Logo no início deste décimo-primeiro episódio da temporada de Flash, Iris discute com Barry sobre uma matéria que está escrevendo: "eu ainda sou uma jornalista!", retruca. Pois bem, deste ponto fica evidente que a aventura da semana foi escrita por alguém que conhece esses personagens e quer tentar resgatar elementos que, por pura negligência de outros roteiristas e dos próprias realizadores do programa, foram deixados de lado. Dead or Alive tem o texto de Zack Stentz, que já demonstrou habilidade em tramas focadas puramente em personagens no, já icônico, Runaway Dinosaur, da temporada anterior. Aqui, seu roteiro é tão bom nesse sentido, que não precisou da "expertise" de um diretor de cinema como Kevin Smith (que apesar dos pesares tem, sim, esta carga) para fortalecer os momentos mais humanos, que a série já indicou tantas vezes, ser sua maior vantagem em relação às outras adaptações de quadrinhos de super-herói da TV.
Há todo um clima de descontração no episódio que surge bem-vindo depois do peso dramático envolvendo a futura morte de Iris e dos esforços do Time Flash em vencer esse desafio que, cada vez mais, parece impossível. No entanto, esse assunto não é deixado de lado e, usado aqui como catalisador para uma perigosa faceta da personalidade da namorada de Barry, parece finalmente abrir possibilidades mais interessantes dentro do arco dramático de Iris (embora nas mãos de outros roteiristas menos cuidadosos futuramente, isso pode se tornar apenas mais uma desculpa para o protagonista ter de salvar a "mocinha", agora de si mesma).
Porém, a trama principal é focada na chegada da Cigana, uma caçadora de recompensas da Terra-19, contratada para levar H.R. Wells de volta para sua realidade. Vivida por Jessica Camacho, essa releitura da personagem da DC funciona muito bem dentro do propósito de dar alguma atenção ao Cisco, e a atriz parece muito à vontade no papel, tendo de confrontar situações "absurdas" em um mundo de heróis de quadrinhos. A química com Carlos Valdes é ótima e suas sequências de ação estão entre algumas das mais criativas da série, em especial pela ideia da viagem entre terras paralelas, com direito a aparição do prédio onde a identidade secreta da Supergirl trabalha. O uniforme do Vibro merece ser comentado pela fidelidade aos quadrinhos e por ter se comportado muito bem no live action.
O episódio tem sim, alguns problemas, como o fato de desperdiçar a chance de dar ao espectador algumas respostas sobre o passado dessa versão hipster do Wells. Por outro lado, o texto pega um personagem até agora irritante e dá a ele uma função, nem que seja fazer o Time Flash melhorar sua interação no trabalho em equipe. Isso também é evidenciado pela adição de Julian, que em seu temperamento mais centrado, consegue desenvolver interessantes teorias e soluções para os problemas enfrentados pelos heróis. Wells também é tratado de forma mais humana, com falhas que não o tornam mero alívio cômico, pelo contrário, apenas ajudam a entender todo o esforço para salvar sua vida (além, é claro, do fato de se tratar de um grupo de heróis).
São os momentos mais íntimos que tornam Dead or Alive uma passagem memorável dessa atual, e problemática, temporada. O constrangedor diálogo entre Iris e Joe, para que o detetive fosse distraído, funciona não apenas por ser um momento engraçado, mas porque se tratam de personagens que o espectador se importa e quer ver desenvolvidos de forma minimamente interessante. Uma pena que não é isso que a série tem demonstrado este ano, então quando algo acima da média aparece, fica nítido o potencial existente e desperdiçado por outros roteiristas. Stentz usa o que o elenco tem de melhor, seu carisma, para contar uma aventura leve, mas sem deixar de lado todas as subplots dramáticas que a série tem trabalhado.
Em um programa com um elenco tão grande, normalmente, cada episódio destaca determinados grupos de personagens, ou núcleos, como Game of Thrones, por exemplo. Aqui, Flash consegue focar em momentos distintos para praticamente todos os coadjuvantes, dando a eles importância no desenrolar da narrativa. É algo raro, principalmente se tratando de uma série cujos problemas tem se sobressaído às suas melhores características.
Com uma direção empolgante mas, principalmente, um texto preocupado em dar funções a cada um dos membros do elenco, Dead or Alive não é apenas um respiro em um momento mais pesado da adaptação, mas também, um bem-vindo conforto ao fã. Se The Flash está em uma temporada ruim, são momentos como esse episódio que indicam que o elenco e as características de seus personagens nada tem em comum com a baixa qualidade que normalmente tem apresentado.
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