No começo da década de 1980, o diretor Wes Craven teve uma série de dificuldades financeiras, antes de emplacar seu primeiro sucesso no circuito comercial A Hora do Pesadelo. Em meio a participações em filmes adultos soft core (com direção, cinematografia e até como ator de cenas sem sexo) e produções feitas para a TV, ele foi convencido a fazer Quadrilha dos Sádicos 2, sete anos após o elogiado primeiro filme.
Dessa vez a historia mostra um grupo de pilotos de motocross, que avança no deserto, no mesmo local do primeiro Quadrilha dos Sádicos, mesmo com os avisos de quem viveu na pele os apuros do primeiro capítulo desta saga, já que o elo entre os dois longas é Bobby Carter (Robert Houston) que agora, se mostra um sujeito inseguro, medroso e traumatizado com os eventos de seu passado.
A história tem um artifício bem sem vergonha no início, onde se atribui o que aconteceu no longa de 1977 como se fossem eventos reais, tal qual ocorreu em Aniversário Macabro, do próprio Craven e também em Massacre da Serra Elétrica.
Logo depois uma boa ideia é iniciada: em busca de melhora sobre seus pensamento, Bobby descreve seus apuros e dissabores em um consultório psiquiátrico.
Seus atos de vingança contra os malfeitores que viviam nas colinas relatados no consultório são acompanhados por trechos do primeiro filme, colocados aqui obviamente para baratear os custos dessa nova produção e acrescentar mais minutos a duração do longa.
Na primeira metade a ação é exercida em cenários urbanos, se perde a sensação de mal inevitável do original, ao passo que isso ocorre, é uma boa sacada lidar com o trauma do sobrevivente, que se recusar a enfrentar o deserto novamente, mesmo que seja com os amigos.
A justificativa para o grupo é o de testar uma formula de combustível que Bobby bolou, mas a testagem foi decidida exatamente para o local onde ele viveu seus piores momentos da vida, e de tão relutante, ele decide não ir, avisando os personagens para não fazê-lo, sendo obviamente ignorado.
Bobby então veste a carapuça do velho louco, arquétipo típico do cinema de terror e filme B que também era presente no primeiro filme, feito obviamente por outro personagem. Cabe a Rachel, personagem de Janus Blythe, guiar o grupo pelo deserto, rumo ao mesmo cenário onde a desgraça se abateu sobre os Carter.
Aqui entra uma tentativa banal e falha de plot twist, uma vez que Rachel "secretamente" esteve no primeiro Quadrilha, como um das membros da família de mutantes canibais, a menina Juno, que foi até a cidade e se "civilizou".
Essa surpresa é banal, uma vez que mesmo na época, onde a informação sobre cinema não era tão democratizada como hoje, era fácil perceber a coincidência entre atrizes.
No entanto, a tentativa de despiste não é tão incongruente quanto o comportamento da moça. Sua ações não fazem sentido, ela sendo namorada de um sujeito que não quer viajar para um local ruim do seu passado, deveria prestar apoio e solidariedade, e não liderar o grupo de personagens rumo ao mesmo lugar que originou os surtos de seu par.
A resposta plausível para esses planos seria simplesmente abortá-lo, pois era perigoso seguir em frente. Também poderiam escolher outro cenário para testar, mas não, preferiam seguir esse rumo conveniente ao texto.
Se no primeiro a violência e cinismo imperavam, o mesmo não pode se dizer desse. O tom agressivo é diminuído, o gore também decresce, não há efeito surpresa, não há com quem se importar, isso inclui Rachel/Juno, e até o mutante Pluto, de Michael Berryman, que é sub aproveitado. O roteiro se julga esperto ao supor que revelar que a mocinha era a garota do filme anterior seria surpreendente.
Mesmo para quem entrava no filme completamente desavisado não era difícil notar que a personagem agia diferente dos outros jovens e para piorar o quadro, da metade para o final do longa haviam alguns momentos bem infames. Um dos garotos, no auge da efervescência hormonal resolvia pregar sustos entre os jovens, gastando um bom tempo tentando assustar uma moça cega apenas com uma fantasia monstruosa, mesmo que ela fosse incapaz de ver.
O grupo para no meio do deserto por falta de gasolina comum, e ninguém pensa em usar a tal formula para as motos que Bobby planejou, para fugir ou para ao menos conter os primeiros ataques dos mutantes.
Eles seguem parados ali, a espera do destino, quando poderiam fugir de moto antes do momento em que eles finalmente começam a pensar como gente racional. Ao invés de seguir os conselhos de Rachel (que convenientemente, ganha inteligência ao longo do filme), eles preferem ser arrogantes, tolos e metidos a herói.
Outro ponto de destaque é a trilha sonora, conduzida por Harry Manfredini, que fez as músicas de Sexta-Feira 13. Aqui ele reprisa boa parte dos acordes e temas do filme que introduziu o assassino serial Jason Vorhess. Manfredini repete a dobradinha com Craven que havia ocorrido dois anos antes em Monstro do Pântano, onde as músicas também pareciam muito com o visto no terror de Crystal Lake.
Claramente não houve muita reflexão por parte da produção, o diretor tenta em vão repetir os bons momentos do primeiro capítulo da saga, mas seus personagens são genéricos e estúpidos demais para que o espectador se importe com seus destinos, mesmo os que retornam do original seguem sem importância.
Para piorar, ainda há todo um show de cenas de moto que tenta fazer o filme embarcar na onda que Mad Max 2: A Caçada Continua, mas sem sequer arranhar a qualidade do clássico de ação. Não se sente receio sobre o fim da vida dos personagens, afinal, não há para quem torcer.
Quadrilha dos Sádicos 2 está facilmente no hall dos piores da filmografia de Craven, menos digno até que suas obras feitas direto para a televisão, e muito menos criativo também. É uma clara tentativa frustrada do diretor retomar seus bons momentos, fato que ocorreria na saga de Freddy Krueger.
Comente pelo Facebook
Comentários
Comente pelo Facebook
Comentários