Sorority House Massacre ou Mansão da Morte: Um surpreendente e idílico Filme de Matança

Sorority House Massacre ou Mansão da Morte: Um surpreendente e idílico Filme de MatançaSorority House Massacre é um filme de horror que tem uma sua missão primordial comentar sore a onda dos slashers dos anos 1980. O longa recebeu no Brasil o genérico nome de Mansão da Morte e é parte de uma "sub-franquia", iniciada em Massacre ou Slumber Party Massacre, tendo em comum com ela o mesmo produtor executivo e alguns membros da equipe de filmagem.

Outra semelhança com a obra de 1982 citada há também o fato de que ele foi dirigido por uma mulher, Carol Frank, que também escreveu esse roteiro e foi assistente de direção no filme original. Lançado em 1986 a obra explora vários clichês de histórias de assassino em série, solidificando a base de sua trama em uma história familiar, focada na vida de uma moça cujo irmão foge do hospício e volta a cometer homicídios.

O filme é produzido por Ron Diamond, que estreava na função. Ele ainda faria Guerra do Chocolate, Por Trás das Cenas, além de ser produtor durante um tempo da sitcom animada Os Simpsons.

O produtor executivo é Roger Corman e graças a uma sugestão dele ocorre um ato "cara de pau" já no material de divulgação. A bela moça que estampa esse pôster é Suzee Slater, uma atriz de corpo escultural e origem escandinava, mas que sequer aparece no filme.

Esse também tem a sua dose de exploração da nudez feminina, mas certamente é bem menos agressivo do que seus pares. Sendo um filme com a chancela Corman, era preciso ter esse tipo de apelação barata.

A protagonista é Beth, uma moça que quando menina sofreu um grande trauma, tendo sobrevivido a uma onda de matança. Agora ela está em idade adulta já, saindo da adolescência para entrar na universidade. Isso aparentemente faz despertar o assassino, que é seu irmão Bobby, interpretado por John C. Russell.

Essa ligação entre eles supostamente ocorre graças a fase da vida da menina, já que essa é a época em que as moças normalmente desabrocham sexualmente, adentram o alvorecer sexual. Ao menos é isso que o filme quer passar.

Ela é interpretada por Angela O'Neill, uma atriz de poucos trabalhos, que estreou aqui e esteve em poucas produções, como O Planeta dos Prazeres e Missão Alien.

Sorority House Massacre ou Mansão da Morte: Um surpreendente e idílico Filme de Matança

Com o tempo O'Neill mudou de área, mas seguiu trabalhando com cinema. Seus créditos mais frequentes são os de property master, que é o profissional que gere os adereços necessários para produzir um filme, trabalhando também com supervisão da continuidade e aparência dos cenários.

Nessa função ela trabalhou em alguns filmes famosos, como Ela é Demais, Beleza Americana e até no recente The Flash. Virou assistente de elenco também em Um Distinto Cavalheiro com Eddie Murphy, além de A Assassina, onde auxiliou diretamente a protagonista Bridget Fonda.

Beth é mostrada inicialmente em uma cama de hospital, onde conversa com uma senhora, que parece ser uma terapeuta. A sra. Lawrence (Mary Anne) pergunta a protagonista como ela chegou ali e ela narra sobre o dia de trauma, o trágico momento onde ela perdeu seus pais e viu seu irmão ir preso.

Considerando o histórico de filmes de horror que Roger Corman produzia, o início desse é surpreendentemente sério, já que remete ao passado, em uma boa cena na casa onde Beth e Bobby. Aparecem flashs apenas, breves trechos de lembranças esparsas e não muito claras.

Frank emula (e o faz bem) um estilo intimista, típico da filmografia de David Lynch. Toda a exploração aqui apela para um aspecto lúdico, macabro e bizarro.

Em uma das melhores cenas do filme Beth passeia pela casa antiga - que é a mesma do início do relato - e vê as velas em cima da mesa de jantar sangrando. Percebe então uma goteira vermelha, caindo a partir de um lustre no teto.

Ela vai até o andar de cima, procurando a origem do vazamento, mas não fica claro se aquilo foi literal ou não. Claramente há uma vontade da obra em referenciar ao surrealismo, de um modo que abarca influências do cinema italiano de horror tanto de Dario Argento quanto de Lúcio Fulci.

Frank dirige bem e está particularmente inspirada aqui. É lastimável que foi o único filme dirigido e roteirizado em sua carreira. O modo como ela registra o assassino é sempre criativo, mesmo quando beira o bizarro.

Beth enxerga facas saindo de espelhos, ela vê o irmão a perseguindo com a cabeça toda ensanguentada. Parece amaldiçoada, movida por uma sina terrível e inexplicável, que sempre coloca seu parente maléfico em seu caminho.

Sorority House Massacre ou Mansão da Morte: Um surpreendente e idílico Filme de Matança

Considerando que não trabalhou tanto como atriz, talvez fique a sensação de que O'Neill não é uma profissional dramaticamente bem-dotada, mas no que se exige dela, há uma entrega considerável.

Sua personagem permanece calada a maior parte do tempo, é uma pessoa reflexiva e sendo esse um comportamento da interprete ou da personagem, simples não importa, já que cabe muitíssimo bem. Ela parece mesmo ser um alguém perturbado.

Uma das possibilidades levantadas sobre a carreira dela é que ela sofreu boicote. É dado que sua personagem deveria participar de cenas de nudez, mas se recusou a se despir diante da câmera. A desculpa da produção é que os momentos de sua personagem estavam no roteiro, e não havia o que fazer.

Para se proteger dessa possibilidade, ela ameaçou sair do set e como o cronograma de filmagem estava apertado - o filme foi rodado em apenas 17 dias - os produtores concordaram em excluir ela das cenas sem roupas. Supostamente após isso ela ficou queimada, não surgindo mais convites após esse.

A outra figura central do filme é mostrada de maneira misteriosa, inclusive no hospital psiquiátrico, onde está internado e onde é estudado por especialistas. Demora bastante até que o rosto de Russell seja mostrado novamente, ele aparece na hora da matança e não mais.

Ao finalmente aparecer em plenitude é fácil que o público passe a sentir medo dele, não só por conta de sua expressão ser parada e fria, mas também pela expectativa de saber como estava o monstro todos esses anos. Ele aparece com o rosto limpo, não há cortes ou cicatrizes, ele é o mesmo, só está levemente envelhecido.

Aparentemente ele tem poderes mediúnicos. Em uma sessão terapêutica ele vira para trás, olhando diretamente para a câmera. Fica a impressão de que ele está quebrando a quarta parede, e pode ser encarado assim. Na prática ele se vira para enxergar sua irmã, que está presente ali em pensamento.

Resta a dúvida se essa sequência foi apenas imaginada por Beth ou se ela estava ali presente graças a uma espécie de conexão mental com o parente. A sequência assusta e é muito bem pensada, sendo assim uma ideia muito bem explorada.

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Como esse é um filme que tem o dedo de Corman, é natural que ele seja apelativo com relação ao corpo das atrizes. Passados 20 minutos algumas moças aparecem sem a parte de cima da roupa, bem timidamente aliás, especialmente se comparar com a superexposição de Slumber Party Massacre.

Esse parece ser o estopim, o gatilho para que o assassino se libere. Depois do exibicionismo ele passa a atacar sem cerimônia, se aproveita das brechas no hospital. Ainda houve um cuidado para mostrar as falhas do sanatório, com uma segurança frouxa antes até da ação do vilão.

O sujeito ao sair entra em uma loja de armas, quebra o vidro e toma para si alguns equipamentos. Não há como negar que existe uma grande conveniência. Aparentemente todas as fragilidades da sociedade moderna, capitalista e armamentista dos Estados Unidos colaboram para que Robert consiga se armar antes de sua grande missão.

Não fica muito claro qual foi a motivação dele em tentar sair. Aparentemente tinha a ver com o fato da irmã já estar crescida, sendo assim uma pessoa provavelmente de vida sexual ativa. No entanto, não havia nada ali determinando que houve um problema patológico dele com relação ao coito.

Ele então rouba um carro, tal qual a ação de Michael Meyers em Halloween: A Noite do Terror, inclusive no que toca a perspectiva de usar a filmagem em primeira pessoa. Outra semelhança clara dessa obra com a franquia citada é a perseguição que ele faz a irmã, que se assemelha demais ao plot do até então canônico Halloween 2: O Pesadelo Continua, onde é dado que Laurie era irmã do vilão assassino.

Há alguns apelos a clichês também, inclusive com momentos onde pessoas contam histórias assustadoras no escuro, mas aqui usam velas, e não uma fogueira.

Os amigos de Beth decidem fazer uma regressão com ela. Do mais absoluto nada começam um processo de hipnose e aqui descobrem que no passado ela era chamada de Laura Henkel, tal qual Bobby chama.

O motivo dessa sessão é dúbio, pode ser só porque ela estava baixando o astral geral, ou de fato há ali no grupo ao menos uma amiga que realmente se importa com Beth/Laura. Como as personagens secundárias são todas derivativas, as duas possibilidades são reais.

As visões da protagonista vão aumentando a incidência perto do fim, é como se ela tivesse uma sensação premonitória. Com o aproximar de seu irmão ela passa a se enxergar cada vez mais frequentemente como criança, inclusive enxerga a si e a outras parentes como crianças, com vestidos clássicos.

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As sequências não fariam sentido em um filme mais retilíneo, mas como esse apela para o surreal, cabe bem. O processo de regressão aparentemente ocorria já dentro da psique da personagem, mesmo antes da interferência hipnótica.

Bobby ataca sem critério, simplesmente mata os adolescentes, por motivos banais, vai passando por cima deles, especialmente sobre os que são sexualmente ativos, matando violentamente a todos, especialmente os que transam.

Seu jeito de andar é ereto e altivo. Junte essa postura as suas roupas pretas e fica difícil de não comparar ele a forma The Shape que Michael Myers carregava no clássico de John Carpenter.

Frank sabe construir a atmosfera de mal inevitável. Tempera bem a sensação de desolação colocando medo e suspense como molas propulsoras de sua história. Ela foca bem os ataques do "monstro" e registra seus golpes de faca de maneira violenta e certeira. Sempre são secos, crus, com algumas gotas de sangue escorrendo pela lâmina.

A cinematografia de Marc Reshovsky valoriza os planos escolhidos pela diretora, capturando a aura de sonho interrompido em vários momentos. O diretor de fotografia tinha experiência em videoclipes, trabalho com Bon Jovi e com Ozzy Osbourne. É fácil notar semelhanças do longa com alguns clipes bem inspirados desses musicistas.

Outro pequeno aspecto que acrescenta demais é a consistência do sangue. A coloração dele é peculiar, de um vermelho tão escuro que é quase preto. É viscoso, gorduroso, é peculiar, reforçando assim a aura de irrealidade, como se fosse parte de um sonho mesmo.

A face de Robert é assustadora, tão sem emoções humanas que lembra mesmo uma máscara. A expressão de Russell acerta o alvo de parecer um matador imortal, impassível, uma máquina de cometer assassinatos.

Aos poucos os homens caem, ficando apenas as mulheres vivas, estrutura essa herdada de Slumber Party Massacre, que inclusive, é exibido dentro do filme. O maníaco é rápido, vê seu alvo e simplesmente esfaqueia o coração, com dois ou três golpes que perfuram o tórax e exibem o sangue sobre a roupa da vítima.

Presente e passado se confrontam quando Bobby e sua irmã estão frente a frente. A moça fica paralisada, aguardando o ato violento do homem, é salva no último momento por Linda (Wendy Martel), sua amiga mais próxima e a que entre as meninas genéricas, é a que mais parece alguém real, com camadas e profundidade. Curiosamente ela tem como retribuição a morte, uma vez que subestima o serial killer.

Sorority House Massacre é uma produção bem mais criativa que a média, lida muito bem com os clichês da época e não fica refém deles, ao contrário, já que consegue estabelecer bem a sua dramaticidade, utilizando os chavões a seu favor. É uma pena que as pessoas que realizaram o filme não tenham seguido no ramo, já que poderiam estar trabalhando até a atualidade, sem sombra de dúvida.

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