The Alto Knights - Máfia e Poder é um filme lançamento de 2025, que reúne uma equipe repleta de nomes famosas no chamado "cinema de gângsteres". Dirigido por Barry Levinson, é protagonizado por Robert De Niro e escrito por Nicholas Pileggi.
Essa é uma história que mistura elementos de cinebiografia, drama violento e comédia de erros, baseado livremente na história de sucessão de famílias criminosas de ítalo-americanos na Nova York do século XX.
A trama acompanha a dupla Vito Genovese e Frank Costello, dois sujeitos que cresceram juntos desde a época de infância, que em sua fase adulta são ambos interpretados por De Niro e que disputaram o comando das famílias mafiosas da cidade de Nova York, entre os anos 1930 e 1950.
Antes amigos, os dois acabaram entrando em rota de conflito, quando Genovese tentou assassinar Costello em 1957.
Todo o drama mostra um chefão inseguro e violento, que tenta provar o seu valor, em comparação com outro criminoso veterano, que está cansado, enfadado com essa vida e ávido por se aposentar.
Em meio a esse cenário são mostradas muita confusão, ignorância da parte dos bandidos, complacência da polícia e das autoridades, além de muito derramamento de sangue.
Com direção de Barry Levinson e redação de Nicholas Pileggi, foram a equipe principal os produtores Levinson, Jason Sosnoff, Charles Winkler, Irwin Winkler e David Winkler. São produtores executivos David Winkler e Mike Drake. John A. Amicarella foi produtor associado.
Estreia e nomenclatura
O primeiro lugar em que o filme estreou foi na França, no recente 19 de março de 2025. Na Argentina, Austrália, Brasil, Itália, México e Alemanha chegou no dia 20 de março. No Reino Unido e Estados Unidos estreou nesse dia 21 de março de 2025.
O filme foi originalmente pensado para se chamar Wise Guys, quase idêntico ao nome alternativo do clássico Os Bons Companheiros, já que antes dele se chamar Godfellas, seria Wiseguy, tal qual o livro de Pileggi.
O título original é The Alto Knights, em atenção ao bar Alto Knights Social Club, que era o lugar de reunião entre Costello, Genovese e outros bandidos de origem ítalo-americana, como ele, em Nova York.
Na Argentina é chamado The Alto Knights: Mafia y Poder, na Rússia é Мудрые парни.
O grosso das gravações do longa-metragem foram em Cincinnati, Ohio.
Os estúdios por trás da obra são a Warner Bros. e a Winkler Films, com distribuição da Warner Bros. nos Estados Unidos. No Brasil foi veiculado pela Warner Bros. Pictures.
A participação De Niro
A questão da participação de Robert De Niro fazendo dois papéis tem obviamente uma explicação simbólica e poética. A partir do ponto onde ele vive dois sujeitos distintos, mas do mesmo ramo e universo, acaba mostrando que, apesar de perfis e personalidade entre eles serem diferentes, há dois lados da mesma moeda.
Também vale destacar que De Niro é uma pessoa da confiança de Levinson. Os dois trabalharam em outras colaborações, como Sleepers - A Vingança Adormecida, Mera Coincidência, Fora de Controle e O Mago das Mentiras.
Essa aliás foi a primeira oportunidade que De Niro interpretou um papel duplo.
Coincidências do elenco
Sobre coincidências de elenco, vale lembrar que Robert De Niro e Kathrine Narducci estiveram juntos anteriormente, fazendo um casal em Desafio no Bronx, além de ter atuado juntos em O Irlandês.
Essa é a segunda vez que o ator interpreta um mafioso chamado "Vito". Fez o mesmo com Don Vito Corleone/Andolini em O Poderoso Chefão, Parte II.
Quem fez:
Levinson tem uma longa carreira, dirigiu além das obras citadas também O Enigma da Pirâmide, Bom Dia, Vietnã, Rain Man, Bugsy, Assédio Sexual, Vida Bandida, A Inveja Mata, Você Não Conhece o Jack, O Último Ato e Rock em Cabul.
Ele também é produtor, tendo trabalhado dentro do "filão" de obras sobre criminosos sendo produtor em Donnie Brasco e produtor executivo em Máfia volta ao Divã.
Pileggi escreveu Os Bons Companheiros e Cassino, tanto os livros quanto os roteiros baseados nesse. Também escreveu City Hall: Conspiração no Alto Escalão e Os Reis de South Beach.
Ao longo dos anos, se tornou criador de seriados, como Michael Hayes e Vegas. Foi produtor executivo no telefilme Vendetta: Escravos do Ódio, também em O Gângster e O Irlandês.
Irwin é entre os produtores o mais lembrado e celebrado. Suas obras incluem Rocky: Um Lutador, New York, New York, Touro Indomável, Revolução, Os Bons Companheiros, A Rede, O Lobo de Wall Street, O Apostador, Creed: Nascido para Lutar, Silêncio, O Irlandês e Creed III.
Charles Winkler produziu Rocky Balboa, Ruas de Sangue, Perseguindo Abbott, Creed.
David Winkler fez Rocky Balboa também, além de Assassino a Preço Fixo, Reféns, O Apostador, Creed e suas continuações.
Sosnoff produziu O Último Ato, A Luta de uma Vida e American Sweatshop. Foi produtor executivo em Incidente em Claridge e Paterno.
Genovese e Costello em outro filme:
Tanto Vito Genoese quanto Frank Costello foram retratados em putro filme de Barry Levinson, no caso, Bugsy, de 1991.
Nele, Don Carrara interpretou Vito e Carmine Caridi fez Frank.
Vale lembrar que mesmo sendo uma cinebiografia, Bugsy é bem diferente desse, sendo mais sério e mais quadrado em formato.
O real Alto Knights
O Alto Knights Social Club é um lugar real, um bar nova-iorquino, mas representa na verdade uma série de lugares semelhantes a ele.
Os SC (Social Clubes) eram bares que funcionavam como os redutos de mafiosos, onde os bandidos de origem italiana se encontravam.
Desses o mais famoso era o chamado Ravenite Social Club Inc.. Carlo Gambino se tornou o mais poderoso mafioso do país. Em meio a essa ascensão, decidiu fazer do SC o reduto da família Gambino.
Ele batizou o lugar (supostamente) em homenagem ao seu poema favorito, O Corvo, de Edgar Allen Poe, que se chama originalmente The Raven.
Alto x Ravenite
O Alto Knights e o Ravenite eram próximos, ficavam a dois quarteirões de distância um do outro, um na 86 Kenmare Street e outro na 247 Mulberry Street, respectivamente.
O Alto era chamado antes de Café Royale, se localizava na esquina das ruas Kenmare e Mulberry, a poucos quarteirões da sede do Departamento de Polícia de Nova York.
Ele foi ponto de encontro de contrabandistas durante a Lei Seca.
Nem todos os clubes sociais eram afiliados ao crime organizado, mas desde o final de 1800, os bares eram lugares para os ítalo-americanos se reunirem, a fim de preservar sua identidade cultural.
Não era um lugar para obrigatoriamente tratar de negócios.
Um dos mais antigos clubes sociais do Estados Unidos, Tiro a Segno, começou em 1888 na cidade de Nova York. Ele se tornou um refúgio quando os sentimentos anti italianos estavam no auge entre os populares e políticos.
Tiro a Segno é um termo em italiano para "tiro ao alvo". Era um clube de caça em Staten Island antes de se mudar em 1924 para Greenwich Village, onde também havia um campo de tiro no porão.
O The Alto Knights acaba reunindo elementos desses todos, do Alto original, do Ravenite e do Tiro a Segno.
Os jogos
Alguns desses clubes sociais funcionavam como mini-cassinos em que mafiosos apostavam no poker e no blackjack, mas também havia jogos não tradicionais.
John Gotti (personagem-título do telefilme Gotti: No Comando da Máfia) gostava de ficar no Bergin Hunt and Fish Club no Queens.
Anos mais tarde, depois de ascender ao cargo de chefe da família Gambino, ele assumiu o Ravenite, já que os clubes normalmente eram transmitidos de chefe para chefe.
O Ravenite ele manteve como era, mas em outros SCs, modificou bastante o caráter e apresentação dos mesmos. Como gostava muito de jogos de tabuleiro, ele adicionou jogos mais "tradicionais" como Scrabble, Monopoly, também nas mesas de jogo do Sinatra Club, que era um ponto de encontro fora do horário comercial no bairro de Ozone Park, no Queens, de posse do associado da família criminosa Colombo Sal “Sally Ubatz” Polisi.
Polisi também oferecia atividades ilegais e "pecaminosas", como o serviço de prostitutas para acompanhar os clientes, que levavam os mesmos a um motel próximo.
Sem o conhecimento de boa parte dos seus aliados, também havia tráfico de drogas nesses arredores.
Narrativa
A história já inicia anunciando que é baseada em fatos, embora não haja um material base como um livro biográfico ou alguma reportagem jornalística específica para tal.
A base na verdade é uma relação de amizade entre Frank Costello e Vito Genovese, ambos personagens que quando mais velhos, são feitos por De Niro.
A gênese do drama é localizada em uma grave crise, que lida com o ano de 1957, onde ocorreu um momento pontual na vida dos dois.
Falaremos mais disso na parte do texto com spoilers, mas antes, é bom discorrer sobre a relação dos dois personagens.
Ora, a ideia de The Alto Knights: Máfia e Poder é mostrar uma disputa por cargo e dinheiro, entre dois grandes personagens reais, no caso, Genovese e Costello.
É dado que os dois eram grandes amigos, que se reuniam desde a época de infância.
Como ambos são finados - assim como a maioria das pessoas no entorno deles - essa questão é tratada como uma verdade. Claro que, em nome da boa dramaticidade, Pileggi pode ter aumentado os laços dessa relação, tornando-a mais íntima, com os dois agindo como quase irmãos, de tão próximos que eram.
Tudo que se lê a respeito, seja em livros, jornais ou revistas da época, versam sobre uma relação amistosa entre eles.
Levinson escolhe levar a sua história com uma narração que se aproxima de um evento metalinguístico, onde um dos personagens de De Niro - no caso, Frank Costello - conta a história sobre o seu ponto de vista, inclusive falando direto para a câmera, algumas vezes.
Desse modo, é ele o protagonista, mesmo que seu duplo, Vito Genovese, seja importante e valorizado no filme, embora seja mostrado quase como um senhor envelhecido, que não entendeu que o mundo mudou, enquanto ele esteve fora.
Por sua vez, Frank é mostrado como alguém tão calmo que mal dá para associar com um chefe do crime.
Se seu parceiro/amigo é impulsivo, ele pode ser chamado de dócil e passivo, sendo quase castrado por sua esposa, Bobbie, personagem da ótima Debra Massing.
Ela aliás, é brilhante, assim como outra personagem feminina, a Anna de Kathrine Narducci.
Bom, a partir daqui falaremos sobre o rumo da história, com spoilers, inclusive. O aviso está dado.
O ponto de partida, em 1957 é uma tentativa de assassinato.
Vinnie, ou Vincent Gigante, personagem de Cosmo Jarvis (de Xógum), chega até o Alto Knights, fala que "isso é para você Frank", ou seja, deixa claro o recado, antes de atirar.
A bala pega na cabeça do sujeito, espalha muito sangue, quebra o vidro do espelho próximo do elevador, faz um verdadeiro estrago.
O sujeito sai correndo, não olha para trás, depois é mostrado como alguém "prejudicado" mentalmente, sendo chamado de burro duramente, da parte do seu chefe, Genovese, até do seu auxiliar, o capo também idoso Tony Bender de Robert Uricola.
O sinal de como se tratará a história
Os momentos posteriores a esse ato de violência dão bem a medida de como será toda a história correrá, misturando a violência absurda de assassinatos à sangue frio, na disputa pelo poder entre criminosos, em paralelo com momentos engraçados.
Há drama, da parte dos que cercam Frank e muito riso ao ver a reação de Vito, quando percebe que Gigante errou não se certificou que Costello morreu.
Esse equilíbrio é fino e é atingido. Acaba sendo um bom símbolo da abordagem que Levinson teve em sua filmografia, que normalmente, passa pelo humor, mesmo ao tratar de assuntos sérios.
Dessa forma, é até esperado que nem todo o público abrace a proposta desse novo capítulo na filmografia do cineasta, mas no entendimento desse analista, a mistura funciona demais, à contento.
A diferença de mentalidade
A questão mais polêmica entre a versão dramatizada e a real mira a condição de transição de poder.
O roteiro de Pileggi levanta a possibilidade de que Frank estava cansado, querendo usufruir de sua vida de forma tranquila, ao lado de sua amada Bobbie e dos dois cachorrinhos que possui - interpretados por sua vez pelos pets de Robert De Niro - ou seja, ele simplesmente pegaria o seu dinheiro, se mudaria, para largar a rotina de crimes.
Esse tipo de trama não é algo novo no cinema. Obras como O Poderoso Chefão Parte III, Cidade de Deus e até Emília Perez tratam sobre diversos assuntos, entre esses, a mesma linha do criminoso tentando se redimir, se afastando do cenário de violência.
A grande questão é se essa aposentadoria e passagem de bastão é verdade ou não. Em um mundo onde homens poderosos vivem armados e matando uns aos outros, uma pessoa em são consciência, depois de trabalhado a vida inteira, abriria mão de poder nesse mundo?
A suspeita de Vito Genovese, de que essa poderia ser uma armadilha do seu antigo amigo faz sentido, mesmo que ele sinalize isso depois da tentativa de assassinato também.
Para Vito, é suspeito. O tempo inteiro parece que Frank quererá se vingar. Como o público acompanha fidedignamente os dois lados, esse ponto é engraçado e irônico.
O motivo da tomada de poder
A disputa entre Costello e Genovese ocorreu por conta do segundo, Vito, ter ido para o estrangeiro, fugindo da possibilidade de ser preso em seu país.
Vito passou então um tempo na Itália, se reconectando com a sua origem e a do seus pais (ele e a família emigraram para os Estados Unidos quando esse era uma criança) e deixou com Frank a responsabilidade de comandar não só a sua organização, mas também a liderança de todo o conselho dos chefes de famílias.
Quando ele tentou voltar, estourou a Segunda Guerra Mundial, que adiou então o retorno.
Quinze anos depois ele enfim pisou na América, mas o cenário mudou, os chefões se acomodaram com tudo, além disso ele tinha fama de traficar drogas na Itália, ou seja, isso incomodava a alta cúpula, como aliás, Mario Puzo apontou bem na trama de Virgil Sollozzo em O Poderoso Chefão.
Paranoia x Conservadorismo
A questão de Vito é que ele retornando, buscando o poder de novo e mais territórios - Frank entregou para ele bons lugares para explorar, mas ainda aquém a fome do sujeito - chamava muita atenção, atrapalhando o fluxo das coisas e até os negócios dos seus colegas e companheiros.
Essa questão do antigo bandido carcamano, retornando depois de um tempo para ter o que quer já foi muito utilizado na cultura pop. Em duas séries de sucesso há momentos semelhantes, como o retorno de Richie Aprile da cadeia, na segunda temporada de Famíla Soprano, além de Crazy Joe Gallo, que faz um papel semelhante na engraçada The Offer.
Por um lado, os mafiosos se incomodam, pois, antes ganhavam dinheiro, faziam suas contas - e seus corpos - engordarem, tendo uma rotina de criminosos tranquila. Empanzinado e satisfeitos, querem se mexer pouco.
Já o homem fora de ação é como um cachorro esfomeado, que corre atrás do tempo perdido, tenta expandir sua força e influência, da maneira voraz, apressada e ingênua.
Vito cresce, mas ao avançar vai ficando cada vez mais paranoico. Como ele é conspirador, acha que todos seriam assim com ele. É o típico caso do filho do meio.
Os vai e vém na temporalidade e os conflitos
É uma boa opção a construção da narrativa a partir do ponto do assassinato, retornando no tempo para mostrar como isso foi feito. Por um lado, se perde surpresa, mas por outro se facilita o ingresso de outros personagens na trama.
Fora as esposas dos personagens centrais a figura que se destaca é Albert, ou Albert Anastasia, que é interpretado por Michael Rispoli.
Ele se sente ameaçado, pela truculência e a quase morte de Frank.
O sujeito alerta seus colegas, de que a tentativa de matar um dos chefões, sem autorização do conselho, é perigosa para todos eles.
Ironicamente ele tinha razão. Não detalharemos muito sobre esses rumos, quem sabe em outro texto futuro, mas é bem curioso como toda a trama se desenrola e comprova a sua tese.
As raízes
Outra questão bem pontuada no roteiro é a vocação de Vito em permanecer na vizinhança onde sempre cresceu, enquanto seu antigo amigo mora na cobertura de um prédio tradicional.
Essa é uma das escolhas que diferencia eles e que faz Genovese acreditar ser mais merecedor do posto de Capo di tutti capi.
Frank enriqueceu e no entendimento do amigo, ele não só se acomodou, mas também se alienou. Já Vito segue com as mesmas companhias, comete os mesmo atos bons e ruins, ainda se apaixona por uma local, por Anna, uma mulher divorciada, dona do próprio negócio além de ser geniosa, como uma boa matrona italiana.
São estilos completamente diferentes, temperados também pela origem das esposas, já que Bobbie é uma mulher da ascendência judia, bem mais discreta e quieta do que a sua contraparte.
É justamente o casamento entre Vito e Anna que começa a causar problemas entre os antigos chegados, começando pelo sumiço de Frank, que ignorava Vito desde que ele voltou, ou pelas insistentes ligações de Anna para Bobbie, depois que seu marido começou a falhar e a trair ela.
O Verniz social
Genovese é um personagem apaixonante, dentro e fora da ação criminosa.
Depois de um longo julgamento de divórcio, onde Anna tentou provar que seu marido era um homem rico e poderoso, Vito convoca membros da imprensa, para visitar ele. Ele então mostra uma casa humilde e pequena, onde ele cozinha para todos.
Exibe também uma cama pequena e pouco confortável, que é onde ele passaria as suas noites. Todo esse teatro contém uma dramaticidade engraçada e divertida. Para o personagem, funciona tal qual o verniz social que psicopatas usam para serem considerados "normais" e assim serem deixados em paz, para cometer os seus crimes.
Essa é uma tentativa acertada de humanizar um homem que é visto como essencialmente ruim e malvado e nesse ponto, vale destacar a atuação de De Niro, que consegue interpretar alguém que é digno de pena, riso e medo, mesmo utilizando uma maquiagem muito pesada e forte.
Existe sim uma semelhança física entre personagem real e dramatizado, mas a forma como parece importa pouco.
O que de fato chama a atenção é o conjunto de sentimentos e ações. Parece mesmo uma pessoa real, não uma caricatura.
Replicamdo Jimmy Cagney
Ele se compara bastante com o personagem de James Cagney, em Fúria Sanguinária (White Heat) de 1949, um filme noir, que versa também sobre a vida criminosa de um homem que convive com dores de cabeça constantes.
Cagney era um ator acostumado a fazer filmes de máfia, produzidos nas décadas 1930 e 40. Acaba sendo uma comparação justa, já que Jimmy normalmente era chamado para fazer os bandidos pavio curto, tal qual é o papel de Vito.
Tons de documentário
Não é incomum que entre um público leigo, se confunda os gêneros de documentário e biografia.
Entre pessoas mais simples, não é difícil alguém achar que uma cinebiografia é um filme com obrigação de contar a história como ela é - nem mesmo documentários tem esse compromisso - ainda mais em tempos onde há uma onda forte de true crime.
No entanto, esse, em vários momentos, parece mesmo uma mistura de tipos distintos de gêneros, resultando em um docudrama.
A montagem é seca, a atmosfera é convincente e verossímil. A cinematografia de Dante Spinotti resgata isso, valorizada claro por toda a construção dos cenários.
Seus takes registram bem os meandros desse mundo, não espetaculirizando as mortes e os eventos truculentos.
Ainda assim se valoriza bastante os momentos emocionantes.
Toda a trama passada nos tribunais, seja nas audiências de divórcio ou quando os bandidos são julgados, é tudo bem registrado, misturando bem os momentos mais pés no chão e os mais espetacularizados.
A transmissão que fazem da acariação dos senadores junto a Frank Costello é sensacional, inclusive com a reação dos seus chegados, que gritam para ele apelar para a quinta emenda, que protege depoentes, permitindo que eles se neguem a falar.
O desfecho
Os momentos finais ainda guardam um encontro sensacional, que envolve a sucessão no comando da alta cúpula dos poderosos da Cosa Nostra e outras Máfias da América.
A parte do humor é elevada a grande potência, uma vez que a tal reunião acaba se tornando o motivo das autoridades descobrirem que de fato havia uma forma organizada de criminalidade pelos estados do país.
Em revistas antigas do Batman, o homem morcego assume que usa fantasia de um animal por conta de bandidos serem covardes e supersticiosos.
Essa máxima serve aqui, já que não havia cerco de policiais na propriedade onde os chefões e seus capangas se reuniam. O estopim é um engano.
Eles então seguem a máxima burra de sempre correr ao ouvir que a polícia está chegando. Como são bandidos, eles fazem o que tem que fazer. Daí surgem rotundos e velhos homens de negócio, correndo para os seus carros, atolados na lama, se livrando de suas armas ou fugindo a pé, pelo mato, em um lugar isolado.
É tudo muito tosco e patético, chega a ser engraçado, de tão tolo. Se O Poderoso Chefão e Os Bons Companheiros poderiam ser acusados de glamourizar o crime, isso não ocorre aqui.
Levinson ainda faz menção aos rumos reais de seus personagens, indicando o fim de cada um. Mostra como Frank e Vito se reaproximaram, depois da troca de poder.
No entanto, a nata da trama é a disputa de poder entre eles, sendo levada dessa forma divertida e quase leve, excluindo claro que essa é uma história com dezenas de mortes.
Havia uma expectativa de que esse filme poderia resgatar a onda de filmes de Máfia mais caros. O orçamento aqui não é exatamente grande, mas é maior do que normalmente se dispunha antes, mas dado que há pouco investimento em marketing da parte do estúdio, dificilmente ele renderá bem, fato que ajuda que obras semelhantes não sejam feitas, ainda mais se ele não for bem de arrecadação nos Estados Unidos.
The Alto Knights: Máfia e Poder é um capítulo diferenciado do cinema de Máfia, independente desse cenário, ele apresenta uma exploração diferenciada, repleta de personagens carismáticos, de tramas envolventes, além de conter em si muita graça e bom humor, mesmo tratando de uma temática tão agressiva.
