A Colina dos Homens Maus é um filme de western italiano dirigido e escrito por Giuseppe Colizzi lançado em 1969. Ele é conhecido por vários motivos, especialmente por antecipar a onda de filmes localizados no velho oeste mais voltados para humor, além de ter em seu elenco figuras famosas, como Terence Hill, Bud Spencer e Woody Strode.
O longa é uma produção da Itália e conta a história de pistoleiros que são convocados para ajudar uma pequena cidade a se livrar das garras de um bandido rico e ganancioso. Esses malfeitores acabam governando o lugar com mão de ferro, explorando as riquezas locais e escravizando as pessoas que ali residem.
Esses matadores "heroicos" são auxiliados por artistas de circo e pelos habitantes da cidade, que acabam formando uma milícia improvisada, que busca se estabelecer como uma força de resistência.
Costumeiramente chamado de mais um filme de Trinity, o cowboy engraçado e faceiro, que é lembrado por ser viciado em feijão. Tal qual ocorreu em Trinity é o meu Nome, esse também é protagonizado por Hill, que vive Cat Stevens um pistoleiro calado e misterioso, enquanto Spencer interpreta Hutch Bessy, um homem forte, que aparece quase sempre cansado.
Produzido por Colizzi e Enzo D'Ambrosio, tem produção executiva de Manolo Bolognini e Edward L. Montoro, que não é creditado como tal.
O filme se chama originalmente La Collina Degli Stivali, no Brasil também foi chamado de Trinity: A Colina dos Homens Maus, em inglês chama Boot Hill, Trinity Rides Again ou Boot Hill: Trinity Rides Again.
Vale lembrar que apesar do nome em inglês, esse filme foi lançado antes de Trinity é o Meu Nome. Sua estreia foi em dezembro de 1969 enquanto o filme de Enzo Barboni foi lançado no final do ano de 1970.
Em espanhol pode ser encontrado como Vamos a Matar com Trinity e La Colina de los Muertos, em francês se chama La Colline des Bottes e em Portugal é A Colina dos Sarilhos.
A obra foi filmada na Espanha, no deserto de Tabernas, em Almería na Andalucia. Também houveram cenas em Fort Bravo Cinema Studios/Texas Hollywood em Almeria Paraje del Unihay e na Mini Hollywood, em Almería também na Elios Film em Roma e no Dino de Laurentiis Cimatographica Studios.
Colizzi fez Deus Perdoa...eu Não, Os Quatro de Ave Maria, Dá-lhe Duro Trinity e Fuga Fantástica de uma dupla maluca. Ele foi gerente de produção de A Arte de Dar um Jeito, Fantasmas em Roma e Omicron: O Agente do Espaço.
D'Ambrosio produziu Deus Perdoa...eu Não de Colizzi (que aliás, reúne Bud e Terence no elenco), além de Abuso de Poder, que ele escreveu também, além de Bo Ba Bu.
Hill fez A Quem os Deuses Desejam Destruir, Trinity Vai à Guerra, A Rainha do Gatilho. Já Spencer trabalhou em Um Herói dos Nossos Tempos, A Juventude é Quem Ama, Aníbal, O Conquistador e Hoje Eu...Amanhã Você.
Strode fez séries como Tarzan e Batman e Robin, depois fez os filmes Shalako, Era Uma Vez no Oeste. Anos depois esteve em Keoma e Rápida e Mortal. Ele recebeu cachê alto, por 10 semanas de trabalho, um considerável salto em relação a outros pagamentos. Se comparar com o que recebeu por Os Profissionais, filme de 1966, o aumento foi de mais de 70 vezes mais.
A narrativa começa curiosa, mostrando jogos de azar em uma espécie de saloon. Aparecem cowboys, que competem em uma mesa verde, jogando sua sorte nos dados.
No início já se nota uma música sensacional, composta por Carlo Rustichelli de O Homem de Palha (de 1958) e O Incrível Exército de Brancaleone. Ela é orquestrada por Gianfranco Plenizio, que conduziu também Cidade das Mulheres e La Nave Va, ambos de Federico Fellini.
A trilha também tem o destaque da música Sotto la panca, que foi composta pelo diretor e por Riz Ortolani, experiente e lembrado por conta dos filmes Sete Orquídeas Manchadas de Sangue, O Segredo da Cosa Nostra e O Segredo do Bosque dos Sonhos e que teve músicas resgatadas em Kill Bill e Drive
Cat e Hutch demoram a entrar em cena. Hill aparece depois de mais de meia dúzia de cenas, depois dos cinco minutos, misterioso, andando pela cidade, no escuro, durante a hora em que os circenses que "protagonizam" o longa estão no picadeiro.
Stevens é bem diferente de Trinity, inclusive na caracterização, já que é bem vestido, usa roupas novas, com cores combinando, discreto, todo baseado em tons cinza. O protagonista posterior de Hill era um maltrapilho, pobre e desvalido, lembrava alguém em situação de rua.
Os tiros que o homem distribui são abafados justamente pelos barulhos do espetáculo. Além dos personagens principais se destacam dois outros, que são Mamy, de Lionel Stander o dono do show e seu fiel parceiro, que finge ser um mero capataz, Thomas, de Woody Strode.
Eles são pessoas comuns, que fazem suas atividades diárias, até serem interrompidos pelos pistoleiros invasores. Como eles estão em trânsito, não precisariam se preocupar com o domínio dos personagens, exceção a uma interferência ou outra no trânsito deles.
Cat e Thomas se livram dos bandidos, mesmo que o primeiro esteja sangrando, quase morrendo, enquanto se esgueira dentro de uma das partes da diligência circense.
Curioso que esse tenha sido chamado de Trinity, já que o espírito por trás dele seja bem mais sério e dramático. Até os temas musicais de Rustichelli e Plenizio são nessa pegada, de valorizar mais as questões sérias, especialmente na primeira metade.
Spencer aparece depois da primeira meia hora, se apresenta como um homem folgado, que é acordado em meio a pescaria. Ele pega um peixe grande e vistoso, que será a sua refeição do dia.
Ele anda junto a um rapaz que eles acreditam ser mudo, chamado Baby Doll, personagem do italiano George Eastman, que na época assinava como Luca Montefiori (em algumas obras, era Luigi Montefiori) em Django, O Último Matador e dos futuros Keruak: O Exterminador de Aço e Mutação Maligna.
Eastman é lembrado por escrever obra como Chuck Mull, O Homem da Vingança, Destino Cruel e Keoma.
A trama deles ajudando uma cidade em apuros a se livrar de personagens sem escrúpulos e exploradores faz esse se assemelhar a boa parte da trama do clássico Vida de Inseto da Pixar, inclusive na exibição de ex-membros de uma trupe de circo.
A maioria das pessoas que trabalham no saloon e no comércio local do lugarejo onde ocorre a segunda meia hora de filme coincide com a população ser formada por antigos amigos de Thomas. Aparentemente todos ali trabalharam com essas artes.
Fora um ou outro momento envolvendo Bessy - que sem dúvida é o mais bufão dos personagens - é fato que o filme é bem mais sério que o comum a filmografia de seus "astros", que estavam em fase de ascensão, diga-se.
O combate na cidade é um bocado confuso, com números estranhos, entre explosões e ataques a um galinheiro, seguido de tiroteios. Os circenses conseguem prender o vilão sr. Honey Fisher, um dos vilões, feito por Victor Buono. Até as prostitutas atiram.
Na briga generalizada rola uma pancadaria tão bagunçada e generalizada que até o surdo fala, surpreendendo seu grande amigo.
Nesse trecho entra uma música parecida com a dos palhaços no picadeiro, mostrando que as lutas e os números artísticos têm a mesma raiz de ação.
Claramente esse A Colina dos Homens Maus foi uma das inspirações para as sessões de lutas do grupo de humor brasileiro Os Trapalhões, que inclusive, já chamaram Bud Spencer e Terence Hill para fazer aparições no programa da Rede Globo que eles produziam e atuavam.
Nesse filme já se nota uma química absurda dos protagonistas, antes até de Trinity é o Meu Nome. Os dois estariam juntos em quase vinte filmes, como os já citados Trinity e Deus Perdoa...Eu Não!, mas também em A Dupla Explosiva e Eu, Você Ele e os Outros. Curiosamente ambos desenvolveriam papéis mais engraçados e voltados para comédia, já aqui tudo é sério. Até as lutas com tapas de mão aberta são comedidos.
A Colina dos Homens Maus não é absurdamente engraçado e parece ter um problema de identidade, especialmente se comparar com o nível de humor dos outros filmes de Hill e Spencer. Acaba sendo uma boa projeção do que viriam a ser os western spaghetti mais bem-humorado, mesmo que haja poucas piadas nesse. É uma obra divertida e equilibrada, mesmo sendo um ensaio para todo um estilo de exploração temática dentro das histórias do velho oeste feitos sob a batuta do estilo de Bangue Bangue à Italiana.