora de mostrar seu valor está pra chegar, assim como a grande aventura que o aguarda.

Começa então a segunda metade de Capitão América, que precisa adicionar mais ação à trama. O diretor, acostumado ao ritmo aventuresco de longas como Rocketeer, que dirigiu, e da saga original de Star Wars, onde fez parte da equipe de produção, mostra o que aprendeu e realmente entrega bons momentos, dando a seu filme uma áura de diversão à moda antiga que é muito bem-vinda. O problema é que a partir daí, tudo se desenvolve muito rápido. Um exemplo é a montagem com várias aventuras do Capitão e do Comando Selvagem. Embora bonito de se ver, poderia ser um pouco mais aprofundado. E o recurso se torna um tanto repetitivo, quase sempre mostrando o herói arremessando seu escudo contra os soldados da HIDRA. E, se no começo, Hugo Weaving está ameaçador com seu enigmático Schmidt, perde um pouco sua força ao revelar sua verdadeira face, a do Caveira Vermelha. Isso porquê a cena em que acontece é apressada, mostrando uma certa falta de tato para a criação de um suspense maior.

O caminho que o filme faz para seu clímax continua com o ritmo corrido, com o agravante de que a maioria dos espectadores sabe o que vai acontecer. O final perde muito de sua força com isso, deixando a sensação de que poderia ser melhor. Mesmo assim, o longa é muito eficiente em preparar terreno para o esperado filme Os Vingadores. Várias pistas e easter-eggs estão presentes, unindo as outras produções da Marvel Studios de forma coerente. Outro aspecto que merece uma consideração especial é a direção de arte. Com acabamento impecável, Capitão América conta com um design de produção inspirado em obras pulp e pela cultura popular da época. Haley Atwell por exemplo, com seu batom vermelho e cabelos negros, evoca a figura de uma modelo de Pin-up.

Pra ajudar no clima de aventura de matinê, a trilha de Alan Silvestri é uma das poucas peças musicais de filmes baseados em HQs que merece destaque nesses últimos anos. O compositor, acostumado a temas grandiosos, não desaponta, lembrando, em alguns momentos, as obras célebres de John Williams.

Enfim, Capitão América - O Primeiro Vingador é uma obra divertida, com personagens tridimensionais e críveis, principalmente por seu herói, que se existisse no mundo real, teria inspirado a luta pela liberdade, justiça e todos aqueles valores que tantos admiram. Aliás, se um personagem fictício teve impacto na realidade, foi justamente o Capitão, já que suas HQs eram feitas exatamente com esse intuito. É a prova de que o mundo está sempre precisando de heróis. Sejam eles de outro planeta, ou só garotos do Brooklyn que querem fazer a coisa certa.

Alexandre Luiz

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