Diferente dos personagens da Marvel, os heróis da DC surgiram em uma época, por assim dizer, mais inocente. Até por isso a abordagem de ambas ser tão distinta. Enquanto a Casa das Ideias foca em protagonistas falhos e com problemas “reais” como falta de dinheiro e preconceito, a Distinta Concorrente procura fazer do seu panteão uma alegoria a deuses mitológicos e arquétipos clássicos de heroísmo. Isso dá a editora do Batman a possibilidade de tratar de projeções de conceitos como justiça e liberdade, enquanto a outra fala de desafios e percalços vencidos para se chegar em um mundo minimamente justo. Essa dicotomia é evidenciada pelas tramas que cada herói vê pela frente. Se a DC procura trabalhar com conceitos praticamente inalcançáveis de heroísmo, é lógico que será lembrada por sua visão quase ingênua de mundo. Isso não a torna nem melhor, nem pior que a editora do Homem-Aranha, apenas diferente. Toda essa introdução se faz necessária para contextualizar o que este All-Star Team-Up faz pela série do Flash. Assistir ao episódio é como ler uma aventura da Era de Prata dos quadrinhos, que pode parecer boba e repleta de elementos “galhofa”, mas não deixa de cumprir seu objetivo principal: divertir, passando uma ideia de esperança e confiança ao mesmo tempo.
A trama coloca o Velocista Escarlate unindo forças com Ray Palmer, o ATOM, ou Eléktron, na tradução das HQs publicadas no Brasil, para derrotar a Bug-Eyed Bandit (Insecto por aqui, mas cujo nome adaptado não faz sentido, uma vez que nessa releitura o vilão é uma mulher), vivida por Emily Kinney. Apesar da motivação da antagonista contar com o clichê da vingança por ser uma cientista incompreendida e da série sequer se preocupar em dar alguma profundidade a isso, o conflito funciona como motivação para os dois heróis dividirem a tela, enquanto outras questões são discutidas de forma mais pertinente.
Esse episódio não serve apenas para mover algumas peças do jogo de pistas seguido por Barry, Joe e Eddie (que atuam juntos de forma divertida na abertura) para desmascarar de vez o Dr. Wells, mas também para desenvolver a subtrama de Palmer, que faz parte da série-irmã Arrow, em sua busca pelo aperfeiçoamentos em sua armadura. Assim como ocorreu no programa do Arqueiro, ATOM faz novamente referência a sua futura habilidade de diminuir de tamanho, com as descobertas feitas a partir da tecnologia das abelhas-robô controladas pela vilã. A participação especial de Brandon Routh também proporciona uma ótima sequência que, mesmo com evidentes problemas técnicos, convence no uso de efeitos visuais para mostrar o herói em ação, algo que ainda não havia sido mostrado de forma proeminente neste universo DC da TV.
A participação de Felicity também é um acerto, com a personagem saindo um pouco do momento indeciso que vive em Arrow, para trazer cenas impagáveis com sua habilidade de falar mais do que o necessário, algo que divide com o novo namorado. Routh e Emily Bett Rickards tem uma ótima química em tela. Aliás o ex-Superman também tem boas cenas com Cisco. À bem da verdade, todos os coadjuvantes protagonizam bons momentos de interação com o elenco convidado e o roteiro não se acanha de colocá-los em situações constrangedoras.
Trazendo também um interessante avanço na trama principal, primeiro com Barry e Joe avaliando se podem ou não confiar em Caitlin e Cisco, e depois com este último tendo visões de sua morte na linha temporal alterada (como isso é possível, a série ficou devendo, mas ainda é cedo para julgar), o episódio não esquece o que está sendo mostrado na temporada só por conta do crossover com outra série.
O ponto fraco é o conflito de Iris, que se baseia em um relacionamento que o espectador não se importa muito, mesmo com dicas da relevância de seu namoro com Eddie, uma vez que o policial está ligado ao Flash-Reverso. O problema maior fica por conta do texto, que teima em colocar a filha do Detetive West movida apenas por clichês românticos. É como se sem o Flash ou o atual namorado, a moça não tivesse função nenhuma na história. Em uma época em que se destacam personagens femininas fortes e decididas, a presença de uma que age em função dos homens se torna um tanto deslocada, mesmo levando em conta a natureza “tradicionalista” dos quadrinhos originais.
O importante é que, apesar dessas pequenas falhas, The Flash continua oferecendo uma hora por semana de aventuras leves e divertidas, levadas por um elenco totalmente à vontade cuja empatia com o espectador é quase instantânea. E, se soa ingênua, alegre e esperançosa demais em tempos sombrios para o mundo contemporâneo, talvez indique que sua existência seja mais relevante do que se possa imaginar.
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