Assim como Arrow na semana passada, The Flash entrega um episódio centrado na ação, auto-contido e cuja maior habilidade está na criação da expectativa durante mais da metade de sua duração. Lidando com duas tramas ocorrendo ao mesmo tempo, a série aproveita para experimentar uma estrutura diferente e mostra ser plenamente capaz de sair da zona de conforto, mesmo trabalhando com elementos conhecidos dos fãs de quadrinhos.
Super-heróis são famosos por terem de, vez ou outra, enfrentar a perda de seus poderes, levando ao dilema sobre quem realmente são ou o que podem fazer sem nenhuma habilidade especial. É basicamente essa a premissa inicial de Power Outage, mostrando o protagonista tendo seus poderes drenados pelo vilão Farooq (Michael Reventar), mais uma anomalia causada pelo acelerador de partículas. O personagem é um antagonista recente das HQs e aqui tem uma função bem específica: surgir como uma ameaça real e convincente para Barry Allen.
Sem os poderes, o Flash se torna inútil como herói, e justo quando outro vilão surge para dar ainda mais trabalho à polícia de Central City. É aí que entra o Rei Relógio, introduzido na segunda temporada da série do Arqueiro, e que aqui também tem uma função definida: colocar a vida dos colegas policiais de Barry em perigo, ao mesmo tempo que Farooq invade os Laboratórios STAR para se vingar do Dr. Wells por ter criado o equipamento que o tornou um meta-humano. Assim, duas ameaças são criadas e o episódio, por meio de inspiradas direção e montagem intercala ambas ações, criando uma sensação de perigo iminente, sem dar descanso ao espectador.
O que faz Power Outage funcionar tão bem são justamente os dois antagonistas, principalmente Farooq. Como a narrativa faz questão de mostrar como era o personagem antes de ganhar seus poderes e o que a situação o fez com seus amigos, existe uma trágica natureza em sua origem, responsável por levar o público a jamais vê-lo como caricatura. Já o Rei Relógio se beneficia mais caso o espectador conheça a sua participação em Arrow, por conta da história da irmã doente e o porquê disso ser um motivador importante. De qualquer forma, a mera menção ao fato e a boa interpretação de Robert Knepper garantem um vilão interessante e, principalmente, ameaçador. Ambos são marcados pela fragilidade psicológica causada por tragédias e basicamente representam o que os diferenciam do Flash, que abraça os poderes como dádiva e não maldição. E tirá-los de Barry é uma ótima desculpa para que o personagem perceba o quanto gosta de suas habilidades e se sente à vontade quando está combatendo o crime.
Para uma série cujo um dos pontos fracos é justamente a forma como apresenta e despacha seus vilões, ter uma de suas melhores aventuras naquela que usa dois antagonistas é um avanço e tanto. Mais ainda por ousar na estrutura e sair da fórmula empregada desde o começo da temporada, trazendo a chance de experimentar novas ameaças, já que é um programa sobre alguém com super-poderes. Não é qualquer vilão que pode realmente oferecer algum desafio, por isso a entrada do personagem de Knepper é até providencial, já que em uma situação normal, o Flash teria resolvido a situação em segundos. Mais ainda, o roteiro aproveita para surpreender no desfecho, deixando a resolução nas mãos de outra pessoa. Como já abordado pela série, o velocista só existe para lidar com problemas que a polícia não consegue, por falta de habilidade, resolver, ou seja, seres super-poderosos.
O episódio aproveita para encaixar alguns breves relances da personalidade sombria do Dr. Wells, mesmo sem agregar muitas novidades quanto à sua motivação. O personagem vive repetindo que quer fazer Barry explorar ao máximo seu potencial, por isso sua preocupação quando este perde os poderes gera atos quase desesperados para garantir que tudo volte ao normal. Essa subtrama ainda serve para corrigir uma ponta solta deixada no episódio passado e para deixar mais perguntas quanto ao cientista. Tornar o Flash um herói melhor é um fim ou um meio para chegar a um objetivo maior?
Funcionando principalmente como respiro antes do crossover com o Arqueiro na semana que vem, Power Outage cumpre seus objetivos, que são pontuais, sem deixar de lado a trama principal da temporada, nem o constante desenvolvimento de seus personagens. Surpreendente na forma como lida com dois antagonistas, dando tempo suficiente para ambos se apresentarem como ameaças palpáveis, o episódio é mais uma amostra do potencial do programa para apresentar boas histórias e entretenimento de qualidade.
Pera… o quê? Crossover com o Arqueiro? Sério? ('0')