O texto a seguir contém spoilers!
Em um momento do mais recente episódio de Arrow, Tommy Merlyn pergunta à Oliver “Como pode ser tão fácil pra você, matar outras pessoas?”. O alter ego do Arqueiro não responde, mas o espectador descobrirá momentos depois que não é assim tão simples atirar uma flecha com a intenção de tirar uma vida. Unfinished Business consegue tocar no assunto de forma muito mais satisfatória do que as tentativas anteriores de apresentar ao espectador a ideia desta mudança de comportamento em Queen. Ele não é mais aquele vigilante vingativo do início da temporada que matava indiscriminadamente qualquer capanga que surgisse à sua frente. Mérito do roteirista da semana, Bryan Q. Miller, que além da experiência como escriba de quadrinhos também já havia mostrado sua qualidade em vários episódios de Smallville.
O roteiro não se foca apenas na mudança de Oliver e trabalha diversas subtramas ao longo de seus 40 minutos de forma mais do que satisfatória, o que não é fácil em uma série de TV aberta, geralmente nada disposta a “perder” tempo com muitos personagens. A trama principal mostra o retorno da droga Vertigo, agora mais poderosa e responsável pela morte de uma garota que estava na boate de Oliver e Tommy. As investigações do detetive Lance acabam lançando suspeitas sobre o namorado de Laurel, que agora terá de provar à polícia que não é um traficante, além de explicar ao amigo e sócio a real natureza das evidências contra ele. Ao mesmo tempo, Diggle parte para uma investigação por conta própria e descobre pistas sobre o paradeiro do Pistoleiro, levando à primeira menção da A.R.G.U.S., uma espécie de equivalente da DC para a S.H.I.E.L.D., quando o guarda-costas e parceiro do Arqueiro se encontra com uma antiga colega das forças armadas.
Claro que se a droga Vertigo está de volta, Oliver decide fazer uma visita ao Conde, novamente intepretado por Seth Gabel. O que encontra é uma versão ainda mais perturbada do vilão e que aparentemente não está em condições de desempenhar suas funções de traficante. O que incomoda na trama central é a similaridade com um dos principais pontos do roteiro de Batman Begins. Claro que Arrow não esconde a influência do Homem-Morcego do Christopher Nolan, mas ela deveria ser restrita à abordagem e não à situações inteiras. Semana passada havia o mesmo tipo de “referência” e isso não é bom. Com 19 episódios já produzidos o espectador médio já percebeu de onde vem a ideia de um herói vigilante mais voltado para o realismo.
Nos flashbacks, Shado começa o treinamento de Oliver e o jovem náufrago terá de ter um pouco de paciência, já que a filha de Yao Fei resolve aplicar a técnica do Sr. Miyagi de aprendizado. Celina Jade começa a se mostrar uma ótima escolha de elenco. Tem a beleza que a personagem exige, assim como a força e a confiança, outros atributos importantes de sua contraparte de papel. A cena em que treina com Wilson serve para mostrar como dificilmente o espectador duvidaria das habilidades da moça. Não bastam apenas movimentos rápidos, o segredo é fazer quem assiste acreditar que Shado é capaz de todos aqueles golpes. E isso a atriz tem conseguido até agora. Ainda sobre os eventos da ilha, algumas transições entre o passado e o presente foram muito criativas, fugindo um pouco do habitual “borrão seguido de barulho de vento”.
O desfecho volta a abordar a "facilidade" de Oliver em matar. Com a chance de colocar um fim na ameaça do Conde, o vigilante passa por um dilema semelhante ao de Bilbo Bolseiro em O Hobbit, quando a oportunidade de tirar a vida de Gollum surge, bem à sua frente. Assim como o pequeno ser da Terra-Média, o Arqueiro não consegue usar sua arma para tirar uma vida tão perturbada. Talvez essa decisão ainda traga problemas (e tomara, uma vez que Seth Gabel, mesmo aparecendo pouco, rouba a cena mais uma vez). O clímax também dá algumas dicas quanto à fragilidade do disfarce do protagonista. Será que no futuro, uma máscara poderá fazer parte do uniforme verde?
E há as ramificações da subtrama envolvendo Tommy, que cresce ao longo do episódio e se torna até mais interessante que o conflito principal. Os atritos com o detetive Lance e com Oliver levam o jovem Merlyn a uma decisão que, certamente, trará frutos amargos no futuro. Unfinished Business foi um dos melhores momentos do seriado não pelos motivos habituais, mas pela forma coesa como estabelece a jornada destes dois amigos. Enquanto Queen está cada vez mais próximo de se tornar um herói, se questionando se deve ou não matar e se arriscando para salvar reféns ao invés de se concentrar em uma vingança, Tommy parte rumo ao antagonismo e não apenas ideológico, uma vez que decide retomar o relacionamento com o pai. Faltando poucas aventuras para o final de temporada, não é difícil imaginar um gancho que destaque exatamente isso para o segundo ano de Arrow.
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P.S.: Arrow entra em seu último hiato e volta com episódios inéditos apenas em 24 de abril.
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