A coluna O Básico do Cinema agora é semanal. Aqui discutirei um pouco sobre a sétima arte, falando sobre teoria e prática cinematográficas. Colocarei também um pouco de emoção no assunto e vez ou outra irei escrever sobre alguma experiência pessoal desse longo tempo da cinefilia aguda que me acomete.
As palavras que antecedem um truque de mágica podem ser invertidas no contexto cinematográfico. O cineasta diz ao espectador exatamente o oposto: “Agora você não vê, e agora... você vê”. Gênios como Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick, Steven Spielberg, Quentin Tarantino, entre outros, conseguem transformar o nada em imagem, ou seja, em tudo. A magia da sétima arte acontece ao contrário.
Ter o olhar para o cinema, encontrar o enquadramento perfeito, pensar a cena como parte da experiência e criar uma obra-prima não é pra qualquer um. Tome como exemplo Hitchcock que ao conceber, com seu roteirista e seu diretor de fotografia, a clássica cena de Psicose em que a personagem de Janet Leigh é morta no banho, criou um dos momentos mais memoráveis da história do cinema. Ou ainda Kubrick, na abertura de 2001–Odisseia no Espaço, sem um diálogo sequer, explicar a importância de uma das principais caraterísticas do ser humano: a evolução através da inteligência.
Mas tudo isso é mérito do diretor? E toda a equipe? Não leva créditos? Claro que leva. Hitchcock é famoso por trabalhar com os melhores em seus ramos. Porém, sem um maestro, a orquestra se perde (ops, analogia errada). Um bom exemplo é a recente cinessérie de blockbusters Transformers. Uma equipe de efeitos especiais competente, roteiristas excelentes (do recente Star Trek), mas um diretor medíocre. O resultado? Um filme de verão em que as maluquices de Michael Bay prevalecem. Se os grandes diretores são mágicos, Michael Bay é o Mr. M. Um ilusionista meia-boca que nunca conseguiu grandes truques e precisa usar da polêmica pra causar alguma reação, mesmo que de raiva.
Mas a sétima arte ainda cultiva bons mágicos que podem estar em um lista de gênios. Tarantino é um deles. Este é um showman dos mais espertos. Sabe aquele cara que antes do truque desvia a atenção da platéia dizendo um pouco sobre sua história, falando o quanto sua infância foi marcada por personagens incríveis e tudo mais? Pois é, quem não fica impressionado com os diálogos que o diretor de Pulp Fiction escreve? Ele segura uma cena de 20 minutos apenas com a conversa entre dois personagens e ainda assim cria suspense sem sair do ritmo. Prova disso é a abertura de Bastardos Inglórios. Aquilo é cinema. Aquilo é magia.
Por isso, quem tem pretensão à cineasta ou a produtor de conteúdo em geral não deve esquecer-se de ter uma carta na manga pra fazer seu público aplaudir, e saber que presenciou a atuação de grande mágico às avessas: aquele que, ao invés de fazer desaparecer, faz aparecer uma grande obra.
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