Não faz muito tempo, apenas três anos, que na primeira temporada de Arrow, o espectador foi apresentado a Roy Harper. Naquela ocasião, o personagem fora sequestrado e torturado ao vivo, via internet, até que o Arqueiro apareceu para salvar o dia. Isso é tudo que você precisa saber para que o plano para limpar o nome de Oliver não faça o menor sentido. Apesar do episódio lidar bem com o fato do Capitão Lance saber que Harper não é o justiceiro mascarado de capuz verde, parece que os roteiristas resolveram ignorar completamente eventos anteriores que não conseguiriam legitimar a ideia estapafúrdia que rege a trama nesse momento.
A cada cena coberta pela imprensa de Starling comentando sobre a prisão do Arqueiro, fica uma sensação esquisita, como se a série não respeitasse a própria história. No entanto, caso você consiga relevar essa informação, Broken Arrow oferece uma boa aventura, marcada por um senso de urgência no mesmo nível já apresentado na ótima temporada anterior. A possibilidade de ver um herói preso em meio a criminosos que ajudou a capturar, no entanto, poderia ter sido melhor aproveitada na criação de um episódio claustrofóbico e marcado pelo suspense. A revelação do verdadeiro plano de Roy também é deslocada, enfraquecendo o que parecia ser a motivação do personagem. Fica a pergunta: a culpa sentida pela morte do policial na ocasião em que estava sob efeito do Mirakuru não era totalmente honesta, então? Claro, existem inúmeras subtramas para o programa resolver, o que, por sinal, não acontece muito aqui, já que como plot secundária, o roteiro apresenta um vilão meta-humano interpretado por Doug Jones, e que parece funcionar para apresentar outros elementos para o futuro (nem mesmo uma boa motivação é introduzida, apesar da boa caracterização do Raio Mortal).
A presença do antagonista com super-poderes somada ao fato de que Oliver não pode aparecer como Arqueiro para não comprometer o plano de Roy, leva o protagonista a pedir ajuda a Ray Palmer, repetindo a ideia de "Team-up" do episódio da semana de The Flash. Aos poucos o personagem de Brandon Routh conseguiu se justificar no seriado e dessa vez não é diferente. A simpatia do ator também colabora para gerar empatia com o público e suas sequências funcionam tanto quanto funcionaram na série do Velocista (mas em menor escala no sentido dos efeitos visuais).
O destaque de Broken Arrow fica muito por conta do Capitão Lance, que protagoniza bons momentos, o resultado de uma construção cuidadosa (uma das poucas dessa temporada) do personagem, que saiu de apoiador do vigilantismo a ferrenho opositor. Apesar de algumas situações parecerem um pouco exageradas, é possível compreender toda a insatisfação e decepção vividas pelo coadjuvante interpretado por Paul Blackthorne, que desde o início deste ano tem se mostrado um dos pontos mais fortes da série. As cenas que divide com Colton Haynes e Willa Holland tocam o lado mais humano do policial, que acredita estar fazendo a coisa certa, independente de sua motivação gerada por um sentimento de vingança pela morte de Sara. As sequências no passado também começam a se tornar interessantes. Há um plot twist envolvendo Amanda Waller e o General Shrieve que pode trazer repercussões futuras (aliás, finalmente algo acontece nos flashbacks, que mostravam uma trama bem aborrecida).
A trama central, envolvendo Ra's Al Ghul, dá sinais de avanço apenas nos últimos minutos, com um gancho típico da série, ou seja, angustiante e trágico. Mesmo assim, vale a espera, uma vez que o vilão vivido por Matt Nable tem se tornado cada vez mais ameaçador, e é importante notar como a presença de tela do ator também evolui a cada participação, corrigindo o equívoco de trazer de forma tardia ao público a ideia do perigo de sua existência e da extensão de sua força como líder.
Assim, mesmo tropeçando aqui e ali e desperdiçando boas ideias, este episódio satisfaz e mostra que, ao menos nessa reta final, Arrow poderá trazer conflitos mais interessantes do que os apresentados durante a temporada. Claro que para isso, os realizadores exigem do espectador que traiam a série, ao praticamente pedirem para que esqueçam acontecimentos marcantes vivenciados anteriormente.
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O mais interessante do episódio passou batido em todos os comentários que eu li.
Não foi o acelerador de partículas que criou os mata-humanos. Isto abre várias possibilidades tanto para Flash como para Arrow e a futura série.
Por isso no texto eu disse que a presença do Doug Jones parece funcionar apenas para apresentar outros elementos para o futuro.