O Exorcista explora um drama familiar bizarro e terrorífico, em formato de romance. Grande sucesso de público e crítica, tornou-se um fenômeno literário e elevou o seu autor William Peter Blatty ao patamar de grande escritor, tanto que o mesmo lançou outras histórias que iam na mesma toada, incluindo aí A Nona Configuração e Legião, que eram livros ambientados na mesma linha cronológica e temática.
Lançado em 1971, narra a história de uma família formada por uma mãe que é uma atriz famosa e por uma filha que apresenta sintomas de dupla personalidade e neurose, que pode ou não ser vítima de uma possessão demoníaca.
Apesar de ter sido a base para O Exorcista de William Friedkin, o caráter do romance em si é bem mais dúbio do que o que foi visto nos cinemas dois anos depois,
Muito se fala que Blatty se baseou em uma história real, de um garotinho possuído. O autor era um católico fervoroso, segundo dizem, e queria falar a respeito do poder sobrenatural, por isso buscou falar a respeito dessa questão, mesmo que permita uma leitura mais cética da história.
Publicações
A obra foi publicada pela editora americana Harper & Row em 1971, com mais de treze milhões de cópias vendidas.
Um pouco sobre as versões brasileiras
No Brasil foi lançada antes até do filme, em 1972, pela editora Nova Fronteira, de Carlos Lacerda. Seu enorme sucesso fez com que os lucros obtidos pudessem patrocinar o lançamento da primeira edição do Dicionário Aurélio.
Essa versão foi traduzida por Milton Persson, que estampou também outras edições futuras, versão essa que teve 323 páginas. O livro também passou pela editora Europa-América em 1975, com tradução de Maria Amélia O'Neill, pela Edibolso em 1976 e pela Abril Cultural em 1983, traduzidos por Persson.
Saiu também pela Gailivro em 2010, traduzido por Pedro Garcia Rosado, pela editora Agir em 2013, feita por Caroline Caires Coelho pela Nova Fronteira. Atualmente os direitos estão com a HarperCollins Brasil, com duas publicações (2016 e 2019) também traduzida por Carolina Caires Coelho.
A última edição inclusive é bem bonita, com motivos negros e verdes na capa, bordas, contracapa e parte interna, além de conter vários extras, material assessório, prefácio, etc.
Foi dito na época da publicação que o romance se baseava em uma história real, mas isso jamais foi confirmado por Peter Blatty ou qualquer outra pessoa.
Quem foi William Peter Blatty:
O autor ficou conhecido por uma grande fama no ramo literário e no cinema, acumulando funções de roteirista, produtor e até cineasta. O filme O Exorcista é a sua obra mais conhecida, obviamente. Ele foi não só o escritor original, mas também roteirizou a adaptação de cinema.
Seus romances anteriores incluíram Which Way to Mecca, Jack? de 1959, John Goldfarb, Please Come Home de 63, I, Billy Shakespeare! de 65 e Twinkle, Twinkle, "Killer" Kane de 1966.
Após O Exorcista de 1971 ele fez A Nona Configuração em 1978 e O Espírito do Mal de 1983, que também é conhecido como Legião, como dito antes, esses dois livros se passam na mesma linha do tempo desse romance.
Ambos também se tornaram filmes, respectivamente A Nona Configuração, lançado em 1980 e O Exorcista III de 1990, ambos dirigidos por Blaty, inclusive uma versão alternativa desse último, chamada apenas de Legion ou Legião.
Na época das filmagens do filme de 1973, ele fez parte da produção, inclusive na função óbvia de produtor. Fez essa mesma função em A Nona Configuração.
Outros títulos escritos por ele foram Demons Five, Exorcists Nothing: A Fable de 1996, que foi revisto e re-publicado em 2013, com o título Demons Five, Exorcists Nothing: A Hollywood Christmas Carol.
Também Elsewhere de 2009, que foi publicado originalmente como novela em 1999 em Al Sarrantonio's 999: New Stories of Horror And Suspense anthology, Dimiter de 2010, revisto e republicado em 2013 com o título The Redemption, sua autobiografia I'll Tell Them I Remember You.
Escreveu livros de não ficção, incluindo The Exorcist': From Novel to Screen 1974.
No cinema além das obras já citadas, escreveu o roteiro de O Homem do Diner's Club, Um Tiro no Escuro com Peter Sellers, O Harém das Encrencas, A Deliciosa Viuvinha com Warren Beatty, Papai, Você Foi Herói?, O Fabuloso, O Grande Roubo do Banco, Lili, Minha Adorável Espiã e alguns episódios de Insight.
O encontro com Friedkin e outras adaptações do texto
Em uma festa de lançamento do livro, o autor entregou uma cópia do mesmo a Friedkin.
O cineasta leu, se apaixonou e rascunhou um roteiro que focava demais na experiência policial. O autor não gostou e foi Friedkin quem sugeriu que ele mesmo escrevesse o script.
Teve adaptados seus textos na série de Tv de O Exorcista 1ª Temporada e O Exorcista 2ª Temporada, fora outras obras ligadas a franquia O Exorcista, como a bomba recente O Exorcista: O Devoto.
A narrativa literária
Antes do índice, que fala como serão as páginas, há uma estranha afirmação:
Não há outra explicação para algumas das coisas que os comunistas fizeram. Como o padre que teve oito pregos enfiados na cabeça...e também as sete crianças e a professora. Eles estavam rezando o Pai Nosso quando os soldados atacaram. Um deles sacou a baioneta e arrancou a língua da professora. O outro pegou hashis e os enfiou nos ouvidos das sete crianças. Como tratar casos assim?
A frase é atribuída a Tom Dooley, que parece ser uma pessoa, mas não fica claro quem é. Esse é o nome de uma tradicional canção folclórica da Carolina do Norte.
O romance é dividido em várias partes: Prólogo, O Começo, que tem 4 capítulos, A Beira com 6 capítulos, O Abismo, de apenas 2 capítulos, E Que Meu Apelo Chegue a ti, com 1 capítulo e Epilogo.
O prólogo
O prólogo se passa no Iraque, acompanha o Padre Merrin, que está em uma escavação arqueológica, em um dos seus trabalhos de pesquisa. Em meio a sua procura, ele enxerga uma estátua, que vem a ser do espírito do sudoeste.
Já no início há uma boa descrição da entidade e do ídolo correspondente a ela, que é Pazuzu, um espírito que é a personificação do vento.
No palácio de Ashurbanipal há uma estátua de calcário in situ, com asas desgrenhadas e garras nos pés. É mais detalhada que nos filmes, já que tem um pênis à mostra, inchado grande e ereto, além de uma boca aberta num sorriso feroz.
Obviamente que se optou por colocar a "imagem" vestida na versão de cinema, afinal, era uma figura sacra. William Friedkin já ousou em muitos aspectos, preferiu se guardar nesse quesito.
Leitura fácil e convidativa
Blatty ganha o leitor na descrição. Ele sabe estabelecer uma atmosfera de comoção e medo, antes mesmo de começar a mostrar o que aconteceria de errado com a família sofredora e protagonista.
Em Washington ele descreve antes as sensações, depois o cenário da casa nova alugada, para só depois introduzir os novos personagens, já deixando patente o horror que cairia ali.
Moram ali a atriz Chris McNaill, sua filha de 11 anos Regan (apelidada de Rags) e dois empregados, o casal estrangeiro (suíços) Karl e Willie. Chris estuda o roteiro de seu novo filme, um remake de A Mulher Faz O Homem.
Ela é obviamente uma atriz fictícia, mas sua descrição dá conta dela ser parceira de trabalho de Edward G. Robinson - ator dos filmes de máfia, como Alma no Lodo e O Último Gângster entre outros, também esteve no épico Os Dez Mandamentos.
Uma família com traumas, antes mesmo desse causo
Ela teve um filho antes, Jamie, que morreu aos 3 anos. Depois disso, ficou traumatizada e prometeu que não se dedicaria mais como se dedicou ao filho e a seu antigo marido, Howard.
Essa parte é importante de ressaltar, já que tanto o livro como o roteiro do filme utilizam o argumento de que talvez a chegada do demônio a essa família tenha ocorrido graças a brecha de ser essa uma família incompleta, já que Howard não está mais casado com a atriz.
Seria a morte do menino o motivo da separação dos dois? Não é dito nada, mas a sugestão existe.
Vale lembrar que nos anos sessenta e setenta se discutia demais a respeito da formação familiar clássica, sobre legalização do aborto, divórcio etc.
Chris além de ter um nome unissex, não tem o marido consigo, vive procurando figuras paternas para Regan. Uma das leituras é de que se a família não fosse "disfuncional" ou incompleta, não haveria problemas, eles não seriam vítimas do que foram.
Chris se classifica como uma pessoa deprimida, mas convive há anos com a condição. Ela odeia seu atual trabalho com o diretor Burke Dennings, apesar de ser bastante amiga dele. Está sempre ao lado de sua auxiliar, Sharon Spencer, que é professora particular de Regan e é auxiliar dela, tanto que mora com a família, eventualmente ao menos, já que nem sempre dormia na casa em Washington.
Chris ouve barulhos à noite, acha que podem ser ratos, mas o porão está limpo, segundo Karl. Ele sugere que o som vem dos encanamentos, mas a moça segue achando que não.
Alguns elementos que ficariam importantes mais a frente, são introduzidos de maneira parcimoniosa na primeira parte. Ainda no primeiro capítulo é dado que Chris conhece alguns padres locais.
Mostra também que ela trabalha muito e se interessa por assumir um papel de direção de atores e para isso ela conversa bastante com Dennings. O personagem é bastante rico aqui, ao contrário da versão cinematográfica. É descrito como alguém genioso, arredio no começo de uma relação, mas simpático com quem tem intimidade, incluindo Chris nessa classificação, especialmente quando ela passa a pedir dicas para ele.
A nova configuração da casa, a tábua ouija e ausência de Sharon
A aproximação de Burke e Chris faz Raggs sentir ciúme, relembrando a memória de seu pai, além dela assumir que usa uma tábua Ouija para se divertir e passar o tempo. O brinquedo foi comprado por Chris, para usar nas reuniões sociais regadas a bebida, mas foi encontrado pela menina.
Também se descreve que Shar começou a namorar pouco antes da ação do livro começar. Ela então passa a morar em um apartamento/hotel, pago pela patroa.
O receio da filha que sua mãe se case novamente, as brincadeiras com o espiritual e a possível ausência da mãe são alguns indícios de clichês de horror que o escritor estabelece e demarca. Blatty também conversam bem com outras questões de ordem da problemática mental.
O padre Damien Karras é introduzido no 2º capitulo. Sua descrição mostra ele impaciente, até um pouco intolerante com uma pessoa em situação de rua, que só de olhar já sente asco, descrevendo cheiro e aspectos sujos bem detalhados.
Nesse ponto a escrita de Blatty é tão rica que quase tem textura. É fácil notar que as pessoas se mantém distante daquele sujeito e dado isso, Karras entregar o dinheiro que usaria no táxi em Manhattan, para se ver livre dele, faz sentido.
Damien vai até sua cidade para conversar sobre sua falta de fé, passa por uma crise, em parte causada por conta de sua vida pessoal, já que passa por uma provação, uma vez que sua mãe está mal de saúde.
Monotonia e incômodo na vida de Chris
Os trechos da história de Chris são claramente mais arrastados. Seu estado constante de tédio parece contaminar a narrativa. Os indícios de que algo errado se dá com Regan são rapidamente descritos.
Ela sente dor de cabeça, fica irritada, tem dificuldades na escola e reclama que sua cama "balança". Junto ao médico consultado, ela usa palavras de baixo calão, fala para ele manter os dedos longe de sua buceta, fato que contradiz sua postura anterior, já que ela não falava palavrões.
Chris segue com receio de médicos desde que Jaime morreu. Confia basicamente em Marc, o seu doutor particular. Enquanto ele não pudesse atendê-lo, Rags seguiria sem ser consultada.
Para se distrair do estado da filha, ela organiza uma festinha particular, que terminaria de modo icônico.
A reunião inclui Dennings, um diretor de segunda unidade, um senador e sua esposa, um astronauta, Mary Jo, que é uma amiga meio esotérica de Chris e claro, o Padre Dyer. Nesse ponto, o "elenco" parece a descrição de uma piada velha, "um português, um papagaio, um árabe..." mas o que ocorre aqui é bem sério.
Dennings faz passar vergonha, briga fisicamente com Karl - chamando-o de nazista, só por conta de ele ser estrangeiro, confundindo ele, achando que ele era alemão - faz piadas sobre pelos pubianos com a esposa do político.
As fofocas são, na maioria das vezes, conversas chatas, de gente da elite, exceto a conversa sobre as missas negras, que seriam ritos profanos, de uma suposta igreja maléfica, que teria bases no mundo inteiro e também por ali, perto da faculdade de Georgetown.
Um vislumbre sobra a Missa Negra
Sobre o tal "culto", a discussão da Missa Negra, uma espécie de inversão Satánica da missa católica.
Dyer é bem generalista, em sua explicação diz que o culto envolve sacrifício e sangue, às vezes vandalismos em frente a igreja, que foi inclusive brevemente referenciado no filme, na cena de vandalização de uma imagem de Maria, mas ele só cita a tal profanação obscena e aparentemente inofensiva a imagem, segundo ele, Karras entende do assunto, até escreveu sobre.
Dyer cita também que os estudos que Damien fez sobre esse secto, até detalha que suas anotações seguiam um ponto de vista psiquiátrico. Pouco depois de ser citado, justamente quando o assunto se intensificaria, Regan aparece, fala para o astronauta que ele vai morrer se subir ao espaço e se urina, na frente de todos.
Desculpas, dupla personalidade e afins
A desculpa oficial da mãe é que ela sofre sonambulismo, mas Mary Jo vê ligação daquele evento com a tábua Ouija. Chris é uma mulher incrédula, não acredita em nada que não esteja no campo do materialismo, segue sem levar em consideração as falas da amiga.
Como Regan continua a dar sinais péssimas de saúde, Chris desiste de esperar o seu médico e leva ela para ser tratada por doutor Samuel "Sam" Klein, que eventualmente, chama o neurologista Richard Coleman para ajudá-lo no caso.
A dupla analisa os exames de Regan, no hospital, mas não chegam a conclusão alguma, mas isso é subalterno, já que recebem uma ligação da casa da família. Uma vez lá sobem e vem o momento em que a menina se debate na cama e mostra a tal "dupla personalidade", que é um dos casos prováveis, mesmo que hajam poucos diagnósticos comprovados da doença pelo mundo,
Ela modula voz, profere impropérios, se oferece sexualmente aos homens, até mostra suas partes íntimas.
Blatty brilha em suas descrições, é difícil não ficar tenso com toda essa construção sentimental, não só graças ao terror familiar, mas também com a violência bizarra, descrita nos exames invasivos que Regan sofre.
Ele usa detalhes bem sórdidos, é grosseiro, nojento, permite que a desesperança siga forte como a principal sensação para o leitor.
Eles procuram a razão daquelas atitudes em fungos, perguntam se Chris não tinha alucinógenos em casa, afinal, ela é da área da arte e o pensamento geral das pessoas é que todo artista se droga. Nada acham, depois que ela vem com a negativa dessa possibilidade, encaminham então para um psiquiatra.
O crime
Até então não haviam muitos problemas, fora o estado de saúde de Rags - que aliás, piora gradativamente - até que Chris recebe a notícia de que seu amigo Burke faleceu.
Ela lida mal com o luto, mas não consegue trabalhar esse sentimento, já que logo depois ocorre a "cena" da cama do quarto de Regan balançando, como se fosse em um terremoto.
Em A Beira, Regan aumenta sua participação como pessoa difícil de controlar. Segue reclamando de Capitão Howdy, que era o nome da entidade que conversava com ela através da tábua. Ela afirma que continua falando com o espírito, mas sem a tábua.
Aos poucos, sua mãe esgota os apelos a médicos, e decide ir a um psiquiatra, mesmo à contragosto. Logo após isso, a menina anda com as costas para trás, toda retorcida, que na versão em filme chamada de O Exorcista: A Versão Que Você Nunca Viu utilizou, como um dos momentos mais gráficos.
Chris tem que lidar com uma dupla frustração, já que além dos problemas com sua filha, ainda perde o seu amigo, que morreu graças a um acidente bastante suspeito, que inseriu também um personagem, o detetive William F. Kinderman, que seria detalhado mais à frente.
O "ser" se nomeia
No psiquiatra Regan age de forma bestial. Hipnotizada, a menina faz o médico se comunicar com o "homem" que nela habita. Se chama Meugninuosue, que significa eu sou ninguém. Responde em um som gutural, Nowonmai.
O ser diz não gostar de Regan, mas afirma que sua "entrada" não tem ligação com uma possível culpa da menina a respeito do divórcio dos pais. Diz odiar a menina, quer matá-la.
Friedkin adaptou essa parte no filme, mas curiosamente, no romance, lembra mais a máquina tecnobable vista no filme de John Boorman, o criticado O Exorcista 2 O Herege.
No meio da sessão ela ataca um dos médicos, apertando os bagos de um deles, em um movimento que chega a ser engraçado de tão inesperado, mas que pode resultar em um simbolismo de ataque a masculinidade como um todo, já que na família McNail, não há homens.
É dito mais de uma vez na literatura do livro que a condição de dupla personalidade é algo muito raro, devido a isso, há muito receio de assumir que é esse o quadro de Regan, que dirá sobre possibilidade de possessão, que segundo os estudiosos, é algo impossível, já que são todos materialistas, provavelmente sem fé alguma.
Diagnóstico precoce e sugestões
Por insistência da mãe aflita, o psiquiatra resolve fazer comentários, mas não quer falar nada de forma precoce, ainda mais depois de uma única sessão de hipnose, mas para Chris dá possibilidade de tanatofobia, histeria e até dupla personalidade.
Sugere neurose e diz que, seja lá o que for Regan não finge estar sentindo o que diz sentir, ela de fato sofre com isso, é como se uma segunda pessoa colocasse ela em fase de sonambulismo, a fim de tentar tomar o controle da mente da adolescente.
O retorno do detetive
Depois da consulta, ainda combalida pelas novas e más notícias, corroída pela dúvida, Chris é novamente posta em cheque, sobre suas próprias conclusões e preocupações, já que o verborrágico e inconveniente chefe de investigação William Kinderman chega a sua casa, dá um cartão para a mulher, diz ser da divisão de homicídios e fala de maneira amistosa sobre o trabalho da artista.
Diz ser ele o responsável por investigar quem matou Burkes, por isso procura pessoas que possivelmente saibam de motivos para ele ter tido o fim que teve, já que para um suicídio, é estranho o que aconteceu, já que ele teve o pescoço virado, algo praticamente impossível de ter sido feito por ele próprio, ao menos em questão de precisão.
O policial cerca a atriz, fala de maneira muito decorosa e reverencial, se faz de amigo da pessoa e depois dá seu parecer e revela o que realmente quer. Esse é o seu método, já que não faz apenas com Chris, mas com todas as pessoas com quem lida.
Em determinado ponto, o romance se debruça sobre anotações, estudos sobre a tal missa negra.
Sobre a Missa Negra, aviso de texto gráfico
Deixo aqui um aviso de conteúdo sensível, após a imagem falaremos sobre alguns ritos pesados, com menção a práticas sexuais bem pesadas, que podem causar gatilho.
Se for ler, saiba disso. Colocaremos a exposição entre duas imagens, se quiser pular é só ir até a parte do texto após a segunda imagem seguida:
A Missa Negra é uma forma de adoração ao demônio e o ritual consiste principalmente em:
1) exortação (o sermão) para a prática do mal na comunidade.
2) coito com o demônio (reconhecimento doloroso e o pênis do demônio é tido como gélido).
3) uma variedade de profanações que eram amplamente sexuais por natureza.
Por exemplo: hóstias de tamanhos incomum eram preparadas (feitas de farinhas, fezes, sangue de menstruação e pus) e então, cortadas e usadas como vaginas artificiais com as quais os padres copulariam ferozmente enquanto alucinavam. Nos devaneios, os sacerdotes estavam estuprando Maria, a Mãe de Deus ou sodomizando Cristo.
Em outro momento da tal prática, uma estátua de Cristo era penetrada fundo, como se fosse a vagina de uma menina, também. Tem hóstia inserida no ânus, que o padre amassa ao gritar blasfêmias. Também há relatos de todos esses processos substituindo a estátua por meninas, que eram sodomizadas pelos padres.
A imagem da Virgem Maria também desempenha um papel frequente no ritual, sendo pintada de modo a lhe dar uma aparência dissoluta ou vulgar = tinha seios que os cultores chupavam e também uma vagina dentro da qual o pênis podia ser inserido.
As estátuas de Cristo tinham um falo para felação praticada por homens e por mulheres e também partes retráteis nesses falos, que poderiam ser substituídos por vaginas, assim a imagem pode ser tanto passiva na relação quanto ativa, mesmo sendo um objeto inanimado.
Tanto as imagens quanto figuras humanas eram presas, amarradas e expostas para sofrer com exposição a sêmen. Os membros do culto ejaculavam, coletavam as secreções em um cálice blasfemamente consagrado e usado nas preparações de hóstia, que deveria ser consagrada num altar coberto por excrementos.
Fim da exposição.
Toda a conversa de Kinderman com Karras beira o surreal, dado o seu conteúdo. Os dois falam sobre artes, esportes etc, quase nada sobre os crimes em si.
O detetive compara com o padre a atores, especialmente Marlon Brando, mas também Sal Mineo e Kirk Douglas.
Quando aborda o tema principal da ação policial - relacionado a morte de Burke - puxa temas polêmicos, sobre a vida íntima dos padres e sobre como crimes que não deveriam ser colocados como sigilosos diante de um confessionário são postos, até compara esse sigilo ao que se faz em um divã de consultório psiquiátrico e psicológico, que curiosamente, seria outro lugar onde Damien poderia trabalhar.
Aparentemente, a ideia do investigador é jogar falas diversas, para confundir o padre e ver se ele tem alguma informação ainda desconhecida. Ele não tem muito sucesso com isso.
Sua ação termina com o policial convidando o "boxer" para assistir Rei Liar, no cinema. Fica a dúvida se ele faz isso por simpatia natural, por carência ou se é apenas uma isca. Ele de fato gosta de arte, mas parece utilizar isso mais para melhorar suas condições de "sedução" aos seus inquiridos e menos como um curioso de fato.
A estranha sugestão
Os médicos sugerem que Chris tente um ritual de exorcismo com Regan, já que a menina parece mesmo achar que está possuída, o ritual como um todo ajudaria a sanar a crise mental, graças a sugestão. Perguntam se ela teria acesso a algo sugestionável, sobre bruxaria, demônios, ritos, pactos, se ela costumava ler sobre cultos pagãos ou satânicos, mas a mãe não sabe de nada.
Em casa, verifica que há na biblioteca da casa um livro que não era seu, sobre bruxas, pergunta a Sharon se é dela, também a Karl, ambos dizem que não. Entende então que era da esposa do serviçal, Willie. Ela então lê
Diretamente derivado da crença prevalente em demônios, o fenômeno conhecido como possessão era um estado no qual muitos indivíduos acreditavam que suas funções físicas e mentais tinham sido invadidos e estavam sendo controlados por um demônio (mais comum no período discutido) ou pelo espírito de alguém morto. Não existe período na história ou localidade no mundo em que esse fenômeno não tenha sido relatado e em termos razoavelmente constantes, e mesmo assim ele ainda precisa ser explicado de forma adequada (...) o que se sabe é que diversos indivíduos, em diversas épocas, passaram por transformações enormes e tão complexas que as pessoas ao redor delas sentiam como se estivessem lidando com outra pessoa. Não apenas a voz, os trejeitos, as expressões faciais e os movimentos característico são, por vezes, alterados, mas o indivíduo acredita ser totalmente diferente da pessoa que era e acredita ter um nome – humano ou demoníaco – uma história à parte, diferente da sua. No arquipélago malaio, onde a possessão é, até hoje, uma ocorrência comum e corriqueira. O espírito possuidor de alguém morto geralmente faz com que o possuído imite seus gestos, voz e trejeitos de modo tão parecido que os parentes dos falecidos acabam aos prantos. Mas além da famosa quase possessão – os casos que podem ser atribuídos à mentira, à paranoia e à histeria – o problema tem sido interpretar o fenômeno e a interpretação mais antiga é a espírita, uma impressão que tem chance de ser fortalecida pelo fato de que a personalidade penetrante pode ter efeitos bem diferentes da primeira.
Chris fica intrigada com esse livro e só mais tarde descobre que ele não era de Willie, mas foi ela quem encontrou, embaixo da cama da menina. Quando ela foi limpar o cômodo, encontrou o mesmo, levando a biblioteca achando que aquele era o lugar devido.
A atriz era ateia, como dito antes, por isso não acreditava na existência de espíritos e mesmo que tivesse uma rejeição a figura dos médicos, ainda assim buscava respostas lógicas para sua questão.
Na leitura, teve consciência de que o estudioso Carl Jung se deparou com uma suposta possessa, não sabia dizer se era de fato uma pessoa com o diabo no corpo, mas sabia que não era fingimento, já o psicólogo William James comentou sobre um caso em Watseka em Illinois, sobre a plausibilidade da interpretação espírita do fenômeno.
A leitura é interrompida pela chegada de Kinderman, que leva consigo Karl, sob custódia. O suíço vai até lá de bom grado, mas a política não consegue tirar nada dele. O homem parece resoluto e dono da verdade, dispensa até advogado.
O retorno de Karl casa com vários eventos, primeiro com Willie assumindo que viu o livro, deixando a conclusão de quem o trouxe para casa provavelmente foi Regan, que o escondeu de todos, ou seria o Demônio, para causar confusão?
Outro evento importante nesse mesmíssimo trecho é que a famosa sequência de masturbação com crucifixo, onde a menininha que até então parecia uma vítima de uma problemática ou mental ou diabólica, agora se felava com um objeto sagrado.
Blatty é profano, fala em detalhes do sangue, dos xingamentos e da substituição de um dildo pelo artefato religioso... é pesado.
Chris chega a pensar que talvez Karl tenha matado Burke, ao ver o diretor atacando Regan. O texto chega a levantar essa hipótese, mas quando a mãe percebe o homem caído no chão do quarto, desfalecido, desmaiado por golpe de Regan possessa, essa possibilidade simplesmente desaparece. Ficou claro quem ou o que matou Dennings.
Enfim o encontro de Karras e Chris
A parte 3 (O Abismo) começa citando João 6:30 e 36, que fala sobre o pão de Deus, que desceu do céu, pavimentando assim o encontro entre Karras e Chris, que era tão anunciado, mas jamais encontrado.
A mãe desesperada pede ao padre que exorcize sua filha, já que nada resolve o seu problema.
Ele acha surreal como uma conversa que se iniciou com uma suspeita de mulher se apaixonando por ele, cai em uma discussão áspera sobre exorcismo e ele aceitando ajudar uma mãe desesperada por pena.
Aqui há uma boa criação de suspense, depois que a mãe convence o padre a ver a menina.
Antes de Damien entrar no quarto, MacNeil lhe dá uma foto da menina, quando ele entra, sente odores fortes, de fezes e urina.
Esse é o capítulo mais longo, começa com uma conversa entre Karras e Chris, tão preocupada e "protegida" que parece uma conversa sem lógica.
Ambos apelam para a paranoia, ela não quer revelar muito antes de ter certeza que ele é confiável, afinal, sua filha é suspeita de ter matado Burke, enquanto ele é preocupado com um estado comum a mulheres "neuróticas" que se apaixonam por padres.
Quando vê Regan, Blatty capricha na descrição, diz que os sons do quarto cessaram, após fechar a maçaneta. Karras entrou de maneira vagarosa e hesitante no quarto devagar, se retraindo com o fedor pungente de excrementos.
Ao ver Regan contorcida e com um olhar diferente, ele se assusta. Na tradução diz-se que estava "olhos arregalados e fundos nas órbitas, com um brilho de loucura e inteligência, interesse e ódio". Até demora a perceber que a pessoa na cama é a menina das fotos.
A barriga dela estava para cima da cama, cabeça recostadas no travesseiro, olhos arregalados e fundos nas órbitas, que ficaram fixos no padre. O rosto parecia uma máscara esquelética e parecia ser uma figura de maldade, com cabelos estavam desgrenhados e molhados, braços e pernas feridos e barriga protuberante de forma grotesca.
Engraçado que Karras se impressiona mais com a precocidade intelectual de Regan ao estar possuída, do que com os outros indícios, incluindo telepatia e telecinese. O padre/psiquiatra é bem calculista, tenta gravar em fitas as manifestações e as várias personalidades que Regan apresenta, para mostrar aos seus superiores caso de fato necessitasse praticar o exorcismo.
Qualquer leitura superficial sobre demonologia indica não só que o espírito sujo mente em quase todo o seu discurso, como também dá conta de que demônios não tem capacidade de reunir espíritos humanos na possessão.
Os demônios ou diabos são apenas anjos caídos, claro, segundo a tradição cristã desse tipo de estudo. Eles podem ter conhecimento sobre segredos, mas são basicamente baseados em ataques genéricos a sentimentos humanos.
Assim, qualquer informação dada ao possuído pode ser usado e qualquer conhecimento do possesso pode ser usado também, por isso Regan possuída ataca o o fato de Willie e Karl terem perdido uma filha, uma vez que ela sabe disso.
Karras se compadece delas, quer ajudá-las, mas não acredita no exorcismo como melhor saída. Toma essa decisão justamente depois de vomitarem nele, até compara com o fenômeno de Poltergeist. Damien explica que isso não é tão incomum e costuma acontecer próximo a um adolescente emocionalmente perturbado.
Acredita que uma forte tensão interna da mente possa acionar uma energia desconhecida que parece mover objetos à distância. Mas, segundo o que o padre leu, não há nada de sobrenatural nisso, por isso ele não se impressiona com a telecinese, nem com o acréscimo de força dela.
O espírito afirma que foi Regan quem matou Burkes, fato que coaduna com o "diagnóstico" de Karras, mas que produz nele dúvidas, já que ele está bem ambientado no assunto, já que Kinderman se aproximou e falou sobre o caso.
Mas Karras enfim se convence de que se tem necessidade de uma sessão de exorcismo, depois do icônico momento de extremo frio no quarto, e do pedido de ajuda "talhado" no peito nu da menina.
O Convencimento e o processo
O padre avisa a mãe desolada que deverá se reportar aos seus superiores, mas daria poucos detalhes, para não polemizar ou vazar a informação, afinal, ela é uma pessoa pública. Pega alguns livros para estudar, como Possessão do psicólogo alemão Traugott Konstantin Oesterreich, Os Demônios de Loudun de Aldous Huxley, Parapraxis no caso Haizman do psicanalista Sigmund Freud, Possessão demoníaca e exorcismo no início do cristianismo segundo opiniões modernas da doença mental de Vernon McCasland, trechos de Freud em Uma Neurose de Possessão demoníaca no século XVII e A Demonologia da psiquiatria.
Sobre o livro de Huxley, vale lembrar que ele foi a base para a peça e para o filme de Ken Russell, Os Demônios, que foi umas das fortes inspirações para Friedkin fazer o filme de 1973.
Quando analisa um caso de Lille, no século 17, percebe que freiras diziam ser impotentes quando possessas, mas ainda assim faziam sexo. Sua conclusão considerava que a maioria dos casos tinha mais a ver com mitomania e fraude do que presença de ação demoníaca de fato, até por isso que se recomenda ter um psicólogo ou psiquiatra em um exorcismo, ao menos na versão que Blatty propõe, para o exorcismo em si.
Karras segue estudando, leva as fitas gravadas da entrevista, chega a conclusão que Regan fala de maneira invertida.
O mistério de Ed Lucas
De repente, um padre manco, chamado Ed Lucas intervém no caso. Chega misteriosamente, entra em seu quarto, diz ser psiquiatra e afirma que pelo bem da sanidade mental dele, a "Ordem" manda ele se afastar das MacNeil
Esse homem seria um enviado de Deus? Quem poderia falar para ele isso? A "Ordem" é a santa igreja católica ou a Missa Negra?
A ideia mais comumente defendida segundo a interpretação do texto é de que essa sequência foi um sonho. Não foi à toa que essa parcela do livro foi totalmente descartada do filme, o que é curioso, já que a versão de Friedkin era de ser mais literal na exposição da possessão, ainda assim não explorou isso.
Vale a pena lembrar que na versão televisiva de O Exorcista, o seriado de 2016, a Missa Negra tem uma boa participação, é a principal antagonista.
Karras fica na dúvida se o sonho foi um delírio ou uma premonição, se é algo de sua mente cansada e obsessiva, mas se fixa no aviso para ter cuidado com Sharon, que justamente no momento de despertar, às 3 horas da manhã, liga para ele pedindo para ver Regan.
O padre se apressa ao perceber que a pele da barriga da menina tem uma mensagem sobre Help Me, leve, vermelho, sobre a carne magra que exibe costelas, fome e possivelmente morte em poucos dias. Ele enfim pede autorização para fazer o exorcismo, mesmo que ele mesmo não ouse acreditar nisso, visto que até então, era impossível.
A autorização é dada e um velho forasteiro é convocado
O bispo autoriza, pergunta se ele quer fazer sozinho, que ele responde positivamente, mas como ele é inexperiente, procuraria alguém para ajudá-lo.
Aparentemente, não há ninguém por perto, aliás é raro achar um padre nessas condições, capaz de praticar um exorcismo. A junta da igreja recorreria até o estrangeiro se necessário, mas por coincidência, Merrin estava ali em Woodstock, chamariam ele, que fez um exorcismo 12 anos antes.
Pouco antes da chega do outro padre, Kinderman dá uma resposta sobre a celeuma envolvendo Karl Engstrom. Diz que ele é inocente, ele estava dando dinheiro a filha dele, Elvira, em segredo, ela era viciada em drogas e por pena ele financiava esse vício. Nem mesmo a mãe dela sabia disso. Karl escondia até da esposa a sobrevivência da filha. Até então pensava que estava morta.
Karras fica feliz que vai encontrar o paleontólogo/filósofo Merrin, o autor de livros que "causaram rebuliço" na igreja que interpretava sua fé como matéria que ainda estava se desenvolvendo e destinada a ser espírito, no fim dos tempos, se uniria a Cristo, o tal Ponto Ômega.
A aparição de Lankaster Merrin ocorre completas quase 300 laudas, na 290ª página, é descrito como alguém com voz e olhar serenos, escondidos pelo chapéu que cobre seu rosto e expressão. Quando chega é educado e rápido, não reclama de nada e quer ir direto ao ponto.
Só não sobe para falar com a exorcizada logo por conta de uma mentalidade política. Preferiu gastar algum tempo sendo simpático a Chris, descobrindo inclusive seu nome real, Sadie Glutz. Assim que chega, ouve gritos e lamúrias, inclusive o seu nome é dito.
Merrin é peculiar, ao chegar ele queria ir direto ao ponto, queria conhecer logo Regan, mas recua, é cordial mesmo quando recusa a janta. É extremamente cordato ao dizer que eles não precisavam se preocupar por não terem pego ele no aeroporto. Mesmo para tomar um café fresco ele é metódico, aceitando apenas quando Karras vai atrás da batina e roupas para o rito.
O processo
Toda sua atenção parece voltada ao fenômeno. Ele fica em silêncio, a espreita de sons vindo do quarto da menina, até demora a responder as perguntas dos adultos, com pausas dramáticas que aumentam ainda mais sua aura de homem poderoso.
Ele só quebra sua pose de homem focado para beber um conhaque, contrariando o que seus médicos recomendaram. Esse é o primeiro indício de que ele não estava bem, não deveria fazer o que faz.
Descobre também o segundo nome de Regan, que é Teresa - elogia ele, como elogiou o nome de Damien - e em sua infinita simpatia, recomenda a Chris que não entre no quarto, para não ver sua filha mal, isso seria utilizado em O Exorcista: O Devoto como sinal ruim do padre...que a excluiu graças ao patriarcado e não por ela ser ateia e por estar ligada emocionalmente a menina.
O Demônio fala muito, Merrin já tinha alertado Karras para que não o ouvisse, mas a criatura tenta atacar até outras pessoas, como Willie, a esposa de Karl, falando que Elvira, sua filha, está viva e drogada.
O demônio afirma que dessa vez não perderá para Merrin... Sharon ouve claramente "Desta vez você vai perder", em outro indício do que se constrói aqui.
Chris participa do rito, usando uma seringa com tranquilizante, ministrando a filha possessa, já que os dois padres não conseguem fazer isso, ouve muitas ofensas e ameaças, quase se sente culpada, se pergunta se foi desleixada e por supostamente relegar a garota a um segundo plano, já que tinha uma carreira boa, com sucessos.
O senso de urgência é grande, já que Regan estava dias sem dormir, sua condição de saúde era precária, e ela precisava descansar por conta de sobrecarga física. Se fosse administrado um calmante, era capaz dela entrar em coma.
A possessa faz vozes, imita Dennings, afirma que ele foi morto pela menina, jogado para fora e diz que está aprisionado ali dentro, também finge ser a mãe de Damian, que fora isso, ainda tem que lidar com interrupção de Kinderman.
É depois de uma conversa com o detetive, que expõe o óbvio: Regan é a principal suspeita de matar Burke Dennings - que Damien tem uma epifania. Ele para e reflete, pensa bem como viveu sua vida, chega a conclusão de que está sempre apressado e nervoso, sempre correndo ao invés de andar, até a forma como os dois se conheceram foi assim.
Depois de muito "olhar para dentro de si" ele pega as lembranças fotográficas de Rags e passa a ver ela como uma pessoa mais humana do que ele lembrava. A surpresa dele ao ver o cadáver do seu igual e mentor morto, convoca a entidade para tomar seu corpo, e imediatamente ele se mata - as amarras na criança eram para proteger terceiros, mas também a principal vítima: a possuída.
Karras estava acostumado a viver na bonança de Deus, mesmo com crises de fé, ele jamais esteve na desgraça. Quando tem a entidade dentro de si, Damien não suporta, então decide então acabar com tudo, se jogando pela escada, a mesma onde Burke morreu. Teria sido o próprio diretor que se jogou, tal qual Karras? Não se sabe.
Mais interrogações
Perguntas que ficam são: para onde foi a entidade?
Seus últimos suspiros existem só para se reconciliar com o Divino, um final melancólico.
Seis semanas após a morte dos padres, no epílogo, Dyer diz que foi visitar Regan várias vezes na convalescência, enquanto ela se recuperava.
Kinderman conclui que exorcistas se tornavam possuídos em alguns instantes, segundo o que lera sobre exorcismo e pensa em Damien como um homem triste, perturbado pelo remorso pela morte da mãe, falta de descanso, estafa e confusão fizeram com que ele se matasse.
Depois das lamúrias do padre, do encontro com o detetive cinéfilo, o autor diz que tomou certas liberdades ao falar da geografia da cidade, especialmente da universidade de Georgetown, da casa na rua Prospect e do lar dos jesuítas, também diz que a fala atribuída a Merrin, em prosa, era na verdade um sermão do cardeal John Henry Newman, intitulado The Second Spring.
O Exorcista é um livro que serviu como o calço do filme clássico, mas sua apreciação enquanto literatura é muito prazerosa, tensa e complementar. É uma história rica inclusive nas partes suprimidas do roteiro que Blatty e Friedkin construíram e abre possibilidade para mais caminhos sobre os malefícios da ação diabólica sobre a vida humana.
Suas conclusões mostram os humanos como peões em um jogo de interesses entre o Diabo e Deus, mostrando essa parcela da vida como subalterna demais. Mesmo que haja nele a intenção de valorizar a fé católica, também se apela a uma desesperança de que os homens são impotentes diante da força e dos desejos de entidades que só pensam e só agem em favor próprio.
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