A Maldição dos Espantalhos é um filme de horror B bastante curioso. Lançado em 1988, é dirigido por Wiliam Wesley e sua sinopse trata de um grupo de criminosos que sequestram um avião que acaba em um cenário hostil, onde uma justiça espiritual trata de resolver parte a questão de justiça proposta.
A história acompanha quatro homens e uma mulher equipados com armas e com instrumentos de alta tecnologia, que roubaram uma quantia de dinheiro exorbitante de uma base militar na Califórnia. Um dos ladrões tenta enganar os demais, fugindo com o dinheiro, escondendo-se em uma fazenda abandonada repleta de espantalhos velhos.
Quando os comparsas chegam para tentar resgatar o dinheiro, acabam descobrindo que os espantalhos estão vivos e furiosos com eles. Não há muita explicação, a premissa é isso apenas e segue bem, mesmo sendo tão irreal.
O texto ficou a cargo de Wesley, que esboçou o argumento. O roteiro é seu e de Richard Jefferies, com colaboração em diálogos do trio Larry Stamper, Marcus Crowder e Stephen Gerard. Os produtores são Wesley e Cami Winikoff, com Ted Vernon sendo o produtor executivo.
O longa não é exatamente um filme feito para vídeo, uma vez que teve um lançamento limitado em agosto de 1988 nos Estados Unidos, em Des Moines, Iowa.
Essa estreia foi um compromisso de divulgação, a fim de seduzir possíveis compradores para um lançamento em VHS, ficando assim apenas uma semana em cartas. Houve também uma première em vídeo marcada em 28 de setembro de 1988.
O filme foi feito pelo estúdio Effigy Films teve como representante de venda a Manson International Pictures, foi distribuído pela mesma Manson, nos cinemas americanos e pela Orion Pictures em vídeo. O lançamento em DVD foi da 20th Century Fox Home Entertainment em 2011.
O título original dele é Scarecrows, mas durante a pré-produção foi chamado de Evil Stalks. No Brasil também é conhecido como Espantalhos, especialmente no lançamento em vídeo.
Na parte francesa do Canadá se chama La Malédiction des Épouvantails, na Alemanha é conhecido como Paratrooper, enquanto na Hungria é Madárijesztők, na Polônia é Żywe trupy. No México é Espantapájaros, na Espanha é Zona restringida, enquanto em Portugal é A Maldição dos Espantalhos.
A obra foi filmada em Davie, na Flórida, além de ter tomadas aéreas feitas no México.
Wesley tem experiência em obra de gênero. Dirigiu um episódio da versão de 1991 de Monsters, também fez Rota 666: A Estrada da Morte e um capítulo de Apollo Z. Hack: A Reviewaverse Saga.
Jefferies escreveu o telefilme A Máquina do Crescimento, Psicose Mortal, O Homem da Casa e Garganta do Diabo.
Winikoff tinha pouca experiência na função de produtora, mas trabalhou como coprodutora em Amores Divididos, Star Kid: Meu Amigo Espacial, foi supervisora de produção em O Duende, Warlock 2: O Armageddon e A Volta dos Mortos Vivos 3. Vernon foi produtor executivo em Hammerhead Jone, A Cidade dos Amaldiçoados e Death Print.
Durante a fase de pós-produção, Cami Winikoff e William Wesley estavam levando o filme para Los Angeles para montá-lo, mas foram para o aeroporto errado e perderam o avião. O voo 191 da Delta Air Lines, teve uma explosão ao pousar e caiu, matando 137 dos 163 a bordo. A parte do avião em que eles deveriam estar não teve sobreviventes.
As primeiras cenas já dão a nota de como o longa-metragem é um filme B, já que seus créditos iniciais em letras vermelhas com fundo preto, se intercalam com a apresentação de um espantalho bem feio, que habita exatamente o lugar que se espera vê-lo, no ambiente rural e a noite.
A música de Terry Plumeri é anunciada com pompa e não à toa, uma vez que é um dos aspectos mais elogiáveis do filme. Ela ajuda a injetar mistério desde o início da trama, embora em alguns pontos exagere no acréscimo de emoção, se tornando intrusivo.
Uma aeronave sobrevoa o espaço aéreo, carrega um grupo de homens armados e mal-encarados. Eles parecem saídos de um filme de ação brucutu, tal qual os bombados de O Predador de John McTiernan, mas sem a aura de paródia de filmes de ação que existe no filme lançado no ano de 1987.
Entre esses se destaca David James Campbell, que faz o piloto Al. Ele é mais lembrado graças a produções de gosto duvidoso, como Aerobicídio, de 1987. Aqui faz um papel mais sóbrio, um dos mais sérios.
Como o filme já faz tem mais de 35 anos, falaremos com spoilers, especialmente depois dessa imagem abaixo. Deixamos avisado aqui.
Ele é pai de uma das personagens apresentadas, a jovem e bela Kellie, interpretada por Victoria Christian, que era mais conhecida por trabalhos na TV, como Tiro Certo e no seriado Law & Order, o programa original, em um episódio de 1991.
Enquanto o avião sobrevoa o México, uma granada explode do lado de fora, ajudando a encobrir a fuga de Bert (B. J. Turner), que se apossa sozinho do dinheiro que eles roubaram juntos. O sujeito atira na direção dos seus antigos companheiros, mas não mata ninguém, já que o explosivo é jogado para o exterior pouco antes de estourar.
A sequência é confusa, mas resulta em sucesso para ele. Começa então uma busca pelo sujeito no cenário mexicano, com os bandidos munidos de material high tech que inclui inclusive óculos de visão noturna, tudo isso para cair em um cemitério cheio de espantalhos.
O grave problema do filme é que ele não consegue produzir nem sustos e nem medo, além de ser bastante parado.
Quando cai no solo, Bert tenta se esconder dos seus antigos amigos, mas acaba caindo sobre a fazenda que apareceu no início. Ao encontrar figuras humanoides e falantes, ele rapidamente se rende, apela para a covardia, oferece o dinheiro para essas “pessoas”, achando que é o bando que o acompanhava.
No entanto ele não conversa com os seus ex-companheiros, só fala com espantalhos. Um deles, mascarado, sai de trás da mata e o esfaqueia. É curioso como a voz das criaturas parece anasalada, tão abafada que parece sair de uma transmissão de rádio.
Claramente eles falam atrás de máscaras. Não houve um trabalho para melhorar esse som e esse defeito causa mesmo ambiguidade, já que eles parecem estar conversando através de rádio.
O longa segue estranho e bastante monótono e piora quando os bandidos encontram Bert. O grupo começa a torturar, mesmo que ele estivesse morto. O espectador é levado a crer que os personagens estão loucos, já que não percebem que batem em um cadáver, mas ele tem movimentos de uma pessoa viva.
Um deles arranca a camisa de Bert e percebe um grande ferimento costurado em seu peito, onde está parte do dinheiro. Ele é uma espécie de ressuscitado, de morto vivo bizarro, cheio de palha em seu interior. Só é detido depois que o decapitam.
Fora uma ou outra surpresa, o filme é repetitivo. As mortes ocorrem ou no escuro ou fora do alcance da câmera, não se varia muito além da obviedade de crucificar os mortos em meio ao milharal.
Os personagens são qualquer nota. Não há nenhum particularmente carismático, legal, simpático ou diferenciado. O que mais se aproxima disso é Kellie, que se torna de fato a garota final.
Dentre o elenco, se destaca Don Herbert, que é a voz do noticiário de rádio. Ele é mais conhecido como Sr. Wizard, apresentador de vários programas científicos de TV para crianças e adultos. Esse foi o último e único projeto cinematográfico dele.
A mitologia dos vilões é pouco explorada. Se manter o mistério é um artifício que gera curiosidade, a falta de cuidado com o visual torna o horror em algo derivativo e muito genérico, que tem um pouco de brilho quando a cabeça decepada de Bert fala com seu algoz, Curry (Michael David Simms) determinando que os vilões enlouqueceram.
Próximo do final há um baita susto, com um ataque em que Al age como zumbi, com uma maquiagem de ferimento grave no rosto. Esse ponto aliás é positivo, já que o efeito é muito bem-feito, assinado pelo maquiador Norman Cabrera, que Wesley conheceu por acaso, em uma loja de quadrinhos.
Ele passeia pelo avião, golpeia a própria filha e termina com Corbin (personagem do produtor Ted Vernon) matando ele usando uma granada, estabelecendo assim uma rima bem óbvia com início.
Ainda fecha a cena mostrando com o cachorrinho Dax comendo partes das pessoas, o mesmo animal que sumiu em boa parte do filme. Se tivesse mais momentos assim, o filme poderia ser memorável.
A Maldição dos Espantalhos tem alguns bons momentos, especialmente quando apela ao gore e a maquiagem dos undeads, mas não investe muito em criação de atmosfera assustadora, o que é uma pena. Vale a pena graças ao seu humor involuntário e a aura de obra mambembe, sendo assim um bom filho do cinema trash dos anos 1980.
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