Review: The Walking Dead e a Jornada do Morto-vivo

Quando The Walking Dead chegou a TV o alarde em torno da série foi gigantesco. As expectativas se justificaram desde o início – tínhamos ninguém menos do que Frank Darabont por detrás da produção –, as HQ´s já eram um fenômeno mundial e a fórmula para o sucesso garantido estava no colo da humilde, porém ambiciosa, AMC. Quase três anos e meio depois do apoteótico piloto que iniciou a saga de Rick num mundo pós-apocalíptico margeado por mortos caminhantes e governado pela lei do mais forte, muitos dos outrora admiradores da série se perguntam se a moribunda trama que Robert Kirkman criou já deu o que tinha de dar, ou melhor, se ela sempre foi esse engodo que se estendeu escancaradamente sem rumo pelo terço final da quarta temporada.

Eu já havia elogiado abertamente aqui as escolhas dos showrunners da série em priorizar a máxima “trama sobre pessoas, não sobre zumbis” que para muita gente é a desculpa principal quando se opta pela enrolação, só que o ápice de tudo isto veio com o fatídico desfecho do quarto ano. Quando falo desfecho, quero colocar em panorama os seis episódios que compuseram um roteiro que se fragmentou de uma forma pífia e que só comprovou o quão prepotente se encontra a produção da série. Afinal a audiência não capengou um segundo sequer, e se a gente levar em conta que um dos episódios mais inúteis do ano – sim, aquele da busca por uma dose de álcool para “desvirginizar” Betty – teve mais audiência que produções de canais abertos consolidadas como The Good Wife, o fator “tô nem aí para qualidade, tenho meu público fiel” se justifica sem mais delongas.

Sim, tivemos bons momentos nesse meio tempo. Toda a fantástica sequência com o grupo de saqueadores e Rick no episódio Claimed foi de um suspense sufocante e, claro, o excepcional The Grove figura como o episódio mais dramático desde a morte de Lori; porém nada, absolutamente nada além do mencionado fugiu do lugar comum ou se provou digno de nota. Só de pensar que os talentos de Melissa McBride e Danai Gurira são os trunfos mais subutilizados de The Walking Dead, já seria um motivo para largar a série, mas daí ganhamos mais e mais justificativas para tal, quando terminamos de assistir completas horas de puro nada como o já mencionado Still – desculpem fãs de Daryl, mas Norman Reedus passou vergonha ao tentar conferir camadas ao arqueiro – e o não menos ruim Alone, que escolheu os piores núcleos de personagens para protagonizar 40 minutos de andanças sem fim em direção ao propagandeado Terminus.

TWD4.2

Não restou muita coisa para a série fazer, quando ela mesma flertou com o procedural ao apostar na fórmula “andança + morte de zumbi + momento de reflexão + morte de zumbi turbinada + seguir para o Terminus” e sejamos justos, em boas mãos esse esquema poderia ter trago momentos memoráveis, porém o máximo conseguido foi a aparição de um grupo cliché de antagonistas (destroçado a dentadas e facadas por Rick) e de um grupo cartunesco de novos amigos saído direto das HQs. Minha última esperança era a de que a série ousaria na finale e colocaria fogo na nova estrutura, porém tudo se encerrou na mesma pegada covarde que vimos lá no fim do terceiro ano.

A galera do Terminus era mesmo megaevil, aqueles que todos suspeitavam ser, só que o difícil foi conseguir fazer com que tudo soasse crível. Os roteiristas espertinhos até tentaram brincar ao colocar os vilões da vez estereotipando os heróis, mas nada em The Walking Dead funciona já faz um bom tempo e tudo deu uma vergonha alheia pavorosa. Eu até fingi me importar com o futuro de Rick e seus companheiros, mas daí o xerife me solta uma frase de efeito com a ambição de soar tão badass quanto a clássica tagline que deu origem a ricktatorship e minha reação foi uma só: um triste sorriso amarelo.

É até irônico que Terminus em latim signifique “ponto final”, porque para mim esta foi a última tentativa com The Walking Dead. De defensor ferrenho a expectador desdenhoso; de um verdadeiro aficionado por zumbis a um receoso apreciador do gênero. A partir de agora penso duas vezes quando enxergar pretensão demais numa produção que transpareça pelo menos um pouco do que The Walking Dead é. Aos que ainda optaram por se arrastar pelas matas da Georgia, só desejo boa sorte, pois este sobrevivente aqui encontrou a cura e, para ser sincero, ela é mais reconfortante do que vocês imaginam.

Comente pelo Facebook

Comentários

Comente pelo Facebook

Comentários

Deixe uma resposta