Unmasked Part 25 : Um filme de matança que parte do ponto de vista do assassino

Unsmasked Part 25 : Um filme de matança que parte do ponto de vista do assassinoUnmasked Part 25 é um filme pouco conhecido que faz comentários muito pontuais, metalinguísticos e mordazes a respeito do cinema de horror, em especial os filmes de matança. Mistura entre terror e comédia, é um longa-metragem que se vale dos tropos de slasher movies para estabelecer o seu estranho e pitoresco drama, além de ter um caráter agressivo, com bastante violência explícita e claro, gore liberado.

Dirigido por Anders Palm e "estrelado" por Gregory Cox - que faz uso de uma máscara a história inteira - o longa-metragem é uma produção do Reino Unido e teve lançamento em 1988.

Apesar de ter sido lançado em vídeo em seu país de origem é sabido que ele chegou em festivais de cinema, como o Mifed, na Itália em outubro de 88, também no francês Avoriaz International Fantasy Film Festival em janeiro de 89. Em junho de 1989 passou no Fantafestival italiano.

Sobre o lançamento na Grã-Bretanha, a informação que se tem é que houve uma premiere em video, datada de 2 de abril de 1990.

A história gira em torno de um assassino deformado, complexado e calado, que permanece assim na maioria do tempo, exceto quando há uma virada no roteiro. Em meio a uma matança incessante, ele acaba se abrindo para uma relação amorosa pouco usual. O sujeito passa por uma tentativa de adequação, mas tem dificuldades, enquanto vez por outra, escorrega em seus próprios pecados e vícios, retomando seus hábitos homicidas.

Há claramente uma tentativa de fazer um comentário a respeito dos matadores de filmes de matança, especialmente os da franquia Halloween e as sequências de Sexta-Feira 13, em especial o que se viu a partir de Sexta-Feira 13 Parte 2 e Sexta-Feira 13 Parte 3, inclusive no disfarce e na aparência do personagem central.

A grande diferença é que aqui o foco não é em um ou mais grupos de vítimas, tampouco em uma final girl ou algo que o valha, embora haja uma pessoa que se aproxime desse estereótipo, sendo tão distorcida quanto a premissa. O foco é no serial killer.

O texto ficou a cargo de Mark Cutforth, é supostamente baseado em textos de William Shakespeare, em especial Ricardo III (ou Richard III, no original). A uma equipe de produção é bastante curta, sendo produtor o próprio Cutforth, Palm é o produtor executivo enquanto Will Henshaw é o produtor associado.

Tal qual ocorre com alguns filmes de terror exploitation, esse também possui alguns nomes diferenciados. O título original é Unmasked Part 25, mas deveria ser The Hand of Death. Alguns releases dele em Bluray tem essa alcunha inclusive.

Unsmasked Part 25 : Um filme de matança que parte do ponto de vista do assassino

Na parte francesa do Canadá é conhecido como La Main du Saigneur, assim como na França. No México é uma tradução do termo em inglês, sendo, portanto La mano de la muerte.

A obra foi filmada ao longo de dezoito dias, em Londres, utilizando como palco a casa dos pais do diretor. Como as desventuras do personagem principal Jackson se dão em sua maioria em casas particulares, eles caracterizaram os cômodos para parecerem locais de residências diferentes.

Os estúdios por trás são a Strange Cinema (Strange Cinema Productions, presents) e a Fox Lorber Features. Teve distribuição nos Estados Unidos via Academy Entertainment em 1989.

Palm estreou como diretor nesse longa-metragem, também conduziu Murder on Line One e Murder Blues, escreveu os últimos filmes citados. Ele foi produtor executivo em Compulsão Assassina, Trench 11 e Na Trilha do Perigo.

Mark Cutforth só trabalhou em roteiros nesse filme, sua função mais famosa era na produção. Ele foi produtor também em Murder Blues e produtor associado em Blast'Em. Já Will Henshaw produziu e dirigiu episódios em outTHERE e foi produtor executivo em Shock Movie Massacre.

A trama não se passa em um lugar ermo, como era comum aos filmes americanos de terror e sim na área urbana de Londres. Os personagens secundários são gente comum, rapazes e garotas que saem para farrear, beber, se entorpecer e claro, para transar.

Um casal de jovens é interrompido por um senhor, que pode para que não entrem em um local específico daquela área residencial. Ele afirma que a casa da frente foi palco de um nascimento de alguém maldito, mas eles simplesmente o ignoram.

Claramente esse idoso é uma referência ao clichê do Crazy Old Man ou Crazy Joe, cujo mais famoso expoente é o velho Ralph (ou Crazy Ralph) que anunciou aos garotos que cercavam o Crystal Lake de que o acampamento que servia de palco para Sexta-Feira 13 era perigoso.

Logo aparece um homem de máscara, que simplesmente agarra um personagem que antes fazia piadinhas, punindo assim o sujeito que não contém seus ânimos diante da timidez, provavelmente por inveja dele.

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O matador simplesmente arranca a pele do rosto do rapaz, terminando o momento retirando o coração do peito dele, de modo tão abrupto e esquisito que iguala a pele dele a papel, de tão mole que fica ao sofrer impacto.

Os profissionais que fizeram a maquiagem das cenas de morte decidiram tornar as mortes ainda mais agressivas do que inicialmente escritas no roteiro.

Jackson é obviamente um nome que faz piada com Jason. Além máscara semelhante, as roupas que ele usa são bem diferentes.

Os trajes são pretos, ele se porta de maneira quase formal, com agasalhos cheios de botões, em estilo sobretudo. Fox era um ator acostumado a programas de TV como Robin of Sherwood, Menace Unseen, Brookside, Bad Boyes e Poirot de 2013. Aqui ele tem alguma chance de mostrar seus dotes, mesmo que use uma máscara, maquiagem pesada e tenha sua voz abafada pelo plástico.

Não houve trabalho sequer para captar sua voz em separado, tampouco dublaram na pós-produção. Era um filme B em essência, com alta contenção de gastos.

O personagem segue deixando um rastro de sangue. Decide então entrar em uma casa, onde começa a assassinar as pessoas com uma pá de cavar. Ele acerta a cabeça do rapaz até amassar o crânio.

Também é criativo, enforca pessoas, faz uso de vários tipos de armas brancas, utiliza até uma lança, que atravessa o tronco de um casal que transava grudado na parede, bastante semelhante ao que Jason Voorhees fazia em seus filmes.

A ideia é sempre a de punir o sexo, o uso de drogas e a curtição da juventude em geral. Nessa sequência, o ápice é quando uma menina oferece para o mascarado um boquete.

Ele não só não só recusa como quebra um abajur grande, com ponta de lâmpada e enfia a parte incandescente na garganta dela. Logo depois que ela morre ele toma ela nos braços e baila com ela, faz menção a deitar-se com ela, mas mal encosta nela, ao menos no que a câmera pega.

Fica evidente que emasculado ele não é, tampouco impotente, até pelo gestual.

Esse pode ser um comentário eufemístico sobre sexo forçado, até por conta de ele terminar fumando, segurando o cigarro por um dos buracos da máscara de hockey. Ou seja, ele faz uma misancene típica de cena de pós-sexo.

Ele poupa uma menina cega, chamada Shelly, interpretada por Fiona Evans de Gems e Murder on Line One. Por muito pouco ele não a mata, só permite que ela viva quando percebe a limitação física dela. O filme não enrola, eles conversam profunda e rapidamente, ganham intimidade, ele obviamente esconde dela que matou os conhecidos e eles acabam ficando juntos.

Alguém teria prometido um encontro com um rapaz mudo, ou seja, quando ela percebe que Jackson fala, já fica feliz. Ele se sente tão bem que até se permite mostrar o seu rosto, afinal, ela não consegue ver como ele se parece.

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Ele diz que as pessoas o consideram um monstro, até para revelar a face a ela há receio. Ele retira o acessório do rosto com pouco mais de 20 minutos de tela, ou seja, quase batendo um terço da duração inteira do longa.

A configuração visual do personagem é consideravelmente bem pensada, com uma pele enrugada, como se tivesse entrado em combustão. Lembra um bocado o que apareceu em Chamas da Morte, de forma ainda mais tosca, diga-se e, com muito mais tempo de tela.

A questão é que as cenas onde ele fala fica perceptível que faltou investimento e orçamento, já que além de haver um olho estático, que não fecha pálpebras. A boca dele também não se move, ficando claro que aquilo é uma máscara.

Os dois não só transam como também falam sobre fetiches BDSM, supostamente de terceiros, que depois se provam como frutos dos desejos de Shelly.

Ela também menciona, brevemente, que é bissexual, mas a fala é dita de maneira tão intencionalmente rápida que Jackson mal percebe o conteúdo da conversa. Talvez ele possua algum tipo de lentidão cognitiva, fato que seria outro paralelo com assassinos de slasher.

Fato é que além do comentário metalinguístico ousado, também há um senhor avanço no sentido de discutir sexo, ainda mais se considerar o que era comum falar em 1988. Enquanto os pares de Hand of Death são reacionários, esse é mira a frente.

Já Jackson tem uma moral baixa, sofre com auto estima nula, se considera uma vítima da sociedade, até cita Hitler como um maltratado, uma pessoa que sofreu e que segundo ele, não tem culpa por seus atos, tal qual ele mesmo.

Curioso que ele fala isso, mas não conta com todas as letras que matou pessoas. Há também muitas semelhanças com as falas extremistas redpill atualmente.

Ele é um sujeito culto e inteligente, morou na selva, conviveu com animais, mas arrumou livros e leu muito. Até cita Lord Byron. Fala de maneira sedutora aos ouvidos de Shelly, conteúdos e poemas macabros, mas repleto de belas palavras.

A moça deseja ir com ele até o parque, mas de primeira, ele recusa, pois vão rir dele. Jackson mora com o pai beberrão em uma casa muito suja, com uma pessoa morta, uma mulher (provavelmente a mãe do rapaz) sentada e apodrecendo na poltrona de casa.

O pai é interpretado por Edward Brayshaw ele humilha o rapaz sempre que pode. É um belo exemplo de núcleo familiar terrível, que ajudou a construir a figura trágica que é o protagonista.

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A caracterização do personagem lembra muito o que se pensou em falar de Elias Voorhees, o suposto pai de Jason em Sexta-feira 13, que comentamos em um artigo chamado Elias Voorhees Quem Era o Pai de Jason. Curiosamente, o filme foi veiculado em 1988, dois anos depois de Sexta-Feira 13 Parte 6: Jason Vive, onde se mencionaria Elias como pai de Voorhees.

Quando o casal decide sair juntos, na rua, Jackson demonstra sua insegurança e paranoia. Ele acredita que absolutamente todas as pessoas estão rindo dele.

Para deixar o homem mais à vontade, Shelly decide ir a uma loja de fantasias para comprar uma máscara de hockey como a dele. Os dois andam pela rua, pelo parque, perto da ponte de Londres.

A partir daqui falaremos sobre as curvas finais e com spoilers. O aviso está dado.

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Jackson é uma versão melhorada e mais ágil de Jason. Ele decide matar também as pessoas que lhe fazem mal, tem pensamentos próprios e quando decide dar cabo de seu pai há bastante poesia na construção visual e dramática.

Ele faz isso com máscara novamente, afinal, está em modo de trabalho, só se permitindo mostrar sua real face para sua amada e antes, para o próprio pai. Antes desse assassinato o direito do parente a sua sinceridade é retirado e o sangue do homem jorra, pela cabeça espremida, com uma imagem da Virgem Maria por testemunha.

Depois ele encontra Shelly e ela confronta timidez do rapaz, avançando com ele inclusive nas relações sexuais. A moça tem prazer em machucar, quando tem intimidade também assume ter uma boneca inflável chamada Juliet.

Não parece ter receio nenhum de ser e de agir assim. Ela até veste Jackson com uma cueca vermelha, escrita Jack Boy, customizou roupa de baixo para seu amado, mesmo que ela não consiga enxergar o sujeito. Talvez ela tivesse esperança de um dia voltar a enxergar.

A rotina homicida de Jackson segue, mesmo que diminua bastante o ritmo. Ele avisa Shelley para não ir a nenhuma festa ou cabana, em atenção obviamente aos principais palcos de filmes de matança.

Ele vai atrás de uns conhecidos de Shelly, artistas pomposos e arrogantes, pessoas chatíssimas, que decidem praticar bullying com ele em um pub. Depois desse trecho ele ataca os rapazes de maneira ainda mais criativa, usa garfos de fazenda, canivete, até uma machadinha.

As mortes são todas esquisitas, um rapaz estrebucha quando tem contato com o aço, como se sofresse um choque. Jackson usa um cutelo, pega até ferramentas, quando está numa cabana. Depois de mais uma "orgia" sangrenta ele decide ir até sua amada, para terminar tudo.

Esses momentos finais são emocionantes, não pela violência gráfica e sim pela construção dramática. Apesar de nenhum dos atores serem bons (ao menos não estão bem, vai saber em outras obras...) o que se percebe é uma intenção de tornar o personagem de Jackson em alguém complexo.

Tirando claro o humor involuntário e a atmosfera trash, é inegável que o longa acerta na construção dramática. Jackson é incapaz de conseguir viver uma vida comum. Ele não consegue conviver com o verniz social, erra com sua amada, falha com ela e se percebe sem opções pacíficas, ao perceber que terá que tomar uma atitude drásticas.

Há no final uma boa cena, com o psicopata lamentando, diante de um cinema, onde aparece o letreiro de Hand of Death Part 26: Jackson's Return. Ele chora não quer viver aquilo tudo de novo, é muito doloroso.

Unmasked Part 25 é certeiro, violento, esperto, genial e autoconsciente. É um filme que abusa da metalinguagem, discute o formato, tem boas piadas e reflexões bastante profundas. É uma pérola a ser descoberta pelos fãs de cinema B e da arte especulativa no geral.

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