O Maníaco : Um filme que se debruça sobre o modo de operar de um assassino

O Maníaco : Um filme que se debruça sobre o modo de operar de um assassinoO Maníaco é um filme de horror dos anos 1980, que surfou de certa forma na onda dos filmes de matança, embora seja mais lembrado por ser uma desconstrução do argumento principal de filmes de psicopata. Na prática, ele é um slasher bastante extremo, dado o nível de violência que carrega.

Esse é um projeto de Joe Spinell, o ator que é muito lembrado por ter feito mafiosos em diversos filmes e que aqui é dono da ideia original do longa. A obra também é lembrada pelos efeitos especiais feitos pelo mago Tom Savini e por ser co-estrelado por Caroline Munro.

A sinopse trata da história de um sujeito de passado trágico, que sofria abusos maternos quando criança. Com o tempo ele demonstrou ser uma pessoa atormentada, que invariavelmente comete atos de sua tragédia, repetindo um ciclo de violência e assassinatos à sangue frio ao matar pessoas, sobretudo mulheres.

Com o tempo ele se interessa por uma fotógrafa e tenta solidificar uma rotina comum com ela, mas obviamente esbarra na forma como vive seus dias, enfrentando a vontade de cair no comportamento violento, tentando assim driblar a vontade que tem de matar.

O motivo para assinar as mulheres é para supostamente utilizar o couro cabeludo das vítimas para decorar as bonecas que povoam sua casa.

O filme tem direção de William Lustig, foi escrito por C.A. Rosenberg e Joe Spinell, baseado no argumento de Spinell. Os produtores são Andrew W. Garroni (que na época assinava Andrew Garroni) e Lustig. Os produtores executivos são Judd Hamilton e Joe Spinell.

Esse foi um filme que quase teve participação de gente do cinema italiano. O diretor William Lustig disse que Dario Argento seria co-produtor, especialmente por conta do papel feminino principal ser dedicado a Daria Nicolodi, a esposa de Argento.

O acordo acabou não ocorrendo, mas ainda assim foram utilizadas algumas cenas que Argento fez para Mansão do Inferno, que serviram para preencher trechos que pareceram curtos demais nesse longa-metragem.

Nesse período da pré-produção a música original deveria ser da banda de rock progressivo Goblin, que cooperava com Argento, mas a trilha original acabou ficando com Jay Chattaway.

Um anúncio de 1979 para a revista Variety dava conta de que alguns membros do elenco incluíam Nicolodi, Susan Tyrrell e Jason Miller ao lado de Joe Spinell, dos quais apenas o último estava no elenco.

O motivo para Nicolodi não assumir o papel seria graças as gravações do já citado Mansão do Inferno, já os papéis de Tyrrell e Miller nunca foram revelados.

O título original do filme é Maniac. Ele é conhecido assim nos Estados Unidos, seu país de origem, como também na Austrália, na parte do Canadá que fala inglês, Filipinas, Espanha e Suécia.

O Maníaco : Um filme que se debruça sobre o modo de operar de um assassino

Na Dinamarca era Maniac - kvindemorderen, no Canadá que fala francês Maniaque, na Hungria é Elmebeteg, no México é Maniac: Maníaco. Também é chamado Maníaco na Argentina, Chile e em Portugal.

O longa-metragem foi filmado durante 26 dias não consecutivos, entre o final de 1979 e início de 1980.

Boa parte das cenas externas foram gravadas sem licenças, especialmente em locações de Nova York. Lustig e Spinell destacaram que a infame cena da espingarda, no para-brisa, foi filmada rapidamente e depois a equipe teve que fugir antes que a polícia chegasse.

Tiveram cenas no Hotel St. James, na Pan Am Building - 200 Park Avenue, Grand Central Terminal, Children's Swings e Center Drive no Central Park, Rialto Theater, Modell's Sporting Goods, McGraw-Hill Building e Intersection of 42nd St and 7th Ave, no Roosevelt Hospital, 427 W 59th St em Manhattan.

Também houveram gravações no Verrazano Narrows Bridge, Anco Theater, Liberty Theater, Harris Theater, Empire Theater, Empire State Building, no World Trade Center, Woolworth Building, Columbus Circle Subway Station, New Amsterdam Theater em Nova Iorque e em Woodside no bairro do Queens.

O estúdio que produziu o filme foi a Magnum Motion Pictures Inc. que contou com distribuição da Analysis Film Releasing Corporation.

Lustig vinha do mercado pornográfico. Realizou The Violation of Claudia e Hot Honey com o nome Billy Bagg. Depois fez Os Vigilantes, Maniac Cop: O Exterminador, Comando do Extermínio, além de Maniac Cop 2: O Vingador e Maniac Cop 3: O Distintivo do Silêncio, onde foi creditado com Alan Smithee.

Garroni foi produtor em Os Vigilantes, Crimes do Desejo, Espelho da Sedução, Instinto Animal. Ele foi produtor executivo em Cidade Nua: Justiça À Bala, Cidade Nua 2: Natal Assassino e o remake desse, em 2012, chamado de Maníaco.

C.A. Rosenberg só escreveu esse filme. Já Caroline Munro vinha de obras como A Nova Viagem de Sinbad e 007: O Espião que me Amava fez também Starcrash onde ela contracenou com Spinell. Ela também esteve no elenco de Massacre no Colégio em 1986.

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Spinell é lembrado por ter feito Willi Cicci em O Poderoso Chefão e O Poderoso Chefão: Parte II além de ter feito um papel semelhante, como o gangster Gazzo, em Rocky: Um Lutador.

Na época das filmagens de O Maníaco, ele esteve em outros projetos de filmes, Filmou Falcões da Noite nos intervalos das gravações desse. Ele cortou o cabelo curto e raspou o bigode para interpretar um oficial da polícia de Nova York e por isso, teve que usar bigode falso e peruca, nas cenas onde o seu Frank Zito dirigia o seu carro.

Tom Savini faz nesse um dos seus melhores trabalhos. Ele havia feito Despertar dos Mortos de George A. Romero e Sexta-Feira 13.

Mesmo com um orçamento irrisório, ele se valeu da experiência e criatividade, entregando filme gráfico e muito violento.

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O orçamento do filme foi muito pequeno. A princípio, geraram US$ 48 mil, valor esse arrecado a partir do cachê de Spinell por Parceiros da Noite. Garroni e Lustig também investiram algum dinheiro, nesse somatório.

O trio investiu o dinheiro em uma conta no mercado de ações e a quantia cresceu, então Hamilton arrecadou mais algum dinheiro para concluir o filme, como parte da condição de que Munro, fosse escolhida como a heroína.

Apesar de ser considerado extremo, o longa não sofreu com problemas de censura em países de língua inglesa, mas foi proibido na Alemanha Ocidental. Esse aliás foi o primeiro a ser banido do país, em decisão do tribunal de Munique em 1983.

A problemática que realmente chamou a atenção no lançamento foi com um anúncio em um outdoor em R&B Custom Shop em West Hollywood. A proprietária da loja ficou tão incomodada com a violência exibida no pôster que mandou pintar o outdoor todo de branco.

Apesar do filme se passar em Nova York, o início não é na cidade e sim em uma praia. O ponto de vista é de um observador, um stalker, que olha um casal deitado na areia, por um binóculo operado através de moedas.

A ideia é a de imitar o início de Tubarão de Steven Spielberg, ao registrar o olhar do monstro sobre sua presa, de maneira semelhante a cena de introdução de Halloween: A Noite do Terror de John Carpenter.

O assassino, ainda misterioso, adentra a areia, espera o homem do casal largar a mulher para pegar lenha, depois passa a lâmina em seu pescoço.

Há um cuidado com a fotografia, do profissional Robert Lindsay, já que a cena se dá com a noite caindo sobre o céu. O filme peca bastante no quesito visual, sendo até feio em muitos momentos, com um aspecto acinzentado, quase como se houvesse uma neblina.

Lindsay quase não foi cinematógrafo ao longo da carreira é mais lembrado por ter trabalho com câmeras em Quem Matou Rosemary. Aqui ele tenta fazer com que a história toda parecer um sonho, ou um estranho pesadelo.

Depois disso, o personagem central acorda assustado. Aquilo foi um pesadelo, provavelmente provocado por uma lembrança incômoda. Embora não fique claro o que foi aquilo, certo é que se passou em sua mente, sendo esse um dos prováveis casos em que ele se envolveu.

Mais tarde é dado que aquilo remete ao trauma que sofreu quando criança. Ele apanhava muito de sua mãe, Carmen Zito, uma prostituta que causava nele flagelo físico e emocional.

Isso o tornou um assassino frio, extremamente violento, que é criativo na hora de matar as pessoas e que se culpa por estar naquela situação. Ele mata mulheres provavelmente por ver elas como tão sujas quanto a sua progenitora.

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É só depois disso que aparecem os créditos de Joe Spinell, além de Caroline Munro.

A música de Jay Chattaway é pontual, discreta, embala a melancolia vista em tela. Ela favorece as sensações de tristeza que fazem parte da ideia emocional do personagem central.

Sobre música, havia uma lenda urbana de que este filme inspirou Michael Sembello a escrever a música Maniac, a mesma que acabou na trilha sonora de Flashdance: Em Ritmo de Embalo.

No entanto, Sembello confirmou em entrevista a Lustig que a história sobre a origem da música foi recontada incorretamente ao longo dos anos.

Spinell interpreta um homem triste e choroso, sensível demais e com graves problemas de relacionamentos.

Ele lança mão de sexo pago, procura profissionais do gênero e nem assim parece conseguir se excitar. Depois de ficar com uma prostituta que é até paciente e compreensiva, ele decide enforcar ela, na cama, não fica claro se é por ter sua fraca masculinidade exposta, já que brochou ou se ele apenas fingiu não ter tesão para conseguir matar ela.

A chance maior é da segunda possibilidade, mesmo que as duas questões não se anulam. Fato é que depois desse ato, ele vai ao banheiro vomitar, se desespera, não parece estar feliz com o rumo das coisas.

Mesmo não querendo - ao menos é o que ele diz - ele simplesmente corta a testa dela, escalpela a menina. Ele pega essa parte da cabeça para colocar nas bonecas de sua casa, as mesmas que foram exibidas na cena em que ele é introduzido.

A fim de manter os custos baixos, a maior parte das atrizes contratadas eram do mercado pornográfico, como Abigail Clayton. Elas interpretaram as vítimas, as mulheres na rua e demais papéis femininos menores.

As cenas no minúsculo apartamento de Frank Zito foram inspiradas no thriller sueco Mannen på taket de 1976, copiando o cenário claustrofóbico e o tom calmo e sutil com sons de torneira pingando, relógio tiquetaqueando e barulho ocasional de trânsito vindo de fora.

A cor e a decoração do apartamento e de outros cenários foram inspiradas nos cenários coloridos de thrillers de terror italianos, como Prelúdio Para Matar e Suspíria, dirigidos por Argento, além Seis Mulheres Para o Assassino, de Mario Bava.

O Maníaco : Um filme que se debruça sobre o modo de operar de um assassino

Muitos fãs de cinema B comparam esse O Maníaco com Psicose, graças ao fato de Norman Bates e Frank Zito ouvirem vozes, também pelo fato de ambos terem sido abusados ​​por suas mães. Outra coincidência é a inspiração no mesmo serial killer: Ed Gein, que também inspirou Leatherface em O Massacre da Serra Elétrica e Bufallo Bill em O Silêncio dos Inocentes.

Entre esses todos citados, Zito é o assassino mais complexo. Além de atuar como alguém normal, ele monta muitas armadilhas para arrumar matéria prima - leia-se arrumar mulheres para arrancar a ponta da cabeça para colocar em manequins - ele também não abre mão de usar a forma mais fácil de matar, usando armas brancas, não se furtando também a atirar.

Zito ataca também em um cinema drive in. Ele invade a privacidade de um casal, sobe em cima do capô de um carro e atira, estourando a cabeça do personagem que Tom Savini fez.

Essa cena é curiosa, já que foi o especialista em efeitos especiais quem apertou o gatilho da arma. Esse manequim, que era apelidado do Boris foi utilizado em O Despertar dos Mortos e tinha estampado uma réplica do rosto do próprio Savini.

Esse foi uma despedida para Boris, que ao fim do filme, foi trancado no porta-malas do carro usado na cena da espingarda e afundado no East River, ao menos segundo uma anedota contada pelo especialista em efeitos práticos.

Zito não é muito de falar, ao menos não em situações "comuns". Ele gasta seu verbo com suas bonecas. Lustig afirmou que Spinell teve que se preparar para o papel. Ele fez pesquisas sobre serial killers da vida real, como Ted Bundy, John Wayne Gacy, David Berkowitz (ou "Son of Sam") e outros.

Lustig afirmou que houve um assassinato real de uma prostituta no mesmo hotel St. James onde eles filmaram uma cena com Frank matando uma profissional do sexo.

Eventualmente ele encontra a bela fotógrafa Anna D'Antoni, tirando retratos em um parque. Observa ela ao longe, mas não tem coragem de se aproximar.

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Há muitas cenas de contemplação, onde ele mira manequins em vitrines de loja, observando os modelos de maneira apaixonada, dando conta de que idealiza as mulheres, desejoso que elas fossem como essas bonecas.

Essa sequência foi filmada pelo amigo e assistente de Joe Spinell, Luke Walter, em uma segunda unidade formada por apenas homens, depois que o resto da equipe dormiu durante a noite.

As ações do assassinato ganham manchetes em jornais. As palavras de destaque Madness and Mayhem, é chamado de maníaco, o que de fato é.

Recentemente o filme Uma Natureza Violenta (A Violent Nature) ganhou notoriedade por apresentar uma história de matança baseada no ponto de vista do assassino. Muita gente levantou esse como pioneiro, mas a realidade é que alguns outros filmes de matança já partiam dessa premissa. Em 1985 houve Unmasked Part 25, esse O Maníaco é assim e o seu remake, Maníaco que estreia Elijah Wood também o é

O que se vê nesse é um exercício inteligente de Spinelli, que traz uma história sanguinária e melancólica.

Perto do final há uma pontuação de um devaneio, no cemitério, onde Frank se enxerga sendo puxado pelo cadáver de sua falecida mãe. A maquiagem está longe de ser boa, mas a ideia é sensacional.

Ainda há uma aparição de fantasmas, no final, com as mulheres escalpeladas se avolumando sobre Frank, vingando-se dele em uma cena sangrenta, desesperadora, com direito a boneca que substituiu Betsy Palmer na cena de decapitação em Sexta-Feira 13, aparecendo para aterrorizar o personagem.

Há também um epílogo, onde policiais chegam, entram na casa do personagem, veem ele sangrando.

O nível de gore lembra muito os momentos mais certeiros do cinema de George A. Romero nos filmes de zumbi como O Dia dos Mortos e José Mojica Marins em Exorcismo Negro.

A entrega de Spinell é muito elogiável. Ele é convincente, faz o público quase torcer por ele. Sua aparência e seus trejeitos o fazem digno de pena, suas conversas com espelho e sua delicadeza em tratar dos manequins, simulado mulheres de verdade fazem ele parecer digno de pena e patético.

Spinell levou muito a sério a ideia de fazer uma sequência deste filme com o diretor Buddy Giovinazzo. Eles fizeram um curta, que funcionaria na verdade como "promo" para uma sequência. Se chamada Maniac 2: Mr. Robbie, foi lançado em 1986.

Após alguns anos, conseguiram financiamento para o filme, o projeto iria entrar na fase de pré-produção, mas Spinell faleceu repentinamente em 1989 e essa sequência nunca aconteceu.

O Maníaco é uma obra inteligente, que reflete sobre os tropos de filmes de psicopata, mesmo tendo sido lançado antes da época em que filmes de matança seriam moda. É pontual ao fazer comentários sobre os filmes de assassinato, tem uma entrega sensacional de Spinell. É sem dúvida uma pérola do gênero.

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