Um Dólar Para Matar ou Bandidos : A vingança de um mentor de mãos feridas

Um Dólar Para Matar : A vingança de um mentor de mãos feridasUm Dólar Para Matar é um filme sobre o velho oeste americano que mostra o lado sujo e carcomido da sociedade estadunidense. É um exemplar bastante pessimista do que ficou popularizado como western spaghetti e narra uma história sobre a busca desenfreada por uma vingança.

A trama foca em um grupo personagens fora da lei, não à toa ele é reconhecido também é conhecido pelo nome Bandidos, foi lançado em 1967, dirigido por Massimo Dallamano e protagonizado por Enrico Maria Salerno e Terry Jenkins.

Essa é uma coprodução ítalo-espanhola, cuja jornada foca principalmente em Richard Martin, um renomado e certeiro atirador que viaja de trem e acaba tendo seu caminho atravessado por seu antigo pupilo, Billy Kane.

Esse último, assalta o trem onde o primeiro estava, obviamente não deveria deixar ninguém vivo, mas decide não matar seu mentor, ainda que a saída misericordiosa seja ainda mais humilhante, já que impossibilita o homem de atirar depois desse contato, já que transpassa as mãos de Martin, com dois tiros certeiros nas duas palmas de mãos do sujeito.

A partir daí a vida de Richard jamais é a mesma, com ele nutrindo o desejo de retribuir o mal que seu discípulo fez consigo, vivendo de pequenos shows de mágica e ilusionismo pelo cenário do oeste antigo.

A direção ficou a cargo do já italiano (e já citado) Massimo Dallamano, que assinava Max Dillman, o roteiro é de Romano Migliorini, Giovan Battista Mussetto e Juan Cobos. O argumento é de Cobos e Luis Laso. Foi produzido por Solly V. Bianco.

O filme estreou em outubro de 1967 na Itália, na França foi em maio de 68, na Espanha, chegou apenas em agosto de 1969 e só em Madrid.

O título original é Bandidos em quase todas as praças. Na Finlândia é Bandidos - elä kostaaksesi. Na Itália também chamava Italy Crepa tu... che vivo io. Em alguns lugares do mundo, foi chamado de Guns of Death.

Um Dólar Para Matar : A vingança de um mentor de mãos feridas

A obra foi rodada em 1967, entre a Itália, especialmente em Lazio-Roma e na Espanha. Houveram filmagens em Colmenar Viejo, Madri, também em Around 5 km west of Palencia, em Castile and Leon na Espanha. Já as cenas de estúdio foram no Dino De Laurentiis Cinematografica Studios, na capital romana.

É um longa dos estúdios EPIC ou Epic FilmHesperia Films S.A., teve como representante de vendas internacionais a Movietime, distribuído pela Euro International Films na Itália, pela Warner Bros./Seven Arts na Espanha e pela Butcher's Film Service no Reino Unido.

Dallamano dirigiu o documentário Tierra Mágica, depois fez O Retrato de Dorian Gray e giallo O Que Vocês Fizeram com Solange. É conhecido por ser diretor de fotografia de Os Cossacos, Pôncio Pilatos e Por Um Punhado de Dólares, não à toa a tradução brasileira optou por um nome que lembrasse o clássico de Sergio Leone.

Migliorini escreveu Terror no Cemitério e Ciclo do Pavor, também Lisa e o Diabo, O Expresso Blindado da S.S. Nazista, As Taras da Sétima Monja.

Mussetto escreveu A Noite dos Demônios, Sob Fogo das Pistolas e o argumento de A Dupla Face no Escuro. Cobos escreveu 3 Noites Violentas e Quando Tu Não Estás. Fez o roteiro de Não se Deve Profanar o Sono dos Mortos.

Laso escreveu apenas esse. Produziu Totó, Eva e o Pincel Proibido, 99 Mulheres, foi produtor geral de O Menino Aventureiro. Bianco produziu Sandokan, o Grande, O templo do Elefante Branco, O Herói do Oeste, Kriminal e Secretíssino. Depois desse produziu A Vingança é um Prato que se serve frio e Ela Agora, Deseja... e Se Don Juan Fosse Mulher. Fez parte da administração de produção de Mansão do Inferno, clássico do terror de Dario Argento.

A abertura mostra um trem, armas, cavalos, imagens estáticas, que lembram os gibis fumetti sobre as batalhas e tiroteios típicos do velho oeste americano, acompanhados da bela música de Egisto Macchi, compositor prolífico, de obras como O Justiceiro do Mar e O Assassino de Trotsky. Dois funcionários do trem jogam um homem para fora.

O homem sobrevive, mas reclama que eles se apossaram da sela de seu cavalo, que é mantida a bordo. Esse trecho parece importante, mas em termos de história não tem muito efeito, serve apenas como um despiste para o que ocorrerá, já que o momento de ação imediatamente posterior não tem nada a ver com essa expulsão, mas se olhar o caráter dos personagens, se perceberá que ele prenuncia o fato de que todos os personagens dessa obra são indignos.

Ocorre um ataque ao trem, bandidos reunidos atiram, saqueiam e matam. Nesse trecho se percebem algumas figuras, como Kramer, interpretado por Marco Guglielmi - de Sangue Sobre a Neve e Vênus Imperial - também Vigonza, de Cris Huerta, além de Billy Kane, o líder do bando, que é feito por Venantino Venantini, que fez Os Heróis Também Matam, Testamento de um Gângster, A Batalha de Anzio e A Gaiola das Loucas.

Um Dólar Para Matar : A vingança de um mentor de mãos feridas

Billy percebe que há um atirador contra-atacando os bandidos, tem uma surpresa ao notar que na verdade ele é Richard Martin, personagem de Maria Salerno, ator conhecido por A Noite do Massacre, Enquanto Durou o Nosso Amor e O Anônimo Veneziano.

Martin pede para o antigo amigo matá-lo, mas ele não o faz. Poupa o sujeito, e "só" o invalidar, acertando as mãos pouco abaixo dos dedos, para que ele perda a capacidade de controlar um objeto de forma certeira, assim jamais conseguindo pegar um revólver de novo. Dessa forma, Billy elimina um rival atirador, o mesmo que o ensinou a ser tão preciso no gatilho.

Com pouco mais de dez minutos se estabelece um massacre no trem da Southern Pacific Company, com saques, dezenas de mortos e um sobrevivente, que certamente preferia ter perecido e uma promessa de reencontro entre as partes.

É sangrento, violento, pessimista e até um pouco niilista.

Um Dólar Para Matar : A vingança de um mentor de mãos feridas

A história segue após uma passagem de tempo considerável, onde depois aparece Martin tentando ganhar a vida. Ele arruma trocados como mágico e ilusionista, se esforça bastante, utiliza um garoto como auxiliar, mas é humilhado por pistoleiros, que chegam a cidade e acham ele e o rapaz que o acompanha.

Fica claro que momentos como esse ocorreram outras vezes, que Martin viveu de forma vergonhosa e humilhante em outras oportunidades. Cansado, ele revida e perde as estribeiras, batendo em um dos homens, tentando acertar ele antes que pegue a sua arma.

A briga ocorre em um bar próximo e se torna algo generalizado rapidamente. Depois de apanhar bastante, o protagonista é ajudado por Ricky Shot, um personagem calado, misterioso, feito por Terry Jenkins, que fez O Rei dos Ladrões e Os Aventureiros do Ouro.

Sua jornada passa a mudar a partir daí, enquanto ele se lamuria por seu passado, ainda sentindo as dores da traição. Treme, graças as mãos feridas. Parece lamentar mais pelo ego, novamente ferido, do que pelo pupilo que acabara de perder, já que os atiradores despacharam o menino.

Ricky e Martin se tornam amigos rapidamente. O ex-pistoleiro dá dicas ao homem mais novo de como atirar, instrui o companheiro, ensina seus segredos, não faz questão sequer de fazer exigências, só dá dicas e pronto.

Mas Martin segue sendo humilhado, até indaga Vigonza, sobre o seu antagonista, sobre o paradeiro de seu antigo aluno e agora inimigo, mas o pançudo latino afirma que se afastou há tempos do antigo bandido.

Depois de ser alvo de piadas, Martin segue com Shot, fazendo números circenses. Em um desses momentos, reaparece Kramer, que pega Martin, pede para ele o levar a Vigonza, já que também está atrás de Billy.

Shot salva seu amigo, fica curioso do motivo daquela discussão, mas o protagonista não lança luz sobre ele, não ainda.

A trama se encaminha para uma jornada de vingança, uma caminhada que envolve muitas mortes, alguns resgates, como o de Betty Starr (Maria Martin) uma bela mulher, que coincidentemente, conhecia os dois heróis.

Dallamano faz um filme sobre personagens não heroicos, especialmente se considerar o destino final de Martin. Dessa forma, se apropria do estilo de outro cineasta sensacional.

Um Dólar Para Matar : A vingança de um mentor de mãos feridas

Sérgio Corbucci fez filmes sobre um faroeste sujo, que eram protagonizados por personagens que fugiam do heroísmo clássico. Isso se vê em Django, Joe: O Pistoleiro Implacável e em Vamos Matar Companheiros. Era um contraponto as obras de John Ford ou John Wayne, que eram mais ingênuas, quase infantis.

Esse Um Dólar Para Matar segue nessa esteira, embora seja mais um faroeste melancólico do que sujo. Martin é o personagem mais fácil de se gostar, já que mesmo sendo um trambiqueiro de passado sujo, é notório que ele é um homem que sofreu armadilhas e injustiças na vida, a maioria delas, cometidas por gente de sua confiança.

No entanto, ele também não se faz digno. É o tempo todo mordido pelo vaidoso sentimento da revanche, tanto que trabalha incessantemente para conseguir de alguma forma voltar a atirar, mesmo sem ter a palma de suas mãos boas.

Billy Kane não tem qualquer caráter, Ricky é misterioso e só por isso já não é muito confiável. Os capangas desses e demais justiceiros também não mostram qualquer predicado positivo, as autoridades são nulas, os civis castrados. Esse é um universo quase niilista.

O final ainda guarda algumas surpresas desagradáveis, fins trágicos e momentos tristes e cruéis. Dallamano segue a toada de forma semelhante do início ao fim da jornada e causa no público uma sensação de desesperança.

Um Dólar Para Matar é bem resumido no nome Bandidos, resultando em uma história sobre uma sociedade decadente, sendo narrado a partir da vida de malfeitores despreocupados com tudo o que não corresponde a sua vaidade, acaba trazendo a mensagem de que o crime compensa e de que não há motivos para ter esperança de que a nação onde ele se passa crescerá e prosperará.

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