Review: The Flash S02E19 - Back to Normal

O objetivo de histórias de super-heróis que subitamente perdem seus poderes é o de reforçar ao público a coragem e as intenções heroicas do protagonista. Nesse sentido, esse Back to Normal se sai muito bem, ao mesmo tempo em que explora Barry Allen lidando com a normalidade, algo que não conhecia há muito tempo. O episódio vem como um preparativo para o desfecho da temporada e escolhe, acertadamente, um tom mais básico para colocar as peças em movimento.

Em termos de narrativa, é como se The Flash retornasse ao seu primeiro ano. Um vilão da semana, fruto do acelerador de partículas, e uma trama simples, porém nada simplória. O antagonista em questão é Griffin Grey, criado nos anos 2000 por Danny Bilson e Paul DeMeo (responsáveis pelo seriado dos anos 90 do velocista), quando se aventuraram nas HQs do herói escarlate. Ao contrário do que foi padrão na primeira temporada, no entanto, a série explora um vilão trágico, cuja identificação com o espectador vem naturalmente e de um sentimento palatável. Grey é apenas um adolescente que, ao ganhar seus poderes, vê a normalidade de sua vida ir por água abaixo (drama bem exposto quando conta sobre sua namorada e que traz uma interessante inversão com o drama do protagonista). Talvez para qualquer garoto de 18 anos, descobrir habilidades super-humanas fosse um sonho, mas para o vilão em questão não poderia ser um pesadelo pior: junto com os poderes veio o envelhecendo precoce, o que o torna alguém à beira da morte certa. Faltam antagonistas assim nas séries de super-heróis, que não banalizem o conceito de vilania e que tragam para os protagonistas algum conflito moral.

Back to Normal também dá um grande destaque à duas subtramas envolvendo os personagens mais jovens da série: Jesse Quick e Wally West. A garota finalmente é encontrada por seu pai, enquanto o mais novo membro da família West faz Joe arrumar um encontro com o Flash. Como estes dois coadjuvantes ainda não conquistaram o público o texto se esforça bastante para corrigir esse problema, colocando Jesse para cobrir o espaço deixado por Caitlin, de um lado, e, de outro, fazendo Wally mostrar que, apesar de ser um adolescente problemático, é sim, uma boa pessoa, que subitamente percebeu o valor da vida, graças ao Velocista Escarlate. Não à toa, esses dois personagens se tornam velocistas nos quadrinhos e, independente das pretensões do seriado em transformá-los ainda nessa temporada, também não soa aleatório o plano do Dr. Wells em replicar o acidente com o acelerador de partículas para que Barry tenha seus poderes de volta. Se não é foreshadowing (elemento narrativo que prenuncia eventos futuros), os realizadores brincam com a ideia ao colocarem Wally no laboratório forense, tão perto dos produtos químicos que, junto com aquele raio e os efeitos da experiência dos STAR Labs, conferiram poderes ao Flash.

Os coadjuvantes ganham bastante espaço aqui e Iris continua se aproximando de Barry, mesmo que isso traga para a série um momento um tanto constrangedor para os roteiristas. Se a garota finalmente decidiria quanto a desenvolver uma ligação romântica com o herói, porque perder tempo com aquela subtrama envolvendo seu editor que, pelo visto, ficou totalmente perdida na temporada? O personagem até já desapareceu do seriado sem deixar vestígios. No entanto, ver a moça tornando-se ativa no combate aos meta-humanos e trazendo conforto para o personagem principal na forma de bem-vindos conselhos é gratificante, pois a coloca em uma posição mais condizente com aquela que, no início do segundo ano, parecia a intenção da trama.

Por trazer elementos de episódio "vilão da semana", a aventura falha um pouco em estender a noção de perigo relacionada a trama principal. Quando Zoom aparece na história, perde-se um pouco a urgência deixada como gancho na semana anterior, embora seja compreensível que, sem poderes, Barry nada possa fazer para enfrentar seu nêmesis e libertar Caitlin. Mas o obrigação de dar algum espaço ao cativeiro da personagem pouco acrescenta, a não ser o fato de Hunter/Jay estar nitidamente abalado psicologicamente. Não que o vilão fosse um modelo de sanidade, mas ter sido lembrado de sua origem trágica pode ter prejudicado ainda mais sua, já deturpada, mente. O encontro de Caitlin com Nevasca é até divertido e serviu para dar um desfecho para sua contraparte da Terra-2, e para aumentar o mistério do homem mascarado preso por Zoom. Quem é este personagem? Seria o pai de Hunter? Ou ainda, o Jay Garrick original? Para o fã, a segunda opção é deveras empolgante, pois daria a oportunidade do herói não ter sido totalmente deletado da série em detrimento de um engodo da trama. O mistério é tão grande que, para o bem do seriado, é bom que se justifique com um recompensa não apenas narrativa, mas também para o espectador.

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Outro ponto negativo de Back to Normal é como o roteiro não aborda, em momento algum, a possibilidade de Cisco usar seus poderes para tentar parar Griffin Grey. É uma pena a oportunidade desperdiçada, uma vez que houve um grande avanço no desenvolvimento do personagem no episódio anterior. Até na última semana Cisco estava consciente que sua versão da Terra-2 conseguia gerar campos de força que poderiam ser usados como arma, mas aparentemente sua utilidade é apenas a de abrir portais para outras Terras. Uma pena que para valorizar o drama de Barry, o texto "precise" tornar os outros personagens menos inteligentes.

De qualquer forma, a pausa oferece um respiro necessário para o que a reta final da temporada ainda reserva para os espectadores. É a fórmula básica dos seriados DC/CW, que, de certa forma, é fruto da grande quantidade de episódios, mas também das pretensões dos realizadores quanto à narrativa (seguir a fórmula é preguiçoso, mas garante ao público certa noção de continuidade, fazendo-o esperar por apoteóticos desfechos). Se não traz novidades, no geral, oferece uma aventura sólida, preocupada com a qualidade de seus personagens e suas trajetórias.

Alexandre Luiz

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