Adaptações de Games no Cinema: Por que não funcionam?

Sim, a pergunta do título pode ter uma resposta mais fácil do que se pode imaginar. Por isso, vou deixar para os leitores essa conclusão, que pode ser tirada com a leitura das mini-críticas abaixo, principalmente a de Max Payne. Todos os textos são do meu antigo blog RE-ENTER e, como nesta sexta-feira estreia o mais novo longa da cinessérie Resident Evil, achei propícia a republicação. Boa leitura!

Max Payne: Você com certeza já viu Max Payne. Se não o filme baseado no famoso game, pelo menos já viu algo parecido. Olha só o resumo da história: policial tem família assassinada e vive amargurado, em busca de quem cometeu o crime. Suas investigações chegam até um esquema de tráfico de drogas e, entre traições e femme fatales, descobre que a morte da esposa fazia parte de um plano maior, o que o deixa ainda mais sedento por vingança. Sério, é quase um roteiro de filme do Steven Seagal.

A história é até fiel ao jogo. O problema é que, enquanto a versão digital usa a previsibilidade do argumento apenas como desculpa pra fazer você passar algumas horas disparando contra bandidos, o filme Max Payne se leva a sério. Tão a sério a ponto de usar um subplot envolvendo as drogas, só pra criar um ar sobrenatural que parece cópia de Constantine.

Mark Wahlberg no papel-título está no modo automático. Taí um ator que não consigo entender. O cara se destaca em Boogie Nights, em que interpreta um ator pornô, rouba a cena em Os Infiltrados como o policial escroto e perde tempo fazendo filmes que vão do meia-boca ao total desastre. Ok, Max Payne não é um total desastre. Tem lá seus momentos, em que uma cena bonita plasticamente consegue fazer valer os buracos no roteiro. Mas com certeza dava pra se tirar algo melhor da adaptação.

Nem a participação de Olga Kurylenko, que está no filme só pra tirar a roupa (se pararmos pra pensar, o único filme em que a atriz não é objeto de decoração de cena é 007 – Quantum of Solace), chega a ser empolgante.

Bom, ainda não foi desta vez que Hollywood acertou com uma adaptação de game. É bom alguém tirar algo bom desse nicho, porque as opções estão acabando. A bem da verdade, um filme de videogame original nunca vai existir. Se for fiel demais, conterá todos os maneirismos do jogo que se baseou, provavelmente cópia de algum filme de sucesso ou algo do tipo. E se distanciar demais do material original, vira outro filme, que no fim vai apenas levar o nome de algum jogo famoso.

Resident Evil – Recomeço: A série de filmes baseada num dos jogos mais influentes dos últimos 15 anos nunca agradou muito os fãs, mas isso não significa que as produções são de todo ruins. Tudo bem que pouco do estilo do jogo está nessas adaptações, mas convenhamos que são linguagens diferentes e o diretor e produtor Paul W.S. Anderson precisava fazer uma obra que agradasse também aos não iniciados no mundo de Resident Evil. O novo filme, que continua de onde parou o terceiro, tem um atrativo a mais por ser em 3D, mas segue a mesma linha de ação sem cérebro e história praticamente inexistente dos anteriores. Quem conhece os jogos sabe da complexidade da trama envolvendo a Umbrella Corp. e toda infestação de zumbis. Mas nos filmes é tudo muito preto-no-branco. Umbrella=vilão, zumbis=obstáculo pra se chegar ao vilão, Alice=heroína invencível. E é isso. O 3D porém, é incrível. Esse novo filme se vnagloria nos trailers de ter sido rodado com as câmeras desenvolvidas para Avatar de James Cameron. E com razão. Os estúdios que pensam em conversão pra 3D vão ficar morrendo de vergonha ao ver que um filme de entretenimento vazio como Resident se empenhou em criar uma experiência imersiva (a sequência final, com trilha da banda A Perfect Circle é de cair o queixo) que nenhuma dessas produções que as três dimensões são criadas de última hora podem proporcionar. Mas ao mesmo tempo que esse é o maior trunfo do filme, é também seu maior defeito, pois se tirar o 3D não sobra muito motivo pra assisti-lo no cinema. No fim, a impressão é que Resident Evil – Recomeço é um daqueles videos demo de lojas especializadas em TVs de última geração. Só serve pra mostrar como o 3D, quando pensado e filmado de forma correta, pode ser usado pra criar uma experiência única pro espectador.

 

Príncipe da Pérsia – As Areias do Tempo: Produzido pelo mago dos blockbusters Jerry Bruckheimer e pela Disney, a promessa de Príncipe da Pérsia era a de preencher o espaço ocupado pelos verões passados por Piratas do Caribe. Diversão, ação e efeitos de tirar o fôlego num filme voltado pra família toda. Mas não é bem isso. A ação está lá, os efeitos também, mas o filme não emplaca. A trama é simples demais e há uma necessidade incompreensível de torná-la truncada, o que faz o filme perder o ritmo consideravelmente em momentos que poderiam ser muito melhor aproveitados. Talvez tenha sido por falta de tato do diretor Mike Newell, mas As Areias do Tempo sofre do mesmo mal de sua contraparte dos games: depois de um tempo, as piruetas se tornam cansativas e repetitivas e a promessa de um “algo mais” em diversão nunca se concretiza.

 

 

 

 

Tekken: Jogos de luta foram a fascinação da garotada nos anos 90. E praticamente todos ganharam versões de carne e osso, de Street Fighter a Double Dragon (putz!). Faltava mesmo uma versão americanizada de Tekken. Feito direto pro mercado de DVDs, um filme de baixo orçamento, com elenco desconhecido (a não ser por Cary Hiroyuki Tagawa, o eterno Shang Tsung da versão cinematográfica de Mortal Kombat e Gary Daniels, cujas participações são pequenas), acaba se saindo melhor do que as superproduções supracitadas. Os personagens estão lá e o filme não se sente acanhado em mostrá-los nas roupas ridiculas que os acompanha no jogo (com direito ao cofrinho sacana da Christie Monteiro). Ao contrário da última versão de Street Fighter, que inexplicavelmente tenta ser realista (?), Tekken se comporta como deve e apesar dos fracos efeitos, não faz feio nas coreografias e deve agradar os saudosistas que ainda se lembram dos gráficos 2D do jogo. Ah, a história? Fraquinha, fraquinha. Mas pelo menos parece ter sido rodada com honestidade.

 

 

 

 

King of Fighters: Mais um clássico dos anos 90. Esse sofre do mesmo pecado de Street Fighter – Legend of Chun Li. Se envergonha um pouco das origens do jogo e tenta criar um cenário em que as lutas só existem em outra realidade, pra servir de desculpa pros figurinos ridículos. Tem um elenco mais “conhecido” do que Tekken. Maggie Q e Ray Park. É, só eles. As lutas são bem coreografadas, afinal tem Park dando as piruetas que o tornaram famoso em Star Wars – Episódio I como Darth Maul, mas os efeitos são sofríveis. E o clímax do filme ocupa tempo demais numa luta que envolve quase todos os personagens contra o vilão, fugindo um pouco do clima de game de luta que Tekken conseguiu recriar tão bem.

Na resenha de Max Payne contestei a existência de filmes baseados em games. É que a maior parte dos jogos são “adaptações” de histórias que todo mundo já viu no cinema. A única coisa que faz compensar esse tipo de produção é a chance dos fãs verem seus personagens preferidos em carne e osso com alguns efeitos bacanas. Não há nada de novo no reino dos games e seus filmes. E, pelo visto, nunca haverá.

Alexandre Luiz

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4 comments

  1. Avatar
    José Guilherme 13 setembro, 2012 at 19:09 Responder

    Post mais do que verdadeiro, quando estas adaptações não beiram a vergonha alheia, são apenas O.K.! O maior exemplo é realmente Resident Evil, toda uma complexidade, personagens consolidados com carga dramática bem construída, foram jogados no lixo, pelos filmes de ação despirocada do Paul W.S. Anderson, de todas as adaptações a única que fez jus ao material original foi Silent Hill, e isso pela produção ter mantido um cuidado que pouco se vê e conseguido captar o clima dos games. E ainda me pergutam o porquê de eu nem ansiar por uma adaptação de God of War.

  2. Avatar
    Predobot 16 setembro, 2012 at 17:45 Responder

    O principal não foi dito: Por que a maldita história original do game não é mantida???
    Cadê o "bullet-time" de Max Payne? Cade Kazuya lutando e manifestando seu lado maligno? Cadê o supremo Heihachi Mishima lutando ao invés de ser um patético velhinho atrás da mesa, onde seu único poder parece ser político???
    Daqui a pouco sai um God of War com um Kratos marinheiro, lutando com uma espada nas mãos contra um rei maligno que matou sua família… ¬¬

  3. Avatar
    Igor 16 setembro, 2012 at 17:55 Responder

    Você falou de muita coisa que está certa, mas o principal motivo na minha opinião é que os filmes não são feitos direito e fogem demais a história original. Um exemplo de filme baseado em game que eu gostei foi silent hill. Qualquer história de videogame pode ficar boa se o diretor e a equipe responsável fizer com um mínimo de dedicação e trabalho duro no intuito de fazer o melhor… falta bom senso e também falta noção do ridículo nas adaptações para o cinema.

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