O Jogo da Morte é um filme de horror recente, que foi lançado em 2021, mas que chega ao Brasil essa semana. Produção russa dirigida por Anna Zaytseva, tem uma trama atual, baseada nos boatos de uma corrente suicida que atacava crianças.
A trama gira em torno de um jogo cruel, que começou na Rússia e logo se espalhou por outros países da Europa Oriental, Índia e Estados Unidos. O jogo incitava o jovem a enfrentar 50 desafios em 50 dias, sendo o último um desafio fatal.
A forma de contar história é toda de colagens de imagens e inteirações pela internet, em chats de redes sociais, gravações via webcam e conferências de vídeo compartilhadas, tanto em computadores quanto em telefones celulares.
A ideia por trás do filme não é exatamente nova. Obras de horror que lidam com a internet como mola central não são novidade, já que em 2001 houve o japonês Kairo, que já teve até um remake sombrio americano, em Pulse.
Nas últimas décadas saíram alguns filmes que exploram aspectos da internet, seja em conversas particulares, como em Chat: A Sala Negra, em redes sociais, tal qual Pedido de Amizade, outros que lidam com aplicativos, como App e Aplicativo do Mal, outros que falam sobre consequências de cyberbullyng como Amizade Desfeita, sobre evasão de informação Eu Compartilho.Eu Gosto.Eu Sigo, sobre receio de pais com os filhos, como em Buscando... sobre um complexo de Frankenstein com IA, como Cam, até peças trash, como O Meme do Mal.
Esse O Jogo da Morte reúne elementos de O Meme do Mal, Amizade Desfeita e um pouco de Buscando..., mas se pauta basicamente em cima de um medo real da internet, que era um desafio bizarro, que era tão estranho que parecia ser mais boato do que real.
Para desambiguar, é bom avisar que esse não é o mesmo O Jogo da Morte lançado em 2020, que se chama originalmente Al Hoot Al Azraq e é dirigido pelo egípcio Alaa Morsy. Em comum entre eles há não somente o nome, mas também a base do horror, já que também é sobre o desafio suicida.
O longa frequentou o circuito de festivais antes de chegar as salas de cinema comerciais. Sua entrada mais antiga foi em agosto de 2021, no Fantasia International Film Festival no Canadá. Em outro do mesmo ano estreou na Polônia, no Warsaw Film Festival. Nos EUA passou também em outubro de 2021 no Screamfest Horror Film Festival, depois abriu o Asian World Film Festival no mesmo país.
O título original é YA idu igrat. Teve como nome de trabalho #хочувигру. Também foi chamado em seu país como Я иду играть e Ya khochu v igru. Na Alemanha foi chamado de Following - Challenge des Todes, nos países Mexico, Uruguai, Peru foi chamado de El juego de la muerte.
Polônia e Espanha escolheram o nome mais óbvio e de publicação complicada na internet, já que corre o risco de ser banido: #Blue_Whale.
Anna Zaytseva estava acostumada a fazer curtas-metragens, como Lisa, Wonderland e Sama Dura!. Também fez séries de TV como Rules of the safecracker e Geroy po vyzovu. Esse é o seu primeiro longa.
O roteiro ficou a cargo de Zaytseva, Evgeniya Bogomyakova (que assina como Yevgeniya Bogomyakova) das séries Istorik e Sama Dura! e Olga Klemesheva, dos filmes Taynyy Santa e Novogodniy shef.
Houveram três produtores, no caso Timur Bekmambetov, que é mais conhecido por ser diretor de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros e Ben-Hur de 2016, Igor Mishin de Almas Silenciosas e Quem Vai Ficar com Masha? e Anna Shalashina, de Matilda, Sama Dura! e Odna zhizn.
A narrativa inicia com gravações em primeira pessoa, meninas se perseguem, segurando um computador. A disposição visual é em estilo found footage, a perspectiva é sempre em primeira pessoa, com a desculpa de que toda a perspectiva é por parte de telas de celulares, tablets e computadores.
Esse início mostra duas irmãs Brovkina, ou Bernetti segundo a tradução brasiliera. Elas estão discutindo, são elas Julia de Diana Shulmina e Dana, Anna Potebnya.
A primeira é mais atrevida, a segunda é mais tímida. Também aparece a mãe delas, Elena de Ekaterina Stulova, que claramente tem uma predileção por Julia.
A partir daqui falaremos sobre partes importantes da trama. Haverá spoilers. O aviso está dado.
A história parte de um pontapé emocional e agressivo, que é a morte de Julia, provavelmente por suicídio.
A menina tinha um dois perfis, na rede social Netbook, que claramente é uma referência ao Facebook, já que a interface é idêntica.
Uma era a oficial, onde ela postava coisas do dia a dia, com piadas e trivialidades comuns a uma menina jovem. A outra era Julia Kitti, local onde ela expunha fotos mais picantes de si mesma, em poses sensuais, utilizando lingerie e pouca roupa, mas com o cuidado de não mostrar o rosto.
Quando Dana descobre isso, logo associa o fato a morte dela. Talvez ela tenha se sentido mal, por ser exposta por alguém, embora não fosse difícil associar os dois perfis. Ela manda mensagem para sua amiga, Victoria Novack (ou Viga Novikova), de Olga Pipchenko., que passa a ser o seu braço direito nas pesquisas.
Em luto, a mãe pede para que a filha não mexa nos pertences de Julia. No entanto, Dana procura no material digital pistas do motivo de ter decidido morrer. É nesse ponto que ela descobre detalhes sobre o tal jogo/desafio da Baleia Azul, que teoricamente, envolvia suicídios de menores, que parecem acidentes.
A estética naturalista perde um pouco de sentido quando entra trilha sonora incidental e original. A música de Sergey Moiseenko não é tão agressiva quanto em obras que se pautam pelo jumpscares - que aliás, até existem nesse filme, mas são tímidos - mas de qualquer forma, não faz sentido estarem ali.
Boa parte do início do filme ocorre explicando como os desafiantes devem proceder para participar do jogo. Eles tem que entrar em contato com um supervisor e seguir as ordens, mas sem falar do jogo para ninguém, pois é um segredo.
O conteúdo do vídeo é estranho, tem cenas conceituais, algumas imitam as imagens conceituais nonsese de Ringu: O Chamado ou da versão americana, O Chamado.
A figura mascarada, que se auto intitula Ada Mort lembra um pouco Sadako ou Samara. A máscara é assustadora e simples, acaba compondo um visual legal e bastante macabro.
A menina de torna obcecada por aquilo, de um modo que até parece largar de mão a busca a obsessão da irmã para tornar aquilo uma busca sua.
Dana faz as tarefas, até permite a Vicka ver algumas das situações. No entanto o que mais chama a atenção do ponto de vista dramático é a sensação de abandono. Dana perdeu a irmã, está triste, deprimida e saudosa, mas não tanto quanto a sua mãe.
A menina que sobreviveu clama por atenção e pede para que a mãe largue as roupas de Yulia, para dar importância a quem está viva. Ela claramente é carente pelo amor materno, afinal, em uma família funcional isso é sempre necessário.
Mas em alguns pontos parece que ela é mais preocupada com a parente do que consigo mesma, ainda que não saiba demonstrar qualquer carinho pela figura materna. Fica a dúvida se ela tem essa dificuldade por pura personalidade, por falta de exemplo de troca de carinhos ou por ser imatura mesmo.
De qualquer forma, Potebnya atua bem demais, parece sempre tensa, especialmente quando é desafiada pelos administradores do jogo. Entre interações mil, acaba tendo contato com um jovem, chamado de Max Vescovi ou Maks Petrukhin, interpretado por Danya Kiselyov.
Ele é um rapaz jovem também, que regula mais ou menos a idade da protagonista e entra em video chamadas em vários momentos, até enquanto está no meio do transito.
A multiplicidade de telas pode deixar o espectador confuso, especialmente os que não estão acostumados ao excesso de informação e interação
Em algum ponto do desafio, a figura assustadora, que é a foto de perfil de Ada Mort, aparece, com a exata aparência que está no registro da câmera do celular de Dana, é difícil achar que é ilusão ou fruta da paranoia da personagem.
De fato, alguém a persegue, o filme não mantém viva a dubiedade. A sensação de paranoia é justificada, embora nesse início não fica claro se ela é uma figura monstruosa ou alguém que a monitora, usando obviamente a máscara monstruosa para aumentar o susto.
Fica evidente que é segunda opção, já que não se trabalha qualquer indício de que há forças espirituais aqui, embora parte da linguagem converse com A Bruxa de Blair, que tem inserção de elementos espirituais e também é filmado em primeira pessoa.
Max e Dana aumentam o nível de intimidade ao longo do filme, o que é no mínimo muito esquisito, já que ambos são menores, aparentemente, se despindo diante de câmeras de web.
Nas investigações, Dana vai até a casa de um homem, suposto administrador dos grupos que incentivam suicídio. Ao longo dessa procura há muito mais despistes do que certezas, mas a trama não permite que a personagem descanse. Ela chega ao cúmulo até de usar arma de fogo.
Entre brigas com a mãe, com a melhor amiga e até a perda das provas a respeito de sua irmã, Dana se desespera, chega a ficar nervosa ao ponto de quase fazer uma besteira.
Entre as fragilidades do roteiro é que na Rússia parece não existir backup, já que ela perde todos os arquivos, mesmo sendo eles super importantes.
Dana passa por maus bocados, é internada de maneira compulsória, eventualmente recupera o celular, segue mantendo contato com seu namorado virtual. É curioso como ela e Max quase nunca se encontram, só se reunindo perto do final, após várias surpresas e eventos, que preferimos não citar aqui, para não revelar demais.
O traje de Ada funciona bem. O assassino ou assassina stalker é digno de medo e sustos, funciona melhor que o plano da menina. Perto do fim há muitas semelhanças com a motivação de Pânico, especialmente na tentativa de incriminar a protagonista e quem a rodeia.
Ainda há uma quebra a quarta parede, mostrando as personagens falando ao público que devem conversar com seus pais sobre interações e conversas na internet. Isso parece bem desnecessário e inoportuno.
O Jogo da Morte é meio refém de sua fórmula, não ousa muito, é conspiratório, tem atuações ok, mas nada demais. Possui um final expositivo e trata os jovens como quase psicopatas, que se aproveitam da carência alheia é mais criativo que seus pares ao menos e tem um final mais enérgico que outros.
Trailer
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