Essa primeira metade de Arrow estava, até agora, marcada por episódios promissores, mas com execuções truncadas e roteiros medíocres. Eis que surge o azarão: um conceito absurdo e clichê (toda série de herói tem a aventura sobre a admiradora obcecada), mas que, se não oferece novidades, não tenta ser mais do que é e resulta em um divertido conto, trazendo ao espectador uma sensação há algum tempo negligenciada pelo programa, a de ler uma despretensiosa história em quadrinhos.
Na trama, Oliver vai à caça de uma misteriosa fã (Amy Gumenick) que está cometendo assassinatos em nome de sua obsessão pela figura do Arqueiro. E é isso. Sem tentar estabelecer qualquer ligação com a história principal da temporada, o tom é o de filler, mas funciona justamente por trazer a oportunidade de um bem-vindo respiro, afinal, o protagonista é o vigilante de Starling City e não de buscas pessoais. Assim, mesmo que o espectador atual não goste muito de casos da semana, é fundamental o seriado, vez ou outra, focar em aventuras pontuais.
Corrigindo o problema da semana anterior, este Draw Back Your Bow consegue dividir muito bem as tramas secundárias, até porque elas são poucas e não chamam mais atenção do que a principal. A mais proeminente, no entanto, é a que envolve Ray Palmer em sua cruzada aparentemente altruísta (e que continue assim, afinal o personagem é um herói nos quadrinhos e não um vilão). O coadjuvante vivido por Brandon Routh tem ótimos momentos com Felicity, principalmente aqueles que espelham as atitudes e diálogos de Oliver, mostrando para a moça como seria seu pretendente caso este não fosse tão obcecado com a justiça e usasse seus ideais para ajudar a cidade de forma oficial, já que tinha em mãos até a temporada passada, os meios necessários para isso. Os planos de Palmer vão se revelando aos poucos e, principalmente no final do episódio, fica a pergunta se ele é assim tão diferente do Arqueiro.
Outra subtrama apresentada de forma menor, mas que ainda trará frutos, é a de Thea e a reabertura da boate Verdant. Por não ter muito desenvolvimento, o roteiro falha ao gerar os conflitos que ambiciona, já que a personagem ganha na figura de um novo DJ (Austin Butler), um pretendente. Não há nada indicando a reação de Roy quando este deveria ter visto no novo personagem se insinuando para a irmã de Oliver (não que o programa precise desses elementos de folhetim, mas já que estabeleceu os personagens com isso em mente, seria bom fazê-los reagir de acordo). O jovem Arsenal, inclusive, está cada vez mais ofuscado com a justificativa de um abalado psicológico, depois de descobrir ser responsável pela morte de um policial durante o período que estava afetado pela droga Mirakuru. Nem como ajudante do Arqueiro ele parece funcionar mais. O roteiro agora tem alguns caminhos para o personagem e nenhum muito animador.
Como é focado em uma vilã apaixonada, o episódio amarra o tema com a própria vida amorosa de Oliver, e trabalha bem sua indecisão quanto a um relacionamento com Felicity. Há também um sutil paralelo com o passado em Hong Kong, com o que parece ser um sentimento crescente do rapaz por Tatsu, principalmente após ambos atuarem juntos. Será que eventualmente os dois irão se relacionar? E o ressurgimento de Maseo traz algumas perguntas também, quanto a sua real intenção na história. Seria sua sobrevivência fruto de um acordo com o inimigo? Estes foram os flashbacks mais promissores até agora, já que até então essa subplot não havia mostrado a que veio.
Como a aventura tem um foco bem definido, tanto em sua estrutura quanto em seus temas, surge bem amarrada fazendo inúmeros paralelos entre os personagens, mostrando como estão divididos em suas vidas duplas: Oliver não consegue se decidir quanto a Felicity, que também se divide entre Palmer e seu amigo vigilante. Roy sofre de dilemas parecidos quando ainda não consegue aceitar o que fez, influenciado por uma droga. E até Ray parece também marcado por duas vidas, a de bilionário e a de alguém cujas intenções ainda não ficaram claras para o espectador.
Assim, da premissa mais clichê e despretensiosa, vem um episódio eficiente e direto que, mesmo não tendo ligações aparentes com a trama central desta temporada, traz um bom desenvolvimento de personagens e não falha em divertir, o que não deixa de ser uma das principais funções de uma história de heróis mascarados.
Mais uma excelente review Alexandre…