Jogos Mortais VI é um filme de horror que surfa na onda do torture porn e que dá sequência ao legado de John Kramer como o assassino em série Jigsaw. Lançado em 2009, o longa é bastante criticado e é relegado a pecha de ser uma sequência caça-níquel. Mais uma vez a franquia que mudou de direção, cabendo ao papel para Kevin Greutert, que até então era montador dos outros filmes.
Essa foi a estreia do sujeito na função na direção, ao menos em longas-metragens. Ele ainda conduziria Jogos Mortais: O Final, Jessabelle: O Passado Nunca Morre, A Última Premonição e o novo Jogos Mortais X.
O roteiro mais uma vez é da dupla Marcus Dunstan e Patrick Melton, com a dupla se utilizando de pontas soltas deixadas pelos roteiros antigos de Leigh Whannell. Dessa vez a narrativa acompanha Dan Erickson, personagem introduzido em Jogos Mortais V, que é novamente interpretado por Mark Rolston. Ele investiga o desaparecimento do agente Sthram do FBI.
Para isso, o policial verifica de perto o cotidiano e rotina do detetive Mark Hoffman de Costas Mandylor e nesse ínterim, traz algumas surpresas na narrativa, especialmente no que tange o discipulado que o Kramer de Tobin Bell fez.
O longa é produzido pelo mesmo trio dos outros cinco filmes, com o finado Gregg Hoffman, Mark Burg e Oren Koules. A produção executiva segue com o sexteto Peter Block, Jason Constantine, Daniel J. Heffner, Stacey Testro, James Wan e Leigh Whannell.
O filme foi feito pela Twisted Pictures, distribuído pela Lionsgate, foi rodado em Ontario, Toronto, no Canadá. Greutert deixou o cargo de montador para Andrew Coutts, que trabalhou no departamento de edição de filmes anteriores, como no quinto Jogos Mortais, sendo montado também em Nurse: Enfermeira Assassina e em séries como Punho de Ferro, Deuses Americanos, Star Trek: Picard, Star Trek: Discovery e Star Trek: Strange New Worlds, do qual é c0-produtor.
Esse sexto capítulo da franquia quase foi uma obra em 3-D. A ideia seria converter o produto depois de rodado, mas Greutert ficou bastante contrariado em fazer isso, pois não havia feito storyboards nenhum com movimentos que justificasse a conversão. A ideia foi abandonada e deixada para o próximo ano.
Aparentemente a fórmula estava se desgastando, tanto que esse foi o filme da franquia de menor bilheteria até hoje. Todos as outras parcelas da saga arrecadaram mais de US$ 100 milhões de bilheteria até então, mas esse não passou dos 70 milhões.
O contratempo alterou todo o planejamento da Twisted Pictures, a ideia é que Saw 3D fosse dividido em dois longas, mas optaram por apenas uma obra só, cujo declínio visual se acentuou horrores, também por conta da dificuldade de achar um diretor, que variou entre David Hackl e esse Greutert. Ainda assim o sétimo longa arrecadou bem mais que esse, diga-se.
Dois motivos ajudam a explicar o desempenho financeiro aquém: a concorrência com Atividade Paranormal, que se tornou o novo queridinho dos fãs de horror, e também o fato dele não ter sido exibido para a crítica, não tendo divulgado os famosos screeners para a imprensa especializada.
Sem textos prévios, não houve burburinho nem negativo nem positivo e isso pode ter ajudado a afastado o público.
Jogos Mortais foi uma franquia que cresceu junto com a popularidade da internet. Desse modo, haviam várias formas criativas de interação com o espectador e o fã ávido, inclusive uma exploração de certas modas.
Uma dessas foi o ingresso de Tanedra Howard, vencedora de um reality show chamado Scream Queens, veiculado em 2008 pelo canal VH1. Tanedra interpretou Simone, uma das vítimas do jogo, mas não teve grande destaque, como aliás foi comum com quase todos os jogadores da vez.
O começo da narrativa é curioso, parece o de um episódio rançoso, de um seriado prestes a ser cancelado. Todos estão cansados, até mesmo o boneco Billy parece estafado. Na gravação ele engasga, parece estar sofrendo de estafa, explica rapidamente a armadilha que envolve duas pessoas.
Dessa vez não há muita preparação, Jigsaw manda as vítimas cortarem a própria carne e a sequência possui uma exposição de gore considerável, com efeitos muito bons no início, mas que tem sua importância diminuída graças a edição repleta de cortes, aspecto que já era ruim antes e que piora nessa nova gestão de Greutert.
Não se demora a mostrar Hoffman analisando os restos de Peter Sthram, o sujeito interpretado por Scott Patterson, que era agente do FBI recém-falecido após os eventos filme cinco.
Aos poucos é mostrada a agência de seguros Umbrella Health, uma corporação que trabalha com planos de saúde. Em comum com a contraparte homônima de Resident Evil, há um aspecto de vilania nessa empresa, especialmente na figura de Will Easton, o chefe de operações interpretado por Peter Outerbridge de Jamaica Abaixo de Zero e Xeque-Mate.
Desde o primeiro momento em que ele surge parece suspeito, com atitudes reprováveis, para dizer o mínimo.
A Umbrella vende planos de saúde que cobram caro, mas que trata de negar cirurgias caras. O roteiro pega o exemplo de Harold (George Newbern), sujeito que pagou um plano premium, por dez anos, que acabou morrendo devido a uma intervenção negada.
O script é pouco sutil na exploração do drama, tal qual já vinha ocorrendo na saga, ainda mais depois da saída de James Wan. O trecho de apresentação dos personagens que estarão na armadilha principal então é expositivo até o talo.
A câmera passeia pelas dependências do prédio, fazendo questão de mostrar cada pessoa que trabalha ali, até o faxineiro é enquadrado, sendo depois punido como alguém que não dava valor a vida por conta de uma besteira, diga-se.
Não há como negar que existe ali uma crítica ao modo com os Estados Unidos lida com a saúde dos seus cidadãos, visando apenas o lucro, mas o modo tosco com que o comentário é apresentado depõe contra o próprio texto.
A inexistência de um modo estatal de lidar com questões pontuais como tratamento de câncer (no caso de John Kramer) permite que lobos capitalistas façam o que querem com os seus clientes. Claro que aqui se exagera ao ponto de parecer uma caricatura, mas o espírito da crítica não é ruim.
A trama policial é que é meio pobre se o espectador for generoso. O princípio da investigação já ocorre com um argumento difícil de engolir, que passa pela recente mudança de trabalho de Erickson trabalha, que se retirou do regime de burocracia para investigar os espólios do assassino em série.
No entanto, o que chama a atenção é forçada de barra que é a tentativa de surpreende público e personagens (especialmente Hoffman), ao revelar que a agente Perez (Athena Karkanis) a armadilha do outro filme, sobreviveu e foi convenientemente escondida esse tempo todo.
Esse retorno é bem estranho, não só por trazer ela de volta, depois de todos pensarem que ela caiu em uma armadilha, mas também por conta de isso ser um MacGuffin barato, já que além de não interferir em nada na trama, também não ajuda o público a ficar ludibriado com a questão.
A contribuição dela se restringe a descobrir que o corte em um dos corpos, no formato de peça de quebra cabeça é diferente, cortada com faca, tal qual foi com Seth Baxter, o homem que matou a irmã de Hoffman.
Provavelmente Dunstan e Melton queriam causar o mesmo impacto que se deu quando Peter Sthram voltou vivo após sua quase morte em Jogos Mortais IV, mas não há nem de longe o mesmo impacto ou surpresa.
Também há um destaque estranho para uma jornalista sensacionalista, que eventualmente aparece. Ela é Pamela Jenkins, personagem de Samantha Lemole, que é introduzida no início, parecendo que teria destaque, mas que é pouco aproveitada, sendo resgatada apenas no fim, para ter uma forte ligação com um dos jogadores da disputa mortal.
As possibilidades de curvas dramáticas mais assertivas são pouco desenvolvidas. Não há muito mistério estabelecido ou ambiguidade instaurada. O roteiro é preguiçoso, óbvio e a maioria das atuações acompanha essa falta de qualidade, especialmente no que toca Jill Tuck, a esposa de Jigsaw, feita por Betsy Russell.
Nem mesmo as gravações do assassino serial tem peso, até por parecerem ter sido filmadas sem nenhum esforço da parte de Bell. John Kramer nem se dá ao trabalho de esconder quem é, na fita que faz para William e a expressão do ator é de completa estafa.
Não parece ter qualquer empolgação em aparecer mais uma vez em uma sequência. O ator estava tão sem paciência que parecia ser ele uma vítima de um jogo sádico da Twisted Pictures, que exigiu seu retorno.
A armadilha conjunta é igualmente fraca, com uma solução bem óbvia, incluindo todos os trabalhadores da Umbrella, até o faxineiro já citado, que foi raptado e colocado naquele sistema basicamente por que ele tem pressão alta e insiste em fumar.
O comentário sobre a privatização da saúde é pontual, mas em determinado ponto se torna perigoso, já que acaba dando lastro para normalizar métodos e tratamentos com chances de acerto mínima, com alternativas experimentais que altas chances de dar errado sendo tratadas como algo comum.
Todo o discurso de sobre tratamentos experimentais sem eficácia comprovada acaba parecendo algo plausível, como uma alternativa viável. Sendo Will o vilão que nega essa possibilidade a John Kramer, fica parecendo que qualquer pessoa que tem apego a ciência é um alguém malvado como ele.
Como Kramer tenta dar uma lição de moral nesse aproveitador, a mensagem que passa é que esse roteiro é anticiência. O agente da seguradora é pouco crédulo e diz que se John pagar o tratamento por fora, perderia os privilégios do plano. Ao menos nesse caso, ele tem razão, não está sendo deliberadamente desonesta, ao contrário.
Ao menos essa questão de métodos de cura não usuais serviu de base para uma ideia futura e bem aproveitada, já que o plot de Jogos Mortais 10 é justamente esse. De qualquer forma, não era uma ideia tão genial que só aconteceria graças a esse micro comentário.
Outro aspecto porco é o retcon na motivação de Amanda, que é mostrada como cúmplice de Cecil na morte do bebê Gideon, o filho de John Kramer com Jill Tuck.
No passado Hoffman descobriu isso e usou o fato para chantageara garota, enviando uma carta para ela. É o tipo de intervenção que não faz muito sentido e que não acrescenta nada, só mostra Hoffman como alguém fanático por Jigsaw, desesperado pela atenção do mentor. Não existia competição nenhuma, até por conta de a personagem estar morta desde Jogos Mortais III, não há nem motivo para lamentar isso.
Antes do lançamento do filme, Mandylor não sabia se seu personagem terminaria vivo, devido às filmagens de vários finais alternativos. Em um deles, havia uma armadilha de vingança montada pelo Agente Especial Strahm, mas ela foi obviamente descartada.
Até a tentativa de terminar de forma poética, com a armadilha de urso invertida é pífia. Fica claro que Hoffman vai se livrar da máscara mortal, não há quase nenhuma surpresa nisso já que ele faz o descarte muito rapidamente. Também agrava o fato de Russell ser uma atriz limitada, tornando sua participação risível especialmente no final, quando ela tenta usar a frase de efeito da franquia, o tal game over. A sequência possui uma entonação digna de teatro juvenil.
Jogos Mortais VI foi muito mal falado e não à toa, já que atalhou o caminho rumo a decadência da franquia. Houve uma óbvia piora entre a parte cinco e quatro, mas o declínio desse para o anterior é ainda maior, não foi sem razão que ele não teve o êxito financeiro. Vale pelo gore e pelo desempenho de Mandylor, que parece ser o único ator ainda com paciência para trabalhar na saga.
Ótima análise! Concordo que “Jogos Mortais VI” marcou um ponto baixo para a franquia. A falta de inovação e a repetição de fórmulas cansadas realmente não ajudaram. Espero que os próximos filmes tragam algo mais refrescante para a história!
Ótima análise sobre “Jogos Mortais VI”! Concordo que a franquia parece estar se distanciando do que a tornou tão impactante no início. Seria interessante ver uma volta às origens e explorar novas direções para reviver a essência que conquistou tantos fãs. O que vocês acham que poderia ser feito para revitalizar a série?
Ótima análise! Realmente, “Jogos Mortais VI” parece ter trazido a franquia para um ponto crítico. É triste ver como a originalidade foi deixada de lado, mas ainda assim é interessante discutir o que poderia ser feito para revitalizar a série. Espero que venham novas ideias para os próximos filmes!